A realidade da Cruz e do Santuário em nosso processo de salvação.

Por Pastor Wilson Paroschi

Algumas considerações Iniciais:

‘Junto de Efésios 2: 4 – 10 Romanos 3: 21 – 26 é a declaração mais completa de Paulo sobre o plano da SALVAÇÃO. Contêm os seguintes elementos: 

(1) a justiça é ‘sem lei’ (3:21), ou seja, não é conquistada pela observância da lei, sem exigir a realização dos requisitos cerimoniais da lei de Moisés (v.20; Gálatas 2:16. A lei de Moisés não é um método de salvação, mas uma profecia acerca de Cristo e Sua justiça);

(2) em vez disso ela vem ‘mediante a fé em Jesus’ (Romanos 3:22; Gálatas 2:16; Efésios 2:8). A graça de Deus é tão imparcial quanto o Seu Juízo. Por ser o Criador de tudo, Deus julga a todos de maneira imparcial, com base nos atos de cada um, sem levar em conta sua etnia ou religião. O único critério de julgamento divino é a obediência de Cristo que fez o bem e amou. Isto Deus requererá de nós;  

(3) uma vez que todos pecaram (Romanos 3:23), todos merecem a morte (Romanos 6:23; Gálatas 3:10). O pecado nos destituiu da imagem de Deus, segundo a qual fomos criados.

Sobre a universalidade do pecado  ver Romanos 5:12. Qual a lógica deste versículo?

a) O pecado que entrou no mundo por intermédio de Adão causou a morte (Gênesis 3:1-6)

b) todos devem ter pecado porque todos morrem. É por causa dessa condição humana, a qual remonta ao pecado de Adão, que os seres humanos devem nascer de novo (Romanos 3:25; 5:1);

 (4) Deus não dá às pessoas a morte que elas merecem, mas o que não merecem, o livre dom da graça (Romanos 3:24; Efésios 2:8) aceito pela fé (Romanos 3:25; ver também o verso 22);

(5); 4:10) mas  o dom oferecido por causa da morte de Cristo na cruz. O sacrifício expiatório não só destruiu a pena do pecado (‘propiciação v. 25, 1 João 2:2), mas também fez provisão para a ‘redenção’humana (palavra que significa ser considerado justo, Romanos 3:24; 4:6), a ‘reconciliação’ ( a cura dos relacionamentos Romanos 5:10; 2 Coríntios 5:19) e a purificação da poluição do pecado (Hebreus 9:13-14,22-23; Hebreus 10:1-2);

(6) o ‘sangue’(Romanos 3:25) do sacrifício de Cristo é central para a obra divina de salvação. É no sangue derramado na cruz que se fundamenta cada uma das metáforas da SALVAÇÃO mencionadas nos cinco pontos anteriores (Romanos 3:25; Romanos 5:9; Efésios 1:7; Colossenses 1:20; Hebreus 9:13-14). Em outras palavras, Cristo morreu a morte merecida pelos pecadores para que estes pudessem ter vida (2 Coríntios 5:21; Gálatas 3:10-13; sobre os diferentes aspectos da OBRA de CRISTO.

Jesus Cristo é o centro da história bíblica. Sua OBRA inclui diversos papéis, como Criador(João 1:3), Cordeiro sacrifical (João 1:29), Juiz (João 5:22), Salvador que voltará (João 14:1-3), Revelador do caráter do Pai (João 14:9), Aquele que envia o Espírito Santo (João 15:26), Salvador (Romanos 3:21-25), Doador da vida eterna (Romanos 6:23), Senhor ressuscitado (1 Coríntios 15:1-4), Substituto dos pecadores (2 Coríntios 5:21), Aquele que suportou a maldição (Gálatas 3:10-12), Sumo Sacerdote (Hebreus 8:1-2), Advogado dos pecadores (1João 2:1), Vencedor de Satanás(Apocalipse 12;9-11) e Rei vindouro (Apocalipse 19).’ Comentários da Bíblia de Estudo Andrews Mateus 1: 21 e Romanos 1:17 e  3:21-26; 5:12)

Outras considerações:

Este texto é uma transcrição adaptada da 2ª palestra proferida por ocasião do Concilio de Anciãos 2016, promovido pela Associação Paulista Oeste da IASD.

Você pode ouvir toda a palestra no vídeo abaixo. Lembrando que a transcrição foi feita apenas a partir do tempo 20:00. No tempo anterior a este que transcrevemos Dr. Paroschi explica que sua palestra é uma análise que ele faz sobre a realidade da Cruz e do Santuário em nosso processo de salvação. O estudo é feito a partir do posicionamento teológico do Dr. Desmond Ford que no inicio de sua trajetória era um forte combatente da teologia perfeccionista, mas que ao longo dos anos de sua vida religiosa passou a defender o argumento de que o ano de 1844 é uma data inventada por homens e a opôs-se à doutrina do Juízo Investigativo. Desmond Ford defende que o dia da Expiação completou-se definitivamente na cruz e que não precisamos de forma alguma do Santuário. O dr. Paroschi apresenta neste estudo o argumento bíblico de que não precisamos do Santuário na forma como os perfeccionistas insistem. É verdade que Deus não precisa de outra coisa para nos salvar: a cruz foi absolutamente suficiente, embora nós ainda precisemos do Santuário.

Decidimos transcrever apenas a partir do argumento do Dr. Paroschi.

Por Pr. Wilson Paroschi1 – Concilio de Anciãos 2016 – Palestra

“Quando pensamos na Doutrina do Santuário, imediatamente pensamos no ano de 1844. Porém, é importante saber que a doutrina do Santuário é muito mais do que o ano de 1844. Ela tem vários aspectos. Tem o seu aspecto cronológico: a data, o quando as coisas aconteceram. E 1844 faz parte desse aspecto cronológico. Mas, a questão teológica tem um aspecto muitíssimo importante: Por que um santuário?

Por que um Santuário? Esta é a pergunta que os evangélicos fazem para nós. Por que uma Doutrina do Santuário? A cruz resolve tudo! Precisamos realmente dessas duas coisas? Nós dizemos que sim. Nossos irmãos evangélicos dizem e, de vez em quando, uma ou outra voz dentro mesmo da igreja adventista diz: ‘Não! A cruz resolve tudo!’

[…]

Por que a cruz era necessária? Deus precisava da cruz. A cruz foi absolutamente suficiente para a nossa salvação. Deus não precisa de outra coisa para nos salvar. Mas, nós precisamos de um Santuário. […]

Nesta palestra não vamos entrar na questão cronológica. Temos evidência bíblica, histórica, mais que suficiente para defender essas datas ou cronologia do Juízo Investigativo. Irei me concentrar na questão teológica.

Considerações Preliminares

. Estrutura de Romanos:

Romanos 3:21-25 ‘é o centro e o coração de Romanos’ (C.E.B Cranfield). Por que ela é o coração de Romanos? Notem o que há na introdução feita por Paulo em Romanos 1: 18 à 3:20: A  realidade e a universalidade do pecado. Paulo enfatiza aqui a razão da nossa necessidade de salvação. Precisamos da salvação por causa de algo que não estava nos planos de Deus e que entrou no mundo e arruinou com tudo e que é chamado de Pecado.

Paulo diz em Romanos 1: 16 – 17: ‘Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.’

E em Romanos 3: 9 – 10: ‘Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer,’

Paulo usa uma linguagem poderosa, incisiva e repleta de metáforas para falar da realidade e universalidade do pecado. Interessante que logo após Paulo fala, em Romanos 3:21-25 sobre a solução divina.

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”

Que passagem bíblica poderosa! Mas, ela é um pouco complicada. Ela tem umas questões complicadas! Chamo a atenção de vocês para duas metáforas utilizadas por Paulo.

Metáfora é uma ilustração. É uma forma de ilustrar. Paulo usa duas metáforas para o plano da redenção. Plano da salvação. Muitas vezes ficamos confusos porque a Bíblia em um momento fala em redenção, às vezes em salvação, às vezes em reconciliação, às vezes em justificação, às vezes em perdão, às vezes em propiciação. Alguns desses termos parecem mais simples, mas outros parecem extremamente complexos e complicados. Todos esses termos são metáforas! São ilustrações daquilo que Deus faz por meio de nós por meio de Cristo Jesus. Por exemplo, a palavra reconciliação, lembram-se de Romanos 5:1?

‘Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;’

Ou seja, pela fé em Jesus nós somos reconciliados com Deus. Então, reconciliação é uma metáfora daquilo que Jesus faz por nós, ou daquilo que Deus faz por nós por meio de Cristo. Pelo pecado nós nos tornamos separados de Deus, inimigos de Deus. Pela morte de Cristo nós somos reconciliados com Deus. Temos paz com Deus! Reconciliação é uma metáfora daquilo que Deus faz por nós em Cristo Jesus.

Outra metáfora, perdão. Se a reconciliação é uma palavra extraída das relações humanas, então o perdão é extraído do procedimento contábil, por exemplo. Lembram-se da parábola dos dois devedores contada por Jesus? Eles precisavam ter suas dívidas perdoadas porque era uma dívida impagável. Então, a palavra perdão é extraída do campo do comércio, das transações contábeis, onde alguém entra em dívida e não pode pagá-la. Então, a sua divida é perdoada. Ser perdoado por Deus significa ter a nossa dívida perdoada. É outro aspecto daquilo que Deus faz por nós por meio de Cristo Jesus.

Existem outras metáforas. A metáfora da justificação é a favorita de Paulo. Quando Paulo fala em justificação ele está pensando numa corte de justiça, na qual alguém é trazido para ser julgado. Existe uma série de acusações contra essa pessoa, mas no final ela é declarada inocente. Ou seja, ela é justificada. Justificação é uma expressão que vem de um contexto que é uma corte de justiça. É como se nós tivéssemos que comparecer perante o tribunal de Deus por causa de nossos pecados, dos erros que cometemos e ali, ao aceitarmos pela fé o que Cristo fez por nós, somos declarados inocentes. Pois, aceitei pela fé o que Jesus fez por mim. Deus me declara inocente. Deus me declara justo. Deus me justifica. Justificação significa isto, ser declarado justo.

Existem outras metáforas para salvação na Bíblia. Em Romanos 3:24  Paulo usa duas metáforas bem específicas: ‘sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,’

A metáfora da redenção era extraída do mercado de escravos nos dias de Paulo. Onde um escravo poderia ter a sua liberdade garantida mediante o pagamento de um resgate. O pagamento era feito e poderia ser pelo próprio escravo que ao longo da sua vida poderia acumular reservas suficientes para que um dia ele chegasse ao seu patrão e pudesse pagar o preço do seu resgate. Isto acontecia nos tempos de Paulo. Ou alguém generoso o bastante pagava o resgate daquele escravo. 

No Antigo Testamento ver Levítico 25: 47-55 e no Novo, Marcos 10:45; 1 Pedro 1:18-19; Apocalipse 5:9 […]

O ponto importante no versículo 24 é o de que um pagamento precisava ser feito. A ideia da redenção implica no pagamento de um preço. O pagamento de um resgate.

‘sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,’

Um resgate precisava ser feito para que fôssemos justificados gratuitamente. Outra metáfora utilizada por Paulo no verso 25 é a metáfora da propiciação.

‘a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixados impunes os pecados anteriormente cometidos;’

E esta metáfora vem de um contexto de sacrifício num mundo antigo. Os pagãos na antiguidade, e possivelmente hoje em algum lugar no mundo, sacrificam. Os pagãos sacrificam. E por que sacrificam? Porque eles querem aplacar a ira de Deus ou a ira dos deuses. Então, existe uma estiagem muito grande. A terra para de produzir. Há uma seca muito grande.  Os deuses estão irados. A ira dos deuses precisa ser aplacada. E de que forma eles buscavam aplacar a ira de Deus? Mediante sacrifício. Eventualmente até sacrifícios humanos. Ou então, está chovendo demais? Inundações? Os deuses estão irados. Uma epidemia? Os deuses estão irados. E Deus precisa ser aplacado. O apóstolo Paulo trabalha com essa metáfora, a ira de Deus sendo aplacada ao introduzir a metáfora da propiciação.

Precisa o nosso Deus ter Sua ira aplacada? Sim! A Bíblia fala na ira de Deus. Só que a ira de Deus é contra o pecado. O problema é quando eu não quero abrir mão do meu pecado. Neste caso, a ira de Deus contra o pecado se confunde contra a ira de Deus pelo pecador que não quer abrir mão do seu pecado. Mas, a Bíblia fala sobre a ira de Deus! Este, porém, não é o nosso tema. Então, aqui vem a noção do cordeiro sacrifical (Levítico 17:10-11), de Jesus, o Cordeiro de Deus (João 1:29), o perfeito sacrifício (Hebreus 9:12, 26-28; 10:12. Paulo desenvolve esta mesma metáfora em Romanos 1:18; 5:9; 1 Tessalonicenses 1:10 […]

Essas duas metáforas utilizadas por Paulo são extremamente importantes. Redenção envolve o pagamento de um resgate, pagamento de um preço. Nós só podemos ser justificados mediante o pagamento de um preço. Isto é importante! Prestem atenção neste ponto. Paulo diz no versículo 24: ‘sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção (o pagamento de um resgate) que há em Cristo Jesus’, Deus não pode perdoar de outra forma.

A segunda envolve a noção de sacrifício. De que forma esse preço é pago? […] Com o Seu sangue. Essas duas metáforas chamam a atenção para a necessidade da morte de Cristo. Para que nós fôssemos salvos Jesus precisava morrer. Não havia outra forma!

Para quem o preço é pago? Houve um tempo que na tradição da igreja pensava-se que o preço era pago para o Diabo que tomou conta, usurpou. Deus não faz negócios com o Diabo! O preço é pago porque a justiça de Deus o exige. Porque Deus é santo. Deus é puro! É a justiça de Deus que exige que alguém morra em lugar do pecador. Estas duas metáforas são importantes e elas se complementam.

Outra questão importante nessa passagem é o termo justiça de Deus. Essa expressão ocorre 4 vezes nessas postagens.

‘Justiça de Deus’: Justiça de Deus significa o caráter justo de Deus e a justiça que Ele derrama sobre nós.

21 ‘Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; 22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção,’ 25 ‘a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;’ 26 ‘tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.’

A pergunta é: Como vamos entender esta expressão ‘sua justiça’? Existem duas possibilidades:

Quando a Bíblia diz que o Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração. O que significa isto? O Espírito Santo traz o amor que Deus tem por nós, até nós. Ou, o Espirito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração. É o Espírito que nos faz amar como Deus ama. Você entende a diferença? O amor de Deus é o amor que Deus tem por nós ou é um amor como o de Deus que eu devo exercer na minha vida?

Então, há duas possibilidades. A mesma coisa ocorre com justiça de Deus. Justiça de Deus é uma justiça que vem de Deus, um dom, ou é um atributo de Deus? Deus é justo!

A interpretação tradicional é de que nos versículos 21 – 22, é um dom e 25 – 26 é um atributo. Eu sou pecador, todos pecaram e carecem da justiça de Deus. Não somos justos. Como um dom, eu recebo essa justiça pela fé. Deus me dá essa justiça. Deus me declara justo. Pela fé Ele me dá uma justiça que eu não tenho. A teologia usa uma expressão para esse dom: justiça imputada. Deus me considera como se eu fosse justo. Deus me trata como se eu fosse justo, como um dom.

Com relação aos versos 25-26 aparentemente um problema se impõe. Por Sua tolerância Deus deixou impunes os pecados cometidos antes do sacrifício de Cristo. Alguma coisa está em jogo. O que está em jogo? A justiça de Deus. Deus é justo ou não é? Como Ele pode deixar pecados impunes? O contexto aqui é o de Deus sendo justo ou não. Caráter. Atributo.

Como pode um Deus justo salvar um pecador? Se Deus executasse o pecador Ele estaria sendo justo, mas salvar o pecador? Destruir, executar, matar o pecador, isto sim seria um ato de justiça! Porque Ele falou: ‘No dia que pecar, morrerá. ‘O salário do pecado é a morte’. Portanto, executar o pecador é algo absolutamente justo para um Deus justo. E quando Ele salva o pecador parece que Ele não está sendo justo! Alguma coisa está errada!

Nos versos 25 e 26 ocorre a palavra ‘endeixes’. Esta palavra é uma palavra jurídica nos dias de Paulo. Ela era usada num contexto jurídico e que significa ‘prova’, ‘evidência’, ‘demonstração’, ‘comprovação’ de alguma coisa. É aquela evidência que comprova ou a inocência ou a culpa.

21 ‘Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;’

No verso 21 manifestar tem o sentido de revelar. Nos versos 25-26 Paulo usa ‘endexis’ que não tem o mesmo sentido do verso 21. A tradução foi fraca, porque manifestar tem mais a ideia de revelar. Quando Paulo deu sentido de prova, demonstração, comprovação. É uma palavra jurídica. É uma palavra mais forte.

25 a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para comprovar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixados impunes os pecados anteriormente cometidos; (Aqui justiça é um atributo).

26 tendo em vista a demonstração da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.

O que Paulo está dizendo é que mediante Jesus, Deus provou a Sua justiça. A justiça de Deus é alguma coisa que precisa ser demonstrada porque em algum momento Deus foi tolerante deixando pecados impunes.

Para falar em tolerância Paulo usa ‘paresis’ que significa condescendência, algo intencional. Significa passar por alto. Fechar os olhos.

Paulo está dizendo que o sacrifício de Cristo era necessário. Foi uma propiciação para que Ele, Deus, comprovasse que é justo. Por ter Ele, Deus, deixado impune, fechado os olhos. Feito vistas grossas aos pecados anteriormente cometidos.

Ora, o Deus que tapa os olhos aos pecados, que deixa pecados impunes é um Deus justo? Não! Porque Ele falou se pecares morrerás. Isto coloca a justiça divina em check.  Jesus morreu para comprovar que Deus é justo.

Deixar pecados impunes é algo contrário à natureza moral de Deus.

“passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!” Êxodo 34:7

“Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado.” Deuteronômio 25:1

O salário do pecado é a morte. Deus não pode deixar o pecado impune, do contrário Ele não seria um ser moral. Para ser um ser justo, um ser moral, Ele tem que punir o pecador. Mas, Paulo diz que Deus deixou pecados impunes, colocando a Sua justiça sob suspeita. Agora Jesus como propiciação, agora no tempo presente (tempo de Paulo v.26) vindica as ações passadas de Deus.

O verbo vindicar significa mostrar que Ele agiu corretamente. Agiu justamente. A morte de Jesus isenta Deus de qualquer culpa. De que forma deixou Deus os pecados impunes antes da cruz?

Adão e Eva não foram punidos imediatamente após pecarem embora houvesse a lei. Milhares de anos depois Paulo fala em pecados impunes. Nem Moisés, nem Abraão, nem Davi, nem Adão e Eva estavam mais vivos quando Paulo proferiu estas palavras. De certa forma a justiça fora feita. Deus deixou pecados impunes ao perdoar pecados. Desde o pecado de Adão e Eva Deus começou a distribuir perdão com base no sangue de Cristo. Sangue de animais não cobre nenhuma transgressão. Era um tipo, um símbolo do que viria a ser o sacrifício de Cristo. Deus perdoava com base na Sua graça. Com base no Seu plano de enviar Jesus Cristo para morrer. Deus distribuiu perdões no tempo do Antigo Testamento e ao fazê-lo Ele não estava sendo justo porque o preço do resgate ainda não havia sido pago.

É muito fácil alguém citar Apocalipse 13:8: ‘e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.’

Mas, Ele morreu na fundação do mundo? Não, mas sim no plano de Deus. Na intenção de Deus. Porém, não de fato!

Paulo está dizendo que quando Jesus morreu as ações salvíficas no passado foram vindicadas. Todos os perdões que Deus distribuiu no passado estavam corretos.

26 ‘tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.’

Até a cruz, Deus não era ambas as coisas. Em relação ao pecador, antes da cruz Deus era justificador. Na cruz Sua justiça foi vindicada. Deus é justo!

Pecado é um problema humano. Pecado perdoado é um problema divino. Quando Deus pune o pecador Ele está sendo justo. O problema é quando Ele perdoa. Quando Deus perdoa um pecado este pecado passa a ser um problema dEle! Quando Deus perdoa a culpa por este pecado recai sobre Deus. Deus resolveu este problema na cruz.

A cruz prova que Deus pode perdoar. Jesus morreu como um inocente. Ele não tinha pecados pelos quais pagar. É por isso que a morte dEle pode ser usada para cobrir a nossa falta. Porque Ele era inocente.

A cruz mostra como Deus pode perdoar pecados. Deus agora manifesta, demonstra Sua justiça. A cruz sanciona as ações salvíficas de Deus no passado e no presente. Deus pode chegar a qualquer momento para uma pessoa e dizer Seus pecados estão perdoados porque Ele pagou o preço por isso. Ele tem o direito legal de perdoar. A cruz confere a Deus o direito de salvar. A cruz é tudo o que Deus necessita para salvar.

A morte de Jesus foi o antítipo de todos os sacrifícios do Antigo Testamento, incluindo-se os do Dia da Expiação. Mas, isto não quer dizer que o Dia da Expiação se completou na cruz.

Se a cruz é tudo o que Deus necessita para salvar por que, então, um Santuário?

A palavra ‘hilasterion’ significa propiciação.

A tampa de ouro sobre a arca chama-se propiciatório (Hebreus 9:5). O que ocorria sobre o propiciatório? Ali ocorria a segunda fase da expiação. A Arca era um símbolo do trono de Deus. Um símbolo de Sua presença.

As duas fases da Expiação:

1. Sacrifício pelo pecado

    – A vida está no sangue (Levítico 17: 10-11) O sangue do cordeiro substitui a vida do pecador (Gênesis 22:13);

   – Identificação: ao colocar a mão sobre o cordeiro, o pecador se identifica com o animal e transferi-lhe sua culpa. (Levítico 1:4; 4;4; 16:21)

  – Transferência: o sangue carrega a culpa para o interior do Santuário para o próprio Deus. (Levítico 4:3-7; 13:18 ; 22-25; 27-30).  Pecado perdoado é um problema divino. Deus assumiu a responsabilidade pelo pecador.

 – Contaminação: A questão é que o mesmo pecado que era conduzido para o Santuário é o mesmo que contamina o Santuário (Jeremias 17:17)

Por que contaminava? Porque como pode um Deus justo perdoar pecados. Mancha o caráter de Deus, mancha a reputação de Deus!

2 – Dia da Expiação: Purificação do Santuário ( Levíticos 16:15 a 19)

   – Não tratava de perdão (Levítico 16; 23-27- 32)

  – Onde ocorria o perdão? No sacrifício. O Dia da Expiação não lidava com perdão.  O Dia da Expiação lidava com a contaminação do Santuário. Perdão não ocorre no Santuário. Perdão ocorre na cruz.

Tem que ocorrer a eliminação dos pecados. A transferência final dessa responsabilidade para Satanás.

Duas coisas precisam ser vindicadas:

1. O direito de Deus de perdoar (arbitrariedade). Deus tem que provar que Ele pode perdoar. Do contrário, num Universo regido por leis morais, Ele não seria um ser moral, justo. Portanto, para que Deus possa perdoar Ele tem que pagar por isso. Ele tem que adquirir o direito para isto. A cruz vindica o direito de Deus de perdoar.

2. A ‘qualificação’ do pecador para ser perdoado (universalismo) Como pode Deus, mesmo morrendo pelo pecado, salvar e levar para o Céu alguém que não quer nada com Ele? A justiça de Deus seria falha. Deixaria brechas.

O perdão tem dois lados:

. O lado daquele que o confere  =>    Deus

. O lado daquele que o recebe    =>    o ser humano

Quando Deus vai perdoar a pergunta é: Tem Deus o direito de perdoar? Tem por causa da cruz. Nunca! Jamais ninguém vai questionar o direito de perdoar. Porque Jesus morreu na cruz e isto foi algo visível para todo o Universo. Tem Deus direito de perdoar? Tem. Está Deus correto em lhe perdoar? Depende. Se eu aceitei o Seu sacrifício pela fé ou não.

Qual desses dois lados do perdão é vindicado pela cruz? Só o primeiro: Deus.

A cruz dá a Deus o direito de perdoar, mas em nenhum momento a cruz mostra que Deus está correto em perdoar a mim e a você. Em nenhum momento a cruz prova que aceitamos o sacrifício de Cristo. Em nenhum momento a cruz prova que o aceitamos pela fé.

Deus precisa de algo mais para provar que Ele acertou ao perdoar a Abraão, a Moisés, a Davi, que Ele acertou em nos perdoar. Deus precisa de algo mais e é aqui que entra em cena o Santuário. O Santuário não é lugar de perdão. Lugar de perdão é na cruz. O Santuário é onde Deus vai provar que ele agiu corretamente ao nos perdoar.

O que havia no Dia da Expiação além do sacrifício? Cada um era convocado a examinar a sua vida. Havia um processo de análise, um processo de investigação. Um processo de julgamento para saber se nós acreditamos o bastante na provisão salvífica de Deus. Se acreditarmos o registro de nossos pecados serão eliminados. Se não o fizermos seremos punidos. (Levíticos 16)

A cruz em nenhum momento pode demonstrar que eu aceitei Jesus como meu Salvador. A cruz só demonstra que Deus pode salvar. Deus precisa de algo mais para que por todos os séculos da eternidade nunca, ninguém questione Sua justiça. Ninguém vai jamais questionar a salvação de qualquer remido por causa de um processo que ocorre num lugar chamado Santuário, onde a nossa aceitação do sacrifício de Cristo será evidenciada.

Haverá um momento em que Satanás pegará nossos pecados e nos acusará diante de Deus e o argumento de Jesus será: eles aceitaram meu sacrifício. Como será isto demonstrado? É o que Jesus vai demonstrar no dia do juízo, que eu e você aceitamos o Seu sacrifício.

Romanos 8:34-39 ‘Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.’

Romanos 8:32-33 ‘Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos concederá juntamente com Ele, gratuitamente, todas as demais coisas? Quem poderá trazer alguma acusação sobre os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica!’ 


Wilson Paroschi

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1- . https://www.estantevirtual.com.br/autor/wilson-paroschi

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