O Nome de Deus – parte 1

“Geralmente, este nome se escreve יְ-הוָה e se lê como א-ֲדֹנָי. Porém em alguns casos, quando este nome aparece ao lado do nome אֲ-דֹנָי se escreve יְ-הוָה e se lê אֱ-לֹהִים (Deus).
י-הוה é o nome de Deus, porém suas vogais originais não são conhecidas, de forma que não se sabe exatamente como era pronunciado. Segundo a tradição hebraica, e para não transgredir o terceiro mandamento que proíbe mencionar o nome de Deus em vão, se lê este nome como אֲ-דֹנָי (O Eterno). A primeira e a última vogal de אֲ-דֹנָי se agregaram às consoantes do nome יְ-הוָה (o rataf-patah se transformou em shva abaixo do י para recordar aos leitores que este nome se deve pronunciar [’ă-dōnāy]. Nas traduções ao português aparece como O Eterno ou O Senhor. Em outras leituras cada vez que aparecem as letras  י-הוהse lê הַשֵּׁם (O Nome), para não ser pronunciado o nome de Deus.” (eTeacher Biblical, Unidade 10, parte 1- Hebraico Bíblico )
David H Stern* é o responsável pela versão da Bíblia Judaica Completa – BJC. Em sua apresentação da BJC, a respeito do nome do Eterno, escreveu:

“Quando Moisés voltou-se no deserto de Midiã para ver o arbusto que queimava sem ser consumido, Deus revelou-Se a ele e lhe disse seu nome. Em hebraico, esse nome consiste em quatro letras: Yud – Heh – Vav – Heh   (ה ו ה י) e é, portanto, designado tetragrama (escrito que contém quatro letras). A Bíblia esclarece que este nome não era usado de forma casual. O terceiro mandamento proíbe o uso do nome de Deus em vão (Êxodo  20:7 e Deuteronômio 5: 11), e a pessoa que o usasse em uma maldição deveria  ser executado de acordo com o ensino divino explícito (Levítico 24:10-23).

Já nos dias de Yeshua [Jesus], ninguém pronunciava o nome de Deus, com exceção do sumo sacerdote quando entrava no Lugar Especialmente Sagrado do templo para realizar a expiação dos pecados de Israel, no Yom Kippur ( Dia da Expiação).

Essa regra era tão severa que os massoretas, ao escreverem as vogais na Torah [AT], usavam as vogais de outra palavra para a pronúncia do tetragrama. Já nessa época, usava-se a palavra ‘Adonai’, para designação divina frequente da Bíblia com o significado de ‘meu Senhor’, no lugar do nome, todas as vezes que se lia a Torah, por isso, os massoretas colocaram as vogais de ‘Adonai’ sob as consoantes Yud – Heh – Vav – Heh.  Até hoje, quando a Torah é lida na sinagoga, ‘Adonai’ substitui o nome.

Em português, o nome ‘Jeová’ é a representação das consoantes (Y-H-V–H) acrescidas das vogais de ‘Adonai’ – uma forma híbrida  sem base histórica. A maior parte das versões em português substitui o nome por Senhor (como se encontra representado aqui, com versal/versalete). […]
Outros problemas

No entanto, permanecem algumas dificuldades. A primeira diz respeito às passagens bíblicas hebraicas nas quais se lê: ‘Adonai Yud – Heh – Vav – Heh. Para evitar a leitura em dobro de ‘Adonai’, a prática judaica nesses casos é dizer ‘Adonai Elohim’, e a Bíblia Judaica Completa procede dessa forma em 270 passagens. O vocábulo ‘Elohim’ significa ‘Deus’ e é traduzido dessa maneira nas demais ocorrências na BJC, como acontece em outras versões bíblicas.

A segunda dificuldade é a existência de três passagens nas quais, em minha opinião, faz-se necessário apresentar o nome sob a forma mais próxima possível do original- Êxodo 3:13-17; 6: 2-3 e 34: 6-7. Nessas passagens, a BJC apresenta o tetragrama Yud – Heh – Vav – Heh, De outro modo, a força da comunicação desse nome perderia muito de seu impacto.

A terceira dificuldade é a prática religiosa judaica, especialmente dos ultraortodoxos, que descartam até mesmo o uso de ‘Adonai’ e ‘Elohim em ambientes não religiosos. Em seu lugar, usam eufemismos como ‘HaShem’ (o Nome), ‘Ado-Shem’ (a combinação de Adonai com Há Shem) e ‘Elokim’ (pronúncia equivocada intencional de ‘Elohim’); caso o tetragrama seja lido em voz alta, ele é soletrado ‘Yud – Keh – Vav – Keh’. Até considerei o uso de ‘Ha-Shem’, mas decidi-me, mais tarde, contra ele pelo fato de a Bíblia Judaica Completa ser um texto religioso para justificar a escolha. Ao mesmo tempo não usei ‘Iahweh’ ou ‘Javé’, como outras versões, pelo fato de, inicialmente, os judeus não pronunciarem o nome divino sob nenhuma hipótese; não se sabe com certeza, também, se essas são boas representações da pronúncia do nome divino; além disso, elas soariam estranho ao extremo aos ouvidos da maioria dos judeus – que não têm o costume de ouvi-las  em nenhum contexto. […]

Por fim, o problema do nome divino toma uma dimensão de incerteza na B’rit  Hadashar [NT]. Ali a palavra grega Kyrios é muitas vezes ambígua. Ela pode significar ‘senhor’, ‘dono’ (como em senhor feudal), ‘Senhor’ (com ares divinos) e ‘Yud – Heh – Vav – Heh’. […]

Em diversas passagens, essa abordagem destaca um assunto teológico fundamental que separa o judaísmo tradicional do messiânico, ou seja, o conceito de o vocábulo Adonai, incluir Yeshua, o Messias, e o Espírito Santo. Filipenses 2:10-11 revela estar chegando o dia em que  ‘[…] todo joelho se dobrará […] e toda língua reconhecerá que Yeshua, o Messias, é ‘Adonai’. Pelo fato de esta passagem citar Isaías 45:23, em que o profeta afirma explicitamente que todo joelho se dobrará perante Adonai, ‘Kyrios’ aqui é traduzido por ‘Adonai’. Em 2 Coríntios 3:16-18, Sha’ul [Paulo] alude a ‘Sh’mot (Êxodo 34:34, ao escrever:  […] sempre que alguém se volta para ‘Adonai, o véu é retirado’, e então afirma explicitamente que ‘Adonai’, neste texto, significa o Espírito’. E usa a expressão: ‘ […] Adonai, o Espírito’.”

Continuaremos…

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* David, H. Stern, Complete Jewish Bible. Messianic Jewish Publishers. (BJC – Bíblia Judaica Completa, o Tanakh [AT] e a B’rit Hadashah [NT] pág. 43-45, Editora Vida).

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Uma resposta para O Nome de Deus – parte 1

  1. Achei muito interessante este pequeno texto do Rabino More Ventura:

    "O TETRAGRAMA SAGRADO

    Costuma-se Traduzir o Tetragrama sagrado – Na verdade intraduzível – para o português, através do Termo "Eterno", pois com suas 4 letras originais é possível formar as palavras hebraicas para "FOI – É e SERÁ". (Haiah, Hoveh e Ihiê).

    Por se relacionar com um aspecto “essencial” do Criador, a Eternidade, este Nome é frequentemente usado pela Torah em situações referentes à sua Misericórdia, pois este também é um de seus atributos “essenciais”.

    Por se referir a atemporalidade do Criador, este Nome também é usado pela Torah em conexão ao cumprimento das promessas que Ele faz à humanidade, conectando assim, presente, passado e futuro.

    Guemátria – Numerologia.

    Os valores numéricos internos de cada uma das letras que compõem este Grande Nome (Iud Hê Vav) são os menores do Alfabeto hebraico, indicando que é justamente aonde que se expressa a Maior Grandeza que se encontra a maior humildade!

    É por isso que em sua essência, A Torah é intraduzível!

    Bençãos do Eterno a Todos!
    Abs! More Ventura!"

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