Se não fosse trágico seria cômico. Embora brinquemos com esta realidade a morte é nossa mais assustadora experiência. Seja ela compreendida em seu conceito de perda puramente física, seja numa leitura espiritual.
O fato é que naturalmente ninguém deseja a morte. Muito poucos se encontram maduros o suficiente para encará-la de frente. Conheci um homem que durante sua vida pensou que curtir a vida era brindá-la com copos de bebidas alcoólicas. Já de manhã cedo os portava em suas mãos. Estar com amigos não era a mesma coisa se faltasse a companhia do copo e da viciante bebida. Sua casa durante muito tempo foi o abrigo de incontáveis engradados de cerveja. Hoje nada disto tem mais sentido para ele, pois ele se foi. Meu esposo costuma dizer que a vida é persistente. Ela é capaz de brotar em minúsculas fendas de rochas.
Concordo com ele, mas percebo que ela também é exigente e quando a negligenciamos ela manda a conta. Este meu conhecido a recebeu. Um câncer, a princípio no fígado e depois em vários órgãos de forma violenta lhe acometeu. Hoje foi seu enterro.
Lembro-me de certa vez ouvi-lo responder com desdém a um convite de minha sogra para que mudasse seu estilo de vida. Ela dizia que ele precisava assumir um compromisso sério com Jesus, o autor da vida, mas convicto de que seu conceito de vida lhe satisfazia ele disse não.
Entretanto, não foi sem surpresa que testemunhei um verdadeiro vai e vem em sua casa de fiéis dos mais diferentes credos durante os seus últimos dias. Algumas orações e rezas eram pronunciadas de maneira tão altas que não seria exagero dizer que o bairro inteiro as podia escutar. Ao ouvi-las de minha cozinha enquanto preparava as refeições muitas vezes pensei comigo mesma: “mas que coisa sem noção, seria Deus surdo, ou estaria naquele instante tapando Seus ouvidos para não ouvir aquelas orações de forma que precisavam gritar tão forte assim enquanto faziam suas petições?” O fato é que a resposta de Deus não Se expressou como pediram e o homem morreu. Não ficou curado.
Isto me fez pensar na oração intercessora de Neemias registrada no livro de Neemias cap 1. Deixo para sua reflexão os versos 8-9 e 11:
“Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: Se transgredirdes, eu vos espalharei por entre os povos; mas, se vos converterdes a mim, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, então, ainda que os vossos rejeitados estejam pelas extremidades do céu, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que tenho escolhido para ali fazer habitar o meu nome. Estes ainda são teus servos e o teu povo que resgataste com teu grande poder e com tua mão poderosa. Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; […].”
Neemias quando orou sabia a Quem estava pedindo. Evocou a fidelidade de Deus e de Sua Palavra. O problema de sua necessidade não provinha de Deus, mas dele mesmo e de toda a nação. Eles haviam vivido uma vida de rejeição à vontade divina. Eles precisavam voltar seus passos em direção ao único que poderia lhes dar libertação e em conseqüência a justiça, a paz e a felicidade que tem os que se sentem protegidos e em segurança. Neemias sabia do que estava necessitando então fez o pedido da maneira correta. Não pediu apenas e isto é o que muitos fazem. Pedem, mas não assumem um compromisso de responsabilidade diante de Deus em relação a benção que esperam receber. Neemias não encobriu os pecados da nação, nem os dele mesmo. Antes confessou sua dependência e necessidade do perdão e misericórdia divinos. Ele compreendeu que o perdão exige o “vai e não peques mais”.
“Ah! Senhor, estejam atentos os teus ouvidos à oração dos Teus servos que desejam temer o teu nome …”
Será que se ele houvesse sido curado levaria uma vida diferente? Conheci uma moça muito, mas muito rica mesmo que fumou durante muitos anos até que descobriu que tinha um câncer em seus pulmões. A família a enviou para os EUA, ela recebeu um transplante de pulmão. Estava bem até voltar a fumar novamente e em três meses morreu. Há razões pelas quais Deus não responde com um sim sempre que Lhe pedimos algo. A loucura e insensatez humana é uma delas.
Quando contemplei a cena daquele homem sendo levado às pressas para o hospital fui tomada por uma grande tristeza. Era claro o estado crítico de sua situação. A vida estava partindo… desejei profundamente que ele tivesse discernimento e compreendesse o verdadeiro sentido das palavras de Jesus registradas em João 3:5-7: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”
Não importava a maneira negligente com que vivemos nossa vida. Quando discernimos a necessidade da presença de Jesus em nossa vida e O buscamos Ele nunca, jamais, nos virará Seu rosto. Quando O buscamos com humildade o Senhor não Se importa com o nosso passado. Ele nos aceita e nos regenera a vida em seu sentido mais complexo. Afinal, com Jesus ainda que morramos seremos abraçados pela vida. A melhor dela. A eterna: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.”
Um novo período está à nossa frente. Um novo ano. Novo em todas as suas possibilidades. Brindemos o que se conclui com a maturidade de quem compreende que as experiências nele vividas podem representar um excelente leque como fonte de aprendizado pessoal.
Quanto a mim, decidi olhar com esperança e fé este novo período. Não quero avançar um só passo sem que seja em direção ao centro da vontade de Deus. Compartilhando com você esta reflexão escrita pelo pastor Batista John Piper, faço-lhe o convite para também refletir sobre esta decisão em sua vida.
“No capitulo 3 do evangelho de João, Jesus estava conversando com “um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus” (v.1). Os fariseus eram profundos conhecedores das Escrituras judaicas. Foi por isso que Jesus se espantou com a reação de surpresa de Nicodemos ao ouvi-lo dizer: “É necessário que vocês nasçam de novo”. Nicodemos pergunta: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar no ventre de sua mãe e renascer!” (v.4). Jesus respondeu: “Você é mestre em Israel e não entende essas coisas?” (v.10).
Um profundo conhecedor das Escrituras judaicas não deveria surpreender-se ao ouvir o mandamento de Jesus: “É necessário que vocês nasçam de novo”. Por que não? Porque há muitos textos-chave nas Escrituras judaicas que Jesus e Nicodemos conheciam. Deus prometera que um dia Seu povo nasceria de novo. Uma das promessas mais claras de Deus encontra-se no livro de Ezequiel. Jesus repetiu as palavras de Ezequiel quando disse: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” (v.5). “Nascer de novo” significa nascer da água e do Espírito. As duas palavras, “água” e “Espírito”, estão interligadas em Ezequiel 36: 25-27.
Deus diz: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.”
Deus promete purificar o ser humano do pecado e conceder-lhe um novo espírito mediante a presença de seu Espírito. Jesus imaginava que Nicodemos fosse capaz de estabelecer ligação entre o mandamento para nascer de novo e a promessa de um novo espírito com a dádiva do Espírito de Deus, registrada no livro de Ezequiel. Nicodemos, porém, não entendeu. Para explicar melhor, Jesus descreveu-lhe a função do Espírito de Deus na concessão deste novo espírito: “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (v.6).
Carne é o que somos por natureza. Refere-se à nossa condição humana natural. Quando nascemos pela primeira vez somos apenas carne, Essa condição humana natural, conforme a sentimos, é espiritualmente sem vida. Não nascemos espiritualmente com um coração que ama Deus. Nascemos espiritualmente mortos.
Foi o que Jesus tentou explicar quando disse a um homem que precisava primeiro sepultar o pai para depois ser seu discípulo: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos…” (Lucas 9:60). Alguns estão fisicamente mortos e precisam ser enterrados. Outros estão espiritualmente mortos e podem enterrá-los. Jesus também tentou explicar a questão quando, na parábola do filho perdido, o pai disse: “Este meu filho estava morto e voltou à vida …” (15:24). É por isso que “Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo” (João 3:3. Os mortos não vêem, isto é, eles não vêem o Reino de Deus como um desejo supremo. Parece-lhes algo tolo, mítico ou maçante. Por isso, não podem “entrar no Reino de Deus” (3.5). Não podem porque, para eles, isto é tolice.
Jesus vê a humanidade dividida em duas partes: os que nascem uma só vez – “nascidos na carne” pelo Espírito de Deus, ou seja, os que estão vivos para Deus e vêem seu Reino como um desejo supremo e verdadeiro.
Nicodemos não está inteiramente errado por sentir-se confuso. Existe aqui um mistério. Jesus diz, em João 3:8: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.
O mandamento de Jesus a Nicodemos é um mandamento para todos. Ele está falando a todos os habitantes do mundo. Ninguém está excluído. Nenhum grupo étnico tem poder maior diante da vida. O morto está morto – seja qual for sua cor, classificação étnica, cultura ou classe social. Necessitamos de olhos espirituais. Nosso primeiro nascimento não nos conduzirá ao reino de Deus. Sozinhos, porém, não poderemos nascer de novo. O Espírito faz isso, e ele é livre e sopra de maneira que não entendemos. Precisamos nascer de novo, mas esse nascimento é uma dádiva de Deus.
Desvie o olhar de si mesmo. Busque em Deus o que só Ele pode fazer por você. Não é de aperfeiçoamento moral que seu velho eu necessita: É de uma vida nova que o mundo inteiro necessita. Essa vida nova é radical e sobrenatural. Independente de nosso controle. Os mortos não podem dar nova vida a si mesmos. Precisamos nascer de novo – “Não […] pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas […] de Deus” (1:3). É isso que Jesus espera de Seus seguidores.” (John Piper, O que Jesus Espera de Seus Seguidores: mandamentos de Jesus ao mundo. Editora Vida)
Desejamos que você viva e ande no Espírito, pois é a única maneira de conhecer a vida plena. Para você desejamos um ano novo com uma experiência espiritual nova.
No final deste vídeo há uma benção escrita para você.
Ruth Alencar
“O que é já foi; e o que há de ser, também já foi; Deus fará renovar-se o que passou” (Eclesiastes 3:15).