por Ellen White
Atos dos Apóstolos ou O Embaixadores
Este capítulo é baseado em Atos 10: 15; 11: 17; 14: 27; 15:1 – 35; 1 Coríntios 14: 32 – 33; Gálatas 2: 14; 1 Pedro 5: 5
Havendo chegado à Antioquia da Síria, de onde haviam saído para a sua missão, Paulo e Barnabé aproveitaram logo uma oportunidade para reunir os crentes a fim de contar-lhes “quão grandes coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios a porta da fé”. Atos 14:27. A igreja de Antioquia era grande e próspera. Centro de atividade missionária, era uma das mais importantes entre os grupos de cristãos. Sua congregação era composta de pessoas de diferentes classes, tanto de judeus como de gentios.
Enquanto os apóstolos se uniam aos ministros e membros leigos em Antioquia, num fervoroso esforço para ganhar conversos para Cristo, alguns crentes judeus, vindos da Judeia, “da seita dos fariseus” (Atos 15:5), conseguiram introduzir uma questão que em breve levou a grande controvérsia na igreja, produzindo consternação nos crentes gentílicos. Com grande segurança esses mestres judaizantes afirmavam que, para ser salvo, era preciso ser circuncidado e observar toda a lei cerimonial.
Paulo e Barnabé enfrentaram com prontidão essas falsas doutrinas, e se opuseram à introdução do assunto aos gentios. Por outro lado, muitos crentes judeus de Antioquia favoreciam a posição dos irmãos recentemente vindos da Judeia.
Os conversos judeus não eram geralmente inclinados a mudar tão rapidamente quanto a providência de Deus abria o caminho. Do resultado do trabalho dos apóstolos entre os gentios, ficou evidente que os conversos dentre este último povo excederiam muito aos conversos judeus em número. Os judeus temiam que, se as restrições e cerimônias de sua lei não fossem tornadas obrigatórias aos gentios como condição para se tornarem membros da igreja, as peculiaridades nacionais dos judeus, que até então os tinham mantido como um povo distinto de todos os outros povos, desapareceriam finalmente dentre os que recebiam a mensagem do evangelho.
Os judeus se haviam sempre orgulhado de seu cerimonial de instituição divina; e muitos dos que se haviam convertido à fé de Cristo ainda sentiam que uma vez que Deus havia claramente esboçado a forma hebreia de adoração, era pouco provável que Ele tivesse autorizado uma mudança em quaisquer de suas especificações. Insistiam em que as leis e cerimônias judaicas deviam ser incorporadas aos ritos da religião cristã. Eram tardos em discernir que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho de Deus, em que o tipo encontrou o antítipo, depois do que os ritos e cerimônia da dispensação mosaica não mais deviam perdurar.
Antes de sua conversão, Paulo se havia considerado irrepreensível “segundo a justiça que há na lei”. Filipenses 3:6. Mas, desde sua mudança de coração, ele havia alcançado uma clara concepção da missão do Salvador como Redentor da raça toda, judeus e gentios, e aprendera a diferença entre uma fé viva e um formalismo morto. À luz do evangelho, os antigos ritos e cerimônias confiados a Israel haviam ganho uma nova e mais profunda significação. Aquilo que haviam prefigurado tinha-se cumprido, e os que estavam vivendo sob a dispensação do evangelho tinham ficado livres de sua observância. A imutável lei de Deus, dos Dez Mandamentos, entretanto, Paulo ainda guardava no espírito bem como na letra. Na igreja de Antioquia, a consideração do assunto da circuncisão deu em resultado muitas discussões e litígio. Afinal, os membros da igreja, temendo que o resultado de continuada discussão fosse uma divisão entre eles, decidiram enviar a Jerusalém Paulo e Barnabé, juntamente com alguns homens de responsabilidade na igreja, a fim de exporem a questão perante os apóstolos e anciãos. Ali deviam eles encontrar-se com delegados de diversas igrejas e com os que tinham ido a Jerusalém para assistir às próximas festas. Enquanto isso, toda a discussão devia cessar até que fosse pronunciada a decisão do concílio geral. Essa decisão devia ser, então, universalmente aceita pelas várias igrejas em todo o país.
Em caminho para Jerusalém, os apóstolos visitaram os crentes das cidades por onde passavam e encorajavam-nos relatando sua experiência na obra de Deus e na conversão dos gentios.
Em Jerusalém, os delegados de Antioquia se encontraram com os irmãos das várias igrejas, que se haviam congregado para a reunião geral; e a estes relataram os sucessos que seu ministério entre os gentios haviam alcançado. Deram-lhes, então, um claro esboço da confusão que resultara porque certos fariseus convertidos tinham ido a Antioquia declarando que, para serem salvos, os conversos gentios precisavam ser circuncidados e deviam guardar a lei de Moisés.
Essa questão foi ardorosamente debatida na assembleia. Em íntima relação com o assunto da circuncisão estavam vários outros que demandavam cuidadoso estudo. Um deles era quanto à atitude a ser tomada com respeito a carnes sacrificadas a ídolos. Muitos dos gentios convertidos estavam vivendo entre pessoas ignorantes e supersticiosas, que faziam frequentes sacrifícios e ofertas a ídolos. Os sacerdotes desse culto pagão mercadejavam extensamente com ofertas a eles trazidas; e os judeus temiam que os gentios conversos pudessem levar descrédito ao cristianismo comprando aquilo que tinha sido sacrificado aos ídolos, sancionando assim, em certa medida, costumes idólatras.
Além disso, os gentios estavam acostumados a comer a carne de animais estrangulados, aos passo que os judeus tinham sido divinamente instruídos de que, quando animais fossem mortos para alimento, se tomasse particular cuidado para que o sangue fosse derramado do corpo; a não ser assim a carne não poderia ser considerada saudável. Deus havia dado essas injunções aos judeus a fim de preservar-lhes a saúde. Os judeus consideravam pecaminoso usar sangue como alimento. Consideravam que o sangue era a vida, e que o derramamento do sangue era consequência do pecado.
Os gentios, ao contrário, costumavam aparar o sangue derramado da vítima sacrifical e usá-lo na preparação de alimento. Os judeus não podiam crer que estivessem obrigados a mudar de costumes que haviam adotado sob a especial direção de Deus. Portanto, como as coisas, então, se apresentavam, se um judeu e um gentio se assentassem à mesma mesa para comer, o primeiro se consideraria ofendido e ultrajado pelo último.
Os gentios, e especialmente os gregos, eram extremamente liberais, e havia o perigo de que alguns, não convertidos de coração, fizessem uma profissão de fé sem renunciar as suas más práticas. Os cristãos judeus não podiam tolerar a imoralidade, que nem mesmo era considerada crime pelos pagãos. Os judeus, portanto, consideravam necessário que a circuncisão e a observância da lei cerimonial fossem impostas aos conversos gentios como um teste de sua sinceridade e devoção. Isso, criam eles, poderia impedir que se aliassem à igreja os que, adotando a fé sem verdadeira conversão, pudessem, mais tarde, trazer opróbrio sobre a causa por imoralidade e excesso.
Pelos vários pontos envolvidos na regulamentação da principal questão em jogo, parecia que o concílio estava diante de dificuldades insuperáveis. Mas o Espírito Santo já havia, em realidade, solucionado essa questão, de cuja decisão dependeria a prosperidade, senão a própria existência da igreja cristã.
“E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem”. Atos dos Apóstolos 15:7. Ele arrazoou que o Espírito Santo havia decidido o assunto em discussão ao descer com igual poder sobre os gentios incircuncisos e sobre os judeus circuncidados. Rememorou a visão em que Deus apresentara perante ele um lençol cheio de toda a espécie de quadrúpedes, e lhe ordenara matar e comer. Recusando ele, com a afirmação de que jamais comera coisa comum ou imunda, a resposta fora: “Não faças tu comum ao que Deus purificou”. Atos 10:15.
Pedro relatou a clara interpretação dessas palavras, a qual lhe fora dada quase em seguida à notificação de ir ter com o centurião para instruí-lo na fé cristã. Essa mensagem mostrava que Deus não faz acepção de pessoas, mas aceita e reconhece a quantos O temem. Pedro falou de seu assombro quando, ao transmitir as palavras da verdade àquela assembleia em casa de Cornélio, testemunhara que o Espírito Santo Se apossara de seus ouvintes, tanto gentios como judeus. A mesma luz e glória que se refletira sobre os judeus circuncidados, brilhou igualmente na face dos incircuncisos gentios. Isso era uma advertência de Deus a Pedro para que não considerasse pessoa alguma inferior a outra; porque o sangue de Cristo pode limpar de toda a imundícia.
Em ocasião anterior, Pedro havia arrazoado com seus irmãos com respeito à conversão de Cornélio e seus amigos, e sua comunhão com eles. Ao relatar nessa ocasião como o Espírito Santo descera sobre os gentios declarara: “Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quanto havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?” Atos 11:17. Agora, com igual fervor e força, ele afirma: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?” Atos dos Apóstolos 15:10. Esse jugo não era a lei dos Dez Mandamentos, como afirmam alguns que se opõem aos reclamos da lei; Pedro se refere aqui à lei das cerimônias, tornada nula e vã pela crucifixão de Cristo.
O discurso de Pedro levou a assembleia ao ponto de poderem ouvir com paciência a Paulo e a Barnabé relatarem suas experiências na obra pelos gentios. “Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios”. Atos 15:12. Tiago também apresentou seu testemunho com decisão, declarando que era o propósito de Deus outorgar ao gentios os mesmos privilégios e bênçãos concedidos aos judeus.
Ao Espírito Santo pareceu bem não impor aos gentios conversos a lei cerimonial, e o parecer dos apóstolos a esse respeito foi como o do Espírito de Deus. Tiago presidiu ao concílio, e sua decisão final foi: “Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus”.
Isso pôs fim à discussão. Nesse exemplo, temos a refutação da doutrina mantida pela Igreja Católica Romana de que Pedro era a cabeça da igreja. Os que, como papas, têm pretendido ser seus sucessores, não encontram fundamento escriturístico para suas pretensões. Coisa alguma na vida de Pedro concorda com a afirmativa de que ele fora colocado acima de seus irmãos como representante do Altíssimo. Se os que são considerados sucessores de Pedro tivessem seguido seu exemplo, ter-se-iam contentado sempre com ser iguais a seus irmãos.
Nessa ocasião, parece ter sido escolhido Tiago para anunciar a decisão tomada pelo concílio. E sua sentença foi que a lei cerimonial, e especialmente a ordenança da circuncisão, não deveriam ser impostas aos gentios, ou a eles sequer recomendadas. Tiago procurou impressionar a mente de seus irmãos com o fato de que, convertidos a Deus, os gentios tinham feito grande mudança em sua vida, e que se deveria usar de muita cautela para não perturbá-los com assuntos de menor importância, que levantariam dúvidas e perplexidade, para que não desanimassem em seguir a Cristo.
Os conversos gentios, porém, deviam abandonar os costumes incoerentes com os princípios do cristianismo. Os apóstolos e anciãos, portanto, concordaram em instruir por carta os gentios a se absterem de carnes sacrificadas aos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Deviam ser ensinados a guardar os mandamentos e a levar vida santa. Deviam também estar certos de que os que declaravam ser a circuncisão obrigatória não estavam autorizados a fazê-lo em nome dos apóstolos.
Paulo e Barnabé eram-lhes recomendados como pessoas que haviam arriscado a vida pelo Senhor. Judas e Silas foram enviados com esses apóstolos para declarar aos gentios de viva voz a decisão do concílio. “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; das quais coisas fazeis bem se vos guardardes”. Atos 15:28 – 29. Os quatro servos de Deus foram enviados a Antioquia com a epístola e a mensagem que devia pôr fim a toda controvérsia; porque era a voz da mais alta autoridade sobre a Terra.
O concílio que decidiu esse caso era composto dos apóstolos e mestres que se haviam destacado no trabalho de fundar igrejas cristãs judaicas e gentias, juntamente com delegados escolhidos de vários lugares. Estavam presentes anciãos de Jerusalém e delegados de Antioquia, e as igrejas mais influentes estavam representadas. O concílio se conduziu de acordo com os ditames de iluminado juízo e com a dignidade de uma igreja estabelecida pela vontade divina. Como resultado de suas deliberações, todos eles viram que o próprio Deus dera resposta à questão, concedendo aos gentios o Espírito Santo; e sentiram que era sua parte seguir a orientação do Espírito.
Não foram convocados todos os crentes para votarem sobre a questão. Os “apóstolos e anciãos” (Atos 15:23), homens de influência e bom senso, redigiram e expediram a resolução, que foi logo aceita pelas igrejas cristãs. Nem todos, entretanto, ficaram contentes com a decisão; havia uma facção de irmãos ambiciosos e possuídos de presunção que a desaprovaram. Esses homens pretensiosamente tomaram a decisão de se empenhar na obra sob a própria responsabilidade. Entregaram-se a muita murmuração e crítica, propondo novos planos e procurando desfazer a obra dos homens a quem Deus ordenara que ensinassem a mensagem do evangelho. Desde o início teve a igreja tais obstáculos a enfrentar, e há de tê-los até a consumação do tempo.
Jerusalém era a metrópole dos judeus, e era ali que se encontravam o maior exclusivismo e intolerância. Os cristãos judeus, vivendo próximos do templo, naturalmente permitiam voltar a mente aos privilégios peculiares dos judeus como nação. Quando viram a igreja cristã se afastando das cerimônias e tradições do judaísmo, e perceberam que a peculiar santidade de que os costumes judeus eram revestidos seria logo perdida de vista à luz da nova fé, muitos se mostraram indignados com Paulo como sendo a pessoa que, em grande medida, havia provocado essa mudança. Até mesmo os discípulos não estavam todos preparados para aceitar de boa vontade a decisão do concílio. Alguns eram zelosos com relação à lei cerimonial, e discordavam de Paulo, pois pensavam que eram frouxos seus princípios referentes às obrigações da lei judaica.
As decisões amplas e de grande alcance do concílio geral levaram confiança aos crentes gentios e a causa de Deus prosperou. Em Antioquia, a igreja foi favorecida com a presença de Judas e Silas, os mensageiros especiais que, da reunião em Jerusalém, tinham voltado com os apóstolos. Sendo “também Judas e Silas profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”. Atos dos Apóstolos 15:32. Esses homens piedosos se detiveram em Antioquia por algum tempo. “E Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a Palavra do Senhor”. Atos 15:35.
Quando Pedro, posteriormente, visitou Antioquia, captou a confiança de muitos por sua conduta prudente para com os conversos gentios. Por algum tempo, ele agiu de acordo com a luz dada pelo Céu. Dominou seu natural preconceito até o ponto de sentar-se à mesa com os conversos gentios. Mas quando certos judeus zelosos da lei cerimonial vieram de Jerusalém, Pedro mudou inesperadamente o seu procedimento para com os conversos do paganismo. Alguns “judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação”. Gálatas 2:13. Essa revelação de fraqueza da parte daqueles que haviam sido respeitados e amados como dirigentes, produziu dolorosa impressão na mente dos crentes gentios. A igreja foi ameaçada de divisão. Mas Paulo, que viu a subversiva influência do erro praticado para com a igreja pela duplicidade de atitude da parte de Pedro, reprovou-o abertamente por dissimular assim seus verdadeiros sentimentos. Na presença da igreja, Paulo arguiu a Pedro: “Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” Gálatas 2:14.
Pedro viu o erro em que havia caído, e procurou imediatamente reparar, tanto quanto possível, o mal que causara. Deus, que conhece o fim desde o princípio, permitiu que Pedro revelasse essa fraqueza de caráter, para que o provado apóstolo visse nada haver em si de que se pudesse vangloriar. Mesmo os melhores homens, se entregues a si próprios, errarão no julgamento. Deus viu também que no tempo por vir, alguns seriam tão iludidos que atribuiriam a Pedro e seus pretensos sucessores as elevadas prerrogativas que só a Deus pertencem. E esse registro de fraqueza do apóstolo permanece como uma prova de sua falibilidade, e de que ele, de modo algum, esteve acima do nível dos outros apóstolos.
A história desse desvio dos retos princípios permanece como solene advertência a homens em posições de confiança na causa de Deus, para que não venham a fracassar na integridade mas se apeguem firmemente ao princípio. Quanto maiores forem as responsabilidades colocadas sobre o agente humano, e quanto mais amplas suas oportunidades para mandar e controlar, é certo que mais erros cometerá, se não seguir cuidadosamente o caminho do Senhor e trabalhar em harmonia com as decisões tomadas pelo corpo geral de crentes reunidos em concílio.
Depois de todas as faltas de Pedro; depois de sua queda e restauração, seu longo tempo de serviço, sua intimidade com Cristo, seu conhecimento da correta prática dos retos princípios do Salvador; depois de toda a instrução recebida, todos os dons, conhecimento e influência obtidos pela pregação e ensino da Palavra — não é estranho que ele dissimulasse e evitasse os princípios do evangelho por temor dos homens, ou para captar a estima? Não é estranho que ele vacilasse no apego ao direito? Possa Deus dar a cada homem o reconhecimento de seu desamparo, sua incapacidade para guiar o próprio barco seguro e a salvo para o porto.
Em seu ministério, Paulo era muitas vezes compelido a permanecer sozinho. Ele fora especialmente ensinado por Deus, e não ousava fazer concessões que envolvessem princípios. Às vezes, o fardo era pesado, mas Paulo permanecia firme pelo direito. Ele considerava que a igreja não deve jamais ser colocada debaixo do controle do poder humano.
As tradições e ideias humanas não devem tomar o lugar da verdade revelada. O progresso da mensagem do evangelho não deve ser detido por preconceitos e preferências das pessoas, qualquer que seja sua posição na igreja.
Paulo dedicara sua vida e todas as suas habilidades ao serviço de Deus. Havia recebido as verdades do evangelho diretamente do Céu, e em todo o seu ministério mantivera vital ligação com os instrumentos celestiais. Tinha sido ensinado por Deus com respeito a impor encargos desnecessários aos cristãos gentios; assim, quando crentes judaizantes introduziram na igreja de Antioquia a questão da circuncisão, Paulo conhecia o pensamento do Espírito de Deus com respeito a tal ensino, e tomou decisão firme e inabalável, que libertou as igrejas de cerimônias e ritos judaicos.
Não obstante o fato de haver sido Paulo ensinado pessoalmente por Deus, não mantinha ideias irredutíveis de responsabilidade individual. Embora buscando de Deus a orientação direta, estava sempre pronto a reconhecer a autoridade contida no corpo de crentes unidos como igreja. Sentia a necessidade de aconselhar-se; e quando surgiam assuntos de importância, alegrava-se em poder apresentá-los perante a igreja, e em unir-se com os irmãos para buscar de Deus sabedoria para fazer decisões acertadas. Mesmo “os espíritos dos profetas”, declarou ele, “estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos”. 1 Coríntios 14:32, 33. Da mesma forma que Pedro, ele ensinava que todos unidos na qualidade de igreja deviam ser “sujeitos uns aos outros”. 1 Pedro 5:5.