Daniel 7: A visão do primeiro animal (Parte 2)

Um Leão com Asas de Águia


Com comentário de Siegfried J. Schwantes1 e C.Mervyn Maxwell2

“Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando, numa visão noturna, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o Mar Grande. E quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em dois pés como um homem; e foi-lhe dado um coração de homem.” (Daniel 7: 2-4
Versos 16-17: “Cheguei-me a um dos que estavam perto, e perguntei-lhe a verdadeira significação de tudo isso. Ele me respondeu e me fez saber a interpretação das coisas. Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra.”

“Se Daniel 2 provê evidência poderosa, racional não só para a existência de Deus mas Seu poder de controlar o futuro, Daniel 7 provê ainda mais. Este capítulo cobre as mesmas épocas de Daniel 2, mas apresenta um elemento-chave não explicitado em Daniel 2: o grande juízo no Céu, que leva diretamente à segunda vinda de Jesus e o fim deste mundo como o conhecemos. Em resumo, em Daniel 7, temos uma apresentação do juízo pré-advento. A chave para entender Daniel 7 está em Daniel 2. […] Deus utilizou duas categorias de símbolos, animais e elemento humano, para antecipar a Daniel importantíssimos eventos que ocorreriam no Céu, e também na Terra até o estabelecimento de Seu reino. […]

Considerando que os planos proféticos de Daniel se relacionam num esquema de repetição e desdobramento enfáticos, o capítulo 7 não repetirá alguns detalhes do 2, mas acrescentará outros, indispensáveis para a obtenção de um vislumbre mais ampliado do grandioso propósito de Deus para este mundo. Neste sentido, o quadro do tribunal divino (vs. 9 e 10), com suas duas implicações fundamentais (vs. 11-14), merece especial destaque. […] Das águas agitadas do “Grande Mar”, Daniel contemplou, um após o outro, o surgimento de quatro animais (v. 3), um leão, um urso, um leopardo e um animal terrível. Do redemoinho das agitações políticas e sociais do mundo, determinadas nações se sobressaem e impõem o domínio, para em seguida cair e ceder lugar a outras que lhes sucedem. Não tem sido a História, desde o seu início, uma sequencia inexorável de queda e levantamento de reinos? Onde estão as grandes civilizações do passado? Não estão as nações de hoje, ao não cultivarem os genuínos valores que garantem uma estabilidade permanente, seguindo o mesmo caminho das que as antecederam?

A figura do Mediterrâneo aqui é estratégica, porquanto, além de estar situado no ambiente do profeta, esse mar se interpõe precisamente entre o Ocidente e o Oriente. Assim, estão sendo previstos eventos que afetariam a Terra como um todo. A sucessão dos impérios representados pelos animais ocorre em um contexto de poder que se amplia. Os dois primeiros animais simbolizam dois impérios orientais (Babilônia e Medo-Pérsia), que exerceram o domínio apenas no oriente, o segundo, numa extensão territorial maior que a do primeiro. Por sua vez, os dois animais seguintes apontam para impérios ocidentais (Grécia/Macedônia e Roma), cujo domínio avançou também para o oriente, […] Os últimos se tornam mais mundiais que os primeiros.
Esse crescendo de domínio territorial é providencial para as pretensões do anticristo num futuro próximo, pois, de alguma forma, esse poder estará associado àquele que no passado exerceu maior domínio territorial. As profecias do Apocalipse revelam claramente que a besta que emerge do mar terá autoridade sobre todo o mundo, e daí receberá apoio em sua nefasta obra de combater a Deus e a Seu povo (Apocalipse 13:3, 7, 8, 12, 14 e 16). Esse poder apocalíptico é o mesmo representado pelo “chifre pequeno” de Daniel 7.
“De fato, as duas visões [Daniel 2 e 7] seguem um desenvolvimento paralelo. Os dois capítulos cobrem o mesmo tempo, desde Babilônia até o fim do tempo para a humanidade, e evocam os mesmos quatro reinos representados simbolicamente pelos metais do capítulo 2 e pelos animais no capítulo 7. Esse paralelo é mais do que um fator unificador – é a chave para nosso método de interpretação. Devemos ler o capítulo 7 à luz do capítulo 2.” – (Jacques Doukhan, Secrets of Daniel, pág. 100.)

“Nabodinus ‘entregou a realeza’ em 553 a.C. Portanto, 553 a.C. deve ser considerado como ‘o primeiro ano de Belsazar’, e o ano da presente visão. Nabucodonosor havia falecido há 9 anos. Seus sucessores no trono não haviam sido pessoas de grande valor, e Belsazar tampouco prometia muito. Tratava-se de um período de grande incerteza política para todos, inclusive para os judeus que viviam na Babilônia.

O próprio Daniel já não era mais um jovenzinho. Achava-se por volta dos 70 anos, embora com certeza ainda estivesse na ativa (Daniel 8:27). A queda da Babilônia (capítulo 5) e sua experiência na cova dos leões no (capítulo 6) ainda se encontravam no futuro, pois os capítulos de Daniel não estão em ordem cronológica.”2

Verso 4:  “O primeiro era como leão, e tinha asas de águia”. O leão que errava pelas planícies da Mesopotâmia era um símbolo apropriado de Babilônia. Jeremias compara Babilônia a um leão (Jeremias 4:7 e 50:17).

Ezequiel a compara a uma águia (Ezequiel 17:3 e 12).3 A combinação de leão e águia era um motivo comumente usado na arte de Babilônia. Estátua de touros e leões alados costumavam guardar a entrada dos palácios na Assíria.  A estátua de um leão de basalto foi desenterrada perto das ruínas de Babilônia e pode ser vista pelos turistas que visitam o local.

O arrancar das asas do leão e a perda do seu caráter bestial parecem apontar para a fraqueza militar de Babilônia durante os últimos 20 anos de sua existência. Os sintomas de decadência militar eram visíveis muito tempo antes do colapso do poderio babilônico em 539 a.C.”1

“O leão alado é uma das formas de animal frequentemente pintados em combate com Marduque5, o deus patrono da cidade de Babilônia. Outros profetas referem-se ao rei Nabucodonosor por figuras similares (Jeremias 4:7; 50:17, 44; Lamentações 4:19; Ezequiel 17:3, 12; Habacuque 1:8). O leão como o rei dos animais e a águia como o rei dos pássaros representam adequadamente império de Babilônia no apogeu da sua glória. Um leão é notável pela sua força, enquanto que a águia é famosa pelo poder e alcance de seu voo. O poder de Nabucodonosor foi sentido não somente em Babilônia, mas desde o Mediterrâneo até o Golfo Pérsico, e a da Ásia Menor ao Egito. Assim é apropriado, a fim de representar a amplitude do poder de Babilônia, que o leão fosse provido de asas de águia.” (Comentários sobre Daniel, pág. 232)4
O desenrolar dos acontecimentos históricos têm sempre sua origem no coração do homem, por isso Paulo escrevendo aos hebreus disse: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Hebreus 15:19)


Não serei, portanto, leviana se afirmar que o coração é o palco onde os dois livros proféticos, Daniel e Apocalipse, encontram espaço e também se desenrolam. A rebelião do homem contra Seu Criador e sua tentativa de gerenciar a História subestimando a soberania de Deus são as apresentações loucas e irrefletidas de homens e mulheres que têm se confundido sobre qual é o seu verdadeiro papel na história ou se arvorado o direito de se fazerem semideuses.
Conta-se que Napoleão Bonaparte comentou que, na guerra, “Deus luta ao lado da melhor artilharia”. Um olhar reflexivo nas páginas da História revelam o contrário: Deus luta com a verdade e a justiça. Aos homens de entenderem isto.
Alexis de Tocqueville,  pensador político,  historiador e  escritor francês, disse certa vez que: “A História é uma galeria de quadros onde há poucos originais e muitas cópias.” A história dos grandes impérios mundiais nos revela o problema comum: a rebelião e o descaso com relação a Deus. Prepotência e queda. O que aconteceu com os sucessivos impérios é apenas uma dimensão maior do que se dá na história pessoal de cada ser humano. A prepotência, a arrogância e a soberba podem levar ao alto, mas também conduzem à queda.
Continuaremos…


NOTAS
1- Referência: O Livro de Daniel, comentários de Siegfried J. Schwantes
2- C.Mervyn Maxwell Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel
3. Ver S. H. Langson, “Semitic Mithology”, The Mithology of all Races, vol 13, pp. 118, 177-282.
5- Marduque é chamado de Merodaque-Baladã pelos hebreus (Isaías 39:1; Jeremias 50:2; II Reis 25:27).

Ruth Alencar
– Conversando sobre o Livro de Daniel
– por Ellen White , Profetas e Reis, Capítulo 35

– por Pr. Isaque Resende

– por pr. Ezequiel Gomes

– por Ruth Alencar com texto base de Luiz Gustavo Assis e vídeos da Tv Novo Tempo

– por Ruth Alencar com comentários de Flávio Josefo e Edward J. Young

 – por Ruth Alencar
– por Ruth Alencar com comentários de Flávio Josefo
– por Ruth Alencar
– por Ruth Alencar com comentário de Siegfried J. Schwantes

Uma Introdução ao Livro de Daniel (parte 1) (com comentário de Siegfried J. Schwantes)


. capítulo 1


. capítulo 2
. Revelação e explicação do sonho de Nabucodonosor (com Comentário de Siegfried J. Schwantes) 

. O Reino da Pedra

– por Ruth Alencar com comentário de Siegfried J. Schwantes

. Um pouco mais sobre a Mensagem de Daniel 3

– comentários de C. Mervyn Maxwell e Ellen White 

. capítulo 4
– comentário de Siegfried J. Schwantes
– por Ruth Alencar com comentários de C. Mervyn Maxwel, Urias Smith e Dr. Cesar Vasconcellos de Souza

. capítulo 5

– por Ruth Alencar com comentários de Siegfried J. Schwantes e C. Mervyn Maxwel

. capítulo 6
– comentários de Siegfried J. Schwantes e C. Mervyn Maxwel

. capítulo 7

– comentários de Siegfried J. Schwantes e C. Mervyn Maxwel.
– por Ruth Alencar com comentários de Siegfried J. Schwantes 
– com comentários de Siegfried J. Schwantes e  José Carlos Ramos 
– por Ruth Alencar
– com comentários de Siegfried J. Schwantes e  José Carlos Ramos 
– por Ruth Alencar
– com comentários de Siegfried J. Schwantes e  José Carlos Ramos 
– por Ruth Alencar
 Continuando nossos estudos sobre Daniel 7  
 – por Ruth Alencar
. capítulo 8
– com comentários de Siegfried J. Schwantes e  C. Mervyn Maxwel
 Continuando nossos estudos sobre Daniel 8  
– por Ruth Alencar 

. capítulo 9
– com comentários de Siegfried J. Schwantes
– por Matheus Cardoso


. capítulo 10
. Daniel 10: O Conflito nos Bastidores

– Comentário de Siegfried J. Schwantes

. capítulo 11
– Comentário de Siegfried J. Schwantes
. capítulo 12
Daniel 12 : O Tempo do Fim – Parte 1– Por Siegfried J. Schwantes

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