Continuando nosso estudo sobre Daniel 7
Comentários de José Carlos Ramos1, Siegfried J. Schwantes2 e C. Mervyn Maxwel3
“Eu vi, o chifre guerreou contra os santos e estava vencendo, até que o Ancião veio, e o juízo foi dado a favor dos santos do Altíssimo, e chegou o tempo de os santos tomarem o reino. Eis o que ele disse: o quarto animal será o quarto reino sobre a Terra. Ele será diferente dos outros reinos; ele devorará a terra toda, irá pisá-la e a esmagará. […] Ele falará palavras contra o Altíssimo e tentará oprimir os santos do Altíssimo. Tentará alterar as estações e a lei; e [os santos] lhe serão entregues por um tempo, tempos e metade de um tempo.” (Bíblia Judaica Completa, Daniel 7: 21-27)
Segundo o relato de Daniel o poder opressor do chifre pequeno causará grande angustia aos que não se submeterem ao seu poder. Será um poder arrogante. Um poder que desafiará não somente os que rejeitam submeter-se ao seu domínio, mas sobretudo, um poder que se levanta contra Deus. Contra a autoridade da vontade divina. É em meio a essa visão de um quadro cheio de monstruosas bestas e chifres que Deus revela a Daniel que Seu olhar está atento ao sofrimento de Seu povo e que Ele virá pessoalmente intervir e não apenas subjugar esse poder arrogante, mas virá para destruí-lo.
Essa é a mensagem comum em várias partes do capítulo 7:
Daniel 7:9-14 : “Enquanto eu olhava, tronos foram colocados em seus lugares, e o Ancião tomou o seu lugar. Suas roupas eram brancas como a neve, e o cabelo de sua cabeça era como a lã pura. Seu trono era de chamas flamejantes, com rodas de fogo. Um riacho de fogo fluía de sua presença; milhares e milhares ministravam a ele, milhões e milhões estavam diante dele. A seguir, o tribunal teve início, e os livros foram abertos. […]”
Daniel 7: 18 : “No entanto, os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre; sim, para todo o sempre.”
Daniel 7: 22 : “até que o ancião veio, e o juízo foi dado a favor dos santos do Altíssimo, e chegou o tempo de os santos tomarem o reino.”
Daniel 7:26-27 : “No entanto, quando o tribunal der sequência à sessão, ele será destituído de seu domínio, que será consumido e destruído por completo. Então o reino, o domínio e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo santo do Altíssimo. Seu reino é um reino eterno, e todos os líderes servirão a ele e lhe obedecerão.”
Daniel, então, “passa deste mundo para o ambiente celestial. Ele vê o assentamento de tronos e Deus tomando o Seu lugar. […] O julgamento culmina com dois resultados: (1) o domínio é tirado dos animais e (2) é outorgado a “um como o Filho do homem”, que deve reinar para todo o sempre (vs. 9-14). […] Estes versos transportam o leitor para a esfera celeste onde uma cena de julgamento é descrita. Em harmonia com seu conteúdo sublime, estes versos foram escritos em forma poética. O tribunal celeste é presidido pelo “Ancião de dias” (Deus).”1
Deus é o Ancião da visão de Daniel. “Esta expressão, “Ancião de Dias”, destaca Sua natureza eterna. No Apocalipse, Ele é “Aquele que é, que era e que há de vir”, “o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (1:8; 22:13). E o salmista alude a esse fato com as palavras “de eternidade a eternidade, Tu és Deus” (Salmo 90:2). Naturalmente, Jesus partilha desse insondável atributo da eternidade divina (Hebreus 1:10-12).
A preposição “até”, em Daniel 7:22, indica que algo que vinha ocorrendo antes deveria efetivamente cessar com o que aí é referido: a vinda do Ancião de Dias. Esse “algo” é descrito no verso anterior e são os atos abomináveis do “chifre pequeno” em seu ataque às instituições de Deus, com especial referência ao Seu povo (v. 21). Esses atos assim prosseguiram “até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos”. […] A “vinda” do Ancião de Dias tem um propósito definido: dar como aberta a sessão do tribunal divino que, finalmente, vindica os santos e faculta-lhes a posse do reino como um dos dois resultados do juízo.”1
Um dos dois? Sim, os cristãos adventistas compreendem que segundo o conceito hebraico de julgamento, duas coisas deveriam ocorrer simultaneamente: a justificação do inocente e a condenação do culpado. E como é possível justificar e condenar senão pelo juízo?
“A ideia é que uma ocorrência resulta na outra, isto é, a vindicação do justo redunda em condenação do ímpio. Adicionalmente, chamo a atenção para o fato de que também Daniel trabalha com o tema do juízo nessas duas direções, o que pode ser evidenciado em sua parte histórica, o exemplo mais frisante aparecendo no capítulo 6: um justo, Daniel, foi condenado a ser jogado na cova dos leões, mas Deus o vindicou, impedindo que os felídeos lhe causassem qualquer dano. A seguir, os mesmos que inicialmente o acusaram e moveram o rei a condená-lo foram desmascarados, condenados e destruídos, enquanto que, em seguida, “Daniel prosperou no reinado de Dario, e no reinado de Ciro, o persa” (v. 28).
Acho que podemos considerar esse incidente como tipológico do que acontece com o remanescente nos dias finais. São vindicados por Deus, enquanto que os poderes opressores são igualmente desmascarados, condenados e destruídos. Esse é o teor da profecia de Daniel 7, que termina com a afirmação de que “o reino e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo” (v. 27).
[…] É necessário que fique demonstrado a todo o Universo que o trato de Deus com a problemática do pecado é justo e amoroso, isto é, em consonância com o Seu caráter. E isso é feito através da obra do juízo. Assim, uma coisa e outra estão intimamente ligadas. Quando Deus, pois, julga para vindicar os justos e condenar os ímpios, está Ele mesmo, de alguma forma, sendo também julgado. E o veredito será dado por todo o Universo (Apocalipse 19:1 e 2). Não pairará a mínima dúvida quanto à integridade do caráter de Deus. De fato, Deus virá a vencer quando for julgado (Romanos 3:4). […] Todo o livro de Daniel revela que Deus está no controle de cada coisa, operando “silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade… para o cumprimento de Seu propósito.” (Educação , págs. 173 e 178).
[…] Mais uma vez, fica demonstrado que o juízo, para aqueles que têm Jesus como Salvador e Senhor, significa vindicação, justificação e vida eterna.”1
“A corte celeste preocupa-se com estabelecer o caráter dos acusados, e assim manter o direito dos santos, em vista de sua relação com Cristo, à sua herança eterna. […]” O que os cristãos perseguidos “reclamam é o reconhecimento de seu direito à vida eterna (Apocalipse 6:10).
A natureza desta controvérsia religiosa se destaca em Apocalipse. 12:10. Aí Satanás é designado como “o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante de nosso DEUS”. O direito do crente de herdar a vida eterna é contestado por Satanás, e precisa ser defendido por Cristo. Esta contestação se efetua no tribunal celeste, à medida que o registro de cada crente em Cristo é examinado, e explica porque o julgamento que precede o advento tem-se prolongado por tantos anos. Em vista das questões eternas em jogo, compreende-se porque Satanás tenta exagerar o desmerecimento de cada santo. Mas todo crente sincero pode descansar no fato que “temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (I João 2:1). […]
Embora completa unanimidade sobre a interpretação de alguns detalhes desta profecia seja dificilmente atingível, é claro que o tribunal celeste terá a última palavra, e que uma sentença de morte será pronunciada sobre a potência que oprimiu os santos nesta terra. “O tribunal, o mesmo tribunal descrito nos vv. 9 e 10, “se assentará”, pronunciando condenação para o opressor e vindicação para o “povo dos santos do Altíssimo”. Serão declarados dignos de serem súditos do reino de DEUS, e pela mesma razão se tornarão co-herdeiros com Cristo do “domínio eterno” que lhe será concedido pelo Altíssimo (vv. 13-14).”2
Este é o elemento principal em Daniel 7: a instalação do tribunal divino. O período do “juízo pré-advento”. É a fase do juízo que se processa antes da segunda vinda de Cristo.
Está escrito: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus”. […] Uma visão do Deus inefável sentado no Seu Trono é descrita em Ezequiel 1:26-28. O profeta Miqueias descreve a corte celeste em termos semelhantes: “Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda” (I Reis 22:19). À vista da riqueza de imagens que se encontram no Antigo Testamento, é pedântico apelar a modelos babilônicos ou ugaríticos como a fonte de onde simbolismo foi extraído. Afinal Daniel não estava compondo uma peça literária, mas descrevendo o que viu em visão. Se paralelos devem ser procurados, estes devem ser nos escritos dos profetas que enchiam a memória do escritor, e não na mitologia pagã.
Qualquer dúvida sobre o significado do cenário desvanece diante da declaração: “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (v.10). A noção de que há relatos guardados nos céus se encontra em textos como Êxodo 32:23; Salmo 56:8; Malaquias 3:16, etc. Esta visão da corte celeste é um lembrete de que homens e nações deverão comparecer um dia diante do tribunal de Deus (Romanos 14:10). Tiranos terrestres podem vangloriar-se por um breve tempo de suas proezas escritas em sangue, mas o Juiz de toda a terra os chamará um dia a prestar contas. O autor de Eclesiastes convida os leitores a ponderar: “teme a Deus, e guarda os seus mandamentos… Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras….” (Eclesiastes 12:13,14).
Verso 11. De novo a atenção do leitor é chamada para acontecimentos que transpiram na terra, a saber, a destruição do quarto animal, a natureza anti-religiosa do qual tornou-se patente no “chifre pequeno”. O tribunal celeste pronuncia sentença contra o animal, mas sua execução se realiza nesta terra. Embora o “chifre” persistisse em sua atividade insultuosa enquanto o tribunal celeste estava em sessão, sua destruição final é certa. O anúncio de que o “animal foi morto” é prolético. Antecipa-se aqui a sentença que no final atingirá todos os adversários de Deus.”2
Em qualquer estabelecimento comercial que você entre é obrigatório ter em local visível e acessível um exemplar do Código dos Consumidores. “Empregados apreciam ter as normas da companhia afixadas onde possam ser lidas. […] As sociedades livres insistem em que até mesmo os criminosos tenham o direito de ver sob forma escrita as acusações que contra eles pesam, as quais devem achar-se apoiadas por sólidas evidências. Que tipo de evidência e que espécie de base legal utilizará Deus no julgamento?”
Segundo a Bíblia existem três categorias de livros:
1- a que contem o registro de todos os feitos (Daniel 7:10 e Apocalipse 20:12-15). A partir desses livros os mortos serão julgados ‘segundo o que praticaram’;
2- a que contem uma seleção apenas dos bons feitos daqueles que amam a Deus;
3- a que relaciona o nome de todos aqueles que nasceram novamente em Cristo e nEle vivem.
Malaquias 3:16 fala do ‘livro da vida’, do ‘livro memorial’ que foi aberto e escrito em relação àqueles ‘que temem ao Senhor, e para os que se lembram do Seu nome’.
[…] Não necessitamos saber coisa alguma quanto à aparência dos livros. Nos tempos de Daniel ‘livros’ apareciam sob a aparência de tabletes de barro, papiro ou pergaminho. Os livros do Céu podem ser listagens de computador ou, muito provavelmente, algo muito mais sofisticado. […]” A questão seria: por que Deus manteria esses livros?
“Certamente Deus não precisa deles como auxiliares de Sua memória! Ele os conserva em nosso benefício. […] O espaço exterior é habitado por seres inteligentes, os quais se acham profundamente interessados no drama que se desenrola no planeta Terra. É também em benefício desses seres que os registros são mantidos. Deus deseja que eles – tanto quanto nós – conheçam as evidências com base nas quais todos os casos são decididos. É certo que os anjos se acham envolvidos de modo muito mais profundo na dramática controvérsia entre o bem e o mal, do que a maioria de nós é capaz de imaginar. Apocalipse 12 chega até mesmo a falar em guerra no Céu. […] O pecado nos provê uma chave para a compreensão da base legal no julgamento, pois 1 João define o pecado como a transgressão da lei (Torah). Portanto, o pecado é o estilo de vida em que não há consideração para com a lei.” Mas, que lei é essa? “A Lei de Deus evidentemente.”3
“[…] tema a Deus e guarde suas leis (mitzvot)6; para isso, os seres humanos foram feitos. Pois Deus levará a juízo tudo que fazemos, incluindo cada segredo, seja ele bom, seja mau.” (Eclesiastes 12: 13-14)
A maioria de nós pensa que sabe em que consiste o amor, mas sem a Bíblia torna-se surpreendentemente fácil interpretar erradamente o amor. […] Quão bom é que tenhamos a lei de Deus a lembrar-nos da fidelidade do genuíno amor nestas palavras: ‘Não cometa adultério”! […] Muitos homens pensam que o amor que sentem por suas famílias deve levá-los a trabalhar sete dias por semana, de forma a poderem dar conta de pagar todos os prazeres e confortos do presente século. Mas, ao explicar o amor que temos por nossas famílias, o quarto mandamento diz: “Lembre-se do dia (do) shabbat, para separá-lo para Deus. Você tem seis dias para trabalhar e realizar todas as suas tarefas, mas o sétimo dia é um shabbat para Adonai (Senhor), seu Deus. Não realize nenhum tipo de trabalho – nem você, nem seu filho, nem sua filha, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu gado, nem o estrangeiro que está com você dentro dos portões de sua propriedade.”
O mandamento do sábado demonstra amor pelas famílias porque envolve a família como um todo na observância na observância desse dia de descanso e adoração. E ele revela também amor para com Deus quando mantemos em espírito de santidade o exato dia que Ele escolheu. Quão trágico imaginar que alguém chegue a afirmar que Jesus veio morrer neste mundo a fim de que pudéssemos tornar-nos transgressores da Lei! Até mesmo durante a Sua permanência física na Terra, Jesus percebeu que alguns de Seus ouvintes alimentavam a ideia de que Ele estava minando a autoridade dos Dez Mandamentos, Cristo fez o melhor possível no sentido de pôr as coisas em ordem! São dEle essas palavras: “Não pensem que vim abolir a Torah4 ou os Profetas. Não vim abolir, mas completar. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud5 ou um traço da Torah passará – não até que todas coisas que precisam acontecer tenham ocorrido.” (Mateus 5:17-18)
O livro de Apocalipse descreve um ‘anjo’ que voa simbolicamente pelo meio do Céu justamente antes do início do juízo, e clama em alta voz: “Temam a Deus e deem-lhe glória, porque chegou a hora do seu juízo! Adorem aquele que fez os céus e a terra, o mar e as fontes das águas.[…] Nesse momento é necessária a perseverança da parte do povo de Deus, dos que guardam seus mandamentos e são fiéis a Jesus.” (Apocalipse 14:7 e 12). Tais cristãos têm seus nomes inscritos no livro da vida e não necessitam temer o juízo de Deus.”3
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. A justiça divina é uma expressão do Seu amor e autoridade. Ao sentar-Se como um juiz, o amor que Lhe move é o mesmo que Lhe pôs sobre aquela cruz. Deus virá como juiz porque tem sobre Si a essência da preservação da vida. A Terra é algo que Lhe pertence, foi Ele quem a criou. Lúcifer já provou seus argumentos. A Terra e suas criaturas não lhe pertencem.
Os que ouvirem o seu convite de rebelião ou rejeição contra Deus serão destruídos porque Ele quer a Sua criação de volta. Ele quer definitivamente resolver o problema do sofrimento na Terra. Isto se chama justiça. A Deus o que é de Deus. A história da humanidade com suas guerras e conflitos tem que ser lida neste contexto de forças antagônicas: O Mal querendo se apropriar da Terra como sua e impedir que Deus faça justiça. E o Bem seguindo os passos para a completa eliminação do Mal.
Continuaremos…
Referências:
2- Siegfried J. Schwantes
3- C. Mervyn Maxwel, Uma nova Era segundo as Profecias de Daniel, Casa Publicadora Brasileira.
4- Torah: Literalmente ‘ensino’; Os 5 primeiros livros de Moisés (Pentateuco); lei ou princípio
5- yud י :a menor letra do alfabeto hebraico
6-mitzvot: leis, literalmente ‘ordem’, ‘mandamento’; em sentido mais amplo: princípio geral para a vida; boas ações.
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