Mensagens apresentadas em P. Alegre – RS (2003)
A palavra Testamento é uma palavra tradicionalmente antiga. Não é uma expressão bíblica. É uma palavra que foi cunhada por um dos Pais eclesiásticos – Orígenes. Ele tentou simplificar as coisas chamando o texto da Bíblia Hebraica a antiga aliança. Mas a própria Bíblia jamais fala sobre o Antigo Testamento, mas fala de antiga aliança. Mas isso não é idêntico ou não significa a mesma coisa que as Escrituras Hebraicas.
1. Aliança da Criação
Qual foi a primeira aliança que Deus fez? Nem sempre a palavra aliança é usada. Mas quando Deus fez Adão e Eva, Ele os criou à imagem de Deus, e isso por si só estabeleceu um relacionamento religioso-ético moral. E Deus estabeleceu como o relacionamento seria.
Havia mandamentos. Houve estipulações de vida e morte. Mesmo antes de a humanidade pecar havia uma aliança na Criação. Deus estabeleceu uma aliança com Adão e Eva.
No Antigo Próximo Oriente, alianças eram coisas muito comuns, isso foi descoberto há apenas 30 anos atrás.
O Prof. Mendenhall, em Chicago, escreveu um ensaio sobre as alianças no Antigo Próximo Oriente, que está revolucionando o pensamento global do cristianismo em relação às alianças. Porque este professor descobriu, através dos achados arqueológicos escritos em tabletes cuneiformes, que já nos dias de Abraão 2.000 anos A.C. eram feitas alianças entre nação e nação e entre soberanos e seus súditos nas cortes de justiça. E isso fez com que muitos bons teólogos começassem a escrever livros sobre alianças.
E no mundo protestante, na área das igrejas calvinistas, muitos livros foram publicados sobre as alianças na Bíblia. E por isso meu propósito é dar-lhes uma ajuda, uma compreensão atualizada a respeito das alianças de Deus.
Eu fui convidado a participar de uma reunião de pastores na cidade de Denver, Colorado, EUA, no último mês de janeiro (2003) foi chamada a reunião da Associação em Rocky Mountain; o secretário ministerial da Divisão me convidou a apresentar uma série de palestras sobre as alianças, porque me disse que alguns pastores têm problemas seríssimos quanto às alianças. Na Califórnia a igreja perdeu vários pastores porque não mais podiam continuar concordando com a nossa teologia tradicional. Porque muitas vezes como adventistas temos sido muito fortes em pregar o continuísmo entre as alianças, mas esses pastores chegaram à ideia de que deviam estudar e chegar a conclusões sobre os contrastes entre as alianças. E para encurtar uma longa história, eles chegaram à conclusão de que a ênfase adventista com relação à Lei de Deus não é mais um ponto tão importante, que não é bíblico. E eles creem e estão ensinando que o Espírito Santo substituiu a Lei de Deus. E é por isso que abandonaram a Lei e com ela o sábado. E eles não estão mais entre nós.
E eles me chamaram para apresentar estas palestras porque a Divisão não queria mais perder um maior número de pastores. Então preparei uma série de 8 palestras sobre as alianças, e depois de apresentá-las em Rocky Mountain, em casa eu melhorei e acrescentei mais dados até que meus estudos se tornaram em 10 grandes capítulos.
[…]
A primeira aliança de Deus com o homem está contida em Gênesis 1 e 2.
2. Aliança de Graça
E depois chegamos à época da Queda. E Deus fez agora uma aliança de graça com a humanidade. E em Gênesis 3:15 encontramos a promessa divina de um Redentor. Sem dúvida, era uma promessa de graça. Portanto preste atenção: imediatamente após a Queda, Deus estabeleceu uma aliança da graça.
A aliança da graça não começou no Novo Testamento, iniciou-se imediatamente após a Queda. Esta é uma conclusão importantíssima, porque o Criador imediatamente passou a ser também o Redentor. Deus não esperou retendo a Sua graça por 4.000 anos. A graça de Deus se demonstrou logo que surgiu o pecado. Assim que houve pecado, houve um Redentor. Isso fala a respeito do caráter de Deus. Podemos declarar que o Deus Redentor é também o Deus Criador. Mas as pessoas pensavam que não precisavam de graça. Eles precisavam de amor. O Criador era o Deus do amor, do amor e misericórdia, mas depois da Queda Se manifestou como o Deus da graça.
3. Aliança com Noé: Aliança de Preservação
Mais tarde Deus fez uma aliança com Noé. É a primeira vez que a palavra aliança surge no Antigo Testamento: Gênesis 6:18. Essa aliança pode ser chamado aliança da preservação. E como Deus sempre estabelece Suas alianças com sinais ou promessas, Ele deu o símbolo desta aliança de preservação – o arco-íris.
Este sinal é válido ainda hoje. Toda vez que vemos um arco-íris no céu, que é o resultado da iluminação da luz do sol e gotículas de chuva, podemos saber que Deus relembra Sua aliança com Noé: de que Deus jamais irá destruir a Terra toda por um Dilúvio de águas. O arco-íris da graça de Deus é o fator predominante.
Deus estabeleceu um sinal de aliança com a humanidade antes da Queda. Qual foi o sinal da aliança de Deus na Criação? O sábado. Toda vez que o sábado retorna à Terra e viaja ao redor do mundo, Deus Se lembra que Ele determinou uma presença de comunhão com a humanidade que Ele próprio criou. E este sinal da aliança de Deus na Criação é válido ainda hoje. Após o Dilúvio Deus fez outras alianças.
4. Alianças com Abraão: Aliança de Promessa
Deus fez uma aliança com Abraão, e essa aliança foi repetida várias vezes. Essas alianças com Abraão podem ser chamadas alianças de promessa. E essas alianças são encontradas nos capítulos 12, 15 e 17 do livro de Gênesis.
E para Abraão Deus deu também um sinal, símbolo da Sua aliança. Que sinal foi esse? Circuncisão.
Então junto com as alianças, estamos percebendo que Deus estabeleceu sinais.
5. Aliança com Israel: Aliança d0 Torah
Após isso Deus fez uma aliança com um povo, Israel – Aliança do Torah, ou da Lei. Em particular foi feita e encontramos em Êxodo 19 a 24 e inclui o Decálogo, os Dez Mandamentos.
Com Israel, qual foi o sinal com relação ao Torah? E não era um novo sinal ou diferente. Deus combinou o sábado e a circuncisão – os dois sinais. Isto dá a impressão de continuidade, e isso é importantíssimo que lembremos.
Que significa a palavra Torah? É uma palavra hebraica. É comumente traduzida como Lei, mas os especialistas na língua hebraica, aqueles cristãos judeus, dizem que esta palavra traduzida Lei para Torah é uma palavra não apropriada. Eles dizem que Torah originalmente significa ensinamentos divinos ou orientação divina. Portanto a expressão Torah abrange mais do que simplesmente mandamentos. E quando estudamos, observamos que Deus deu a Israel muito mais do que os Dez Mandamentos morais. Deus deu a Israel também orientações sobre o sistema sacrifical realizado no antigo santuário. E isso falava a respeito de graça expiatória, como receber o perdão, como encontramos descrito em Levítico caps. 4 e 16 sobre sacrifícios de perdão diário bem como o Dia da Expiação. Todo o sistema levítico era uma demonstração da graça divina. Assim Torah inclui tanto a Lei como também a graça.
Esta é uma descoberta revolucionária. Porque se você fizer um contraste entre Lei e Graça, uma contra a outra – aí estudando a língua hebraica, você perceberá que é impossível haver um contraste, porque Torah inclui Lei e Graça. Portanto não existe uma oposição básica. Mas quando nós divorciamos (separamos) a Lei da Graça, então criamos um contraste de oposição. E isso merece uma maior atenção.
[…]
6. Aliança com o Rei Davi: Aliança Messiânica
E há mais uma aliança especial que Deus fez no Antigo Testamento, e todas elas já se demonstram inclusivas. Foi a aliança feita com o rei Davi. É a chamada aliança davídica. Uma aliança messiânica.
E essa aliança começa a ser descrita a partir de 2 Samuel cap. 7. Deus prometeu a Davi que o Messias seria um Davi maior no futuro. E naturalmente, esta aliança, é uma continuação da aliança após o pecado em Gênesis 3:15. Assim a promessa em Gênesis 3:15 tem sua continuidade na promessa a Abraão em Gênesis 12 bem como ela se torna mais expandida na aliança feita com o rei Davi em 2 Sam. 7:12-17.
A aliança com Davi é a aliança mais importante e é a mais citada em o Novo Testamento pelo próprio Jesus em particular.
7. A Nova Aliança
(A) Promessas da Nova Aliança no Antigo Testamento
[…] Houve muitas promessas feitas pelos profetas a respeito de uma NOVA ALIANÇA. E vocês provavelmente sabem de cor os profetas que mencionaram o surgimento de uma nova aliança.
Que profeta foi esse? Eu sei que alguns, eu pude ouvir, mencionaram Jeremias. Jeremias 31:31-34. Mas ele teve um profeta contemporâneo que profetizou o mesmo, e esse foi o profeta Ezequiel. E ele também no cap. 36:26-28 fala sobre esta mesma aliança da qual falou Jeremias. Esses profetas viveram durante o exílio babilônico de Israel. Eles estavam olhando e aguardando um novo Israel após o exílio.
E essas profecias prometiam que Israel voltaria à sua terra. Prometiam um novo templo. Quando Israel saísse do cativeiro tudo seria renovado: novo templo, nova terra e um novo rei viria. Mas nunca surgiu um novo rei. O Israel pós-exílio nunca mais teve um rei davídico. Mas a profecia declarava que o Messias viria como um rei da linhagem de Davi. Isto seria a nova aliança. Foi uma orientação visando o futuro.
Bem, quando observamos este quadro geral reconhecemos que há uma porção abundante de alianças feitas com Deus no Antigo Testamento. E isto nos traz um desafio interessante para examinarmos, estudarmos e então chegarmos a um ponto de compreendermos qual é a interação entre todas elas. Naturalmente, ainda estamos estudando as Escrituras Hebraicas.
(B) Aliança de Cristo: o Torah do Messias
[…] temos então que compreender o que Deus fez por meio de Jesus Cristo.
Quando Jesus fez uma nova aliança com Seu povo? Na Última Ceia. Mateus 26:28. Tomem, comam este pão que representa o Meu corpo, tomem deste suco da vida que representa o Meu sangue, que é derramado por vocês; porque será derramado para o perdão de muitos.
Este é o sangue da nova aliança. E aqui nós então encontramos uma nova aliança. Jesus já havia falado sobre o mesmo tema bem antes, no Sermão da Montanha, nos caps. 5 a 7 de Mateus. Estes capítulos são chamados o Torah do Messias ou os Ensinamentos Divinos do Messias.
Aqui há temas importantíssimos sobre a aliança. Quando estudamos reconhecemos que o Novo Testamento ao tratar da nova aliança feita por Cristo, sempre a revela em conexão com a antiga aliança do Antigo Testamento. Compreender o que Jesus tem feito por nós e o novo relacionamento de sangue com Seu povo e também com Deus, ocasiona uma mudança de compreensão em relação à antiga aliança. Não é que tudo tenha mudado, mas alguns modelos de adoração mudaram. Desde a morte de Jesus os cristãos não mais sacrificam animais para que vertam o seu sangue, não mais se reúnem exclusivamente em um único lugar ou templo de Jerusalém, porque agora os cristãos possuem templo no céu. E não mais aceitam o sacerdócio levítico ou qualquer outro sacerdócio, porque Cristo é o único Sumo Sacerdote. Estas são consequências do sacrifício de Cristo.
(C) A Nova Aliança na Epístola aos Hebreus
Onde no Novo Testamento existe um capítulo específico que fala desta exposição teológica? Há apenas um livro, ou melhor uma carta no Novo Testamento que trata desse sacerdócio específico – é a carta escrita aos Hebreus. Por estranho que pareça, esta importante carta é anônima.
Muitos especulam sobre quem a escreveu. Mas se Deus não nos concedeu o nome do autor, então o que seria mais importante em relação à epístola? A mensagem, o conteúdo. É um sermão inspirador, porque esta carta é o sermão mais longo dos tempos apostólicos. E é por isso que merece uma atenção cuidadosa, especialmente dos caps. 4 ao 10. É a parte central dessa carta. E foi escrita especificamente para judeus cristãos.
Mas nós como gentios cristãos também podemos obter benefício dela.
Agora, a igreja cristã primitiva não era uma unidade em termos de interpretação, vivência e conhecimento das doutrinas. Havia também partidos, conflitos e lutas entre eles. Especialmente o apóstolo Paulo encontrou grande resistência ao apresentar o evangelho da graça independente da lei. Ele teve que apresentar uma tese, esclarecendo o assunto da nova aliança.
(D) A Nova Aliança em 2 Coríntios 3 e em Gálatas 4.
Escreveu especificamente sobre isso em Gálatas 4:21-31, e escreveu aos coríntios em 2 Coríntios 3, o relacionamento entre a antiga e a nova aliança, o que era passado e o que era válido, o que havia sido ab-rogado e o que havia sido confirmado. E então ele descreveu a continuidade e a descontinuidade sobre as duas alianças.
Estes capítulos são profundamente teológicos, e eles podem ser compreendidos por aqueles que avançam e mergulham em profundidade.
Estes dois capítulos descrevem um assunto muito complexo e não admira que os dispensacionalistas põem o seu foco central nestes dois capítulos, de que nós não somos mais obrigados a obedecer à Lei nem ao sábado. Assim esses capítulos são muito importantes para os pastores.
(E) O Apocalipse de João: A Consumação de Todas as Alianças
Agora, há muito mais no Novo Testamento a respeito das alianças. E naturalmente, estou me referindo ao último livro da Bíblia, o livro do Apocalipse.
Será que o Apocalipse contém material sobre a aliança de Deus? O livro do Apocalipse como um todo é a consumação de todas as alianças de Deus. Lá encontramos uma conexão que se liga à aliança da Criação.
Porque em ambos os livros encontramos o início e a conclusão do plano de Deus para a humanidade. No Apocalipse encontramos o Paraíso restaurado, e encontramos a árvore da vida restaurada. Apocalipse 2 diz que o vencedor, o que perseverar até o fim terá o acesso à árvore da vida.
Voltando à aliança da criação, onde havia também uma árvore da vida, que foi dada para perpetuar a vida numa vida imortal, mas por causa do pecado, Deus não permitiria pecadores eternos, por isso em Sua misericórdia e em Seus juízos Ele expulsou os pecadores do Paraíso para que não tivessem acesso à árvore da vida. Mas através de Jesus Cristo, Ele nos conduz de volta à árvore da vida. Porque Ele próprio é em princípio a Árvore da Vida. Ele próprio, que é o Descanso, nos concede o descanso do sábado. Espiritualmente nós podemos agora entrar no Paraíso e já saborear o gosto da árvore da vida.
Todas as promessas de Deus contidas na Bíblia são como folhas da árvore da vida. Mas é apenas um antegozo, porque mais está para vir. E é sobre isso que trata o livro do Apocalipse. Então as promessas feitas a Abraão se cumprirão. Então surgirá a cidade da Nova Jerusalém, a cidade que Abraão aguardava. Ele vivia morava em tendas que tinham que ser armadas aqui e acolá – ele nunca habitou em algo permanente, um edifício. Uma tenda não tem fundamentos. Assim Deus disse: Vou dar a você uma cidade que tem fundamentos. 12 fundamentos e nesses fundamentos 12 nomes.
Quais são os nomes contidos nos 12 fundamentos? Apocalipse 21, há 12 fundamentos. Uma cidade que vai permanecer por toda a eternidade, e nesses fundamentos estão escritos nomes. Que nomes estão escritos nos fundamentos? Apóstolos.
Apóstolos? Como é que pode ser isso? Será que Deus Se enganou? Porque os apóstolos vieram depois dos filhos de Israel. Se nós fôssemos colocar nomes nos 12 fundamentos, poríamos os nomes das 12 tribos de Israel, e provavelmente nas portas colocaríamos os nomes dos apóstolos.
Mas o livro do Apocalipse reverte: nos fundamentos – nomes dos apóstolos. E nas portas – que nomes estão lá? – e nós teremos que entrar por estas portas, até mesmo nós os gentios – os nomes das 12 tribos de Israel. Isso nos leva a pensar. Mas Deus não comete erros. Nós temos que mudar nossos pensamentos. Nós temos que aceitar os pensamentos de Deus. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” E todos se constituirão num só rebanho e haverá m só Pastor.
Cada um que deseja entrar na Nova Jerusalém tem que entrar como um israelita espiritual. Mas a cidade está fundada sobre os nomes dos apóstolos do Messias. Cristo é a Rocha verdadeira sobre a qual os apóstolos são edificados. Todos serão salvos tão-somente pelo sacrifício expiatório do Messias Jesus. Aqui no livro do Apocalipse todas as promessas do Paraíso, do Redentor, do arco-íris, da fidelidade divina, todas as promessas das alianças com relação à terra de Israel, tão popularizadas hoje na política do Oriente Médio. De quem é esta terra? Dos palestinos ou dos judeus? O livro do Apocalipse diz que é a terra de Deus. Ninguém possui terra. O Salmo 24 diz que a terra pertence ao Senhor e Ele a dá àqueles a quem Ele escolheu. E então todas as promessas feitas a Abraão e a Israel e o reino do rei Davi restaurado.
Qual é o nome do Messias no livro do Apocalipse? E ocorre 28 vezes. É o título dominante na descrição de Jesus no Apocalipse. É a palavra Cordeiro. O Cordeiro é agora o Pastor, e Ele conduzirá todo o Seu rebanho ao trono de Deus, de onde brota a água da vida, e de ambos os lados deste rio está a árvore da vida.
Este é o cumprimento final, a consumação de todas as alianças de Deus. Apocalipse 22 declara que contemplaremos o rosto de Deus. Esta maravilhosa visão é o clímax máximo do plano da aliança de Deus.
Vocês estão vendo como é gostoso estudar a Bíblia numa nova perspectiva? Não estudando especificamente o sábado ou esta ou aquela doutrina, mas sobre a história da salvação. É uma nova abordagem adventista. A própria Sra. White tentou fazer isso, e o fez ao escrever 5 livros: Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, O Desejado de Todas as Nações, Atos dos Apóstolos e então O Grande Conflito. Neles encontramos um estudo progressivo da salvação. E esta é a maneira pela que precisamos ler e compreender a Bíblia. E como fazer isso? Podemos fazê-lo por meio das alianças.