por Alejandro Bullon*
Retornando de Madrid para o Rio de Janeiro no voo 711 da VARIG, dormia profundamente, depois de um intenso dia de atividades quando, repentinamente, acordei. Dois fatos ficaram bem claros na minha mente ao abrir os olhos: (1) o avião parecia cair violentamente e (2) os passageiros gritavam desesperados.
Na realidade, foi apenas um daquelas turbulências sem maiores consequências, mas a ocasião serviu-me para constatar algo surpreendente: numa tragédia, morrem muito mais gente por causa do medo do que pelo próprio acidente. Para onde poderia sair uma pessoa lá nas alturas, em meio ao Oceano Atlântico? Porém, era isso que algumas pessoas pretendiam fazer.
O medo paralisa, enlouquece e mata muitas gente. O medo leva o ser humano a fazer as coisas mais incoerentes e irracionais. Mas, ele está aí no nosso dia a dia. Vem disfarçado de muitos rostos. Há pessoas que experimentam o medo da solidão, medo de perder seu cônjuge, medo de ficar pobre, da escuridão, do passado, do futuro, da vida, da realidade…
Outro dia, procurou-me uma senhora desesperada. Queria que fizesse uma oração com ela porque tinha certeza que fora atingida por um trabalho de macumba. Em outra ocasião procurou-me um garotinho de cinco anos: “Pastor » – disse-me – « ore para eu não crescer ». “Você não quer crescer?” – perguntei. E ele me respondeu que não, que tinha medo de crescer porque não queria sofrer como seus pais sofriam.
Medo, pânico, fobia. Não importa o nome que as pessoas lhe deem, é sempre algo que perturba, incomoda que irrita e não as deixa ser feliz. Está nas raízes do ser humano, embora seja uma experiência que só apareceu após o pecado. A Bíblia relata que «quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no Jardim pela virada do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e a mulher, por entre as árvores do Jardim. E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: ‘Onde estás?’ Ele respondeu: « Ouvi a Tua voz no Jardim, e, porque estava nu , tive medo e me escondi.»1
Imagina você a dor que deve ter sentido o Pai quando o filho querido apresentou-se, naquela tarde, carregando em sua experiência um sentimento estranho?
A partir dali, o medo passou a ser o cotidiano do homem. Hoje tem gente que têm medo de passar por debaixo de uma escada; medo de gato preto; de levantar com o pé esquerdo; da sexta-feira treze; e até de passar próximo de um cemitério.
Conforto para o atemorizado
No livro do Apocalipse, encontramos uma palavra confortadora de Deus com relação ao temor : João estava na ilha de Patmos, sozinho e com aproximadamente cem anos de idade. Tinha esperado o cumprimento da promessa que Jesus fizera aos Seus discípulos. Quando Jesus os deixou no Monte da Ascensão, dizendo que voltaria em breve para levá-los com Ele, João pensou que não morreria sem ver o cumprimento daquelas palavras.
Mas o tempo tinha passado e Jesus não voltava. O povo de Deus estava sendo perseguido. Ele mesmo, João, estava naquela ilha, desterrado e condenado a morrer como um marginal.
Talvez em seu coração perguntasse: “Onde estás, ó Senhor Jesus? Por que me abandonaste? Por que esqueceste de mim?” Não é essa a sensação que toma conta de nós quando nada parece dar certo? Está você, porventura, vivendo um daqueles momentos em que não vê saída por nenhum lado? Seu casamento está caindo em pedaços e você não sabe o que fazer para reconstruí-lo? Seu filho está amarrado em uma situação da qual você não sabe como tirá-lo? Seu negócio anda mal e na atual conjuntura de coisas você não sabe como saldar as dívidas e recomeçar tudo de novo? Aí aparece em seu coração a famosa pergunta: “Onde está Deus que não me ajuda? Por que me abandonou e Se esqueceu de mim? »
Você pode imaginar como João se sentia? Estava tudo escuro à sua volta. Ele não viu saída para o seu problema. Pensava, talvez, que a Igreja de Deus iria seria exterminada completamente por causa da perseguição. Quando estava em meio a esses pensamentos, ele teve uma visão que narra da seguinte maneira: “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, […] E voltei-me para ver quem falava comigo. E, ao voltar-me, vi sete candeeiros de ouro, e no meio dos candeeiros um semelhante a filho de homem, vestido de uma roupa talar, e cingido à altura do peito com um cinto de ouro; e a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve; e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa fornalha; e a sua voz como a voz de muitas águas. Tinha ele na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes; e o seu rosto era como o sol, quando resplandece na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do inferno.”2
Você vê? Jesus sempre aparece no momento mais crucial da existência, quando não temos mais forças e estamos com medo de tudo. Quando sentimos que chegou o fim de nossas nossas tentativas humanas, Jesus sempre aparece. Só que nem sempre Ele aparece como nós o esperamos.
O Cristo Divino
Eu não sei como João esperava Jesus. Mas o incidente relatado me mostra que o discípulo não esperava seu Senhor daquela maneira; de outro modo ele não teria caído aos Seus pés como morto, com medo de situação. Ele teria se levantado e corrido para abraçar seu Senhor, como o fizera tantas vezes, enquanto Jesus esteve na Terra.
João conhecia o Cristo das sandálias empoeiradas e da túnica velha, o Cristo das mãos calejadas na carpintaria do pai. De repente, ali, na ilha, Agora, de repente, na ilha, o discípulo se depara com um ser de aparência deslumbrante: tem cabelos brancos como a neve, como os olhos das chamas de fogo… Ah! Aqueles olhos que veem tudo. Nada há oculto para aqueles olhos. Ele conhece tudo. Ele vê tudo. Não há dor que você experimente e Ele ignore, nem lágrima que você derrame que Ele não veja.
Da Sua boca sai uma espada de dois gumes. O que significa aquela espada? O apóstolo Paulo explica : « Tomai … a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; » 3
Lembra-se de que uma das coisas que o inimigo quer destruir neste mundo é a Palavra de Deus ? Mas ali está ela vitoriosa e soberana na boca do Senhor Jesus.
O aspecto imponente de Jesus confunde o discípulo amado. Em lugar de se alegrar, ele se entristece. Ao invés de louvar o nome de Jesus, apavora-se. Pensa que talvez aquele ser seja um capitão do exército romano que veio acabar com sua vida e cai prostrado, esperando, a estocada final, tremendo de medo.
Foi aí que João sentiu o toque maravilhoso de Jesus. Aquele toque já fez milagres muitas vezes. Um dia tocou os olhos d0 cego e ele viu; tocou o leproso e as carnes apodrecidas do homem ficaram curadas. Agora, essas mesmas mãos tocam o ombro de um homem velho, acabado, derrotado e temeroso. E a voz suave diz: “Não temas Eu sou”.
Jesus se identifica depois como o primeiro e o último, Aquele que derrotou a morte e agora vive para sempre e sempre. Claro! Se Jesus pode vencer o pior inimigo do homem, que é a morte, pode vencer qualquer outro obstáculo. Por que temer então? O que pode fazer uma simples escala ou espelho quebrado ou um gato preto contra você? Que poder tem a escuridão, ou a pobreza ou doença sobre você?
De repente, João sente-se curado do medo. Levanta-se de seu marasmo e ergue-se por cima de seus medos interiores. Percebe que nunca esteve só e que não haverá forças do inferno capazes de derrotar o povo de Deus. Então ouve o grande remédio para conservar-se curado do medo: “Escreve pois, as coisas que viste, e as que são e as que hão de acontecer depois destas”.4
« Escreve » ; trabalha, estuda, faz, constrói ou realiza. Mas ocupe-se em algo. Deixe de lamentar. Levante a cabeça e parta para a ação. “Não to mandei Eu? -disse o Senhor – « Esforça-te, e tem bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está contigo, por onde quer que andares.» 5
O Deus da vitória
Existem milhares de pessoas neste mundo que estão morrendo afogadas num mar de lamúrias e lamentações, paralisadas pelo medo, sem saber que que perto delas há um Deus que não conhece a derrota.
Em 1956, um barco de pesca achou, boiando no lugar onde deságua o rio Amazonas, uma pequena embarcação de gente moribunda. Todos os náufragos foram resgatados e a primeira coisa que eles pediram foi água. O capitão sorriu e respondeu: « Água? E por que vocês não beberam se há muito tempo estão boiando em água doce? »
Há muitas pessoas morrendo de medo em nossos dias, sem motivo. O Deus do Apocalipse Se apresenta hoje e diz: “Não temas, Sou eu. O princípio e o fim. Aquele que venceu a morte e vive pelos séculos dos séculos.»
*Alejandro Bullon
(O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse)
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1. Gênesis 3 : 8-10
2. Apocalipse 1 : 10,12-18
3. Efésios 6 : 17
4. Apocalipse 1 : 19
5. Josué 1 : 9
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Como Viver sem Medo do Futuro – Parte 1