Tempo de Natal: conversando sobre Eclesiastes 3


“Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
 
 
 
 
[…] Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim. Sei que não há coisa melhor para eles do que se regozijarem e fazerem o bem enquanto viverem; e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho é dom de Deus. […] Pelo que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras; porque esse é o seu quinhão; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?” (Eclesiastes 3)
 
 
 
As mudanças são, portanto, inevitáveis. Elas sempre geram sentimentos de incertezas, por isso podem ser desconfortáveis. Muitas dessas mudanças são impostas, outras são resultantes do processo natural desenhado pelo tempo.
 
 
 
G. S. Hendry1 comentando sobre essa passagem bíblica diz: “O princípio de nossa sabedoria é o temor do Senhor e um dos elementos é o reconhecimento da eleição divina na diferença dos tempos e estações. Teoricamente todos os tempos são iguais, mas isto só é verdade quando são esvaziados de seu conteúdo. Não temos experiências de tempo vazio. Cada tempo se nos apresenta carregado com o seu próprio desafio e oportunidade particulares; e a sabedoria da vida consiste em discernir o tempo, […] o momento decisivo, o instante no qual ‘cai o acento da eternidade’. […]
 
 
 
Essa característica incalculável e inexplicável da história e da experiência serve de dolorosa perplexidade para o homem.  Pois, o homem não é meramente uma criatura do tempo, existe dentro dele aquilo que transcende ao tempo. […] Ele procura postar-se por detrás do processo do tempo e discernir o plano e o padrão do todo. Mas, está por demais profundamente imerso no tempo para ter sucesso nesta tentativa; o fim e o princípio se ocultam dele. A tensão entre o Hoje e o Para Sempre, na vida do homem, não pode ser completamente solucionada. Não obstante, o homem pode encontrar o Para Sempre no Hoje, aceitando gradualmente os dons de Deus e obedecendo aos Seus mandamentos. […]
 
 
 
Deus é o Juiz. Mas, a justiça de Deus não está sujeita ao nosso julgamento. Na qualidade de justiça de Deus, ela pertence ao Seu tempo, embora possa estar oculta do nosso. Aquele que não entende isso não tem outra alternativa senão dar mais valor à morte do que à vida.”
 
 
 
Sim, há uma excelência nas obras de Deus. E para Ele em se tratando de tempo não é o conveniente, mas o determinado. Há plenitude nas Suas obras, pois com Ele não há passado nem futuro. Com Ele a eternidade está sempre presente.
 
 
 
O intelecto humano por si só não pode perscrutar os mistérios da eternidade que Deus não quis revelar. Isto deveria, então, nos levar a buscar intima união com Ele, que até mesmo do tempo é o Senhor! E assim, com Ele aprender a não viver essa vida numa eterna angústia ou ansiedade quando confrontados com a natureza transitória das coisas.
 
 
 
Precisamos aprender com Ele que o mundo físico não constitui a essência de nossa existência, mas que a Sua bondade em suprir as nossas necessidades, sendo Ele o Deus Criador, pôs em nossas mentes a eternidade que Ele tanto deseja nos conceder.
 
 
 
Se a eternidade foi posta em nossas mentes por que o sábio diz que há um tempo para matar? Está ele nos instigando a crer que a morte é uma realidade natural e necessária? Refere-se ele à realidade das guerras? Ou, talvez pensasse ele em um animal muito ferido e sem chances de cura e que estivesse mergulhado no sofrimento. Talvez fosse mais misericordioso sacrificá-lo. Neste sentido a morte surge como um ato de misericórdia.
 
 
 
Este é o significado do Natal: um ato de misericórdia de Deus.
 
 
 
Na história da transgressão humana dos princípios de vida de Deus a linha do tempo fechou-se para nós. Para cada um de nós.
 
 
 
Não importa se no calendário humano o Natal aconteceu neste ou naquele mês. O que importa, diz Luiz Waldvogel é que na plenitude do tempo de Deus “[…] o milagre se verificou e bem merece ele um período de memoração especial”.
 
 
 
“Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho […]. A vinda do Salvador foi predita no Éden. Quando Adão e Eva ouviram pela primeira vez a promessa, aguardavam-lhe o pronto cumprimento. Saudaram alegremente seu primogênito, na esperança de que fosse o Libertador. Mas o cumprimento da promessa demorava. Aqueles que primeiro a receberam, morreram sem o ver. Desde os dias de Enoque, a promessa foi repetida por meio de patriarcas e profetas, mantendo viva a esperança de Seu aparecimento, e todavia Ele não vinha. A profecia de Daniel revelou o tempo de Seu advento, mas nem todos interpretavam corretamente a mensagem. Século após século se passou; cessaram as vozes dos profetas. […]
 
 
 
Mas, como as estrelas no vasto circuito de sua indicada órbita, os desígnios de Deus não conhecem adiantamento nem tardança. Mediante os símbolos da grande escuridão e do forno fumegante, Deus revelara a Abraão a servidão de Israel no Egito, e declarara que o tempo de peregrinação deles seria de quatrocentos anos. “Sairão depois com grandes riquezas”. (Gênesis 15:14). Contra essa palavra, todo o poder do orgulhoso império de Faraó batalhou em vão. “Naquele mesmo dia”, indicado na promessa divina, “todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito”. (Êxodo 12:41). Assim, nos divinos conselhos fora determinada a hora da vinda de Cristo. Quando o grande relógio do tempo indicou aquela hora, Jesus nasceu em Belém.
 
 
 
[…] A Providência havia dirigido os movimentos das nações, e a onda do impulso e influência humanos, até que o mundo se achasse maduro para a vinda do Libertador. As nações estavam unidas sob o mesmo governo. […]
 
 
 
Por essa época, os sistemas pagãos iam perdendo o domínio sobre o povo. Os homens estavam cansados de aparências e fábulas. Ansiavam uma religião capaz de satisfazer a alma. Conquanto a luz da verdade parecesse afastada dos homens, havia almas ansiosas de luz, cheias de perplexidade e dor. Tinham sede do conhecimento do Deus vivo, da certeza de uma vida para além da morte.
 
 
 
À medida que Israel se havia separado de Deus, sua fé se enfraquecera, e a esperança deixara, por assim dizer, de iluminar o futuro. As palavras dos profetas eram incompreendidas. Para a massa do povo, a morte era um terrível mistério; para além, a incerteza e as sombras. […]. Com olhares ansiosos, aguardavam a vinda do Libertador, quando as trevas seriam dispersas, e claro se tornaria o mistério do futuro.
 
 
 
Fora da nação judaica houve homens que predisseram o aparecimento de um instrutor. Esses homens andavam em busca da verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de inspiração. Um após outro, quais estrelas num céu enegrecido, haviam-se erguido esses mestres. Suas palavras de profecia despertaram a esperança no coração de milhares, no mundo gentio.
 
 
 
Fazia séculos que as Escrituras haviam sido traduzidas para o grego, então vastamente falado no império romano. Os judeus estavam espalhados por toda parte, e sua expectação da vinda do Messias era, até certo ponto, partilhada pelos gentios. Entre aqueles a quem os judeus classificavam de pagãos, encontravam-se homens que possuíam melhor compreensão das profecias da Escritura relativas ao Messias, do que os mestres de Israel. Alguns O esperavam como Libertador do pecado. Filósofos esforçavam-se por estudar a fundo o mistério da organização dos hebreus. A hipocrisia destes, porém, impedia a disseminação da luz. Com o fito de manter a separação entre eles e as outras nações, não se dispunham a comunicar o conhecimento que ainda possuíam quanto ao serviço simbólico. Era preciso que viesse o verdadeiro Intérprete. Aquele a quem todos esses tipos prefiguravam, devia explicar o sentido dos mesmos.
 
 
 
Por meio da natureza, de figuras e símbolos, de patriarcas e profetas, Deus falara ao mundo. As lições deviam ser dadas à humanidade na linguagem da própria humanidade. O Mensageiro do concerto devia falar. Sua voz devia ser ouvida em Seu próprio templo. Cristo tinha de vir para proferir palavras que fossem clara e positivamente compreendidas. Ele, o autor da verdade, devia separá-la da palha das expressões humanas, que a haviam tornado de nenhum efeito. Os princípios do governo de Deus e o plano da redenção, deviam ficar claramente definidos. As lições do Antigo Testamento precisavam ser plenamente apresentadas aos homens.
 
 
 
Havia entre os judeus ainda algumas almas firmes, descendentes daquela santa linhagem através da qual fora conservado o conhecimento de Deus. Estes acalentavam a esperança da promessa feita aos pais. Fortaleciam a fé repousando na certeza dada por intermédio de Moisés: “O Senhor vosso Deus vos suscitará um profeta dentre vossos irmãos, semelhante a mim: a Este ouvireis em tudo que vos disser”. Atos dos Apóstolos 3:22. E novamente liam como o Senhor havia de ungir Alguém “para pregar boas-novas aos mansos”, “restaurar os contritos de coração”, “proclamar liberdade aos cativos”, e apregoar “o ano aceitável do Senhor”. Isaías 61:1, 2. Liam como Ele havia de estabelecer “a justiça sobre a Terra”, como as ilhas aguardariam a “Sua doutrina”, (Isaías 42:4) como os gentios andariam à Sua luz, e os reis ao resplendor que Lhe nascera. (Isaías 60:3).
 
 
 
[…] O enfraquecido poder de Israel testemunhava que a vinda do Messias estava às portas. A profecia de Daniel pintava a glória do Seu reino sobre um domínio que sucederia a todos os impérios terrestres; e disse o profeta: “subsistirá para sempre”. (Daniel 2:44). Ao passo que poucos entendiam a natureza da missão de Cristo, era geral a expectativa de um poderoso príncipe que havia de estabelecer seu reino em Israel, e que viria como um libertador para as nações.
 
 
 
Chegara a plenitude dos tempos. A humanidade, tornando-se mais degradada através dos séculos de transgressão, pedia a vinda do Redentor. Satanás estivera em operação para tornar intransponível o abismo entre a Terra e o Céu. Por suas falsidades tornara os homens atrevidos no pecado. Era seu desígnio esgotar a paciência de Deus, e extinguir-Lhe o amor para com os homens, de maneira que Ele abandonasse o mundo à satânica jurisdição.
 
 
 
Satanás estava procurando vedar ao homem o conhecimento de Deus, desviar-lhe a atenção do templo divino, e estabelecer seu próprio reino. Dir-se-ia coroada de êxito sua luta pela supremacia. É verdade, que, em toda geração, Deus tem Seus instrumentos. Mesmo entre os gentios, havia homens por meio dos quais Cristo estava operando para elevar o povo de seu pecado e degradação. Mas esses homens eram desprezados e aborrecidos. Muitos deles haviam sofrido morte violenta. A escura sombra que Satanás lançara sobre o mundo, tornara-se cada vez mais densa.
 
 
 
Por meio do paganismo, Satanás desviara por séculos os homens de Deus; mas conseguira seu grande triunfo ao perverter a fé de Israel. Contemplando e adorando suas próprias concepções, os gentios haviam perdido o conhecimento de Deus, tornando-se mais e mais corruptos. O mesmo se deu com Israel. O princípio de que o homem se pode salvar por suas próprias obras, e que está na base de toda religião pagã, tornara-se também o princípio da religião judaica. Implantara-o Satanás. […]
 
 
 
A mensagem de salvação é comunicada aos homens por intermédio de instrumentos humanos. Mas os judeus haviam procurado monopolizar a verdade, que é a vida eterna. […] A religião que tinham buscado guardar só para si, tornara-se um tropeço. Roubavam a Deus de Sua glória, e prejudicavam o mundo por uma falsificação do evangelho. Haviam recusado entregar-se a Deus para a salvação do mundo, e tornaram-se instrumento de Satanás para sua destruição.
 
O povo a quem Deus chamara para ser a coluna e fundamento da verdade, transformara-se em representante de Satanás. Faziam a obra que este queria que fizessem, seguindo uma conduta em que apresentavam mal o caráter de Deus, fazendo com que o mundo O considerasse um tirano. Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista a significação do serviço que realizavam. Deixaram de olhar, para além do símbolo, àquilo que ele significava. Apresentando as ofertas sacrificais, eram como atores num palco. As ordenanças que o próprio Deus indicara, tinham-se tornado o meio de cegar o espírito e endurecer o coração. Deus não poderia fazer nada mais pelo homem por meio desses veículos. Todo o sistema devia ser banido.
 
 
 
O engano do pecado atingira sua culminância. Todos os meios para depravar a alma dos homens haviam sido postos em operação. Contemplando o mundo, o Filho de Deus viu sofrimento e miséria. Viu, com piedade, como os homens se tinham tornado vítimas da crueldade satânica. Olhou compassivamente para os que estavam sendo corrompidos, mortos, perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que os jungia a seu carro como cativos. Confundidos e enganados, avançavam, em sombria procissão rumo à ruína eterna — para a morte em que não há nenhuma esperança de vida, para a noite que não tem alvorecer. Agentes satânicos estavam incorporados com os homens. O corpo de criaturas humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de demônios. Os sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram por agentes sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência mais vil. O próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. Esta refletia a expressão das legiões do mal de que se achavam possessos. […]
 
 
 
O pecado se tornara uma ciência, e era o vício consagrado como parte da religião. A rebelião deitara fundas raízes na alma, e violenta era a hostilidade do homem contra o Céu. Ficara demonstrado perante o Universo que, separada de Deus, a humanidade não se poderia erguer. Novo elemento de vida e poder tinha de ser comunicado por Aquele que fizera o mundo.
 
 
 
Com intenso interesse, os mundos não caídos observavam para ver Jeová levantar-Se e assolar os habitantes da Terra. E, fizesse Deus assim, Satanás estaria pronto a executar seu plano de conquistar a aliança dos seres celestiais. Declarara ele que os princípios de Deus tornavam impossível o perdão. Houvesse o mundo sido destruído, e teria pretendido serem justas as suas acusações. Estava disposto a lançar a culpa sobre o Senhor, e estender sua rebelião pelos mundos em cima. Em lugar de destruir o mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar. Embora se pudessem, por toda parte do desgarrado domínio, ver corrupção e desafio, foi provido um meio para resgatá-lo. Justo no momento da crise, quando Satanás parecia prestes a triunfar, veio o Filho de Deus com a embaixada da graça divina. Através de todos os séculos, de todas as horas, o amor de Deus se havia exercido para com a raça caída. Não obstante a perversidade dos homens, os sinais da misericórdia tinham sido constantemente manifestados. E, ao chegar à plenitude dos tempos, a Divindade era glorificada derramando sobre o mundo um dilúvio de graça vivificadora, o qual nunca seria impedido nem retido enquanto o plano da salvação não se houvesse consumado.
 
 
 
Satanás rejubilava por haver conseguido rebaixar a imagem de Deus na humanidade. Então veio Cristo, a fim de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo, pode remodelar o caráter arruinado pelo pecado. Veio para expelir os demônios que haviam dominado a vontade. Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o modelo de Seu divino caráter, embelezando-o com Sua própria glória.”2
 
 
 
A vinda e vida de Jesus nas páginas da história da humanidade constitui uma crise na história mundial, no panorama dos valores humanos, obrigando os homens, por uma série de fatos ou a virem para a luz, ou a permanecerem em trevas. Quando aqui esteve na Terra, Ele revitalizou a fé dos Seus discípulos com a maravilhosa certeza de que este velho mundo seria substituído por um mundo livre do pecado, da doença e da morte. Assim como na plenitude do tempo Ele nasceu entre nós, na plenitude do tempo Ele voltará para intervir definitivamente na história do mal, quando então, seremos verdadeiramente livres.
 
 
 
Essa é a essência do natal: Jesus nasceu para nos dar a alegria da salvação.

 

Um feliz natal de Deus para você.

 
 Nossas Letras e algo mais
                                                                                                                                   __________
 
1- G. S. Hendry, Professor de Teologia Sistemática no Princeton Theological Seminary, Eclesiastes.
 
2. Ellen White, O Desejado de todas as Nações, Capítulo 3 — “A plenitude dos tempos”. CPB
 
. Série Logos, Comentário Bíblico Adventista, vol. 3, CPB.
 
 
 
 
 

Principio e Fim – Leonardo Gonçalves

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