Algumas reflexões sobre Daniel 1

Em Construção.

1- Jacques  B Doukhan – Segredos de Daniel)

. A Deportação (Daniel 1:2)

“Estamos no ano de 605 a.C – Os caldeus cercaram Jerusalém, a capitai de Judá, e deportaram seus habitantes. Um século antes (722 a.C) os Assírios tinham invadido o reinado do norte de Israel (II Reis 17: 3-23). O reinado de Judá, portanto, representa a última parte de sobreviventes do antigo reinado de David.

[…]

Aprisionados e desarraigados, os judeus perderam tudo. Seu passado, sua esperança, sua identidade, seus valores, deixam tudo.

No exílio é fácil alguém esquecer sua terra natal. De fato, a estratégia por trás da deportação é exilar os habitantes de modo a subjugá-los melhor. Minoria, perdidos na população nativa, eles se tomam tão preocupados com a necessidade de se ajustar que nem têm oportunidade de se rebelar. […]

A provação, contudo, envolve uma extensão maior do que o desconforto pessoal de uma minoria exilada: o fim de Judá significa o desaparecimento dos últimos filhos de Jacó. É um destino que afeta o povo escolhido, e, por conseguinte, sua conotação espiritual e cósmica. A remoção das últimas testemunhas de Deus coloca em risco a sobrevivência do mundo.

Babilônia substituiu Jerusalém, e ninguém pode ignorar as implicâncias religiosas de tal usurpação. De modo significante, o texto sublinha três vezes a apropriação dos utensílios do Templo de Deus por Nabucodonosor para uso em seu próprio templo: “Estes ele levou para o templo de seu deus em Babilônia e colocou-os na casa do tesouro de seu deus” (Dan 1.2).

Nabucodonosor substituiu o Deus de Judá. Pior ainda, o evento em si é um juízo de Deus: “O Senhor entregou… em suas mãos” (Verso 2). Como resultado, nós testemunhamos o cumprimento da profecia anunciada pelos antigos profetas de Israel tanto como uma advertência como um chamado ao arrependimento (Isaías 39:5-7; Jeremias 20:5).

Alienação Cultural (Daniel 1:3-7)

[…] Após a chegada dos judeus na Babilônia, o oficial do rei imediatamente se encarregou deles. Depois de uma cuidadosa escolha pelo eunuco chefe, os administradores babilônicos selecionaram cuidadosamente jovens de nobre ascendência (verso 3) em perfeitas condições físicas e intelecto superior para serem treinados para o serviço do rei. Os escolhidos incluíam o príncipe Daniel, provavelmente um descendente direto de Zedequias, o último rei de Judá.

Aquele eunuco chefe, Aspenaz, era  o responsável pelo conselho da operação de seleção na triste tragédia dos novos cativos. É bem provável que Daniel e seus companheiros tenham sido castrados e se tornaram eunucos para servir a corte real, uma prática comum no antigo Oriente.

[…] Quando os príncipes de Judá chegaram ao humilhante procedimento, eles devem ter se relembrado da profecia de Isaias (Isaías 39:7) que predizia que os descendentes de Ezequias seriam eunucos na corte de Babilônia.

[…]

Em II Crônicas 29:11 é descrita a função do levita. A educação caldeia não apenas visava doutrinar os hebreus, mas também lidava com seus hábitos mais pessoais, portanto, com o fim de convertê-los para o culto a Nabucodonosor. E para simbolizar esta transferência de autoridade, eles renomearam os cativos:

♦ Daniel, em hebraico “Deus é meu juiz,” eles converteram para Belteshazzar, significando “possa Bel (outro nome para Marduk, a principal dinvindade babilônica) preservar sua vida,”

♦ Ananias, significando “graça de Deus”, se tornou Sadraque, “Ordem de Aku” (o deus sumério da lua).

♦ Misael, “quem é igual a Deus,” os oficiais mudaram para Mesaque, “quem é igual a Aku.”

♦ Azarias, cujo nome significava “YHWH ajudou,” adquiriu o nome de Abednego, “servo de Nego” (uma forma de Nabu,” deus da sabedoria).

A Resistêncla (Daniel 1:8-16)

Os três cativos, especialmente Daniel, rapidamente reagiram ao novo programa. A própria transcrição dos nomes babilônicos feita no livro de Daniel alude a isso. Quando comparado com nomes catalogados em documentos seculares, podemos observar que, no texto bíblico, o elemento divino é sistematicamente desfigurado.

Em lugar de Belsazar, Daniel é nomeado Beltessazar (com um “t”) portanto o nome do deus Bel se tornou Belt.

Em lugar de Shada Aku, Ananias é chamado de Shadrach. O nome do deus Aku foi reduzido para a letra hebraica “k”.

E em lugar de Ardi-Nabu, Azarias adquiriu o nome de Abede-Nego. Abede é a transliteração  hebraica do termo babilônico ardi, “servo”. Quanto ao nome do deus Nabu, ele foi deformado em Nego (o beth foi substituído pelo gimmel, a letra seguinte no alfabeto hebraico).

Assim, os nomes dos deuses da Babilônia perderam sua própria identidade. Através de tal desconsideração linguística, o autor do livro de Daniel, assim como os próprios portadores dos nomes, expressam resistência a aquilo que estava acontecendo.

[…]

Para preservar sua identidade, os exilados escolhem comer e beber diferentemente. Ele pede vegetais e água.

Além de fazer uma “escolha saudável”, a preocupação é essencialmente religiosa, […]

[…] A frase que Daniel usa para designar o cardápio que ele deseja ter é uma citação literal do texto da Criação. As mesmas palavras hebraicas aparecem com a mesma associação: “vegetais”, “dar,” “para comer” (ver Gên. 1:29). Reformulando a mesma expressão, Daniel afirma que seu Deus é o Criador e não o rei. Assim sua motivação é a mesma daquela implicada na lei levítica de kosher: sua fé no Criador. […]

Porque Daniel não tinha controle sobre seus recursos alimentares, então sabiamente ele escolhe ser vegetariano, o modo mais seguro de se manter kosher e também o mais explícito testemunho de sua fé no Deus da Criação. Agindo assim, Daniel fala a linguagem mais universal designada para atingir os gentios que o observam à mesa: seu Deus é o Deus da Criação, portanto, também seu Deus.

Mas, além da sua preocupação testemunhada e seu desejo de permanecer fiel, o comportamento de Daniel contém uma lição importante em relação a muitas vezes ignorada conexão fé e existência. Sua religião não se limita na crença espiritual ou a abstrações, mas implica também ao nível concreto da existência. Daniel nos ensina que fé envolve tanto a mente quanto o corpo. Que religião em si se preocupa com o comer pode desconcertar tendências influenciadas pelo dualismo Platonista. Isso continua apesar e tudo, uma preocupação bíblica. O primeiro teste humano enfrentado envolveu o aspecto dietético. Adão e Eva determinaram seu destino e consequentemente o da humanidade na base de uma simples escolha de comida (Gêneses 3). Depois, as leis levíticas de carnes limpas e impuras desenvolveram este mesmo princípio ao estabelecer uma ligação entre alimento e santidade. (Levítico 11:44, 45) Os sacerdotes abstinham-se de bebidas alcoólicas para melhor distinguir o que era sagrado e o que não era. (Levítico 10:8-11). No deserto os israelitas aprenderam a mesma lição. Da chuva de codornizes à queda do Maná, tais eventos tiveram um aspecto religioso. Daniel não foi inovador. Sua preocupação religiosa com a dieta tinha suas raízes na tradição bíblica.

Deve-se, portanto, observar que Daniel permanece profundamente humano. Ele não é um asceta; longe disso. Na verdade, os jovens hebreus eram belos e suas faces não mostram desânimo, como o oficial real pensou que eles se tornariam (Daniel 1:10). Levou apenas 10 dias para fornecer a prova de que evitar carne e vinho não impede ninguém de desfrutar a vida. Devemos também notar o comportamento de Daniel em relação ao oficial real. Suas convicções

religiosas e seu ideal de santidade não o tornam arrogante. Pelo contrário, Daniel se aproxima de seu superior com humildade e pede “permissão” (verso 8). E até mantém com ele um relacionamento de amizade e respeito (verso 9).

Sua atitude contém uma importante lição para todos aqueles obcecados por um desejo de santidade. A santidade não exclui a humildade, mas especialmente implica nela. Se envolver num manto engomado de justiça não é santidade, nem o é a separação da realidade ou da alegria da vida. Essas são apenas ideias distorcidas sobre a santidade, defendidas por “santos” sombrios e pálidos. Ao ignorarem a boa comida e o riso, eles tornaram a religião, intolerável aos outros. Em reação a isso movimentos humanistas de toda sorte tem se levantado com seus slogans de amor e fraternidade. Santos melancólicos têm tornado a lei de Deus suspeita. Abraham Heschel declara que o segredo de uma vida religiosa está em ser “santo e humano”. Daniel é uma companhia agradável que se diverte com a realidade da vida ao mesmo tempo em que se recusa a comprometer seus princípios.

A Libertação (Daniel 1:17-21)

E finalmente Deus intervém. Até então Ele parecia ausente. O texto finalmente mencionou Deus no contexto do cativeiro. A conclusão também menciona Deus, mas desta vez em um senso positivo. Na introdução Deus tem “dado” os utensílios do Templo ao rei. Agora Ele “dá” aos quatro jovens, ciência, inteligência e sabedoria (verso 17). O uso de mesmo verbo [ntn] destaca a simetria das duas situações e recorda ao leitor da existência da providência. […] É Ele quem “dá”. Se os cativos hebreus se desenvolveram como eles fizeram, não é

um resultado direto de treino intensivo, mas o resultado da graça do alto. Alguém, de qualquer forma, pode ser tentado a extrair do texto uma relação de causa e efeito entre os 10 dias e seu estado resultando de seu bem-estar. A passagem repete o número 10 como se o tamanho da sabedoria deles fossa proporcional a seus esforços de 10 dias. Mas este na verdade não é o caso. Daniel não absorveu este alimento como um “remédio milagroso”, ou usou a dieta ideal como um sentido de perfeição espiritual, mas como um sinal de sua fé em seu Deus. De fato, Daniel e seus companheiros, assumiram o risco, o risco da fé – e isso foi o que os salvou. À saúde e graça física Deus adicionou sabedoria, inteligência e ciência. Eles reconheceram tudo como um presente divino.

[…] Não somos o resultado de nossas ações, mas o produto de uma dádiva, a graça de Deus. O Senhor alcança os cativos hebreus onde eles estão e lhes concede felicidade e êxito no próprio âmago de sua aflição.

Mas, a ação de Deus não para aqui. Além do atual exílio. Deus prepara para eles a salvação tanta de dimensões históricas como de repercussão cósmica. A conclusão do primeiro capítulo alude a isso através da menção de Ciro, o rei associado na Bíblia com o retorno do exílio e salvação de Israel (II Crônicas 36:21-23), e com a resposta divina às orações predições proféticas (Isaías 45:1-13).”

2- Henry Feyerabend : Daniel verso por verso – Revelações de Deus para os Nossos Dias

(Pendente)

3- C. Mervyn Maxwell – Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel

(Pendente)

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