Apesar de toda a riqueza temática encontrada na Bíblia acerca dos sacrifícios, podemos nos perguntar, por que Deus instituiu um sistema ritualístico aparentemente tão cruel e sangrento? Se analisarmos o caso do sacrifício pelo pecado conseguiremos entender. No sistema de sacrifícios podemos identificar 3 ensinamentos básicos, são eles:
1) A consequência do pecado é a morte. Como veremos com mais detalhes posteriormente, quando uma pessoa comum pecava devia sacrificar uma vida animal (Levítico 4:27-29). Cada vez que havia um pecado alguém tinha que morrer por causa desse pecado. “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22)
2) O pecador precisa de um substituto. Já sabemos que a consequência do pecado é a morte (Gênesis 2:17), (Romanos 6:23), mas também sabemos que todos nós somos pecadores e, portanto, estamos todos condenados a morte. Mas o ritual de sacrifício mostra que há um substituto, alguém que toma o lugar do pecador e recebe a penalidade no seu lugar permitindo que o pecador seja perdoado e viva.
3) Sem dúvida o ritual do sacrifício era uma experiência amarga e dramática. O próprio pecador devia matar o animal sacrificado (Levítico 4:27-29), mostrando dessa forma que a vítima inocente morria por sua causa. Assim, Deus queria mostrar toda a malignidade do pecado. Ao ver os símbolos dos sacrifícios se realizarem na vida de Jesus não podemos escapar ao vívido pensamento de que foram nossos pecados que levaram o Filho de Deus a morrer numa cruz.
Deus ordenou a Moisés que construísse um santuário onde através de rituais e cerimônias pudessem ser ensinadas as eternas verdades do evangelho. Hoje temos em Jesus o nosso grande Sumo Sacerdote, ministro do verdadeiro santuário (Hebreus 8:1,2), cumprindo tudo aquilo que os velhos rituais anunciavam acerca dEle. É hora, portanto, de conhecer alguns detalhes deste sistema de adoração.
Os dois serviços no santuário:
1. SERVIÇO DIÁRIO
a. SERVIÇO NO LUGAR SANTO:
Cada dia o sacerdote devia cumprir as cerimônias realizadas no Lugar Santo. Todas as manhãs o sacerdote devia queimar incenso no altar de ouro e por “em ordem as lâmpadas” (Êxodo 30:7). Todas as tardinhas o sacerdote voltava a queimar incenso e acendia as lâmpadas do candelabro. Já foi dito que o incenso representava as orações dos santos e que a luz nas lâmpadas representava a ação do Espírito Santo na igreja de todos os tempos. O acender inicial das lâmpadas foi cumprido por Jesus ao enviar sobre a igreja apostólica o Consolador (o Espírito Santo) no dia de Pentecostes (Atos 2).
b. OS HOLOCAUSTOS DIÁRIOS:
Cada dia eram oferecidos em holocausto dois cordeiros de um ano. O primeiro cordeiro era sacrificado pela manhã e era queimado no Altar dos Holocaustos até a tardinha quando era sacrificado o segundo que era queimado até a manhã (Êxodo 29:38-46, Número 28:1-8). Este era o chamado holocausto contínuo e, como os demais serviços diários, representava a contínua intercessão de Cristo em nosso favor.
c. SACRIFÍCIO PELO PECADO:
-> Quando o sumo sacerdote pecava (Levítico 4:1-12): O Sumo Sacerdote representava o povo de Israel perante Deus, portanto se ele pecava todo o povo se tornava culpado (Levítico 4:3) e ficava sem intercessor. Neste caso, o Sumo Sacerdote devia tomar um novilho sem defeito e colocar a mão sobre a cabeça do novilho. Em este ato, o sacerdote confessava o pecado, demonstrava confiança no substituto inocente (o novilho, representando a Cristo) e transferia o pecado para o substituto. Em seguida, o sacerdote imolava o novilho e parte do sangue era levado ao lugar Santo e espargido sete vezes no véu que separava o Lugar Santo do Santíssimo. Assim mesmo, o sacerdote colocava parte do sangue nas pontas do Altar de Incenso. Desta forma o pecado era transferido ao Santuário. O restante do sangue era derramado aos pés do Altar dos Holocaustos representando assim o sangue de Jesus derramado no Calvário. A gordura e os rins do novilho eram finalmente queimados no altar.
-> Quando a nação pecava (Levítico 4:13-21): Neste caso, o procedimento era igual ao caso anterior com a única diferença que eram os anciãos do povo quem colocavam as mãos sobre o novilho.
-> Quando um príncipe pecava (Lv 4:22-26): Quando era um príncipe quem pecava, devia levar um bode sem defeito, colocar a mão sobre a cabeça do bode (com o mesmo significado que nos casos anteriores) e imolá-lo. Então o sacerdote tomava o sangue e parte dele era colocado nas pontas do Altar dos Holocaustos e o resto era derramado aos pés do mesmo altar. Notemos que a diferença dos casos anteriores, o sangue não foi levado dentro do Lugar Santo, portanto o sacerdote devia comer da carne do animal para que então o pecado seja cerimonialmente transferido ao sacerdote (Levítico 10:17-18). Novamente, a gordura era queimada no altar.
Obs:
– Em todos os casos o pecador devia manifestar confiança num substituto.
– Em todos os casos os pecados eram transferidos à vítima e ao santuário ou ao sacerdócio.
2. SERVIÇO ANUAL
Além do serviço diário, existia na economia israelita uma série de festas e convocações solenes que constituíam o calendário eclesiástico e que chamaremos o serviço anual do Santuário. Este serviço anual acha-se descrito mais sistematicamente no capítulo 23 do livro de Levítico.
…Tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir, porém o corpo é de Cristo. Colossenses 2:17
a. A PÁSCOA (Levítico 23:4-5, Êxodo 12):
A primeira destas festas era a Páscoa (Pesakh – Abril). Era realizada no dia 14 do primeiro mês (Nisã ou Abib). A primeira Páscoa foi realizada por ocasião da saída do povo israelita do Egito, evento que passou-se a comemorar. No décimo dia do mês, era escolhido um cordeiro de um ano e sem defeito. Na tardinha do décimo quarto dia o cordeiro era morto e assado. A carne devia ser comida pela família aquela mesma noite com pães sem fermento e ervas amargosas. Na primeira Páscoa, as portas deviam ser ungidas com sangue do cordeiro para que a família seja libertada da praga da morte do primogênito. A palavra chave desta cerimônia é libertação. Por esta razão se torna um tipo do sacrifício de Cristo. Jesus nos liberta da escravidão do pecado e da sentença de morte que pesava sobre nós. Mas para isso Seu sangue precisava ser derramado e Seus méritos aplicados a nós pela fé.
Sombra de que? Da justificação. “…Cristo nosso cordeiro pascal (nossa páscoa) foi imolado.” (1Co 5:7)
b. PÃES ÁZIMOS (Lv 23:6-8):
No dia seguinte à Pascoa (15 de Nisã) começava a festa dos pães ázimos (Hag Hamatzot). Durante sete dias não poderia haver fermento dentro das casas dos israelitas. Originalmente os pães ázimos representavam a saída rápida do Egito. Mas vemos também na ausência de fermento o símbolo de ausência de pecado em Cristo. E somos convidados a ingeri-lo, a fazê-lo parte de nosso próprio organismo como alimento, dando-nos, desta forma, vida. O primeiro e o último dia desta festa deviam ser dias de “santa convocação” e nenhum trabalho servil devia ser feito (eram, portanto, sábados cerimoniais).
Sombra de que? Santificação. “Por isso celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade.” 1 Coríntios 5:8
c. FESTA DAS PRIMÍCIAS (Levíticos 23:9-14):
No “dia seguinte ao sábado” (verso 11), isto é, no dia 16 de Nisã, era celebrada a festa das primícias (Bikurim). Neste dia os israelitas deviam apresentar no templo o primeiro produto da colheita. O sacerdote pegava o molho e o mexia perante o Senhor. Esta cerimônia era um tipo da ressurreição de Cristo. Cristo é a primícia e a garantia da ressurreição dos justos no dia da volta de Jesus (Notavelmente, Mateus 27:52-53 nos informa que muitos santos ressurgiram junto com Cristo, fazendo a analogia com a festa das primícias mais completa e interessante). Notemos como Jesus cumpriu estas festas morrendo no dia da Páscoa (14 de Nisã) e ressuscitando no dia 16 do mês, no dia das primícias.
d. FESTA DAS SEMANAS OU PENTECOSTES (Levíticos 23:15-21):
Cinquenta dias após a festa das primícias, celebrava-se a festa da semanas (chamado em grego Pentecostes e em hebraico Shavuot). Este dia era, na verdade uma santa convocação. Os israelitas deviam apresentar dois pães como “oferta mexida”. Simultaneamente, eram oferecidos cordeiros e bodes como sacrifício (na maior parte dos serviços e festas do santuário estão presentes os sacrifícios pois sempre a aproximação do homem a Deus se faz na base dos méritos do substituto, isto é, de Cristo). Primariamente a festa simbolizava o agradecimento a Deus pela colheita. No Novo Testamento aparece associada ao derramamento do Espírito Santo (Atos 2). Esta relação se torna mais interessante quando percebemos que Atos 2:1 pode ser traduzido como: “Quando o dia de Pentecostes foi cumprido” (symplerousthai) que pode ser entendido como a realização antitípica daquilo que era anunciado pela festa. Foi também nesse dia que a igreja cristã teve sua “primeira colheita” logo do discurso de Pedro e a conversão de três mil pessoas.
Sombra de que? Crescimento do Reino de Deus pelo poder do Espírito Santo. “ Ao cumprir-se o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados…Todos ficaram cheios do Espírito santo… At os2:1,4, 41.
e. FESTA DAS TROMBETAS (Levíticos 23:23-25):
Sombra de que? Anúncio do dia da expiação. “Temei a Deus e daí-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo…” Apocalipse 14:7.
O DIA DA EXPIAÇÃO (Levítico 23:26-32 ou Levítico 16):
Durante o ano todo, os israelitas tinham ido ao santuário oferecendo sacrifícios pelos pecados e, como já vimos, segundo o principio da transferência, o pecado era cerimonialmente transferido ao santuário ou ao sacerdócio. Portanto, fazia-se necessário efetuar uma “purificação” que eliminasse de vez o pecado. Isto se realizava no décimo dia do sétimo mês, no chamado Dia da Expiação (Yom Kippur). Junto com Páscoa este era o dia mais importante no calendário religioso judaico. Nenhum trabalho devia ser feito nesse dia (era, pois, um Sábado cerimonial) e o povo devia afligir suas almas (Levítico 23:27) e quem não o fizesse seria cortado dentre o povo (Levítico 23:29). Talvez por este motivo, o Yom Kippur tem sido, tradicionalmente, visto pelo Judaísmo como o Dia do Juízo.
O Sumo Sacerdote imolava o novilho pegava um pouco do sangue e entrava no Lugar Santíssimo levando também um incensário (isto era preciso para que ele não ficasse diretamente exposto à glória de Deus). Ele deixava o incensário no chão frente à arca de tal forma que a nuvem de incenso estivesse entre ele e arca. Então com seu dedo aspergia o sangue do novilho sete vezes sobre o propiciatório. Assim tinha feito expiação por si e pela sua casa. Logo ele imolava o bode “para o Senhor” (que representa a Cristo), tomava do seu sangue, entrava novamente no Lugar Santíssimo e fazia da mesma como tinha feito com o novilho. Desta forma fazia expiação pelo Lugar Santíssimo (Levítico 16:16). Depois, repetia a cerimônia para fazer expiação pela Tenda da Reunião (Lugar Santo). Uma vez feito isto, a expiação estava acabada (Levítico 16:20)e só então o Sumo Sacerdote tomava o bode vivo (“para Azazel”), colocando as mãos sobre a cabeça do bode, confessava sobre ele todos os pecados do povo e o bode era enviado ao deserto. bode por Azazel representa Satanás e todos os ímpios que, por não terem aceito o sacrifício expiatório de Cristo devem carregar o peso e a conseqüência dos seus próprios pecados, sofrendo assim a eterna separação de Deus e Seu povo (o que significa em última instância, destruição eterna). No caso de Satanás, ele deve levar também sua parte de culpa nos pecados dos santos por ter sido ele o originador da rebelião e o pecado (por esta razão os pecados do povo são confessados sobre o bode para Azazel). Desta forma o Dia da Expiação ilustra a final destruição do pecado e dos ímpios. O Dia da Expiação antitípico começou em 1844 tal como foi anunciado pelo profeta Daniel (Daniel 8:14).
Sombra de que? Purificação do santuário. Daniel 8:14
. FESTA DOS TABERNÁCULOS (Levítico 23:33-44):
No dia quinze do sétimo mês, começava a chamada Festa dos Tabernáculos (Sukkot) e durava sete dias. No primeiro dia havia uma santa convocação. Os israelitas deviam construir tabernáculos com folhas de palmeiras e ramos de árvores para morar neles durante os sete dias da festa. No oitavo dia havia novamente uma santa convocação. A festa lembrava o tempo que os israelitas habitaram em tendas no deserto durante a viagem até a Terra Prometida logo de serem libertos da opressão do Egito. Por esta razão a festa se torna um tipo da nossa libertação e nossa translação à verdadeira Terra Prometida, Canaã Celestial onde finalmente habitaremos nas moradas que Jesus foi preparar para nós.
Sombra de que? Nossa Redenção. “A festa dos tabernáculos não era apenas comemorativa, mas também típica. Não somente apontava para a peregrinação no deserto, mas , como festa da ceifa, celebrava a colheita dos frutos da terra, e indicava, no futuro, o grande dia da colheita final, em que o Senhor da seara enviará os Seus ceifeiros para ajuntar o joio em feixes para o fogo, e colher o trigo para o Seu celeiro.” Patriarcas e Profetas pág. 340.
Acontecia após o dia do Juízo ter acabado, todos os frutos já estavam no celeiro. Então dava-se uma grande festa. Era o fim e a realização de tudo o que desejava o povo.
CONCLUSÃO:
Só os pecados confessados se achavam no santuário. Somos aconselhados a chegarmos ao trono da graça de Deus em sincera confissão para alcançar o perdão. A santificação é diária. Você está se preparando para o dia em que seu nome será investigado? Se você for fiel até à morte Cristo irá defendê-lo no Juízo Investigativo. No Dia da Expiação, o registro do pecado foi apagado e Israel estava limpo.
Não existe pães asmos sem páscoa, não existe pentecostes sem primícias, não existe sonido de trombetas sem pentecostes, não existe festa dos tabernáculos sem o dia da expiação, enfim:
Não existe salvação sem Jesus!