por Vânedja Cândido
Há sérios problemas em buscarmos salvação por nosso desempenho, bondade e obediência à lei. Uma vez que a lei encerra todos debaixo de maldição (Gl 3.10, 22-23), ela é o carcereiro, o inexorável guarda que trancafia os prisioneiros – a saber, a humanidade – e os impede que sejam libertos. À primeira vista, a conclusão é que Paulo está maldizendo a lei, uma vez que esta parece cruel e tirânica. Contudo, é o exato oposto! O fato da lei ser o carcereiro da humanidade é precisamente um dos motivos porquê ela é boa. Alguém acha que o carcereiro de Eduardo Cunha, ou de Fernandinho Beira-mar é mau porque impede a fuga deles? Muito pelo contrário! Mau ele seria se os libertasse, não é mesmo? A não ser que creiamos que eles não são tão maus assim.
A maldade do encarcerado
Um dos problemas quando pensamos que, de alguma forma que seja, é possível sermos libertos por intermédio da lei e atingir a salvação por nosso desempenho e moralidade é que partimos do pressuposto de que nem somos tão maus assim. Entretanto, não é isso o que a Escritura ensina quanto à natureza humana (Gn 5.1-3; 6.5; 8.21; Sl 51.5; 58.3; Je 13.25; 17.9; Mt 7.22-23; Mc 7.22-23; Jo 6.44; Rm 3.10-18; 8.7-8; 7.14). A Bíblia afirma que somos maus e merecemos a justa ira de Deus.
Assim, tal como é bom o carcereiro que mantém presos os maus; a lei, que é boa, não pode, sob hipótese alguma, livrar o homem, pois este é mau. Nosso crime é incomensuravelmente grave, e, do mesmo modo que ocorre em qualquer código penal justo, nossa pena jamais poderá ser amenizada por nosso bom comportamento. De fato, tamanha é a gravidade de nossa transgressão que meremos a pena capital de forma irrevogável. A lei apenas prova o quanto é merecida essa sentença e, por isso, encarcera o pecador debaixo de seu poder.
Logo, não há conflito quando a Bíblia diz que a lei nos encerra sob maldição e, ao mesmo tempo, que “a lei é santa, justa e boa” (Rm 7.12), pois é exatamente porque ela é santa, justa e boa que, com justiça, condena o homem, que é mau.
Dessa forma, ao condenar e aprisionar o homem, a lei cumpre exatamente o bom propósito que Deus lhe designou. Nesse caso, ela não foi dada para nos conceder liberdade e vida, “pois se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei” (Gl 3.21). A lei foi dada para que ficasse patente diante de nós nossa total incapacidade de alcançar a justa e elevada norma de Deus em nosso estado de Queda (Rm 7.7).
Contrariando, contudo, o que diz a Bíblia, muitos olham a si mesmos como indignos de tal condenação, ou olham a lei como a uma espécie de guarda brasileiro, que pode ser comprado caso se consiga reunir a quantia necessária para corrompê-lo. A lei, porém, é um guarda incorruptível, sendo, por isso, completamente impensável que o pecador consiga liberdade por meio dela. O homem está absolutamente perdido.
O único meio
Um plano, entretanto, foi arquitetado. Tudo isso ocorreria até que viesse “o descendente a quem se fez a promessa” (Gl 3.19). Quando Cristo entra em cena, a lei não pode mais aprisionar aquele que crê na promessa de libertação, pois não há mais culpa sobre tal pecador, sua fiança foi paga, sua dívida saldada, seu regaste realizado – Cristo o comprou da escravidão, tomando o seu lugar (Mt 20.28; 1Tm 2.6; Ap 5.9).
Por isso, o mesmo carcereiro que nos prende, não pode mais nos reter quando temos fé em Cristo, porque, nesse momento, Cristo troca nossa imperfeição por Sua perfeição, nossa injustiça por Sua justiça e nossa desobediência por Sua obediência. De modo que, ao olhar para o pecador que tem fé em Cristo, Deus não vê as imperfeições do homem, mas a perfeição de Cristo sobre ele. Assim, somos libertos da condenação, pois a lei, que é justa, não pode mais aprisionar aquele que, pelos méritos da justiça de Cristo, já foi declarado justo.
É por esse motivo que Paulo abre o capítulo 3 da Carta aos Gálatas de forma tão incisiva, chamando os gálatas de insensatos. É uma completa estupidez pretender ser salvo pela lei, pois “é evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé” (Gl 3.11). A lei não tem vida para dar (Gl 3.21), mas Cristo tem (Jo 10.10). Essa é a única forma do homem imperfeito ser liberto da condenação de uma lei perfeita. É o meio que Deus providenciou e não há outro.
Suborno belo e moral
Aquele, portanto, que espera ser salvo com alguma contribuição da lei é como o que tenta subornar o carcereiro para facilitar sua fuga. Um carcereiro justo, além de não deixá-lo fugir, fará com que o juiz aumente ainda mais a pena de tal transgressor. É exatamente o que ocorre comigo, com você e com todo aquele que tenta fazer com que a santa, justa e boa lei divina contribua de alguma forma para a salvação de sua alma. Com toda a sua suposta moralidade, o que ele tenta de fato é corromper a lei de seu bom propósito e, arrogantemente, pretender que Deus o aceite por um meio que Deus não proveu. Por isso, não apenas permanece preso, mas é visto como ainda mais culpado perante o Juiz de toda terra.
Não tente subornar o guarda! A lei é um bom carcereiro. É inútil insistirmos em tentar “molhar a mão” de um guarda assim! Além disso, não existe suborno belo e moral. É por isso que a tentativa de sermos salvos por nossa moralidade e, em si, imoralidade por excelência. Assim, quanto mais você tenta ser salvo por sua obediência e moralidade, mais perdido, desobediente e imoral se torna. “O justo viverá pela fé”. É pela fé em Cristo que o justo tem vida. É para Ele que a lei aponta ao mostrar nossa total impossibilidade de alcançarmos vida por ela.
compreendendo os ensinos de Paulo aos gálatas
Seja sempre bem vinda