Este artigo foi traduzido para o português, a partir do francês Lire Ellen White, por Ruth Mª C. Alencar. Título do original em inglês, Reading Ellen White: How to Understand and Apply Her Writings (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1997, escrito pelo pastor George Knight.
Você pode pensar que o título deste capítulo se parece com o conteúdo do capítulo anterior. Você tem razão. Estamos tratando de um assunto extremamente importante que se encontra no centro de uma compreensão saudável e equilibrada dos escritos de Ellen White. Quando as pessoas não entendem a relação entre seu dom e a Bíblia, elas cometem um dos erros fundamentais em relação aos seus escritos. Se elas estão equivocadas sobre esse ponto, não percebem o propósito da contribuição dela à sua vida pessoal e à igreja. Por isso, é indispensável empregar mais algumas páginas para examinar a relação entre os escritos de Ellen White e a Bíblia.
O primeiro ponto a ser enfatizado é que a Sra. White não queria que seus leitores fizessem de seus escritos a autoridade maior da vida deles. “Nossa posição e crença têm por base a Bíblia”, escreveu em 1894. “E nunca queremos que alguém ponha os Testemunhos à frente da Bíblia” (Evangelismo, p. 256) No mesmo ano, ela tomou uma posição idêntica em relação ao evangelismo: “No trabalho público, não tornem proeminente nem citem o que a irmã White tem escrito, como autoridade para apoiar suas posições. Fazer isso não aumentará a fé nos testemunhos. Apresentem suas provas, claras e simples, a partir da Palavra de Deus. Um ‘Assim diz o Senhor’ é o mais forte testemunho que vocês podem apresentar ao povo. Que ninguém seja instruído a olhar para a irmã White, e sim ao poderoso Deus, que dá instruções à irmã White” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 29, 30).
Por ocasião de um encontro com os representantes da Associação Geral para discutir a reorganização da Igreja, em 1901, Ellen White os exortou uma vez mais a fazer dos princípios da Bíblia a autoridade maior deles em vez de suas exortações e palavras. Dirigindo-se aos líderes da Igreja Adventista, ela declarou: “Ponham a irmã White de lado. Não citem outra vez as minhas palavras enquanto viverem, até que possam obedecer à Bíblia. Quando vocês fizerem da Bíblia seu alimento, sua comida e sua bebida, quando fizerem dos princípios dela os elementos de seu caráter, vocês conhecerão melhor como receber conselho de Deus. Eu exalto a preciosa Palavra diante de vocês neste dia. Não repitam o que eu declarei, afirmando: ‘A irmã White disse isto’ e ‘A irmã White disse aquilo’. Descubram o que o Senhor, Deus de Israel, diz, e façam então o que Ele ordena” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 33).
Essas declarações não significam que Ellen White não tenha dito nada sobre o assunto em discussão. Também não implica que seja errado procurar o conselho em seus escritos ou que eles não tenham nenhuma autoridade. As citações acima invocam, sobretudo, uma questão de prioridade. Em cada caso, algumas pessoas têm colocado Ellen White numa posição que ela não ocupa. A missão dela era conduzir à Bíblia, e não tomar o seu lugar. Os que fazem uma compilação com dezenas de citações de Ellen White sobre determinado assunto, mas negligenciam a Bíblia, não seguem Ellen White, por mais “fiéis” que possam parecer aos seus próprios olhos. Avançam numa direção oposta à da pessoa que eles consideram como guia. Com frequência, Ellen White orientou as pessoas em direção à Bíblia como a mais alta autoridade em cada área da vida cristã.
Tiago White, seu marido, adotou a mesma posição, assim como os outros líderes adventistas. Em seu primeiro texto sobre o dom de Ellen White, escrito em 1847, Tiago declarou que “a Bíblia é uma revelação perfeita e completa. Ela é nossa única regra de fé e de conduta. Mas isso não é uma razão para que Deus não possa mostrar o cumprimento passado, presente e futuro de Sua Palavra, nestes últimos dias, por sonhos e visões, segundo o testemunho de Pedro (veja Atos 2:17-20; Joel 2:28-31). Verdadeiras visões são dadas para nos conduzir à Deus e a Sua Palavra escrita, mas as que são uma nova regra de fé e de conduta, distintas da Bíblia, não podem vir de Deus e devem ser rejeitadas” (A Word to the Little Flock, p. 13).
Vemos nessa declaração o equilíbrio delicado seguido por vários dos primeiros pensadores adventistas. A ideia central é que a Bíblia constitui a autoridade suprema, mas ela mesma declara que Deus enviaria visões e dons espirituais nos últimos dias da história da Terra, para conduzir Seu povo de volta à Bíblia e lhe fazer atravessar os perigos da crise final. Assim, Tiago White mostra que o uso de Joel 2:28-31 por Pedro, em seu sermão do Pentecoste (Atos 2), não esgota o cumprimento dessa profecia. No fim dos tempos, Deus enviaria novamente o Espírito Santo, e “os seus filhos e as suas filhas profetizarão” (Joel 2:28, NVI) e teriam visões antes da segunda vinda. Tiago White cita também 1 Tessalonicenses 5:19-21, onde Paulo diz: “Não apaguem o Espírito. Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (NVI). Também cita Isaías 8:20, onde lemos: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (ARC) (A Word to the Little Flock, p. 14).
Tiago White e os outros pioneiros da Igreja Adventista não tinham nenhuma dúvida: a Bíblia ensina que Deus concederia o dom de profecia nos últimos dias, e que cada um tem a responsabilidade de testar os que afirmam ser profetas pelos critérios da Bíblia contidos em textos como Isaías 8:20 e Mateus 7:15-20. Os líderes adventistas não duvidavam também que esses dons devessem estar subordinados à Bíblia e que se não o fossem, seriam mal empregados.
Assim, em 1851, Tiago White escreveu que “os dons do Espírito deveriam ter o lugar que lhes convém. A Bíblia é uma rocha eterna. Ela é nossa regra de fé e de conduta”. Ele chegou a afirmar que se todos os cristãos fossem tão dedicados e honestos como deveriam, estariam na condição de aprender todos os seus deveres com a própria Bíblia. “Mas, como o caso contrário existe, e sempre existiu, Deus, em Sua bondade, teve piedade da fraqueza de Seu povo e colocou dons na igreja para corrigir nossos erros e nos conduzir à viva Palavra. Paulo diz que os dons existem ‘com o fim de preparar os santos para a obra do ministério’, ‘até que todos alcancemos a unidade da fé’ (Efésios 4:12, 13, NVI). A extrema necessidade na qual se encontra a igreja, em seu estado de imperfeição, é oportunidade para conceder os dons do Espírito.”
Tiago White continua: “Portanto, cada cristão deve tomar a Bíblia como regra perfeita de fé e de conduta. Deve orar com fervor para ser auxiliado pelo Espírito Santo no estudo das Escrituras, na busca de toda a verdade e de todos os seus deveres. Ele não tem a liberdade de se desviar dela para descobrir seus deveres por meio de qualquer dom. Dizemos que a partir do momento em que ele age assim, o cristão coloca os dons no lugar errado e toma uma posição extremamente perigosa. A Palavra de Deus deve ser colocada em primeiro lugar e a atenção da igreja deve fixar-se nela, como regra de conduta e fonte de sabedoria, a fim de aprender o que é seu dever ‘em toda boa obra’. Mas, se parte da igreja se afasta das verdades da Bíblia e torna-se fraca e doente, e o rebanho se dispersa e pareça necessário a Deus empregar os dons do Espírito para corrigir, fortalecer e curar os afastados, devemos permitir que Ele faça essa obra” (Review and Herald, 21 de abril de 1851).
Na mesma linha, em 1868, Tiago White advertiu aos crentes que eles deviam “deixar os dons no lugar que lhes é devido na igreja. Deus nunca os colocou em primeiro lugar, nem nos orientou a considerá-los como um guia no caminho da verdade ou como o caminho rumo ao Céu. É a Sua Palavra que Ele exaltou. As Escrituras do Antigo e do Novo Testamento são a lâmpada do ser humano, cuja luz clareia a marcha em direção ao reino. Sigam a Palavra. Mas se vocês se afastarem para longe das verdades bíblicas, e se vocês estiverem em perigo, é possível que Deus, em um momento de Sua escolha, lhes corrija [por intermédio dos dons] e conduza de volta à Bíblia” (Review and Herald, 25 de fevereiro 1868).
Vemos que Tiago White estava de acordo com sua esposa sobre o lugar de seu dom espiritual em relação à Bíblia. Essa posição reflete também o consenso dos outros líderes dos primórdios da igreja. Seria difícil ser mais claro sobre o assunto.
Neste momento, é importante notar que embora Ellen White, seu marido e os outros líderes adventistas cressem que seu dom de profecia estava subordinado à autoridade da Bíblia, isso não significa que eles considerassem sua inspiração de qualidade inferior aos dos escritores bíblicos. Ao contrário, eles pensavam que a mesma Voz que falava aos profetas da Bíblia também se comunicava por meio de Ellen White.
Encontramos aqui um perfeito equilíbrio. Ainda que os adventistas considerassem que sua inspiração possuía a mesma origem divina que a dos autores bíblicos, eles não lhe atribuíam a mesma autoridade. Ellen White e seus contemporâneos adventistas sustentavam que sua autoridade era derivada da autoridade da Bíblia e, portanto, não podia lhe ser igual.
Portanto, sua influência não tinha por objetivo transcender ou contradizer os limites da verdade revelada na Bíblia. Como o disse pertinentemente Ellen White: “Os testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz; e sim a imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram reveladas [na Bíblia]. Não se trata de escavar verdades adicionais; mas pelos Testemunhos Deus tem facilitado a compreensão de importantes verdades já reveladas” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 665).
Infelizmente, alguns não prestam atenção aos limites que Ellen White colocou em seus próprios escritos. Essas pessoas trazem os ensinos de Ellen White para além do limite das Escrituras, por meio de ênfases equivocadas e métodos de interpretação deficientes (que serão examinadas mais à frente deste livro). Suas ideias “elevadas” às vezes não somente contradizem a Bíblia, mas ultrapassam também os limites estabelecidos por Ellen White quanto ao uso de seus escritos. Nossa única segurança é ler os escritos de Ellen White dentro do quadro bíblico. Devemos ter cuidado para não empregar seus escritos para salientar ensinos que não são claramente enunciados pelas Escrituras. Devemos nos lembrar que o que é necessário para a salvação está já presente na Bíblia.
Antes de nos afastarmos do assunto da relação entre Ellen White e a Bíblia, é necessário examinar ainda uma questão. Alguns adventistas consideram Ellen White um comentarista infalível da Bíblia, no sentido de que deveríamos usar seus escritos para estabelecer o sentido de textos bíblicos. Um importante editor adventista escreveu na Review and Herald, em 1946, que “os escritos de Ellen White constituem um grande comentário das Escrituras”. Ele chegou a declarar que eles não eram comparáveis a outros comentários por serem “comentários inspirados, suscitados pela ação do Espírito Santo e que isso lhes põe numa categoria particular, bem acima de qualquer outro comentário” (Review and Herald, 9 de junho de 1946).
Mesmo que Ellen White tenha afirmado escrever sob a inspiração do Espírito Santo, ela não afirmava que deveríamos tomar seus escritos como a última palavra sobre o significado de textos bíblicos. A. T. Jones, ao contrário, num artigo publicado em 1894 sobre o propósito dos escritos de Ellen White, os considerava como um intérprete “infalível” da Bíblia. Ele alegou que o bom uso dos escritos de Ellen White era “estudar a Bíblia por meio deles”. Tal abordagem, dizia ele, faria de nós “poderosos nas Escrituras” (The Home Missionary Extra, dezembro de 1894). A sugestão de Jones serviu de linha de conduta para muitos adventistas do século 20.
É absolutamente essencial reconhecer que Ellen White rejeitou o uso de suas obras como um comentário infalível. As melhores provas disso são suas respostas às discussões sobre a interpretação da lei na Epístola aos Gálatas e a definição do “contínuo” em Daniel 8. Esses foram combates teológicos que dividiram os principais pensadores adventistas durante quase três décadas.
O conflito girava em torno da suposta interpretação de Ellen White sobre as passagens bíblicas relativas a essas duas questões. Segundo alguns de seus leitores, em um testemunho escrito na década de 1850, ela havia definido a lei na Epístola aos Gálatas como a lei cerimonial. Para essas pessoas, essa era a prova irrefutável da identificação da lei. Mas havia um problema com a solução dada por eles. O testemunho em questão tinha sido perdido; portanto, a “prova” estava longe de ser conclusiva.
A resposta de Ellen White a essa crise teológica é muito esclarecedora. No dia 24 de outubro de 1888, ela disse aos delegados da assembleia da Associação Geral que havia sido providencial a perda do testemunho no qual ela havia supostamente tinha resolvido a questão. Ela afirmou: “Deus tem uma intenção nisso. Ele quer que abramos a Bíblia e busquemos a evidência nas Escrituras” (The 1888 Ellen G. White Materials, p. 153). Em outras palavras, ela estava mais interessada nas afirmações bíblicas sobre o assunto do que em suas próprias declarações.
Mas os delegados dispunham de seu livro Sketches From the Life of Paul (1883), que parecia fixar definitivamente seu selo de aprovação sobre a interpretação da lei cerimonial.
Qual foi a reação de Ellen White ao uso de seus escritos? No mesmo dia em que alguém apresentou um argumento retirado do livro Sketches From the Life of Paul, ela declarou aos delegados: “Não posso tomar posição em favor de nenhum lado [sobre a questão de Gálatas] antes de ter estudado o assunto” (The 1888 Ellen G. White Materials, p. 153) Em resumo, ela rejeitou a abordagem dos que quiseram se servir dela como um comentarista infalível. Vemos a essência da sua resposta na seguinte afirmação: “Se vocês pesquisarem de joelhos as Escrituras, então, vocês as conhecerão e serão capazes de responder a todo que lhes perguntar a razão de sua fé” (idem, p. 152).
Ellen White manteve a mesma posição vinte anos mais tarde, durante o debate sobre a definição do “contínuo” em Daniel 8. Nessa disputa, os que defendiam a antiga interpretação pretendiam que a nova derrubava a teologia adventista. Para eles, uma declaração de Ellen White no livro Primeiros Escritos apoiava a compreensão tradicional. O maior defensor da antiga interpretação afirmava que uma mudança em relação à posição estabelecida destruía a autoridade de Ellen White. Ele era muito incisivo em seu ponto de vista sobre a relação entre os escritos dela e a Bíblia. “Devemos compreender essas expressões bíblicas com a ajuda do Espírito de Profecia [manifestado nos escritos de Ellen White]. […] É para esse propósito que o dom de profecia nos foi concedido. […] Todas as questões devem ser resolvidas” dessa maneira (Carta de S. N. Haskell a W. W. Prescott, 15 de novembro de 1907).
Ellen White discordava do argumento de Haskell. Ela pediu que seus escritos “não sejam usados” para resolver o problema. “Rogo aos pastores H, I, J, e outros de nossos principais irmãos, que não façam referência a meus escritos para apoiar seus pontos de vista quanto ao ‘contínuo’. […] Não posso consentir que qualquer de meus escritos seja tomado como solucionando esse assunto. […] Não tive nenhuma instrução a respeito do ponto em discussão” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 164).
Portanto, nos dois debates – sobre o “contínuo” e sobre a lei em Gálatas –, Ellen White tomou a posição de que seus escritos não deviam ser usados para estabelecer o sentido de textos bíblicos, como se ela fosse um comentarista infalível.
William C. White também apresenta um interessante pensamento sobre a relação entre os escritos de sua mãe e a Bíblia: “Alguns de nossos irmãos estão muito surpresos e decepcionados porque mamãe não escreve algo decisivo que possa encerrar o debate sobre o que é o ‘contínuo’ e, assim, pôr fim a essa discussão. Durante algum tempo esperei por isso, mas, quando vi que Deus não julgou bom resolver a questão através de uma revelação por intermédio de Sua mensageira, cheguei a crer cada vez mais que Sua vontade é que haja um estudo sério da Bíblia e da história, até que uma clara compreensão da verdade seja alcançada” (Carta de William C. White a P. T. Magan, 31 de julho de 1910).
Sua recusa em agir como um comentarista infalível da Bíblia não deveria surpreender a ninguém. Ela nunca assumiu esse papel, mas sempre chamava a atenção das pessoas sobre a necessidade de estudar a Bíblia por si mesmas. Ela nunca declarou: “Deixe-me dizer o que a Bíblia realmente quer dizer.” A última coisa que ela queria era se colocar entre as pessoas e a Bíblia.
O teólogo adventista Fritz Guy ilustra muito bem esse ponto: “Se aponto meu dedo em direção ao teto e digo: ‘Olhem!’, não quero que você olhe meu dedo. Desejo que sigam a direção para a qual ele aponta. Se você insiste em olhar meu dedo é porque você não me entendeu” (Fritz Guy, texto não publicado, 18 de janeiro de 1986). Esse era o propósito de Ellen White. Ela sempre conduziu seus leitores em direção à Bíblia e nunca pretendeu ter a última palavra sobre o sentido de textos bíblicos. Na verdade, em seus próprios escritos, ela nunca tirava as mesmas lições ou interpretações das mesmas passagens bíblicas.
Os que querem transformar Ellen White em um comentarista infalível da Bíblia vão contra seus próprios conselhos e lançam por terra suas palavras. Eles fazem dela a luz maior para explicar a luz menor, que seria a Bíblia. Robert W. Olson, diretor aposentado do Patrimônio Literário de Ellen G. White, explica as dificuldades inerentes a essa abordagem: “Dar a um indivíduo um controle absoluto sobre a interpretação da Bíblia consistiria, praticamente, a elevar essa pessoa acima da Bíblia. Seria um erro permitir mesmo ao apóstolo Paulo exercer um controle sobre a explicação de todos os outros autores bíblicos. Nesse caso, Paulo, e não a Bíblia inteira, seria a autoridade final” (One Hundred and One Questions on the Sanctuary and on Ellen White, p. 41). Nossa única segurança é permitir que os autores da Bíblia falem por si mesmos. O mesmo acontece com Ellen White. Leia cada autor em sua própria mensagem, em seu próprio contexto.
Olson aponta uma questão importante quando ele nota que “os escritos de Ellen White são geralmente de natureza homilética ou evangelística, e não estritamente exegética” (idem). O comentarista evangélico I. Howard Marshall nos ajuda a compreender melhor essa ideia. Ele ressaltar que “exegese é o estudo da Bíblia […] para determinar com precisão o que os autores buscavam dizer a quem se destinavam suas mensagens”. Já “a exposição [homilética] é o estudo da Bíblia para determinar o que ela pode nos ensinar” (Biblical Inspiration [Grand Rapids: Eerdmans, 1982], p. 95, 96). Em outras palavras, exegese se preocupa com o significado original de um texto bíblico, ao passo que homilética é a aplicação de um texto num sermão, muitas vezes sem se limitar ao sentido original.
Você pode se perguntar: “Como isso se aplica à relações entre Ellen White e a Bíblia?”. Da seguinte maneira: Ellen White sempre direcionou seus leitores à Bíblia para que eles estudassem e descobrissem o que seus autores tinham a dizer (exegese). Mas, além disso, ela sempre aplicava os princípios bíblicos ao seu tempo lugar (homilética). Nos dois casos ela serviu como “uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior”(O Colportor Evangelista, p. 125). Com essa frase, ela não queria dizer que tivesse um grau menor de inspiração que os escritores bíblicos, mas que a função de seus escritos era conduzir as pessoas à Bíblia.
Neste capítulo, examinar o importante conselho de não transformar Ellen White em um comentarista infalível da Bíblia. Também vimos que ela geralmente citou a Bíblia de maneira homilética, e não exegética. Mas é importante notar que às vezes ela usou a Bíblia se manifestou sobre a exegese de um texto. Devemos determinar quais textos de Ellen White são de natureza exegética lendo-os em seu contexto específico e depois lendo as passagens bíblicas em seus próprios contextos. Olson foi muito feliz ao escrever: “Antes de afirmar que Ellen White está interpretando um texto do ponto de vista exegético, deve-se estar previamente seguro de como ela está utilizando o texto bíblico em discussão” (One Hundred and One Questions on the Sanctuary and on Ellen White, p. 42).
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