Ano Bíblico 2019 – 306º Dia – Atos 28



Leitura Complementar:

Os da casa de César, Capítulo 44 – Atos dos Apóstolos ou Os Embaixadores
Por Ellen White
Atos dos Apóstolos ou Os Embaixadores
O evangelho sempre alcançou seu maior sucesso entre as classes humildes. “Não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados”. 1 Coríntios 1:26. Não seria de esperar que Paulo, pobre prisioneiro e sem amigos, pudesse obter a atenção das classes ricas e titulares dos cidadãos romanos. Para estas o vício apresentava todas as suas brilhantes seduções, e retinha-as como cativas voluntárias. Mas, dentre as cansadas e necessitadas vítimas de sua opressão, mesmo dentre os pobres escravos, muitos alegremente ouviam as palavras de Paulo, e encontravam na fé cristã esperança e paz que os animavam nas dificuldades de sua vida. 
Embora o trabalho do apóstolo começasse com os humildes e modestos, sua influência se estendeu até atingir o próprio palácio do imperador. 
Roma era, nessa ocasião, a metrópole do mundo. Os arrogantes Césares estavam dando leis a quase todas as nações da Terra. Reis e cortesãos, ou não tomavam conhecimento do humilde Nazareno, ou O consideravam com ódio e desprezo. E contudo, em menos de dois anos, o evangelho teve acesso da modesta casa do prisioneiro aos recintos imperiais. Paulo estava em cadeias como um malfeitor; mas “a Palavra de Deus não está presa”. 2 Timóteo 2:9. 
Em anos anteriores, o apóstolo havia publicamente proclamado a doutrina de Cristo com cativante poder; e por sinais e milagres dera indiscutível evidência de seu divino caráter. Com nobre firmeza, levantara-se perante os sábios da Grécia, e por seu conhecimento e eloquência tinha feito silenciar os argumentos da altiva filosofia. Com indômita coragem estivera diante de reis e governadores, e falara da justiça, da temperança e do juízo vindouro, até que soberbos governadores estremeceram como se já contemplassem os terrores do dia de Deus. 
Tais oportunidades não lhe eram agora concedidas, confinado como se achava em sua própria residência, podendo pregar a verdade apenas aos que ali viessem. Não tinha, como Moisés e Arão, ordem divina para ir até os perversos reis, e em nome do grande EU SOU repreendê-los por sua crueldade e opressão. No entanto, foi nessa época, quando seus principais defensores estavam aparentemente separados do trabalho público, que o evangelho alcançou grande vitória; até membros da casa do imperador foram acrescentados à igreja. 
Em nenhum lugar poderia haver uma atmosfera menos propícia ao cristianismo que na corte romana. Nero parecia ter apagado de seu coração o último vestígio de origem divina, e mesmo da humana, havendo recebido o carimbo de Satanás. Seus assistentes e cortesãos eram, em geral, do mesmo caráter que ele — violentos, envilecidos e corruptos. Segundo todas as aparências, seria impossível ao cristianismo firmar pé na corte e no palácio de Nero. 
Contudo, nesse caso, como em muitos outros, ficou provada a veracidade da afirmação de Paulo de que as armas de sua milícia eram “poderosas em Deus, para destruição das fortalezas”. 2 Coríntios 10:4. Mesmo na casa de Nero foram ganhos troféus para a cruz. Dentre os vis servidores de um soberano ainda mais vil, foram ganhos conversos os quais se tornaram filhos de Deus. Não eram eles cristãos secretamente, mas abertamente. Não se envergonhavam de sua fé. 
E por que meios foi conseguida entrada e uma firme posição alcançada pelo cristianismo, onde sua simples admissão parecia impossível? Em sua epístola aos filipenses, Paulo atribui à sua prisão o sucesso em ganhar conversos da casa de Nero. Temendo que se pudesse pensar que suas aflições haviam impedido o progresso do evangelho, assegurou-lhes: “E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho”. Filipenses 1:12. 
Logo que as igrejas cristãs souberam que Paulo deveria visitar Roma, tiveram a expectativa de um triunfo assinalado para o evangelho nessa cidade. Paulo levara a verdade a muitas terras; proclamara-a em grandes cidades. Não poderia esse campeão da fé ser bem-sucedido em conquistar conversos para Cristo também na metrópole do mundo? Mas as esperanças [dessas igrejas] se aniquilaram com a notícia de que Paulo fora a Roma como prisioneiro. Tinham confiantemente esperado ver o evangelho, uma vez estabelecido naquele grande centro, estender-se rapidamente a todas as nações e tornar-se um poder predominante na Terra. Quão grande foi a sua decepção! Falharam as expectativas humanas, mas não o propósito de Deus. 
Não pelos sermões de Paulo, mas pelas suas cadeias, foi a atenção da corte atraída para o cristianismo. Foi como um cativo que ele rompeu de tantas vidas as cadeias que as mantinham na escravidão do pecado. E não foi só isso. Declarou: “Muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a Palavra mais confiadamente, sem temor”. Filipenses 1:14. 
A paciência e bom ânimo de Paulo durante seu longo e injusto aprisionamento, sua coragem e fé, eram um contínuo sermão. Seu espírito, tão diferente do espírito do mundo, dava testemunho de que um poder mais alto que o da Terra habitava com ele. E por seu exemplo, foram os cristãos impelidos a maior energia como defensores da causa no trabalho público de que Paulo havia sido afastado. Dessa maneira, foram as cadeias do apóstolo de tal influência que, quando seu poder e utilidade pareciam liquidados, e segundo todas as aparências muito pouco poderia ele fazer, alcançou ele para Cristo molhos em campos dos quais parecia inteiramente excluído. 
Antes do fim desses dois anos de prisão, Paulo pôde dizer: “As minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares” (Filipenses 1:13); e entre os que enviavam saudações aos filipenses, ele mencionou “principalmente os que são da casa de César”. Filipenses 4:22. 
A paciência, assim como a coragem, tem as suas vitórias. Pela mansidão diante da dificuldade, não menos do que pela ousadia nos empreendimentos, podem as pessoas ser ganhas para Cristo. O cristão que manifesta paciência e bom ânimo sob aflição e sofrimentos, que enfrenta a própria morte com a paz e calma de uma fé inabalável, pode realizar para o evangelho mais do que faria por uma longa vida de fiel labor. Muitas vezes, quando o servo de Deus é subtraído ao trabalho ativo, a misteriosa providência que nossa curta visão seria levada a lamentar, é designada por Deus para realizar a obra que de outra forma jamais seria feita.
Não pense o seguidor de Cristo, quando não mais lhe é possível trabalhar ativa e abertamente para Deus e Sua verdade, que não tem mais serviço a fazer nem recompensa a esperar. As verdadeiras testemunhas de Cristo jamais são postas de lado. Em saúde e na enfermidade, na vida e na morte, Deus ainda as usa. Quando, pela obra de Satanás, os servos de Cristo foram perseguidos, seu ativo trabalho embaraçado, quando lançados na prisão, ou arrastados ao cadafalso ou à fogueira, foi que a verdade pôde alcançar maior triunfo. Ao selarem essas fiéis criaturas seu testemunho com o próprio sangue, pessoas até então em dúvida e incerteza, foram convencidas da doutrina de Cristo, e corajosamente tomaram sua posição ao lado dEle. Da cinza dos mártires brotou abundante colheita para Deus. 
O zelo e fidelidade de Paulo e seus cooperadores, não menos que a fé e obediência desses conversos ao cristianismo, sob circunstâncias tão desalentadoras, constituem uma repreensão à negligência e falta de fé no ministro de Cristo. O apóstolo e seus cooperadores podiam ter argumentado que seria inútil chamar ao arrependimento e à fé em Cristo os servos de Nero, sujeitos como se achavam a violentas tentações, rodeados por empecilhos tremendos, e expostos à mais dura oposição. Mesmo que fossem convencidos da verdade, como poderiam prestar-lhe obediência? Mas Paulo não raciocinou assim. Com fé, apresentou o evangelho a essas criaturas e, entre os que o ouviram, alguns decidiram obedecer a qualquer preço. Não obstante os obstáculos e perigos, aceitaram a luz e confiaram em que Deus os ajudaria a fazer sua luz brilhar para outros. 
Não somente houve conversos ganhos para a verdade na casa de César mas, depois de sua conversão, eles permaneceram nessa casa. Não se sentiram na liberdade de abandonar seu posto de dever por não lhes ser mais favorável o ambiente. A verdade os achara ali, e ali permaneceram dando testemunho do poder transformador da nova fé, através de sua vida e caráter mudados. 
Alguém ainda está sendo tentado a fazer das circunstâncias uma desculpa para não testificar de Cristo? Que esses considerem a situação dos discípulos na casa de César — a depravação do imperador e a perversidade da corte. Dificilmente poderemos imaginar circunstâncias mais desfavoráveis para uma vida religiosa, e que acarretam maior sacrifício ou oposição do que as que enfrentaram esses conversos. No entanto, em meio a dificuldade e perigos, eles mantiveram sua fidelidade. Por causa de obstáculos que parecem insuperáveis o cristão pode procurar esquivar-se de obedecer à verdade como é em Jesus; mas não pode oferecer escusa que resista à investigação. Pudesse ele fazer isso e provaria que Deus é injusto, impondo a Seus filhos condições de salvação que eles não conseguem cumprir. 
Aquele cujo coração está determinado a servir a Deus encontrará oportunidade de testemunhar dEle. As dificuldades não terão força para impedir aquele que está determinado a buscar primeiro o reino de Deus e Sua justiça. Na força conquistada pela oração e estudo da Palavra, ele encontrará a virtude e abandonará o vício. Olhando para Jesus, o Autor e Consumador da fé, o qual suportou a oposição dos pecadores contra Si mesmo, o crente voluntariamente enfrentará o escárnio e a zombaria. E são prometidos auxílio e graça suficientes para cada circunstância, por Aquele cuja palavra é a verdade. Seus eternos braços envolvem a pessoa que se volta para Ele em busca de auxílio. Em Seu cuidado podemos descansar seguros, dizendo: “No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti”. Salmos 56:3. Deus cumpre Sua promessa para com todos aqueles que nEle depositam confiança. 
Por Seu exemplo, o Salvador mostrou que Seus seguidores podem estar no mundo sem todavia pertencer ao mundo. Ele veio, não para compartilhar de seus prazeres ilusórios e ser governado por seus costumes, ou seguir suas práticas, mas para fazer a vontade de Seu Pai e buscar e salvar o perdido. Com esse objetivo em vista, o cristão poderá permanecer incontaminado em qualquer meio. Quaisquer que forem sua situação e circunstâncias, exaltada ou humilde, ele manifestará o poder da verdadeira religião na prática fiel do dever. 
Não é fora das provas mas em meio a elas que o caráter cristão se desenvolve. O achar-se exposto à repulsa e oposição leva o seguidor de Cristo a maior vigilância e mais intensa oração ao poderoso Ajudador. Severa prova resistida pela graça de Deus desenvolve a paciência, a vigilância, a resistência e uma profunda e permanente confiança em Deus. A vitória da fé cristã consiste em que ela capacita seu seguidor a sofrer e ser forte; a submeter-se e assim conquistar; a morrer em todo o tempo e, contudo, viver; a levar a cruz, e assim alcançar a coroa de glória. 

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