Ao questionar as várias escolas de interpretação sobre como identificam os diferentes animais de Daniel 7, percebemos que todas concordam que o leão representa Babilônia (v. 4). As escolas historicista e futurista identificam o urso como Medo-Pérsia, ao passo que a escola preterista, constituída essencialmente de críticos eruditos, o identifica apenas como a Média (v. 5). Desse modo, enquanto as escolas historicista e futurista continuam sequencialmente identificando o leopardo e o animal indescritível como Grécia e Roma, a preterista fica um passo atrás, identificando-os como Pérsia e Grécia (v. 6-7).
Historicistas e futuristas finalmente divergem no que tange ao chifre pequeno. Os primeiros o identificam com o chifre papal que saiu de Roma pagã. Os últimos, apegando-se a uma lacuna no fluir da história profética, o identificam com o final e ainda futuro anticristo (v. 8). Sendo que eles terminam sua série de quatro animais com a Grécia, os preteristas identificam o chifre pequeno proveniente desse animal como Antínco IV.
Existem, é claro, variações nas aplicações feitas por comentaristas individuais dentro de cada uma dessas escolas de interpretação profética, mas estas variações não possuem real significado aqui. A diferença essencial para o propósito dos Estudos Selecionados em Interpretação Profética é a divergência a partir da interpretação do segundo animal e as consequências resultantes dessa divergência na interpretação dos subsequentes animais-nações.
Separando a Média da Pérsia, os preteristas abreviaram seu esquema profético até o surgimento de Antíoco IV como o chifre pequeno originário do animal grego, no segundo século a.C. Outro grande esquema que caracteriza o segundo animal com um símbolo conjunto para o reino unificado da Média e Persa termina um passo histórico a mais no futuro, com Roma como o quarto animal. Os esquemas e suas diferenças específicas podem ser delineados da seguinte forma:
Preterista | Historicista | Futurista | |
Leão | Babilônia | Babilônia | Babilônia |
Urso | Média | Medo- Persa | Medo-Pérsia |
Leopardo | Pérsia | Grécia | Grécia |
Animal Indescritível | Grécia | Roma | Roma |
Chifre Pequeno | Antíoco IV | Papado | Anticristo Final |
A interpretação dos símbolos para essas nações possuem uma relação direta com a identificação do chifre pequeno de Daniel 7. Por isso, esses animais-nações devem ser identificados antes que uma interpretação seja sugerida para o chifre pequeno que saiu do quarto animal.
No entanto, um dos principais argumentos nos quais se apoiam os preteristas é o de que o autor de Daniel teria cometido um erro histórico crasso quando se referiu a Dario como o medo (Daniel 5:31, 6:28 e 9:1). O argumento corre como segue:
“Embora tal personagem seja desconhecido na história, a referência de Daniel a ele permitiu a possibilidade de existência de um reino medo separado entre os soberanos neobabilônios Nabonido e Belsazar, de um lado, e o rei persa, Ciro, de outro. A primeira apresentação deste ponto de vista encontra-se em Darius the Mede and the Four Kingdoms, de H. H. Rowley (1935), que pretende provar esse erro histórico a fim de manter a interpretação preterista desses símbolos proféticos.”
A conclusão clássica de Rowley é a de que “não há espaço na história para Darioo, o Medo”. Infelizmente, ele não estudou diretamente as importantes fontes cuneiformes, mas se apoiou em abordagens secundárias delas. Em meu estudo dos títulos reais usados nos tabletes contratuais neobabilônios escritos no início do reinado de Ciro (SHEA, 1971-1972), saliento que há espaço na história para Dario, o Medo. Ainda que a quantidade de espaço histórico disponível para ele delimita-se muito precisamente.
O título “Rei de Babilônia” não foi usado para Ciro nos tabletes contratuais datados em sua homenagem durante o primeiro ano após a conquista de Babilônia, em outubro de 539 a.C. Somente o título “Rei dos Países” foi usado para ele. A homenagem se referia a ele em sua capacidade como rei do Império Persa. No final de 538 a.C, porém, os escribas acrescentaram o título “Rei de Babilônia” à sua titulação, termo usado durante todo o restante de seu reinado e de seus sucessores até o tempo de Xerxes.
Aqui há apenas duas possibilidades. Ou houve um interregno em que o trono de Babilônia esteve desocupado por um ano, ou alguém mais, além de Ciro, ocupou o trono por aquele período de tempo. Em minha opinião, o principal candidato a ser o outro rei de Babilônia é Ugbaru, o general cuias tropas conquistaram Babilônia para Ciro. Segundo a crônica de Nabonido, ele nomeou governadores em Babilônia (compare Dn 6:1) e residiu na cidade até sua morte, que ocorreu um ano depois. A morte de Nabonido se deu um mês antes que o título “Rei de Babilônia” fosse adicionado à titulação de Ciro.
Ugbaru estava razoavelmente bem-avançado em idade por ocasião de sua morte, circunstância que se ajusta à idade de 62 anos para Dario, o medo (Dn 5:31). As fontes cuneiformes não nos fornecem qualquer informação acerca de seu pai, Assuero, ou sobre sua origem étnica como 42 medo (Dn 9:1). Dano também poderia ser o título real de Ugbaru, uma vez que o uso de títulos reais é conhecido em Babilônia e na Pérsia. A explicação lógica para o avanço nas datas de Daniel no primeiro ano de Dario, o medo (9:1), ao terceiro ano de Ciro (10:1), é que Dario morreu no intervalo. Satisfatoriamente, essa proposição apresenta harmonia com a evidência cuneiforme.
Embora não haja provas conclusivas para o caso devido á falta de referência direta a Dario, o medo, em um texto cunciforme, deve-se ter em mente que a maior parte dos tabletes contratuais neobabilônios não estão ainda publicados.
No Museu Britânico, por exemplo, estão 18 mil provenientes de Sippar. Mesmo sem a publicação desses tabletes, uma hipótese razoável pode ser comprovada a partir dos tabletes publicados.
Também se deve ter em mente a maneira fragmentária como o passado do antigo Oriente Próximo é descrito e recuperado até aqui. Assim, a opinião crítica de que o autor de Daniel cometeu um erro estúpido na identificação de um rei medo de Babilônia não possui apoio pelas fontes históricas do sexto século a.C. Ao contrário, o conhecimento detalhado da história de Babilônia desse período, revelado nesta e em outras passagens do livro de Daniel, demonstra fortemente que o autor foi testemunha ocular desses eventos.
Faltando apoio histórico para a interpretação do segundo animal de Daniel 7, os preteristas devem retroceder na interpretação dos próprios símbolos. Aqui, o que comumente tem sido feito, como no recente volume da Anchor Bible sobre Daniel (HARTMAN; DI LELLA, 1978) é emendar o texto transpondo para diante a frase acerca das três costelas na boca do urso, de sorte que, em vez disto, as costelas terminem na boca do leão. Por outro lado, as frases relacionadas a uma mudança no leão são transferidas para o urso. Desse modo, o urso recebe o coração de um homem e permanece apoiado em suas pernas traseiras, e não sobre um de seus lados. Então, o urso alterado passa a se referir ao único monarca do fictício reino medo que o autor de Daniel presumivelmente conhecia — Dario, o medo.
Em contraste com esta distorção da história e do texto em apoio de uma teoria, a interpretação historicista desses símbolos parece ser muito razoável. O levantamento do urso, primeiro de um lado e, depois, de outro, pode ser visto muito naturalmente como uma referência à natureza composta do reino formado pela fusão dos medos e persas. As três costelas deixadas na boca do urso podem razoavelmente ser entendidas como representando as três principais conquistas das forças coligadas dos medos e persas no sexto século a.C: Lídia em 547, Babilônia em 539 e Egito em 525 a.C.
O apoio para esta interpretação de Daniel 7 é encontrado na interpretação do carneiro de Daniel 8. Seus dois chifres desproporcionais são especificamente identificados como os reis da Média e de Pérsia (v. 20), expressando a mesma dualidade que é encontrada na visão do urso no capítulo 7. A natureza tripartite das conquistas do carneiro também correspondem às três costelas da boca do urso, sendo que ele se expandiu para o norte (Lídia), para o ocidente (Babilônia), e para o sul (Egito).
As semelhanças entre os dois animais apoiam a interpretação do primeiro, uma vez que ao analisar o contexto de Daniel 7 percebe-se que o urso representa a Medo-Pérsia. Isto significa que o animal indescritível, o quarto na ordem ali existente, representa. Roma. Portanto, o chifre pequeno procedente dele não pode representar Antíoco IV.
Partindo desta conclusão acerca do chifre pequeno de Daniel 7, a próxima grande interrogação é: qual é a sua relação com o chifre pequeno de Daniel 8? Poderia o chifre pequeno de Daniel 8 ser ainda Antíoco Epifânio, mesmo que o chifre pequeno de Daniel 7 não o represente?
Entre os intérpretes historicistas e futuristas há um número significativo que opta por diferentes interpretações desses dois símbolos. Praticamente todos os intérpretes da escola historicista pré-milerita dos séculos 18 e 19 mencionados por L. E. Froom (1946, 1954, v. 3 – 4) nos volumes 3.e 4 de Ilw Prophetic Faith of Our Fathers identificaram o chifre pequeno de Daniel 7 como o papado. Somente a metade deles apontou o chifre pequeno de Daniel 8 do mesmo modo. A outra metade o interpretou como o maonetanismo.
Uma ruptura semelhante pode ser vista entre os intérpretes futuristas de hoje. Alguns deles identificam o chifre pequeno de Daniel 7 como o futuro anticristo e o chifre pequeno de Daniel 8 como Antioco IV. Assim, a possibilidade deveria ser deixada aberta, não se descartando a priori que estes dois símbolos proféticos poderiam se referir a diferentes entidades históricas. Por outro lado, há argumentos significativos a favor da identificação do chifre pequeno nesses dois capítulos como a mesma entidade histórica. Primeiro, o fato de que o mesmo símbolo foi usado para ambos, aramaico (Daniel 7) ou hebraico (Daniel 8), sugere desde o início que bem poderia haver uma conexão entre eles. Se a pretensão foi uma distinção histórica, a melhor maneira de obtê-la seria o uso de um símbolo diferente. No entanto, o símbolo permaneceu o mesmo.
Segundo, ambos os poderes representados por este mesmo símbolo profético se empenham em ações semelhantes. Ambos parecem surgir em um tempo similar na história. Ambos começam pequenos e se tornam grandes (7:8 e 8:9); ambos são poderes blasfemos (7:8,25 e 8:11, 25); ambos perseguem os santos de Deus (7:21, 25 e 8:11, 25); ambos parecem durar por prolongados períodos de tempo profético 44 (7:25 e 8:14); e ambos finalmente sofrem destinos semelhantes (7:26 e 8:25).
Portanto, quando surgem dois poderes representados pelo mesmo símbolo profético e praticam os mesmos tipos de ação no mesmo espaço de tempo no decorrer das visões, as probabilidades parecem estar do lado daqueles comentaristas que os identificam como a mesma entidade histórica. Alguns dos aspectos da obra do chifre pequeno do capítulo 7 não são mencionados no capítulo 8, e vice-versa. O número de correspondências entre eles, porém, é maior do que os aspectos de sua obra não mencionados em ambas as passagens. Nenhuma destas características individuais são mutuamente exclusivas para anular a possibilidade de que eles poderiam se referir ao mesmo poder.
Terceiro, o livro de Daniel indica que suas profecias posteriores visavam explanações de suas profecias anteriores. O fato é evidente em sua ordem paralela: as interpretações nelas dadas que tratam dos mesmos poderes mundiais, suas imagens similares e sua fraseologia idêntica. Igualmente, o próprio livro declara isto especificamente em no mínimo dois exemplos (9:22-23 e 10:1, 14). O princípio de amplificação ou expansão sobre materiais das visões anteriores nas visões posteriores não apenas é reconhecido por praticamente todos os comentaristas do livro, mas também provê uma explanação em potencial para algumas das diferenças entre essas profecias.
Nabucodonosor foi o primeiro a receber o sonho profético, em Daniel 2. Embora a mesma visão tenha sido repetida a Daniel para que ele a pudesse explicar ao rei (2:19), ele agiu, essencialmente naquele contexto, como um sábio que interpretava o sonho do rei. A visão do capítulo 7, por outro lado, foi dada direta e pessoalmente a Daniel, meio século depois. Consequentemente, Daniel serviu a Deus como um profeta experiente por seu próprio mérito. Identificada como a primeira das quatro principais profecias dadas a Daniel, é muito natural que a visão do capítulo 7 se destaque como o maior esboço do futuro. Desse modo, todas as profecias subsequentes podem ser vistas como amplificando esse importante esquema profético original.
Neste contexto, a visão do capítulo 8 pode ser vista como uma amplificação da visão do capítulo 7. As datações sobre as profecias também apoiam este detalhe. As visões dos capítulos 7 e 8 reuniram-se como um par agrupado dois anos à parte (7:1; 8:1). As profecias de uma natureza mais didática dos capítulos 9 a 12 formaram uma unidade como um segundo par agrupado dois anos à parte (9:1; 10:1). Mas o segundo par de profecias didáticas veio uma década mais tarde do que o par original de profecias de visões.
Assim, a visão do capítulo 8 acrescenta detalhes à visão do capítulo 7, ao passo que as explanações dadas nos capítulos 9 a 12 ampliam as visões. Suas explicações já se iniciaram nos capítulos 7 e 8. Aqui, apresenta-se outra maneira de dizer que toda a imagem profética que Deus desejava transmitir estava no lugar e tempo adequado em que foi recebida a visão do capítulo 8. O suplemento final à visão básica foi dado e não eram necessárias mais visões em termos de símbolos proféticos.
A visão do capítulo 8 relacionada à visão do capítulo 7. Logo, certos detalhes da visão básica podiam ser ainda mais aprimorados. Significa também que outros detalhes não precisavam ser repetidos. O caso mais claro disto provém do fato de que não há nenhum animal em Daniel 8 para representar Babilônia. A explicação comum é a de que o império neobabilônio estava chegando ao fim. Portanto, não havia necessidade de representá-lo outra vez. Entretanto, isto não é inteiramente exato do ponto de vista humano.
As inscrições de Nabonido, em Harã, declaram que ele passou uma década em Tema, na Arábia, antes de retomar a Babilônia para defendê-la contra o ataque de Ciro. O relato em verso de Nabonido declara que ele confiou a realeza de Babilônia ao seu filho Belsazar quando iniciou aquela viagem. Foi durante o início da regência de Belsazar em Babilônia que Daniel recebeu ambas as visões. A data precisa em que Nabonido voltou para Babilônia não é conhecida, mas não foi muito tempo depois de 540 a.C, ano anterior à queda de Babilônia em poder dos persas. Ele poderia retornar ali antes, mas este detalhe não é determinado com exatidão por causa da condição danificada da crônica de Nabonido.
Calculamos, portanto, que a visão do capítulo 7 foi dada a Daniel por voltade 550 a.C., e a visão do capítulo 8 lhe foi dada em torno de 548 a.C. Mesmo na ocasião em que Daniel recebeu sua segunda visão, Nabonido ainda achava que o seu império estava suficientemente seguro para que ele passasse outros sete anos em Tema. A julgar pela situação de Babilônia naquele tempo, não estava claro de modo algum que o Império Neobabilônio estava saindo do cenário de atividades no tempo em que foi dada a visão do capítulo 8 de Daniel. Partindo da perspectiva divina, o Império Neobabilônio já estava condenado, mas isto ainda não era evidente sob o aspecto das circunstâncias da política humana experimentada por Daniel e outros que viviam em Babilônia naquele tempo.
Em vez de excluir Babilônia da visão porque ela estava saindo do cenário de atividades, ela poderia ter sido suprimida porque não havia mais necessidade de acrescentar detalhes à imagem profética usada para Babilônia na primeira visão. Ao seguirmos a ordem em que Deus apresentou os elementos dessas visões, podemos afirmar que Babilônia foi excluída da segunda visão não porque as circunstâncias políticas humanas já haviam experimentado mudanças radicais, mas porque Deus desejava ampliar outras partes da visão principal. A Medo-Pérsia já havia sido apresentada na primeira visão como a sucessora de Babilônia, e não era necessário repetir este detalhe na segunda.
Pode-se tirar uma conclusão idêntica da profecia do capítulo 11. No tocante aos reis persas, diz o anjo: “Eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia” (v. 2). É claro que o quarto rei mencionado é Xerxes e sua invasão da Grécia. A esta altura, o enfoque muda da Pérsia para a Grécia.
O verso seguinte esboça claramente as ações de Alexandre, o Grande, e o verso seguinte retrata a fragmentação do seu reino em termos semelhantes a Daniel 7:6 e 8:8, 22 (v. 3, 4). Surge, então, a pergunta quanto ao que acontece com o restante dos reis persas. Sete reis reinaram na Pérsia depois de Xerxes: Artaxerxes I, Dario II, Xerxes II, Artaxerxes II, Artaxerxes III, Arses e Dario III. Por que não são estes outros sete reis mencionados nesta profecia?
Seria verdade, como afirmam alguns críticos eruditos, que o autor de Daniel conhecia apenas quatro reis persas porque somente quatro são mencionados por nome na Bíblia? Não cremos nisto. É provável que qualquer cidadão razoavelmente bem-informado da Palestina no segundo século a.C. (a data decisiva que os eruditos propõem para a escrita do livro de Daniel) tivesse conhecimento dos últimos reis persas. Os papiros de Wadi Daliyeh indicam que o povo de Samaria estava ali datando documentos no mínimo de acordo com os últimos dois reis persas. Assim, esta informação deveria ter sido comumente conhecida um século e meio mais tarde. Concluímos que essa crítica de Daniel é infundada e não provê uma explicação adequada para este problema.
Qualquer tentativa para resolver o problema terá de lidar com um princípio básico para interpretar a profecia apocalíptica de Daniel. O princípio é o de que é necessário unicamente continuar com um reino, ou sucessão de reis, até que um novo rei mais importante seja introduzido no cenário de atividades. Não é necessário descrever toda a história do reino anterior.
Por exemplo, os reis persas são registrados até Xerxes pelo motivo de que foi ele quem, por suas guerras contra a Grécia, a levou a ressaltar-se e tornar-se um respeitável poder no Oriente Próximo. Depois dessa decisiva virada na história, o restante dos reis persas não mais reteve qualquer grande significado profético e, assim, eles não eram mencionados.
Pode-se ter uma ideia semelhante acerca dos selêucidas e ptolomeus mencionados nesta mesma profecia. Não importando a escola de interpretação que alguém siga para o restante de Daniel 11, é muito improvável que todos os reis das casas de Seleuco e Ptolomeu sejam mencionados nesta profecia. Eles são registrados, apenas, até o ponto em que o próximo e mais significativo poder é introduzido. Segundo uma escola de pensamento, é Antíoco IV. Outra sustenta que é Roma.
A mesma hermenêutica pode ser aqui aplicada. O poder A é de interesse e significado nas visões ou suas explicações somente até o ponto em que o poder B é introduzido no cenário de atividades. A profecia, então, trata dos detalhes do poder B. Não é necessário enumerar toda a sucessão de soberanos da história do poder A. Deve-se ter em mente, porém, que a transição do poder A para o poder B nem sempre é acentuadamente delineada.
0 cenário em que surgiu o chifre pequeno em Daniel 8 pode agora ser visto à luz dessas analogias dos anteriores do mesmo capítulo bem como do capítulo 11. Não há apenas um animal ou reino faltando nesta visão. Estão faltando, de fato, dois animais, a saber, Babilônia e Roma. Partindo-se da visão completa do capítulo 7 com quatro animais e um chifre pequeno, ocorre uma redução até dois animais e o chifre pequeno. Evidentemente, outros detalhes concernentes aos dois animais excluídos não foram considerados necessários e os detalhes aqui adicionados concentram-se no chifre pequeno.
De maneira semelhante, em Daniel 8 a expansão dos quatro chifres para os quatro ventos foi considerada como uma base adequada sobre a qual introduzir o mesmo chifre pequeno no cenário de atividades desta visão suplementar. Não era necessário esclarecer tudo o que ocorreu no ínterim entre as visões.
Uma vez que a transição foi feita desse modo, tudo o que se segue concentra- se nos detalhes aprimorados concernentes ao chifre pequeno. Este ponto é realçado pelo fato de que à visão do capítulo 8 foi dado um título que está relacionado com a atividade desse chifre no verso 26 (“a visão da tarde e da manhã”).
A informação disponível de Daniel 7, tratando do assunto sobre se o chifre pequeno de Daniel 8 deve ser identificado como Antíoco IV Epifânio, pode agora ser resumida. Em princípio, a posição historicista identificando o quarto animal de Daniel 7 como Roma parece ser uma posição sólida. Isto significa que o chifre pequeno que sai de Roma não pode ser Antíoco IV. Se os chifres pequenos de Daniel 7 e 8 se referem à mesma entidade histórica, devemos concluir que o chifre pequeno de Daniel 8 também não pode ser Antíoco.
Três aspectos importantes apoiam nossas conclusões. Primeiro, a mesma terminologia simbólica é aplicada a ambos os poderes. Segundo, ambos são descritos como levando a cabo atividades semelhantes. Terceiro, a consideração geral de que as profecias posteriores do livro de Daniel amplificam as anteriores.
À luz desta evidência, parece razoável concluir que a abordagem ao chifre pequeno de Daniel 8 deve ampliar a declaração concernente ao chifre pequeno de Daniel 7, em vez de introduzir outra entidade. A terceira linha de evidência anotada acima também explica por que era desnecessário repetir no capítulo 8 todos os detalhes da visão do capítulo 7.
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