por Ellen White
O Desejado de Todas as Nações
Este capítulo é baseado em Números 14:34; Deuteronômio 29:29; Esdras 6:14; 7: 1; Daniel 9:24 – 27; 12:4 e 10; Ezequiel 4:6; Amós 3:7; Mateus 24:15; marcos 1:14-15; Lucas 21: 31, 34,36; Atos 8:4; 1 Tessalonicenses 5:4-6; 1 Pedro 1:11; Apocalipse 1:3.
Veio Jesus para Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho”. Marcos 1:14, 15.
A vinda do Messias anunciara-se primeiramente na Judéia. No templo de Jerusalém, fora predito a Zacarias o nascimento do precursor, enquanto aquele ministrava perante o altar. Nas montanhas de Belém, os anjos proclamaram o nascimento de Jesus. Os magos foram a Jerusalém em busca dEle. Simeão e Ana testificaram no templo de Sua divindade. “Jerusalém e toda a Judéia” ouviram a pregação de João Batista; e os emissários do Sinédrio, juntamente com a multidão, escutaram seu testemunho quanto a Jesus. Na Judéia, Cristo recebera os primeiros discípulos. Ali tivera lugar grande parte do princípio de Seu ministério inicial. A irradiação de Sua divindade na purificação do templo, Seus milagres de cura, e as lições da verdade divina que Lhe caíram dos lábios, tudo proclamava aquilo que, depois da cura de Betesda, Ele declarara perante o Sinédrio — Sua filiação do Eterno.
Houvessem os guias de Israel recebido a Cristo, e Ele os teria honrado como mensageiros Seus para levar o evangelho ao mundo. Foi-lhes dada, primeiramente a eles, a oportunidade de se tornarem arautos do reino e da graça de Deus. Mas Israel não conheceu o tempo de sua visitação. Os ciúmes e desconfianças dos chefes judaicos maturaram em ódio aberto, e o coração do povo se desviou de Jesus.
O Sinédrio rejeitara a mensagem de Cristo, e intentava matá-Lo; portanto, Jesus partiu de Jerusalém, afastou-Se dos sacerdotes, do templo, dos guias religiosos, do povo que fora instruído na lei, e voltou-Se para outra classe, para proclamar Sua mensagem, e remir os que haviam de levar o evangelho a todas as nações.
Como a luz e a vida dos homens foi rejeitada pelas autoridades eclesiásticas nos dias de Cristo, assim tem sido rejeitada em todas as subsequentes gerações. Frequentemente se tem repetido a história da retirada de Cristo da Judéia. Quando os reformadores pregavam a Palavra de Deus, não tinham ideia alguma de se separar da igreja estabelecida; os guias religiosos, porém, não toleravam a luz, e os que a conduziam eram forçados a buscar outra classe, a qual estava ansiosa da verdade. Em nossos dias, poucos dos professos seguidores da Reforma são atuados pelo espírito da mesma. Poucos estão à escuta da voz de Deus, e prontos a aceitar a verdade, seja qual for a maneira porque se apresente. Muitas vezes os que seguem os passos dos reformadores são forçados a retirar-se da igreja que amam, a fim de declarar o positivo ensino da Palavra de Deus. E muitas vezes os que estão à procura da luz são, pelos mesmos ensinos, obrigados a deixar a igreja de seus pais, a fim de prestar obediência.
O povo da Galileia era desprezado pelos rabis de Jerusalém como rústico e ignorante; apresentava, todavia, campo mais favorável à obra do Salvador. Eram mais fervorosos e sinceros; estavam menos sob a influência da hipocrisia; tinham mais aberto o espírito à recepção da verdade. Indo para a Galileia, não estava Jesus procurando exclusão ou isolamento. A província era a esse tempo habitada por numerosa população, com muito maior mistura de gente de outras nações do que se encontrava na Judéia.
Ao viajar Jesus pela Galileia ensinando e curando, multidões a Ele se juntavam das cidades e vilas. Muitas vezes Se via obrigado a ocultar-Se do povo. O entusiasmo subia a tal ponto, que se tornavam necessárias precauções, não fossem despertados os receios das autoridades romanas quanto a qualquer insurreição. Nunca antes houvera um período assim para o mundo. O Céu baixara aos homens. Almas famintas e sedentas que haviam longamente esperado a redenção de Israel, deleitavam-se agora na graça de um misericordioso Salvador.
A nota predominante da pregação de Cristo, era: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho”. Marcos 1:15. Assim a mensagem evangélica, segundo era anunciada pelo próprio Salvador, baseava-se nas profecias. O “tempo” que declarava estar cumprido, era o período de que o anjo Gabriel falara a Daniel. “Setenta semanas”, dissera o anjo, “estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos”. Daniel 9:24. Um dia, profeticamente, representa um ano. Números 14:34; Ezequiel 4:6. As setenta semanas, ou quatrocentos e noventa dias, representam quatrocentos e noventa anos. É dado um ponto de partida para esse período: “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas” (Daniel 9:25), sessenta e nove semanas, ou quatrocentos e oitenta e três anos. A ordem para restaurar e edificar Jerusalém, confirmada pelo decreto de Artaxerxes Longímano (Esdras 6:14; 7:1), entrou em vigor no outono de 457 a.C. Daí, quatrocentos e oitenta e três anos estendem-se ao outono de 27 d.C. Segundo predição dos profetas, esse período devia chegar ao Messias, o Ungido. No ano 27, Jesus recebeu, em Seu batismo, a unção do Espírito Santo, e pouco depois começou Seu ministério. Foi então proclamada a mensagem: “O tempo está cumprido.”
Então, disse o anjo: “Ele firmará um concerto com muitos por uma semana [sete anos].” Durante sete anos depois de começar o Salvador Seu ministério, o evangelho devia ser pregado especialmente aos judeus; três anos e meio, pelo próprio Cristo, e depois, pelos apóstolos. “Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. Daniel 9:27. Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário. Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e significação do serviço sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício terrestre e a oblação.
A semana — sete anos — terminou em 34 d.C. Então, pelo apedrejamento de Estêvão, os judeus selaram afinal sua rejeição do evangelho; os discípulos espalhados pela perseguição “iam por toda parte, anunciando a Palavra” (Atos dos Apóstolos 8:4), e pouco depois, Saulo, o perseguidor, se converteu e tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios.
O tempo da vinda de Cristo, Sua unção pelo Espírito Santo, Sua morte, e a pregação do evangelho aos gentios, foram definidamente indicados. O povo judeu teve o privilégio de compreender essas profecias e reconhecer seu cumprimento na missão de Jesus. Cristo insistia com Seus discípulos quanto à importância do estudo profético. Referindo-Se à profecia dada a Daniel acerca do tempo deles, disse: “Quem lê, entenda”. Mateus 24:15. Depois de Sua ressurreição, explicou aos discípulos, começando por “todos os profetas”, “o que dEle se achava em todas as Escrituras”. Lucas 24:27. O Salvador falara por intermédio de todos os profetas. “O Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir”. 1 Pedro 1:11.
Foi Gabriel, o anjo que ocupa a posição imediata ao Filho de Deus, que veio com a divina mensagem a Daniel. Foi Gabriel “Seu anjo”, que Cristo enviou a revelar o futuro ao amado João; e é proferida uma bênção sobre os que leem e ouvem as palavras da profecia, e observam as coisas ali escritas. Apocalipse 1:3.
“O Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas. ”Ao passo que “as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus” (Amós 3:7), “as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre”. Deuteronômio 29:29. Deus nos tem dado essas coisas, e Sua bênção acompanhará o estudo reverente das escrituras proféticas, apoiado de oração.
Como a mensagem do primeiro advento de Cristo anunciava o reino de Sua graça, assim a de Sua segunda vinda anuncia o reino de Sua glória. E a segunda, como a primeira mensagem, acha-se baseada nas profecias. As palavras do anjo a Daniel, com relação aos últimos dias, deviam ser compreendidas no tempo do fim. A esse tempo, “muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará”. “Os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão”. Daniel 12:4, 10. O próprio Salvador deu sinais de Sua vinda, e diz: “Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto.” “E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.” “Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem”. Lucas 21:31, 34, 36.
Chegamos ao período predito nessas passagens. É chegado o tempo do fim, as visões dos profetas acham-se reveladas, e suas solenes advertências nos mostram a vinda de nosso Senhor em glória como próxima, às portas.
Os judeus interpretaram e aplicaram mal a Palavra de Deus, e não conheceram o tempo de sua visitação. Os anos do ministério de Cristo e Seus apóstolos — os últimos anos de graça para o povo escolhido — passaram-nos tramando a destruição dos mensageiros do Senhor. Terrestres ambições os absorviam, e o oferecimento do reino espiritual foi-lhes feito em vão. Assim hoje o reino deste mundo absorve os pensamentos dos homens, e não observam o veloz cumprimento das profecias e os indícios do rápido aproximar do reino de Deus.
“Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas.” Se bem que não saibamos a hora da volta de nosso Senhor, podemos conhecer quando está perto. “Não durmamos pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios”. 1 Tessalonicenses 5:4-6.