Leitura Bíblica
Os capítulos 1 ao 11 de Apocalipse tratam do que acontece entre a primeira vinda de Cristo e a volta de Jesus. Ou seja, na Era Cristã
O Livro de Apocalipse 1 – 11
Leitura Complementar
O reinado do terror na França – Capítulo 15, O Grande Conflito ou Os Resgatados
Por Ellen White
O Grande Conflito ou Os Resgatados
CPB
Algumas nações receberam a Reforma com alegria, como um mensageiro do Céu. Em outras terras a luz do conhecimento da Bíblia foi quase completamente excluída. Em um país, durante séculos a verdade e o erro lutaram pelo predomínio. Finalmente a verdade divina foi rejeitada. A restrição do Espírito de Deus foi removida de um povo que havia desprezado o dom de sua graça. E todo o mundo viu os frutos da rejeição voluntária da luz. A guerra contra a Bíblia, na França, culminou com a Revolução, o legítimo resultado da supressão da Escritura por parte de Roma. Representou o mais flagrante exemplo jamais testemunhado dos resultados dos ensinos da Igreja de Roma.
O Revelador apontou os terríveis resultados que deveriam sobrevir de modo especial à França pelo domínio do “homem do pecado“:
“Por quarenta e dois meses calcarão a pés a cidade santa. Darei às Minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. […] Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas e as vencerá e matará, e os seus cadáveres ficarão estirados na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado. […] Os que habitam sobre a Terra se alegram por causa deles, realizarão festas e enviarão presentes uns aos outros, porquanto esses dois profetas atormentaram aos que moram sobre a Terra. Mas, depois de três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou e eles se ergueram sobre seus pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo”. Apocalipse 11:2-11.
Os “quarenta e dois meses” e “mil duzentos e sessenta dias” são o mesmo período, o tempo em que a igreja de Cristo deveria sofrer opressão de Roma. Os 1.260 anos começaram em 538 d.C. e terminaram em 1798. Nessa ocasião um exército francês entrou em Roma e tomou prisioneiro o papa, que morreu no exílio. A hierarquia papal nunca pôde, desde então, exercer o poder que antes possuíra.
A perseguição da igreja não continuou durante todo o período de 1.260 anos. Deus, em misericórdia para com Seu povo, abreviou o tempo de sua dolorosa prova, através da influência da Reforma.
As “duas testemunhas” representam as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento — importantes testemunhas quanto à origem e perpetuidade da lei de Deus, e também do plano da salvação.
“Profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.” Quando a Bíblia foi proscrita, quando seu testemunho foi pervertido, quando os que ousavam proclamar suas verdades eram traídos, torturados e martirizados por sua fé ou obrigados a fugir — então as fiéis “testemunhas” profetizam “vestidas de saco”. Nos mais obscuros tempos houve fiéis a quem foi dada sabedoria e autoridade para declarar a verdade de Deus.
“Se alguém pretende causar-lhes dano, sai fogo das suas bocas e devora os inimigos; sim, se alguém pretender causar-lhes dano, certamente deve morrer”. Apocalipse 11:5. Os homens não podem impunemente tripudiar sobre a Palavra de Deus!
“Quando acabarem [estiverem acabando] seu testemunho.” Aproximando-se elas do termo de sua obra em obscuridade, deveria fazer guerra contra elas o poder representado pela “besta que sobe do abismo”. Aqui se faz referência a uma nova manifestação do poder satânico.
A política de Roma, sob profissão de reverência para com a Bíblia, foi conservá-la encerrada numa língua desconhecida, ocultando-a do povo. Sob seu domínio as testemunhas profetizaram “vestidas de saco”. Mas “a besta do abismo” deveria surgir para fazer guerra aberta e declarada contra a Palavra de Deus.
A “grande cidade” em cujas ruas as testemunhas foram mortas, e onde seus corpos mortos jazeram, é “espiritualmente” o Egito. De todas as nações da história bíblica, o Egito, de maneira mais ousada, negou a existência do Deus vivo e resistiu aos Seus preceitos. Nenhum monarca já se aventurou em rebelião mais arrogante contra o Céu do que o fez Faraó, o rei do Egito: “Não conheço ao Senhor; nem tão pouco deixarei ir a Israel”. Êxodo 5:2. Isto é ateísmo; e a nação representada pelo Egito daria expressão a uma negação semelhante de Deus, e manifestaria idêntico espírito de desafio.”
A “grande cidade” é também comparada, “espiritualmente”, com Sodoma. A corrupção de Sodoma manifestou-se especialmente na licenciosidade. Este pecado também deveria ser característico da nação que cumpriria este texto.
Segundo o profeta, portanto, um pouco antes de 1798 algum poder de caráter satânico se levantaria para guerrear contra a Bíblia. E na terra em que o testemunho das “duas testemunhas” de Deus deveria ser assim silenciado, manifestar-se-ia o ateísmo de Faraó e a licenciosidade de Sodoma.
Marcante cumprimento da profecia — Essa profecia teve preciso cumprimento na história da França durante a Revolução, em 1793. “A França fica à parte, na história universal, como o único Estado que, por decreto da Assembleia Legislativa, declarou não haver Deus, e em cuja capital a população inteira, e vasta maioria em toda parte, mulheres assim como homens, dançaram e cantaram com alegria ao ouvirem a declaração.”1.
A França também apresentou a característica que mais notabilizou Sodoma. O historiador apresenta juntos o ateísmo e a licenciosidade da França: “Ligada intimamente a estas leis que afetam a religião, estava a que reduzia a união pelo casamento — o mais sagrado ajuste que seres humanos podem formar, cuja indissolubilidade contribui da maneira mais eficaz para a consolidação da sociedade — à condição de mero contrato civil de caráter transitório, em que quaisquer duas pessoas poderiam empenhar-se e que, à vontade, poderiam desfazer. […] Sofia Arnoult, atriz famosa pelos ditos espirituosos que proferia, descreveu o casamento republicano como sendo ‘o sacramento do adultério’.”2. 17.
Inimizade contra Cristo — “Onde também o seu Senhor foi crucificado.” Isso também foi cumprido pela França. Em nenhum país a verdade encontrou mais cruel oposição. Na perseguição que a França infligiu aos que professavam o evangelho, crucificou a Cristo na pessoa de Seus discípulos.
Século após século o sangue dos santos foi derramado. Enquanto os valdenses depunham a vida nas montanhas do Piemonte “pelo testemunho de Jesus Cristo”, idêntico testemunho era dado pelos albigenses da França. Os discípulos da Reforma foram mortos com horríveis torturas. Rei e nobres, senhoras de alto nascimento e delicadas moças, haviam recreado os olhos com as agonias dos mártires de Jesus. Os bravos huguenotes tinham derramado seu sangue em muitos campos de rudes combates, acossados como animais selvagens.
Os poucos descendentes dos antigos cristãos que ainda penavam na França no século dezoito, ocultando-se nas montanhas do sul, acariciavam a fé de seus pais. Eram arrastados para a escravidão das galeras, por toda a vida. Os mais refinados e inteligentes dos franceses eram acorrentados, em horrível tortura, entre ladrões e assassinos. Outros eram fuzilados a sangue frio ao caírem de joelhos, em oração. Seu território, devastado pela espada, pelo machado, pela fogueira, “converteu-se em vasto e triste deserto”. “Estas atrocidades não eram ordenadas […] em qualquer época obscura, mas na brilhante era de Luís XIV. Cultivavam-se as ciências, as letras floresciam, os teólogos da corte e da capital eram homens doutos e eloquentes, aparentando perfeitamente as graças da humildade e caridade.”3. 7.
O mais horrível dos crimes — Contudo, a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os hediondos séculos foi o Massacre de S. Bartolomeu. O rei da França, instigado por sacerdotes e prelados, sancionou tal obra. Um sino, sob dobres fúnebres à noite, foi o sinal para o morticínio. Milhares de protestantes que dormiam tranquilamente em suas casas, confiando na honra empenhada pelo rei, eram arrastados para fora e assassinados.
Durante sete dias perdurou o massacre em Paris. Por ordem do rei estendeu-se a todas as cidades onde se encontravam protestantes. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães e filhos eram juntamente abatidos. Pereceram setenta mil da legítima flor da nação.
“Quando as notícias do massacre chegaram a Roma, a exultação entre o clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos tangeram em todos os campanários; fogueiras festivas tornaram a noite em dia; e Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi, em longa procissão, à igreja de S. Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. […] Uma medalha foi cunhada para comemorar o massacre. […] Um sacerdote francês […] falou ‘daquele dia tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia, e foi em aparato solene dar graças a Deus e a S. Luís’.”4. 14, parágrafo 34.
O mesmo espírito sobrenatural que instigou o Massacre de S. Bartolomeu, dirigiu também as cenas da Revolução. Foi declarado ser Jesus Cristo um impostor, e o grito dos incrédulos franceses era: “Esmagai o Miserável!”, referindo-se a Cristo. Blasfêmia e impiedade iam de mãos dadas. Em tudo isso, prestava-se homenagem a Satanás, enquanto Cristo, em Suas características de verdade, pureza e amor abnegado, era “crucificado”.
“A besta que surge do abismo pelejará contra elas e as vencerá e matará”. Apocalipse 11:7. O poder ateísta que governou a França durante a Revolução e no Reinado do Terror desencadeou esta guerra contra Deus e Sua Palavra. O culto à Divindade foi abolido pela Assembleia Nacional. Bíblias eram recolhidas e publicamente incineradas. As instituições da Bíblia foram abolidas. O dia de repouso semanal foi posto de lado, e em seu lugar cada décimo dia era dedicado à orgia e blasfêmia. O batismo e a comunhão foram proibidos. E anúncios afixados visivelmente nos cemitérios declaravam ser a morte um sono eterno.
Todo culto religioso foi proibido, exceto o da “liberdade” e do país. O “bispo constitucional de Paris foi empurrado para a frente […] a fim de declarar à Convenção que a religião por ele ensinada durante tantos anos era, em todos os sentidos, uma peça de artimanha padresca, destituída de fundamento tanto na História como na verdade sagrada. Ele negou, em termos solenes e explícitos, a existência da Divindade a cujo culto fora consagrado”.5. 17.
“Os que habitam sobre a Terra se alegram por causa deles, realizarão festas e enviarão presentes uns aos outros, porquanto esses dois profetas atormentaram aos que moram sobre a Terra”. Apocalipse 11:10. A França incrédula silenciou a voz reprovadora das duas testemunhas de Deus. A Palavra da verdade jazeu “morta” em suas ruas, e os que odiavam a lei de Deus estavam jubilosos. Os homens desafiavam publicamente o Rei dos Céus.
Ousadia blasfema — Um dos “sacerdotes” da nova ordem disse: “Deus, se existis, vingai Vosso nome injuriado. Eu Vos desafio! Conservai-Vos em silêncio; não ousais fazer uso de Vossos trovões. Quem depois disso crerá em Vossa existência?”6. 10. Que eco fiel é este da pergunta de Faraó: “Quem é o Senhor, para que eu obedeça a Sua voz?”
“Diz o insensato no seu coração: ‘Não há Deus.’ E o Senhor declara: ‘A sua insensatez será a todos manifesta’”. Salmos 14:1; 2 Timóteo 3:9. Depois que a França renunciou ao culto do Deus vivo, desceu à idolatria degradante através da adoração à Deusa da Razão, uma mulher dissoluta. E isto na assembleia representativa da nação! “Uma das cerimônias desse tempo de loucuras permanece sem rival pelo absurdo combinado com a impiedade. As portas da Convenção foram abertas de par em par. […] Os membros da corporação municipal entraram em solene procissão, cantando um hino de louvor à liberdade e escoltando, como objeto de seu futuro culto, uma mulher coberta com um véu, a quem denominavam a Deusa da Razão. Sendo levada à tribuna, tiraram-lhe o véu com grande pompa, e foi colocada à direita do presidente, sendo por todos reconhecida como dançarina de ópera.”
A deusa da razão — “O instituir da Deusa da Razão foi repetido e imitado por todo o país, nos lugares em que os habitantes desejavam mostrar-se à altura dos grandes da Revolução.”7. 17.
Quando a “deusa” foi trazida à Convenção, o orador tomou-a pela mão e, voltando-se para a assembleia, disse: “Mortais, cessai de tremer perante os trovões impotentes de um Deus que vossos temores criaram. Não reconheçais, doravante, outra divindade senão a Razão. Ofereço-vos sua mais nobre e pura imagem; se haveis de ter ídolos, sacrificai apenas aos que sejam como este. […]”
“A deusa, depois de ser abraçada pelo presidente, foi elevada a um carro suntuoso e conduzida à catedral de Notre Dame, para tomar o lugar da Divindade. Ali foi ela erguida ao altar-mor e recebeu a adoração dos presentes.”8. A. Thiers, History of the French Revolution, v. 2, p. 370, 371.
O papado iniciara a obra que o ateísmo estava completando, precipitando a França na ruína. Referindo-se aos horrores da Revolução, dizem os escritores que esses excessos devem ser atribuídos ao trono e à igreja. Com estrita justiça devem ser atribuídos à igreja. O papado envenenara a mente dos reis contra a Reforma. O gênio de Roma inspirou a crueldade e opressão que procediam do trono.
Onde quer que o evangelho era recebido, a mente do povo despertava. Começavam a sacudir as algemas que os haviam conservado escravos da ignorância e superstição. Os monarcas, ao verem isto, tremeram pelo seu despotismo.
Roma não foi tardia em inflamar seus cuidadosos temores. Disse o papa ao regente da França em 1525: “Esta mania [o protestantismo] não somente confundirá e destruirá a religião, mas todos os principados, nobreza, leis, ordens e classes juntamente.” Um núncio papal advertiu o rei: “Os protestantes subverterão toda a ordem civil e religiosa. […] O trono está em tão grande perigo quanto o altar.”9. 36. Roma conseguiu predispor a França contra a Reforma.
O ensino da Escritura Sagrada teria implantado nos corações do povo os princípios da justiça, temperança e verdade, que são a própria pedra basilar da prosperidade da nação. “A justiça exalta as nações.” Por ela é o “trono estabelecido”. Provérbios 14:34; 16:12; Isaías 32:17. O que obedece à lei divina é o que melhor respeitará e obedecerá às leis do país. A França proibiu a Bíblia. Século após século, homens de integridade, de agudeza intelectual e força moral, que tinham fé para sofrer pela verdade, labutaram como escravos nas galeras, pereceram na fogueira, ou apodreceram nas celas das masmorras. Milhares encontraram segurança na fuga durante 250 anos após o início da Reforma.
“Quase não houve geração de franceses, durante esse longo período, que não testemunhasse os discípulos do evangelho fugindo diante da fúria insana do perseguidor, levando consigo a inteligência, as artes, a indústria, a ordem, nas quais, em regra, grandemente se distinguiam, para o enriquecimento das terras em que encontravam asilo. […] Se tudo o que então foi repelido houvesse sido conservado na França, […] que país grandioso, próspero e feliz — modelo das nações — não teria ele sido! Mas o fanatismo cego e inexorável baniu de seu solo todo ensinador de virtude, todo campeão da ordem, todo defensor honesto do trono. […] Finalmente a ruína do Estado foi completa.”10. 20. A Revolução, com seus horrores, foi o resultado.
O que poderia ter sido a França — “Com a fuga dos huguenotes baixou sobre a França um declínio geral. Florescentes cidades manufatureiras caíram em decadência […] Calcula-se que, ao irromper a Revolução, duzentos mil pobres reclamavam caridade das mãos do rei. Somente os jesuítas floresciam na nação decadente.”11.
O evangelho teria proporcionado à França a solução dos problemas que frustravam o clero, seu rei e seus legisladores, e que finalmente mergulharam a nação na anarquia e ruína. Sob o domínio de Roma, porém, o povo tinha perdido as benditas lições do Salvador acerca do altruísmo e amor abnegado em benefício de outros. Os ricos não recebiam qualquer repreensão por oprimirem os pobres; estes não recebiam qualquer auxílio diante da degradação. O egoísmo dos abastados e poderosos tornou-se mais e mais opressivo. Durante séculos, os ricos lesavam os pobres, e estes odiavam aqueles.
Em muitas províncias as classes trabalhadoras achavam-se à mercê dos proprietários e eram obrigadas a sujeitar-se às exigências escorchantes. As classes média e baixa eram pesadamente oneradas pelas autoridades civis e pelo clero. “Os lavradores e camponeses podiam perecer de fome sem que isso comovesse os opressores. […] A vida dos trabalhadores agrícolas era de labuta incessante e miséria sem alívio; suas queixas […] eram tratadas com insolente desprezo. […] Juízes aceitavam abertamente o suborno. […] Dos impostos […] nem sequer a metade encontrava acesso ao tesouro real ou episcopal; o resto era desbaratado em condescendências imorais. E os mesmos homens que assim empobreciam seus compatriotas estavam isentos de impostos e, pela lei e costumes, com direitos a todos os cargos do Estado. […] Para a satisfação dessa classe, milhões estavam condenados a levar uma vida de degradação irremediável”.
Durante mais de meio século antes do tempo da Revolução, o trono foi ocupado por Luís XIV, que se distinguiu como um monarca indolente, frívolo e sensual. Achando-se o Estado em embaraços financeiros e o povo exasperado, não precisava ser profeta para prever uma terrível erupção. Em vão se insistia sobre a necessidade de reforma. A sorte que aguardava a França achava-se retratada na própria resposta egoísta do rei: “Depois de mim, o dilúvio!”
Roma influenciara os reis e classes dirigentes a manter o povo na escravidão, com o propósito de firmar em seu cativeiro tanto a alma dos príncipes quanto a do povo. Mil vezes mais terrível que o sofrimento físico que resultava de sua política, era a degradação moral. Despojado da Bíblia e abandonado ao egoísmo, o povo estava envolto em ignorância e submerso no vício, inteiramente incapacitado para o governo de si próprio.
Resultados colhidos sob forma de sangue — Em vez de manter as massas em submissão cega aos seus dogmas, a obra de Roma teve como resultado torná-las incrédulas e revolucionárias. Desprezavam o romanismo como uma artimanha do clero. O único deus que conheciam era o deus de Roma. Consideravam sua avidez e crueldade como fruto da Bíblia, da qual nada queriam saber.
Roma tinha representado falsamente o caráter de Deus, e agora os homens rejeitavam tanto a Bíblia quanto seu Autor. Na reação, Voltaire e seus associados puseram inteiramente de lado a Palavra de Deus e disseminaram a incredulidade. Roma calcara o povo sob seu tacão de ferro; agora as massas arrojaram de si toda restrição. Enraivecidas, rejeitaram a verdade e a falsidade, ambas ao mesmo tempo.
No início da Revolução, por concessão do rei, foi outorgada ao povo uma representação mais numerosa do que a dos nobres e do clero reunidos. Assim a balança do poder estava em suas mãos; não se achavam preparados, contudo, para usá-la com sabedoria e moderação. Uma turba ultrajada resolveu vingar-se a si própria. Os oprimidos puseram em prática a lição aprendida sob a tirania, e tornaram-se os opressores dos que os haviam oprimido.
A França ceifou em sangue a colheita de sua submissão a Roma. Onde a França, sob o romanismo, acendera a primeira fogueira ao começar a Reforma, ali a Revolução erigiu sua primeira guilhotina. No local em que os primeiros mártires da fé protestante foram queimados no século dezesseis, as primeiras vítimas foram guilhotinadas no século dezoito. Quando as restrições da lei de Deus foram postas de lado, a nação descambou para a revolta e anarquia. A guerra contra a Bíblia se conserva na história universal como o Reinado do Terror. O que triunfava hoje era condenado amanhã.
Rei, clero e nobreza foram obrigados a submeter-se às atrocidades do povo enlouquecido. Os que haviam decretado a morte do rei, logo o seguiram no cadafalso. Foi ordenado um morticínio geral de todos os que eram suspeitos de hostilizar a Revolução. A França tornou-se um vasto campo de pessoas em conflito, dominadas pela fúria das paixões. “Em Paris, tumulto sucedia a tumulto, e os cidadãos estavam divididos numa mistura de facções, que não pareciam visar coisa alguma a não ser a exterminação mútua. […] O país estava quase falido, o exército a clamar pelos pagamentos em atraso, os parisienses passando fome, as províncias assoladas pelos salteadores, e a civilização quase extinta em anarquia e licenciosidade.”
O povo havia aprendido muito bem as lições de crueldade e tortura que Roma tão diligentemente ensinou. Não eram mais os discípulos de Jesus que estavam sendo levados à fogueira. Havia muito que esses tinham perecido ou sido expulsos para o exílio. “Os cadafalsos estavam manchados do sangue dos sacerdotes. As galés e prisões, que em outro tempo se povoaram de huguenotes, estavam agora repletas de seus perseguidores. Acorrentados ao banco ou labutando com os remos, o clero católico romano experimentou todas as desgraças que sua igreja tão livremente infligira aos benignos hereges”.
“Vieram então os dias […] em que os espias se emboscavam por todos os lados; em que todas as manhãs a guilhotina funcionava em trabalho rápido e prolongado; em que as cadeias estavam tão cheias como o porão de um navio de escravos; em que, nas sarjetas, o sangue corria espumante para o Sena. […] Longas fileiras de prisioneiros eram metralhadas. Faziam-se rombos no fundo dos barcos repletos. […] O número de moços e moças de dezessete anos que foram assassinados por aquele governo execrável, deve ser computado às centenas. Criancinhas arrancadas dos seios eram arrojadas, de lança em lança, ao longo das fileiras jacobinas”.
Tudo isso foi como Satanás queria. Sua política é acarretar a desgraça aos homens, desfigurar a obra de Deus, desvirtuar os propósitos divinos de amor, ocasionando assim pesar no Céu. Então, por suas artes ilusórias, induz os homens a responsabilizar a Deus por tudo, como se toda essa miséria fosse resultado do plano do Criador. Quando o povo descobriu ser o romanismo um engano, Satanás compeliu-o a considerar toda religião como fraude e a Bíblia como uma fábula.
O erro fatal — O erro fatal que trouxe semelhante desgraça à França foi ignorar esta única e grande verdade: a genuína liberdade reside dentro das prescrições da lei de Deus. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar”. Isaías 48:18. Os que não leram esta história no Livro de Deus são convidados a lê-la na história das nações.
Quando agiu mediante a Igreja de Roma a fim de desviar os homens da obediência, Satanás o fez sob disfarce. Pela operação do Espírito de Deus, seus propósitos não atingiram resultado completo. O povo não ligava o efeito à causa, nem descobriu a fonte de suas misérias. Na Revolução, porém, a lei de Deus foi abertamente posta de lado pelo Conselho Nacional. E no Reinado do Terror que se seguiu, todos puderam ver a operação de causa e efeito.
A transgressão de uma lei justa e reta deve resultar em ruína. O moderador Espírito de Deus, que impõe limites ao poder cruel de Satanás, foi em grande medida removido, permitindo-se que realizasse a vontade daquele cujo deleite consiste na miséria humana. Os que haviam escolhido a rebelião foram deixados a colher seus frutos. A Terra se encheu de crimes. Das províncias devastadas e de cidades arruinadas ouviu-se um terrível grito de angústia. A França foi abalada como que por um terremoto. Religião, leis, ordem social, família, Estado, Igreja — tudo foi derrubado pela mão ímpia que se insurgiu contra a lei de Deus.
As fiéis testemunhas de Deus, mortas pelo poder blasfemo que subiu “do abismo”, não deveriam ficar em silêncio por muito tempo. “Depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou e eles se ergueram sobre seus pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo”. Apocalipse 11:11. Em 1793 os decretos que aboliam a Bíblia passaram na Assembleia francesa. Três anos e meio mais tarde foi adotado pelo mesmo corpo legislativo uma resolução que abolia esses decretos. Os homens reconheceram a necessidade de fé em Deus e em Sua Palavra como fundamento da virtude e moralidade.
Com relação às duas testemunhas [Antigo e Novo Testamentos], declara ainda o profeta: “E as duas testemunhas ouviram grande voz vinda do Céu, dizendo-lhes: ‘Subi para aqui.’ E subiram ao Céu na nuvem, e os seus inimigos as contemplaram”. Apocalipse 11:12. “As duas testemunhas de Deus” têm sido honradas como nunca antes. Em 1804 foi organizada a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e seguiram-se organizações semelhantes por todo o continente europeu. Em 1816 fundou-se a Sociedade Bíblica Americana. Desde então a Bíblia foi traduzida em centenas de idiomas e dialetos.
Nos anos anteriores a 1792, pouca atenção se dera à obra das missões estrangeiras. Mas próximo ao final do século dezoito, ocorreu grande mudança. Os homens se tornaram descontentes com o racionalismo e se compenetraram da necessidade da revelação divina e da religião experimental. Desde esse tempo a obra das missões estrangeiras tem atingido crescimento sem precedentes.
Os aperfeiçoamentos da imprensa deram impulso à obra da circulação da Bíblia. A derrocada de antigas barreiras de preconceitos e exclusivismo nacional, assim como a perda de poder secular por parte do pontífice de Roma, têm aberto o caminho para a entrada da Palavra de Deus. A Bíblia está sendo levada atualmente a todas as partes do globo.
Disse o incrédulo Voltaire: “Estou cansado de ouvir dizer que doze homens estabeleceram a religião cristã. Eu provarei que basta um homem para suprimi-la.” Milhões têm aderido à guerra contra a Bíblia. Mas ela está longe de ser destruída. Onde havia cem cópias da Palavra de Deus nos dias de Voltaire, agora existem cem mil. Nas palavras de um primitivo reformador: “A Bíblia é uma bigorna que tem gasto muitos martelos.”
O que quer que seja edificado sobre a autoridade do homem, será destruído; mas o que se acha fundado sobre a rocha da Palavra de Deus subsistirá eternamente.
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