Ellen White
O Redentor do mundo conferiu grande poder a Sua igreja. Ele declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus membros. Depois de dar direções explícitas quanto à orientação a seguir, diz: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo [em matéria de disciplina da igreja] o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Mateus 18:18. Assim até a autoridade celeste ratifica a disciplina da igreja com relação a seus membros, uma vez que tenha sido seguida a regra bíblica.
A Palavra de Deus não dá licença a que um homem ponha seu juízo em oposição ao da igreja, nem lhe é permitido insistir em suas opiniões contrariamente às dela. Caso não houvesse disciplina e governo eclesiásticos, a igreja se esfacelaria; não poderia manter-se unida como um corpo. Sempre tem havido indivíduos de espírito independente, pretendendo estar certos, e que Deus os havia ensinado, impressionado e guiado especialmente. Cada um tem uma teoria sua particular, ideias peculiarmente suas, e cada um pretende que essas ideias se acham em harmonia com a Palavra de Deus. Cada um tem diferente teoria e fé, e não obstante pretende cada um possuir luz especial de Deus. Essas pessoas separam-se do corpo, e constituem por si mesmas uma igreja à parte. Não podem estar todos certos, todavia pretendem todos ser guiados pelo Senhor. A palavra da Inspiração não pode ser sim e não, mas sim e amém em Cristo Jesus.
Nosso Salvador acompanha Suas lições com a promessa de que se dois ou três se unirem em pedir alguma coisa a Deus, isso lhe será feito. Cristo mostra aqui que deve haver união com* outros, [391] mesmo em nossos desejos por determinado objeto [*Testimonies for the Church 3:428-433 (1875)]. Grande importância é atribuída à oração feita em comum, à união de desígnios. Deus atende às orações dos indivíduos; nessa ocasião, porém, Jesus estava dando lições especiais e importantes, que deviam ser de particular influência na igreja que acabava de organizar na Terra. Cumpre haver acordo nas coisas que desejam, e pelas quais oram. Não simplesmente os pensamentos e esforços de um espírito, sujeito a enganos; mas as petições devem constituir o veemente desejo de várias mentes concentradas em um ponto.
Na maravilhosa conversão de Paulo, vemos o miraculoso poder de Deus. Um clarão mais forte que o resplendor do Sol ao meio-dia o envolveu. Jesus, cujo nome ele aborrecia e desprezava acima de todos os outros, revelou-Se a Paulo a fim de deter-lhe a louca, se bem que sincera conduta, de modo que pudesse tornar esse instrumento nada promissor em um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios. Ele fizera conscienciosamente muitas coisas contrárias ao nome de Jesus de Nazaré. Em seu zelo, fora perseverante e ardoroso perseguidor da igreja de Cristo. Profundas e vigorosas eram suas convicções do dever que tinha de exterminar essa alarmante doutrina a predominar por toda parte, de que Jesus era o Príncipe da Vida.
Paulo cria que a fé em Jesus tornava de nenhum efeito a lei de Deus, as ofertas sacrificais e o rito da circuncisão, que em todas as eras passadas recebera inteira sanção de Deus. A miraculosa revelação de Cristo, porém, faz-lhe penetrar a luz nos entenebrecidos recessos do espírito. O Jesus de Nazaré contra quem ele está armado, é verdadeiramente o Redentor do mundo.
Encaminhado à igreja para ser instruído
Paulo vê seu errado zelo, e exclama: “Senhor, que queres que faça?” Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus não lhe disse então e ali, como poderia ter feito, a obra que lhe destinara. Paulo devia receber [392] instruções na fé cristã, e agir com entendimento. Jesus o envia aos próprios discípulos a quem ele estivera perseguindo tão severamente, para que deles aprenda. A luz da iluminação celeste privara Paulo da vista, mas Jesus, o grande médico dos cegos não lha restaurou. À pergunta de Paulo, responde da seguinte maneira: “Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.” Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus podia, não somente haver curado Paulo da cegueira, mas haver-lhe perdoado os pecados e dito qual o seu dever, traçando-lhe a futura direção. De Cristo deviam fluir todas as misericórdias e todo o poder; no entanto, Ele não deu a Paulo, em sua conversão à verdade, uma experiência independente da igreja por Ele recentemente organizada na Terra.
A maravilhosa luz dada a Paulo naquela ocasião, deixou-o pasmo e confundido. Rendeu-se inteiramente. Esta parte da obra, não podia o homem fazer por Paulo; havia, no entanto, outra obra ainda a ser executada, a qual os servos de Cristo podiam efetuar. Jesus o encaminha a Seus instrumentos na igreja, em busca de mais esclarecimentos acerca de seu dever. Assim dá Ele autoridade e sanção à igreja organizada. Cristo fizera a obra de revelação e convicção, e agora Paulo se achava em condições de aprender daqueles a quem Deus ordenara que ensinassem a verdade. Cristo dirige Paulo aos servos que escolhera, pondo-o assim em contato com Sua igreja.
Os próprios homens a quem Paulo se estava propondo destruir, deviam ser seus instrutores na própria religião que ele desprezara e perseguira. Três dias passou Paulo sem alimentar-se e sem ver, preparando-se para se aproximar dos homens a quem, em seu zelo cego, propusera-se a matar. Aí põe Cristo a Paulo em contato com Seus representantes na Terra. O Senhor dá a Ananias uma visão em que lhe manda ir a determinada casa em Damasco e perguntar por Saulo de Tarso; “pois eis que ele está orando”. Atos dos Apóstolos 9:11.
Sendo Saulo mandado a Damasco, para lá foi conduzido pelos homens que o acompanhavam no intuito de ajudá-lo a levar prisioneiros os discípulos para Jerusalém, a fim de ali serem julgados e mortos. Saulo hospedou-se em casa de Judas em Damasco, dedicando o tempo a jejum e oração. Ali foi provada a fé de Saulo. Por três dias se encontrou em trevas quanto ao que dele era requerido, e por três dias se viu privado da visão. Recebera ordem de ir para Damasco, pois ali lhe seria dito o que lhe cumpria fazer. Encontra-se em incerteza, e clama fervorosamente a Deus.
Foi enviado um anjo a Ananias, instruindo-o a ir a determinada casa onde se achava Saulo em oração para que lhe fosse mostrado o que devia fazer. Desaparecera o orgulho de Saulo. Pouco antes, ele confiava em si mesmo, julgando achar-se empenhado em boa obra, pela qual deveria ser recompensado; agora, porém, tudo mudou. Está curvado e humilhado até o pó, envergonhado e penitente, rogando fervoroso o perdão. O Senhor disse a Ananias: “Eis que ele está orando.” Atos dos Apóstolos 9:11. O anjo informou ao servo de Deus que havia revelado a Saulo em visão que um homem chamado Ananias entraria e poria sobre ele a mão, a fim de que tornasse a ver. Mal pode Ananias crer nas palavras do anjo; e repete o que ouvira acerca da cruel perseguição que Saulo fazia aos santos em Jerusalém. Imperativa, porém, é a ordem dada a Ananias: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.” Atos dos Apóstolos 9:15.
Ananias foi obediente às indicações do anjo. Pôs a mão sobre o homem que havia ainda tão pouco estava possuído do mais profundo ódio, respirando ameaças contra todos os que acreditavam no nome de Cristo. Ananias disse a Saulo: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.” Atos dos Apóstolos 9:17, 18.
Jesus poderia haver feito diretamente tudo isso por Paulo, mas não quis assim. Paulo tinha alguma coisa a fazer no sentido da confissão aos homens cuja destruição premeditara, e Deus tinha uma obra [394] de responsabilidade para ser feita pelos homens a quem ordenara para agirem em Seu lugar. Paulo devia dar os passos necessários na conversão. Era-lhe exigido que se unisse ao próprio povo que perseguira por causa da religião que professavam. Cristo dá aqui a todo o Seu povo um exemplo de Sua maneira de agir para salvação dos homens. O Filho de Deus identificou-Se com a função e autoridade de Sua igreja organizada. Suas bênçãos deviam vir por meio dos instrumentos que ordenara, ligando assim os homens com os condutos que as deviam transmitir. O fato de Paulo ser estritamente consciencioso em sua obra de perseguir os santos, não o inocenta quando o Espírito de Deus o impressiona com o conhecimento da cruel obra que fizera. Tem de tornar-se aluno dos discípulos.
Reconhece que Jesus, a quem em sua cegueira considerara impostor, é na verdade o autor e o fundamento de toda a religião do povo escolhido de Deus desde os dias de Adão, e o consumador da fé, agora tão clara a sua iluminada visão. Viu a Cristo como reivindicador da verdade, cumpridor de todas as profecias. Cristo fora considerado como anulando a lei de Deus; mas, quando sua visão espiritual foi tocada pelo dedo divino, aprendeu dos discípulos que Cristo era o originador e o fundamento de todo o sistema judaico de sacrifícios, que na morte de Cristo o tipo encontrara o antítipo, e que Cristo viera ao mundo com o expresso desígnio de reivindicar a lei de Seu Pai.
Não se sanciona a independência
Em face da lei, Paulo se reconhece pecador. Aquela própria lei que ele julgara estar guardando tão zelosamente, verifica ter estado a transgredir. Arrepende-se, e morre para o pecado, torna-se obediente aos reclamos da lei de Deus, e tem fé em Cristo como seu Salvador; é batizado e prega a Jesus tão sincera e zelosamente como outrora O condenara. São apresentados, na conversão de Paulo, importantes princípios que devemos conservar sempre em mente. O Redentor do mundo não aprova, em assuntos religiosos, ideias e práticas independentes por parte de Sua igreja organizada e reconhecida, onde a tem.
Muitos nutrem a ideia de que só a Cristo são responsáveis no que respeita à luz e a sua própria experiência, independentemente de Seus reconhecidos seguidores no mundo. Isto, porém, é condenado por Ele nos ensinos que nos dá, bem como nos exemplos, nos fatos, que nos tem dado para nossa instrução. Aí estava Paulo, pessoa a quem Cristo devia preparar para importantíssima obra, que Lhe devia ser vaso escolhido, levado diretamente à presença de Cristo; todavia Ele lhe não ensina as lições da verdade. Detém-lhe a carreira e infunde-lhe convicção; e quando ele pergunta: “Que queres que eu faça?” (Atos dos Apóstolos 9:6) o Salvador não lho diz diretamente, mas põe-no em contato com Sua igreja. Eles te dirão o que te cumpre fazer. Jesus é o amigo dos pecadores, tem o coração sempre aberto, sempre sensível aos sofrimentos da humanidade; tem todo o poder, tanto no Céu como na Terra; respeita, no entanto, o meio que ordenou para esclarecimento e salvação dos homens. Encaminha Saulo à igreja, reconhecendo assim o poder de que a investiu como veículo de luz para o mundo. É o corpo organizado de Cristo na Terra, e importa que se Lhe respeitem as ordenanças. No caso de Saulo, Ananias representa Cristo, ao mesmo tempo que representa os pastores de Cristo na Terra, os quais são designados para agir em Seu lugar. [395]
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Cristo dá poder à voz da igreja. “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Mateus 18:18. Não se apoia coisa alguma como seja um homem, por sua própria responsabilidade, desviar-se e advogar as ideias que bem lhe parecerem, a despeito do juízo da igreja. O mais alto poder abaixo do Céu, concedeu o Senhor a Sua igreja. É a voz de Deus em Seu povo reunido na qualidade de uma igreja, que deve ser respeitada. Deus tem dado a Sua igreja homens de experiência, pessoas [396] [397] que têm jejuado, chorado e orado até a noite inteira, para que Deus lhes abra as Escrituras ao entendimento. Com humildade têm esses homens dado ao mundo o benefício de sua amadurecida experiência. É essa luz do Céu, ou dos homens? É ela de algum valor, ou nada vale? — Testimonies for the Church 3:450, 451 (1875).
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