Testemunhos Seletos Vol. 1: Dízimos e Ofertas – Capítulo 74

Ellen White

A missão da igreja de Cristo é salvar os pecadores que estão a perecer. É divulgar o amor de Deus aos homens, conquistando os para Cristo pela eficácia daquele amor. A verdade para este tempo deve ser levada aos tenebrosos recantos da Terra, e esta obra pode começar em casa. Os seguidores de Cristo não devem viver egoistamente; antes, imbuídos do Espírito de Cristo, trabalhar em harmonia com Ele.

Há motivos para a frieza e incredulidade atuais. O amor do mundo e os cuidados da vida separam a alma de Deus. A água da vida precisa estar em nós, de nós emanando, saltando para a vida eterna. Cumpre-nos operar exteriormente aquilo que Deus opera no interior. Caso o cristão queira fruir a luz da vida, precisa aumentar seus esforços para levar outros ao conhecimento da verdade. Sua vida deve caracterizar-se pelo esforço e sacrifício para beneficiar a outros; então não haverá queixa de falta de satisfação.

Os anjos acham-se sempre empenhados em trabalhar pela felicidade dos outros. É este o seu prazer. Aquilo que seria considerado serviço humilhante por parte de corações egoístas — servir aos que são indignos e considerados inferiores em caráter e posição — é a obra dos puros e inocentes anjos das reais cortes celestes. O espírito de abnegado amor de Cristo é o que domina no Céu, constituindo a própria essência de sua bem-aventurança.

Os que não experimentam nenhum prazer especial em buscar ser uma bênção aos outros, em trabalhar, mesmo com sacrifício, para lhes fazer bem, não podem ter o espírito de Cristo ou do Céu; pois não têm união com a obra dos santos anjos, nem podem participar da bem-aventurança que lhes comunica elevada alegria. Disse Cristo: “Digo-vos que assim haverá alegria no* Céu por um pecador que se [360] arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15:7. Se a alegria dos anjos é ver os pecadores se arrependerem,não será o regozijo dos pecadores,salvos Testimonies for the Church 3:381-408 (1875). 333334 Testemunhos Seletos 1 pelo sangue de Jesus, ver outros se arrependerem e voltarem para Cristo por intermédio deles? Experimentaremos, em trabalhar em harmonia com Cristo e os santos anjos, uma alegria que não pode ser sentida senão nessa obra.

Os princípios da cruz de Cristo levam todos quantos crêem à rigorosa obrigação de negarem-se a si mesmos, comunicarem luz aos outros, e darem de seus meios para difundir a luz. Se eles se acharem em comunhão com o Céu, empenhar-se-ão na obra em harmonia com os anjos.

O princípio dos mundanos é tirar o máximo que lhes for possível das perecíveis coisas desta vida. O amor do lucro egoísta, eis o princípio dirigente de sua vida. A mais pura alegria, porém, não se encontra em riquezas, nem na cobiça que sempre deseja ansiosamente mais, mas onde reina contentamento, e onde o abnegado amor é o princípio dominante. Há milhares de criaturas que passam a vida na satisfação de suas inclinações, mas cujo coração vive cheio de pesar. São vítimas do egoísmo e do descontentamento, no vão esforço de satisfazer o espírito pela condescendência com o próprio eu. Em sua fisionomia, no entanto, acha-se estampada a infelicidade, e na sua influência encontra-se um deserto, pela ausência de boas obras que há em sua vida.

À medida que o amor de Cristo nos enche o coração e rege a existência, a cobiça, o egoísmo e o amor da comodidade serão vencidos, e nosso prazer consistirá em fazer a vontade de Cristo, de quem professamos ser servos. Nossa felicidade será então proporcional a nossas obras abnegadas, inspiradas pelo amor de Jesus.

No plano da salvação, a sabedoria divina designou a lei da ação e reação, tornando a obra de beneficência em todos os seus ramos, duplamente bendita. O que dá aos necessitados, beneficia a outros, [361] e é ele próprio beneficiado em grau ainda maior. Deus poderia haver conseguido Seu objetivo na salvação dos pecadores, sem o auxílio do homem; sabia, porém, que o homem não podia ser feliz sem desempenhar uma parte na grande obra em que cultivaria a abnegação e a beneficência.

Para que o homem não perdesse os benditos resultados da beneficência, nosso Redentor elaborou o plano de alistá-lo como Seu cooperador. Mediante uma cadeia de circunstâncias que lhe despertaria a caridade, concede ao homem os melhores meios de cultivar a beneficência, e conserva-o dando habitualmente para ajudar os pobres e Lhe promover a causa. Manda os pobres como representantes Seus. Através das necessidades deles, o mundo arruinado está a extrair de nós talentos de meios e de influência a fim de apresentar-lhes a verdade, por falta da qual estão a perecer. E ao atendermos a esses pedidos por meio de trabalho e de atos de beneficência, somos transformados à imagem dAquele que por amor de nós Se tornou pobre. Dando, beneficiamos a outros, acumulando assim verdadeiras riquezas.

Interesses mundanos e tesouros celestes

Tem havido grande falta de beneficência cristã na igreja. Aqueles que mais habilitados se achavam a promover o avançamento da causa de Deus, não fizeram senão um pouco. Misericordiosamente, tem o Senhor trazido ao conhecimento da verdade uma classe de pessoas, a fim de que lhe apreciassem o incalculável valor, em comparação com os tesouros terrestres. Jesus disse a essas pessoas: “Segue-me.” Lucas 5:27. Ele as está provando com um convite para a ceia que tem preparado. Está observando a ver que caráter elas desenvolverão, se seus próprios interesses egoístas serão considerados de maior valor que as riquezas eternas. Muitos desses queridos irmãos estão agora, mediante suas ações, formulando as desculpas mencionadas na seguinte parábola:

“Porém Ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma [362] começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.” Lucas 14:16-21.

Essa parábola representa apropriadamente a condição de muitos que professam crer na verdade presente. O Senhor lhes mandou um convite para a ceia que lhes preparou com grande custo; os interesses mundanos, porém, afiguram-se lhes de maior importância que o tesouro celeste. São convidados a tomar parte em coisas de valor eterno; mas sua fazenda, o gado e os interesses domésticos lhes parecem de tão maior importância que o atender ao convite celestial, que sobrepujam a toda atração divina, e essas coisas terrestres são apresentadas como desculpas por sua desobediência à ordem celeste: “Vinde que já tudo está preparado.” Lucas 14:17. Esses irmãos estão cegamente seguindo o exemplo das pessoas apresentadas na parábola. Olham suas possessões terrenas, e dizem: “Não, Senhor, não Te posso seguir; rogo-Te que me hajas por escusado.”

As próprias bênçãos dadas por Deus a esses homens para prová-los, para ver se eles dão “a Deus o que é de Deus”, empregam eles como desculpa para não obedecerem às reivindicações da verdade. Cingiram nos braços seu tesouro terrestre, e dizem: “Preciso cuidar destas coisas; não posso negligenciar as coisas desta vida; estas coisas são minhas.” Assim se tem o coração desses homens tornado tão insensível à impressão como a terra batida das estradas. Eles fecham a porta do coração ao mensageiro celeste, que diz: “Vinde, que já tudo está preparado”, e abrem-na bem, convidando à entrada [363] as preocupações e cuidados de negócios deste mundo; em vão bate Jesus para ser admitido.

O jugo do egoísmo

O coração dessas pessoas está tão semeado de espinhos e cheio dos cuidados desta vida, que as coisas celestes não podem aí encontrar lugar. Jesus convida os cansados e oprimidos, prometendo-lhes descanso se a Ele forem ter. Convida-os a permutar o mortificante jugo do egoísmo e da cobiça, que os torna escravos de Mamom, por Seu jugo, que diz ser suave, e por Seu fardo, que é leve. Diz Ele: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mateus 11:29. Ele quer que ponham de lado os pesados fardos do cuidado e perplexidade mundanos, e tomem Seu jugo que é abnegação e sacrifício pelos outros. Este fardo demonstrar-se-á leve. Os que se recusam a aceitar o alívio que Cristo lhes oferece, e continuam a levar o mortificante jugo do egoísmo, sobrecarregando sua alma em extremo com projetos a fim de acumular dinheiro para satisfações egoístas, não experimentaram a paz e o descanso que se encontram em levar o jugo de Cristo, e em carregar os fardos da abnegação e da desinteressada beneficência carregados por Cristo em seu favor.

Quando o amor do mundo toma posse do coração, e se torna paixão dominante, não fica margem para a adoração a Deus; pois as mais elevadas faculdades do espírito subordinam-se à servidão de Mamom, e não podem reter os pensamentos acerca de Deus e do Céu. A mente perde a lembrança do Senhor, estreitando-se e atrofiando-se na acumulação de dinheiro.

Em virtude do egoísmo e amor do mundo, esses homens têm vivido cada vez com menos senso da magnitude da obra para estes últimos dias. Não educaram o espírito de modo a fazer do serviço de Deus sua ocupação. Não têm experiência nesse sentido. Suas posses lhes absorvem as afeições e eclipsam a magnitude do plano da salvação. Enquanto prosperam e ampliam seus empreendimentos mundanos, não veem nenhuma necessidade de estender-se e aumentar-se a obra de Deus. Empregam os meios de que dispõem [364] em coisas temporais e não nas eternas. O coração ambiciona mais recursos. Deus os tornou depositários de Sua lei, de modo que deixassem brilhar para os outros a luz que tão generosamente lhes foi concedida. Mas têm por tal forma acrescentado os próprios cuidados e ansiedades, que não têm tempo de beneficiar a outros com sua influência, de conversar com os vizinhos, de orar com eles e por eles, e procurar trazê-los ao conhecimento da verdade.

Esses homens são responsáveis pelo bem que poderiam fazer, mas se desculpam por causa de cuidados e encargos mundanos que lhes obscurecem a mente e absorvem as afeições. Almas por quem Cristo morreu poderiam ser salvas por seus esforços pessoais e um piedoso exemplo. Almas preciosas se acham a perecer por falta da luz que Deus deu aos homens para que se refletisse na vereda dos outros. A preciosa luz, no entanto, é oculta sob o alqueire, e não ilumina os que estão na casa.

A parábola dos talentos

Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus meios; mas os homens pretendem que esses meios são propriedade sua. Diz Cristo: “Negociai até que Eu venha.” Lucas 1 19:13. Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com os juros. Dirá a cada um de Seus mordomos: “Dá contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Os que esconderam o dinheiro de seu Senhor em um lenço na terra, em vez de dá-lo aos banqueiros, e os que esbanjaram o dinheiro de seu Senhor gastando-o em coisas desnecessárias, em vez de pô-lo a render empregando-o em Sua causa, não receberão a aprovação do Mestre, mas decisiva condenação. O servo inútil da parábola levou de volta o único talento a Deus, e disse: “Senhor, eu conhecia-Te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o Teu talento; aqui tens o que é Teu.” O Senhor pega-lhe nas palavras: “Mau e [365] negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias então ter dado o Meu dinheiro aos banqueiros, e, quando Eu viesse, receberia o Meu com os juros.” Mateus 25:24-27.

Este servo inútil não ignorava os planos de Deus, mas resolveu-se firmemente a impedir-Lhe o desígnio, acusando-o de injustiça em exigir lucro dos talentos a ele confiados. Esta mesma queixa e murmuração é feita por vasta classe de ricos que professam crer na verdade. Como o servo infiel, temem que o aumento do talento a eles emprestado por Deus seja requerido para promover o avançamento da verdade; atam-no, portanto, empregando-o em tesouros terrenos, e enterrando-o no mundo, pondo-o assim tão seguro que não tenham nada, ou quase nada para depositar na causa de Deus. Enterraram-no, temendo que o Senhor peça algum do principal ou dos juros. Quando, a pedido de seu Senhor, trazem a quantia que lhes foi entregue, vêm com ingratas desculpas por não haverem posto os meios a eles emprestados por Deus nas mãos dos banqueiros, empregando-os em Sua causa para levar-Lhe a obra avante. Aquele que sonega os bens do Senhor, não somente perde o talento que lhe foi emprestado por Deus, mas perde a própria vida eterna. Diz-se a seu respeito: “Lançai pois o servo inútil nas trevas exteriores.” Mateus 25:30. O servo fiel que emprega seu dinheiro na causa de Deus para salvar almas, emprega os meios de que dispõe para glória do Senhor, e receberá o louvor do Mestre: “Bem está, servo bom e fiel. Entra no gozo do teu Senhor.” Mateus 25:21. Qual será esse gozo de nosso Senhor? É a alegria de ver almas salvas no reino da glória. “O qual pelo gozo que Lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus.” Hebreus 12:2.

A ideia de mordomia devia ter influência prática sobre todo o povo de Deus. A parábola dos talentos devidamente compreendida, excluirá a cobiça, que Deus chama de idolatria. A beneficência prática dará vida espiritual a milhares de professos nominais da verdade que ora lamentam as próprias trevas. Ela os transformará [366] de egoístas e cobiçosos adoradores de Mamom, em zelosos, fiéis colaboradores de Cristo na salvação dos pecadores.

Abnegação e sacrifício

O plano da salvação fundamentou-se no sacrifício. Jesus deixou as cortes reais, e fez-Se pobre, para que por Sua pobreza nos pudéssemos enriquecer. Todos quantos participam desta salvação, comprada para eles com tão infinito sacrifício pelo Filho de Deus, seguirão o exemplo do Modelo Verdadeiro. Cristo foi a principal pedra de esquina, e cumpre-nos edificar sobre esse fundamento. Todos devem ter espírito de abnegação e sacrifício. A vida de Cristo na Terra foi de renúncia; assinalou-se pela humilhação e o sacrifício. E hão de os homens, participantes da grande salvação que Jesus veio do Céu trazer-lhes, recusarem-se a seguir a seu Senhor, partilhando de Sua abnegação e sacrifício? Diz Cristo: “Eu sou a videira, vós as varas.” João 15:5. “Toda vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.” João 15:2. O próprio princípio vital, a seiva que corre através da videira, nutre os ramos, a fim de florescerem e darem fruto. É o servo maior que seu Senhor? Há de o Redentor do mundo exercer a renúncia e o sacrifício em nosso favor, e os membros do corpo de Cristo entregarem-se à complacência consigo mesmos? A abnegação é condição essencial do discipulado.

“Então disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me.” Mateus 16:24. Eu tomo a dianteira na vereda da renúncia. Não exijo de vós, Meus seguidores, coisa alguma senão aquilo de que Eu, vosso Senhor, vos dou o exemplo em Minha vida.

O Salvador do mundo venceu Satanás no deserto da tentação. Venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Ele anunciou na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois [367] que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os340 Testemunhos Seletos 1 quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor.” Lucas 4:18, 19.

A grande obra que Jesus anunciou que viera fazer, foi confiada a Seus seguidores na Terra. Cristo, como nossa cabeça, serve de guia na grande obra de salvação, e pede-nos que Lhe sigamos o exemplo. Deu-nos uma mensagem mundial. Esta verdade deve estender-se a todas as nações, línguas e povos. O poder de Satanás devia ser contestado, e ele vencido por Cristo e também por Seus seguidores. Ampla guerra devia ser mantida contra os poderes das trevas. E a f imde fazer essa obra com êxito, eram necessários meios. Deus não Se propõe a mandar recursos diretamente do Céu, mas põe nas mãos de Seus seguidores talentos de meios para serem usados para o fim definido de manter esta luta.

O sistema do dízimo

Ele deu a Seu povo um plano para levantamento de fundos suficientes para esse empreendimento se manter por si mesmo. O plano divino do sistema do dízimo é belo em sua simplicidade e equidade. Todos podem dele lançar mão com fé e ânimo, pois é divino em sua origem. Nele se aliam a simplicidade e a utilidade, e não exige profundidade de saber o compreendê-lo e executá-lo. Todos podem sentir que lhes é possível ter parte em promover a preciosa obra de salvação. Todo homem, mulher e jovem se pode tornar tesoureiro do Senhor, e agente em atender às exigências sobre o tesouro. Diz o apóstolo: “Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade.” 1 Coríntios 16:2.

Grandes objetivos se conseguem com este sistema. Se todos o aceitassem, cada um se tornaria vigilante e fiel tesoureiro de Deus; e [368] não haveria falta de meios com que levar avante a grande obra de anunciar a última mensagem de advertência ao mundo. O tesouro estará provido se todos adotarem esse sistema, e os contribuintes não ficarão mais pobres. A cada depósito feito, tornar-se-ão mais ligados à causa da verdade presente. Eles estarão entesourando “para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna”. 1 Timóteo 6:19.

À medida que os obreiros perseverantes, sistemáticos, virem que a tendência de seus beneficentes esforços é nutrir o amor para com Deus e seus semelhantes, e que seus esforços pessoais estão a estender-lhes a esfera de utilidade, compreenderão que é grande bênção ser cooperadores de Cristo. A igreja cristã, em geral, está-se negando aos reclamos de Deus quanto a darem ofertas do que possuem para sustentar a luta contra a treva moral que vai inundando o mundo. A obra de Deus nunca poderá progredir como deve enquanto os seguidores de Cristo não se tornarem obreiros ativos e zelosos.

Todo indivíduo na igreja deve sentir que a verdade que ele professa é uma realidade, e todos devem ser obreiros desinteressados. Alguns ricos acham-se inclinados a murmurar por estar a obra de Deus se ampliando e haver pedidos de dinheiro. Dizem que não há fim a esses pedidos. Surge continuamente um objetivo após outro, demandando auxílio. A esses, gostaríamos de dizer que esperamos que a causa de Deus se estenda portal forma, que haja maior ocasião, e mais frequentes e urgentes apelos quanto às provisões do tesouro para prosseguir com a obra.

Se o plano da doação sistemática fosse adotado por todo indivíduo, sendo plenamente levado avante, haveria constante suprimento no tesouro. A renda fluiria para ele qual constante corrente, sem cessar, provida pelas fontes transbordantes da beneficência. O dar ofertas faz parte da religião evangélica. Não nos impõe a consideração do infinito preço pago por nossa redenção obrigações solenes, [369] do ponto de vista financeiro, da mesma maneira que reclama de nós o devotamente de todas as nossas energias à obra do Mestre?

Teremos contas a ajustar afinal com o Mestre, quando Ele disser: “Dá contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Se os homens preferirem pôr de lado os reclamos de Deus, e apegarem-se a tudo quanto Ele lhes dá, retendo-o egoistamente, Ele Se calará por agora, e continuará a prová-los frequentemente mediante o acréscimo de Suas liberalidades, deixando fluírem Suas bênçãos, e esses homens poderão continuar a receber honras de seus semelhantes, e não ser censurados na igreja; mas finalmente Ele dirá: “Dá contas da tua mordomia.” Lucas 16:2. Diz Cristo: “Quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim.” Mateus 25:45. “Não sois Nota: Ver a nota da pág. 331.342 Testemunhos Seletos 1 de vós mesmos”; “porque fostes comprados por bom preço”, e estais na obrigação de glorificar a Deus com os vossos meios bem como com o vosso corpo e espírito, que são Seus. “Fostes comprados por bom preço”, não “foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro”, “mas com o precioso sangue de Cristo.” 1 Pedro 1:18, 19. Ele pede uma retribuição dos dons que nos confiou, para ajudar na salvação de almas. Deu Seu sangue; pede nossa prata. É mediante Sua pobreza que nos tornamos ricos; e recusar-nos-emos a devolver-Lhe as próprias dádivas que nos fez?

Coobreiros de Deus

Deus não depende dos homens para a manutenção de Sua causa. Poderia haver mandado meios diretamente do Céu para suprir Seu tesouro, caso assim houvesse Sua providência achado melhor para o homem. Poderia ter idealizado meios pelos quais fossem enviados anjos para anunciar a verdade ao mundo sem a cooperação humana. Poderia haver escrito a verdade nos Céus, e deixar que isso declarasse ao mundo os mandamentos em caracteres vivos. Deus não depende [370] da prata ou ouro de homem algum. Diz Ele: “Meu é todo o animal da selva, e as alimárias sobre milhares de montanhas.” “Se Eu tivesse fome, não to diria, pois Meu é o mundo e a sua plenitude.” Salmos 50:10, 12. Seja qual for a necessidade de nossa participação no progresso da causa de Deus, isso foi propositadamente arranjado por Ele para nosso bem. Honrou-nos tornando-nos coobreiros Seus. Determinou que houvesse necessidade da cooperação dos homens, para que sua liberalidade seja mantida em exercício.

Em Sua sábia providência, Deus pôs os pobres sempre ao nosso lado, para que, ao vermos todas as formas de sofrimento e miséria no mundo, fôssemos provados, e colocados em situações de desenvolver caráter cristão. Pôs os pobres entre nós para despertar-nos simpatia e amor cristãos.

Ficam em ignorância e em trevas pecadores a perecer, a menos que haja homens que lhes levem a luz da verdade. Deus não mandará anjos do Céu para fazer a obra que deixou para ser feita pelo homem. A todos Ele deu um trabalho, pela própria razão de poder prová-los, e de revelarem seu verdadeiro caráter. Cristo coloca em nosso meio os pobres como Seus representantes. “Tive fome”, diz Ele, “e não Me destes de comer, tive sede, e não Me destes de beber.” Mateus 25:42. Cristo Se identifica com a sofredora humanidade, na pessoa dos aflitos filhos dos homens. Torna Suas próprias, as necessidades deles, tomando-lhes a peito as desventuras.

A treva moral de um mundo arruinado pleiteia com os cristãos, homens e mulheres, para exercerem esforços pessoais, darem de seus meios e de sua influência, de modo a serem assemelhados à imagem dAquele que, embora possuísse infinitas riquezas, tornou-Se todavia pobre por amor de nós. O Espírito de Deus não pode permanecer com aqueles a quem Ele mandou a mensagem de Sua verdade, mas que precisam ser insistentemente solicitados para poderem ter qualquer senso do dever que lhes cabe de tornarem-se coobreiros de Cristo. O apóstolo acentua o dever de dar impulsionados por motivos mais elevados, que a simples simpatia humana, devida à comoção. Insiste [371] no princípio de que devemos trabalhar desinteressadamente, visando unicamente a glória de Deus.

As Escrituras exigem que os cristãos adotem um plano de beneficência ativa, que mantenha em constante exercício o interesse pela salvação de seus semelhantes. A lei moral ordenava a observância do sábado, que não era um fardo, senão quando aquela lei era transgredida, e eles incorriam nas penas trazidas pela transgressão. O sistema dizimal não era nenhuma carga para os que não se apartavam desse plano. O sistema ordenado aos hebreus não foi rejeitado ou afrouxado por Aquele que lhe deu origem. Em vez de haver perdido agora seu vigor, deve ser mais plenamente cumprido e dilatado, pois a salvação em Cristo unicamente deve ser apresentada em maior plenitude na era cristã.

Jesus declarou ao doutor da lei que as condições de ele ter a vida eterna, eram cumprir em sua vida as reivindicações especiais da lei, que consistiam em amar a Deus de todo o coração, e alma, e entendimento, e forças, e ao próximo como a si mesmo. Quando os sacrifícios simbólicos cessaram, por ocasião da morte de Cristo, a lei original, escrita em tábuas de pedra, permaneceu imutável, conservando sua vigência sobre os homens de todos os séculos. O dever do homem não foi limitado na era cristã, antes mais especialmente definido, e expresso com mais simplicidade.

O evangelho, estendendo-se e ampliando-se, exigia maiores providências para manter a luta depois da morte de Cristo, o que tornou344 Testemunhos Seletos 1 a lei de dar ofertas necessidade mais urgente que sob o governo hebraico. Agora Deus requer, não menores mas maiores dádivas que em qualquer outro período da história do mundo. O princípio estabelecido por Cristo é que as dádivas e ofertas sejam proporcionais à luz e às bênçãos fruídas. Ele disse: “A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá.” Lucas 12:48.

Os primeiros discípulos corresponderam às bênçãos da era cristã em obras de caridade e beneficência. O derramamento do Espírito de Deus, depois que Cristo deixou os discípulos e ascendeu ao Céu, levou a abnegação e sacrifício pela salvação dos outros. Quando os santos pobres de Jerusalém se viram em miséria, Paulo escreveu aos gentios cristãos relativamente às obras de beneficência, e disse: “Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça.” 2 Coríntios 8:7. A beneficência aqui é colocada ao lado da fé, do amor e da diligência cristã. Os que pensam poderem ser bons cristãos, e cerrarem os ouvidos e o coração aos pedidos de Deus para que sejam liberais, acham-se terrivelmente enganados. Pessoas há que são pródigas em profissão de grande amor à verdade e, no que respeita às palavras, interessam-se muito em ver o progresso da verdade, mas nada fazem por esse progresso. A fé dessas pessoas é morta, não sendo aperfeiçoada pelas obras. O Senhor jamais cometeu tal erro de converter uma pessoa e mantê-la sob o domínio da cobiça.

Desde os dias de Adão

O sistema do dízimo remonta para além dos dias de Moisés. Requeria-se dos homens que oferecessem dons a Deus com intuitos religiosos, antes mesmo que o sistema definido fosse dado a Moisés — já desde os dias de Adão. Cumprindo o que Deus deles requer, deviam manifestar em ofertas a apreciação das misericórdias e bênçãos a eles concedidas. Isto continuou através de sucessivas gerações, e foi observado por Abraão, que deu dízimos a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. O mesmo princípio havia nos dias de Jó. Jacó, quando errante e exilado, destituído de bens, deitou-se à noite em Betel, solitário e tendo por travesseiro uma rocha, prometeu ao Senhor: “De tudo quanto me deres, certamenteDízimos e ofertas 345 Te darei o dízimo.” Gênesis 28:22. Deus não obriga os homens a dar. Tudo quanto derem, deve ser voluntário. Não quer ter o Seu tesouro cheio de ofertas dadas de má vontade.

O Senhor visava pôr o homem em íntima relação com Ele e em [373] simpatia e amor com seus semelhantes, quando sobre ele colocou responsabilidades em atos que haviam de neutralizar o egoísmo e fortalecer-lhe o amor para com Deus e o homem. O plano de haver sistema na beneficência, foi destinado por Deus para o bem do homem, inclinado a ser egoísta, a cerrar o coração a atos generosos. O Senhor requer que se deem dádivas em tempos determinados, sendo arranjado isto de maneira que o dar se torne um hábito, e sinta-se que a caridade é um dever cristão. O coração aberto por uma dádiva, não deve ter tempo de tornar-se egoísta, frio e fechar-se antes que a seguinte seja feita. A corrente deve estar continuamente fluindo, mantendo assim aberto o canal por atos de beneficência.

Um décimo da renda

Quanto à importância exigida, Deus especificou um décimo da renda. Isto fica com a consciência e beneficência dos homens, cujo juízo nesse sistema dizimal deve ser livre. E ao passo que isto fica com a consciência, foi estabelecido um plano bastante definido para todos. Não se exige compulsão.

Na dispensação mosaica, Deus chamou homens que dessem a décima parte de toda a sua renda. Ele lhes confiou em depósito as coisas desta vida, talentos a serem desenvolvidos e dados de volta a Ele. Exigia um décimo, e isto Ele requer como o mínimo que o homem Lhe deve devolver. Diz: Dou-vos nove décimos, ao passo que exijo um décimo; este é Meu. Quando os homens o retêm, estão roubando a Deus. As ofertas pelo pecado, as ofertas pacíficas e as de gratidão, também eram requeridas além do dízimo das rendas.

Tudo quanto é retido daquilo que Deus requer, a décima parte do rendimento, é registrado nos livros do Céu como roubo a Ele feito. Essas pessoas defraudam a seu Criador; e ao ser-lhes apontado esse pecado de negligência, não basta que mudem de direção e comecem a seguir daí em diante o reto princípio. Isto não alterará os algarismos registrados no Céu pela sonegação da propriedade que lhes foi confiada para ser devolvida Àquele que a emprestou. [374]346 Testemunhos Seletos 1 Exige-se arrependimento pelo trato infiel e a ingratidão para com Deus.

“Roubará o homem a Deus? todavia vós Me roubais, e dizeis: Em que Te roubamos? nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança.” Malaquias 3:8-10. Dá-se aí uma promessa — que se todos os dízimos forem levados à casa do tesouro, derramar-se-á sobre o obediente uma bênção de Deus.

“E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.” Malaquias 3:11, 12. Se todos quantos professam crer na verdade satisfizerem às reivindicações de Deus no dar o dízimo, que o Senhor declara ser Seu, o tesouro estará abundantemente provido de recursos para levar avante a grande obra da salvação dos homens.

Deus dá ao homem nove décimos, ao passo que reclama apenas um décimo para fins sagrados ,da mesma maneira que deu ao homem seis dias para seu trabalho, e reservou e pôs à parte o sétimo dia para Si. Pois, como o sábado, um décimo da renda é sagrado; Deus o reservou para Si. Ele levará avante Sua obra na Terra com a renda dos meios que confiou ao homem.

Deus exigia de Seu antigo povo três reuniões anuais. “Três vezes no ano todo o varão entre ti aparecerá perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher: na festa dos pães asmos, e na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos. Porém não aparecerá vazio perante o [375] Senhor; cada qual, conforme ao dom da sua mão, conforme à bênção que o Senhor teu Deus te tiver dado.” Deuteronômio 16:16, 17. Nada menos que umterço de suas rendas eram consagradas a fins sagrados e religiosos.

Sempre que o povo de Deus, em qualquer período do mundo, seguiu voluntária e alegremente o plano dEle quanto à doação sistemática e às dádivas e ofertas, verificaram Sua permanente promessa de quetodos os seus labores seriam seguidos de prosperidade proporDízimos e ofertas 347 cional à obediência que dispensavam ao que deles requeria. Quando reconheciam os direitos de Deus, e Lhe satisfaziam às reivindicações, honrando-O com seus recursos, seus celeiros enchiam-se de abundância. Mas, quando roubavam a Deus em dízimos e ofertas, era-lhes feito compreender que não O estavam roubando a Ele simplesmente, mas a si mesmos; pois Ele lhes limitava as bênçãos exatamente em proporção ao que eles limitavam as ofertas que Lhe faziam.

Não é um fardo penoso

Alguns classificarão isto como uma das rigorosas leis a que os hebreus estavam obrigados. Não era um fardo, porém, para o coração voluntário que amava a Deus. Unicamente quando sua natureza egoísta era fortalecida pelo reter, é que os homens perdiam de vista as considerações eternas, estimando seus bens terrenos acima das almas. Há nestes últimos dias necessidades ainda mais urgentes sobre o Israel de Deus do que sobre o antigo Israel. Há uma grande e importante obra a ser realizada em muito pouco tempo. Nunca foi desígnio do Senhor que a lei do sistema dizimal deixasse de ser considerada entre Seu povo; em lugar disto, porém, pretendia que o espírito de sacrifício se ampliasse e se tornasse mais profundo para a finalização da obra.

A doação sistemática não se deveria tornar compulsão sistemática. É a oferta voluntária que é aceitável a Deus. A verdadeira beneficência cristã brota do princípio do amor agradecido. Não pode existir amor a Cristo, sem amor correspondente para com aqueles por cuja redenção Ele veio ao mundo. O amor a Cristo deve ser o [376] princípio dominante do ser, regendo todas as emoções e dirigindo todas as energias. O amor redentor deve despertar todas as ternas afeições e abnegado devotamento que possa existir no coração do homem. Assim sendo, não se precisam fazer apelos comovedores para lhes vencer o egoísmo e despertar os adormecidos sentimentos de compassividade a fim de atrair ofertas de beneficência para a preciosa causa da verdade.

Com sacrifício infinito nos comprou Jesus. Todas as nossas aptidões e influência, pertencem, de fato a nosso Salvador, devendo ser consagradas a Seu serviço. Manifestamos, assim fazendo, nossa gratidão por termos sido libertados da servidão do pecado pelo precioso sangue de Cristo. Nosso Salvador está continuamente trabalhando por nós. Subiu ao alto, e intercede pelos que foram adquiridos por Seu sangue. Ele alega diante de Seu Pai as agonias da crucifixão. Ergue as mãos feridas e intercede por Sua igreja, para que sejam livrados de cair em tentação.

Se nossa percepção fosse avivada para compreender esta maravilhosa obra de nosso Salvador por nossa redenção, nosso coração seria abrasado de profundo e ardente amor. Sentir-nos-íamos alarmados por nossa apatia e fria indiferença. Inteira devoção e espírito de beneficência, inspirados por um amor agradecido, comunicarão à mínima oferta, ao sacrifício voluntário, fragrância divina, emprestando à dádiva inapreciável valor. Depois, porém, de ofertar voluntariamente tudo quanto nos seja possível a nosso Redentor, por mais valioso que seja para nós, se considerarmos nossa dívida de gratidão para com Deus tal como em verdade é, tudo quanto possamos ter oferecido se nos afigurará demasiado insuficiente e pequenino. Os anjos tomam no entanto essas ofertas, que nos parecem pobres, apresentam-nas como fragrantes dádivas diante do trono, e são aceitas.

Não compreendemos, como seguidores de Cristo, nossa verdadeira posição. Não temos correta visão de nossas responsabilidades [377] como servos assalariados de Cristo. Ele nos adiantou a recompensa, em Sua vida de sofrimento e no sangue derramado, a fim de a Ele nos ligar em voluntária servidão. Tudo quanto de bom possuímos, é um empréstimo a nós feito por nosso Salvador. Ele nos fez mordomos. Nossas menores ofertas, os mais humildes serviços que prestamos, apresentados com fé e amor, podem ser dádivas consagradas para granjear almas para o serviço do Mestre, e promover-Lhe a glória. O interesse e a prosperidade do reino de Cristo deve ser superior a todas as outras considerações. Os que tornam seu prazer e interesse egoísta os principais objetivos de sua vida, não são mordomos fiéis.

Os que se negam a si mesmos a fim de beneficiar a outros, e se consagram com tudo quanto têm ao serviço de Cristo, experimentarão a felicidade que em vão procura o egoísta. Disse nosso Salvador: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo.” Lucas 14:33. “A caridade “não busca os seus interesses”. 1 Coríntios 13:5. Isto é o fruto daquele amor e beneficência desinteressados que caracterizavam a vida de Cristo. A lei de Deus em nosso coração, subordinará os próprios interesses às considerações elevadas e eternas.

Tesouros na terra

Cristo nos ordena buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça. É este nosso primeiro e mais alto dever. Nosso Mestre advertiu expressamente Seus servos a não acumularem tesouros na Terra; pois assim fazendo, o coração lhes ficaria nas coisas terrenas em vez de nas celestes. Eis onde muita pobre alma tem naufragado na fé. Têm ido diretamente em contrário à expressa ordem de nosso Senhor, e permitido que o amor do dinheiro se torne em sua vida a paixão dominante. São intemperantes em seus esforços para adquirir meios. Acham-se tão intoxicados pelo desejo de riquezas, como o ébrio com as bebidas.

Esquecem-se os cristãos de que são servos do Mestre; de que eles próprios, o tempo e tudo quanto lhes pertence, dEle são. Muitos são tentados, e a maioria vencida, pelas ilusórias seduções que Satanás [378] apresenta para empregarem seu dinheiro naquilo que maior lucro lhes trouxer. Poucos são os que consideram os sagrados direitos que Deus tem sobre eles quanto a darem o primeiro lugar às necessidades de Sua causa, atendendo por último aos próprios desejos. Poucos apenas põem na causa de Deus proporcionalmente a seus meios. Muitos empregaram o dinheiro em propriedades que precisariam vender antes de poderem pregá-lo na causa do Senhor, pondo-o assim em uso prático. Fazem disso uma desculpa para não fazer senão pouca coisa na causa de seu Redentor. Enterram tão verdadeiramente o dinheiro na terra, como o fez o homem da parábola. Roubam a Deus do dízimo que Ele reclama como Seu, e roubando-O assim, roubam-se a si mesmos do tesouro celeste.

Para benefício do homem

O plano da doação sistemática não pesa muito em ninguém. “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar.”350 Testemunhos Seletos 1 1 Coríntios 16:1, 2. Os pobres não são excluídos do privilégio de dar. Da mesma maneira que os ricos, eles podem ter uma parte nessa obra. A lição dada por Cristo quanto às duas moedinhas da viúva, mostra-nos que as menores ofertas voluntárias do pobre, se dadas de coração, com amor, são tão aceitáveis como os maiores donativos feitos pelos ricos.

Nas balanças do santuário, as dádivas dos pobres, impulsionadas pelo amor a Cristo, não são avaliadas segundo a importância doada, mas de acordo com o amor que inspira o sacrifício. As promessas de Jesus serão verificadas pelo pobre liberal, que pouco tem para dar mas oferece esse pouco de boa vontade, tão certamente como o serão pelo rico que dá de sua abundância. O pobre faz de seu pouco [379] um sacrifício que lhe custa realmente. Renuncia a algumas coisas de que na verdade necessita para o próprio conforto, ao passo que o rico oferece de sua abundância, e não sente falta, não renuncia a nada de que realmente necessite. Há, portanto, na oferta do pobre, uma santidade que não se encontra na do rico; pois este dá de sua fartura. A providência de Deus delineou todo o plano da doação sistemática para bem do homem. Sua providência não cessa nunca. Caso os servos de Deus a sigam nos caminhos que abre, serão todos obreiros ativos.

Os que retêm do tesouro de Deus, e acumulam os meios de que dispõem para seus filhos, põem em risco o interesse espiritual dos mesmos. Colocam suas propriedades, que são pedra de tropeço para eles, no caminho dos filhos, de modo a que nela tropecem para perdição. Muitos estão cometendo grande erro com relação às coisas desta vida. Economizam, privando-se a si e aos outros do bem que poderiam desfrutar do devido emprego dos meios que Deus lhes emprestou, e tornam-se egoístas e avarentos. Negligenciam os interesses espirituais, e tornam-se anões no desenvolvimento religioso, tudo por amor de acumular riqueza que não podem usar. Deixam aos filhos esses bens, e nove vezes em dez, eles são aos herdeiros ainda maior maldição do que lhes foram a eles próprios. Os filhos, confiados na propriedade dos pais, deixam freqüentemente de ser bem-sucedidos na vida presente, fracassando por completo no que respeita à vindoura. O melhor legado que os pais podem deixar aos filhos, é o conhecimento do trabalho útil, e o exemplo de uma vida caracterizada pela desinteressada beneficência. Por uma vida assim mostram eles o verdadeiro valor do dinheiro, que só deve ser apreciado pelo bem que pode realizar no suprir as próprias necessidades e as dos outros, e no promover o avançamento da causa de Deus.

A responsabilidade do pobre

Alguns estão prontos a dar segundo o que têm, e acham que Deus não tem mais a exigir deles, porquanto não possuem muitos recursos. Não têm rendas que possam poupar das necessidades [380] da família. Muitos desses, porém, poder-se-iam perguntar: Estou eu dando segundo poderia ter possuído? O desígnio de Deus era que suas faculdades físicas e mentais fossem empregadas. Alguns não têm aproveitado da melhor maneira as aptidões que Deus lhes concedeu. O homem foi premiado com o labor. Este foi ligado à maldição, pois que o pecado o tornou necessário. O bem-estar físico, mental e moral do homem torna necessária uma vida de útil labor. “Não sejais vagarosos no cuidado”, é a recomendação do inspirado apóstolo Paulo.

Pessoa alguma, seja rica seja pobre, pode glorificar a Deus por uma vida de indolência. Todo o capital possuído pelos pobres, é o tempo e as forças físicas; e muitas vezes isto é gasto no amor da comodidade e em descuidosa indolência, de modo que nada têm para levar a seu Senhor em dízimos e ofertas. Se a homens cristãos falta sabedoria para trabalhar da maneira mais proveitosa, e fazer dedicado emprego de suas faculdades físicas e mentais, deveriam ter humildade e mansidão de espírito para receber conselhos de seus irmãos, de modo que o melhor discernimento deles lhes possa suprir as deficiências. Muitos pobres agora satisfeitos com não fazer coisa alguma em benefício de seus semelhantes e para o progresso da causa de Deus, muito poderiam fazer, caso o quisessem. São tão responsáveis diante de Deus por seu capital de forças físicas, como é o rico pelo capital em dinheiro.

Alguns, que deviam pôr dinheiro nos tesouros de Deus, serão recipientes do mesmo. Pessoas há que agora são pobres, as quais poderiam melhorar suas condições mediante cuidadoso emprego do tempo, evitando os direitos de patentes, e restringindo a própria inclinação para se empenharem em especulações a fim de obterem recursos por meios mais fáceis do que por meio de paciente e perseverante labor. Se aqueles que não têm tido êxito na vida estivessem dispostos a receber instruções, exercitar-se-iam em hábitos de abnegação, e estrita economia, tendo assim a satisfação de serem [381] distribuidores e não recebedores da caridade. Há muito servo negligente. Caso fizessem o que está em seu poder, experimentariam tão grande bênção em ajudar os outros, que compreenderiam na verdade que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. Atos dos Apóstolos 20:35.

Devidamente orientada, a beneficência exercita as energias mentais e morais do homem, estimulando-as a uma ação muito sadia no beneficiar os necessitados e promover a causa de Deus. Caso os que têm meios compreendessem que são responsáveis diante de Deus por todo dinheiro que gastam, seriam muito menos suas supostas necessidades. Se a consciência estivesse viva, testificaria de desnecessárias apropriações para satisfação do apetite, do orgulho, da vaidade e do amor dos entretenimentos, e mostraria o desperdício do dinheiro do Senhor, que devia ter sido dedicado a Sua causa. Os que desperdiçam os bens do Senhor, hão de afinal dar contas de seu procedimento ao Mestre.

Advertência aos ricos

Se os professos cristãos empregassem menos de seus bens em adornar o corpo e em embelezar a própria morada, e gastassem menos em luxos extravagantes e destruidores da saúde em sua mesa, muito maiores seriam as somas que poderiam colocar no tesouro de Deus. Imitariam assim a seu Redentor, que deixou o Céu, Suas riquezas, Sua glória, e por amor de nós tornou-Se pobre, a fim de podermos possuir as riquezas eternas. Se somos demasiado pobres para devolver fielmente a Deus os dízimos e ofertas requeridos por Ele, somos por certo pobres demais para trajar-nos custosamente e comermos com luxo; pois desperdiçamos assim o dinheiro de nosso Senhor em satisfações nocivas, para agradar-nos e glorificar-nos a nós mesmos. Cumpre examinar-nos diligentemente: Que tesouro asseguramos nós no reino de Deus? Somos ricos para com Deus?

Jesus deu a Seus discípulos uma lição sobre a cobiça. “E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A propriedade de um homem rico tinha produzido com abundância; e arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei [382] isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” Lucas 12:16-21.

A extensão e a felicidade da vida não consiste na quantidade de bens terrestres. Esse rico insensato, em seu supremo egoísmo, depositara para si tesouros que não podia usar. Vivera só para si. Aproveitara-se de outros nos negócios, fizera contratos astutos, e não exercera misericórdia ou o amor de Deus. Roubara o órfão e a viúva, e defraudara seus semelhantes a fim de ajuntar a seu crescente depósito de bens terrenos. Ele poderia ter depositado seu tesouro no Céu, em sacos que não envelhecem; mas devido a sua cobiça perdeu ambos os mundos. Aqueles que, humildemente, usam para glória de Deus os meios que lhes são confiados, receberão afinal seu tesouro da mão do Mestre, com a bênção: “Bem está bom e fiel servo; … entra no gozo do teu Senhor.” Mateus 25:23.

Quando consideramos o infinito sacrifício feito pela salvação dos homens, ficamos abismados. Quando o egoísmo clama pela vitória no coração dos homens, e eles são tentados a reter do que poderiam fazer em qualquer boa obra, cumpre-lhes robustecer os princípios do direito ao pensamento de que Aquele que era rico dos tesouros inapreciáveis do Céu, deixou tudo isso, fazendo-Se pobre. Não tinha onde reclinar a cabeça. E todo esse sacrifício foi feito em nosso favor, para que tivéssemos riquezas eternas.

Cristo palmilhou a estrada da abnegação e do sacrifício que todos os Seus discípulos têm de trilhar, se quiserem afinal ser exaltados com Ele. Abriu o coração às dores que o homem tem de sofrer. A mente dos mundanos fica muitas vezes embotada. Só podem ver as coisas terrenas, as quais eclipsam a glória e o valor das celestiais. Os homens atravessarão terra e mar pelo ganho deste mundo, e suportarão privações e sofrimentos no intuito de conseguirem seu objetivo; todavia afastar-se-ão das atrações celestes, e não apreciarão as riquezas eternas. Os relativamente pobres, são os que normalmente fazem o máximo para sustentar a causa de Deus. São generosos com o pouco que têm. Fortaleceram os impulsos generosos com as contínuas liberalidades. Quando seus gastos pesavam fortemente nas rendas, não lhes deixavam margem ao arraigamento da paixão das riquezas terrestres, nem davam lugar às mesmas.

Muitos, porém, ao começarem a ajuntar riquezas terrenas, põem-se a calcular quando estarão de posse de determinada quantia. Na ansiedade de acumular fortunas para si, deixam de enriquecer-se para com Deus. A Sua beneficência não se mantém a par com o que acumulam. À medida que lhes cresce a paixão pelas riquezas, as afeições se vão após o seu tesouro. O aumento dos bens lhes robustece o ansioso desejo de mais, até que alguns consideram exigente e injusta a contribuição de um décimo para o Senhor. Diz a Inspiração: “Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração.” Salmos 62:10. Muitos têm dito: “Se eu fosse tão rico como Fulano, multiplicaria minhas ofertas ao tesouro de Deus. Não faria com minha riqueza senão promover a causa do Senhor.” Ele tem provado alguns destes dando-lhes riquezas; com elas, porém, a tentação se tornou mais forte, e a beneficência tornou-se-lhes incomparavelmente menor que nos dias de sua pobreza. A mente e o coração foram tomados do empolgante desejo de possuir maiores fortunas, e fizeram-se idólatras.

Aliança perfeita

Aquele que apresenta aos homens riquezas infinitas, e uma vida eterna de bem-aventurança em Seu reino como recompensa da obediência fiel, não aceitará um coração dividido. Vivemos entre os perigos dos últimos dias, quando tudo é de molde a desviar a mente [384] e engodar as afeições, afastando-as de Deus. Nosso dever só será discernido e apreciado quando visto à luz que irradia da vida de Cristo. Como o Sol se ergue no oriente e se move para o ocidente, enchendo de luz o mundo, assim o verdadeiro seguidor de Cristo será uma luz para o mundo. Sairá como brilhante luz na Terra, para que os que se encontram em trevas sejam iluminados e aquecidos pelos raios que dele emanam. Diz Cristo acerca de Seus seguidores: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.”

Nosso grande Exemplo era abnegado, e hão de Seus professos seguidores ter uma orientação tão marcadamente contrária à Sua? O Salvador deu tudo pelo mundo agonizante, não Se poupando sequer a Si mesmo. A igreja de Deus está adormecida. Acham-se enfraquecidos pela inatividade. De todas as partes do mundo chegam-nos vozes: “Passa… e ajuda-nos”; não há, porém, movimento responsivo. Faz-se aqui e ali débil esforço; uns poucos há que se mostram dispostos a cooperar com seu Mestre; esses são no entanto deixados a labutar quase sozinhos. Não há senão um missionário* nosso em todo o vasto campo dos países estrangeiros. [Nota: Estas palavras foram escritas em 1875, pouco depois da partida do Pastor J. N. Andrews para a Europa, e antes das missões estrangeiras se tornarem assunto de interesse para todos os membros da igreja (Depositários White).]

A verdade é poderosa, mas não é posta em prática. Não basta pôr simplesmente o dinheiro sobre o altar. Deus requer homens, voluntários, que levem a verdade a outras nações, e línguas e povo. Não é nosso número nem riquezas que nos darão assinalada vitória; é antes o devotamento à obra, coragem moral, amor ardente pelas almas e infatigável e incessante zelo.

A bênção da beneficência

Muitos têm considerado a nação judaica como um povo digno de dó por terem sido sempre solicitados a contribuir para sustento de sua religião; mas Deus, que criou o homem e lhe proporcionou todos os benefícios de que desfruta, sabia o que lhes seria melhor. [385] E mediante Sua bênção, tornava os nove décimos mais proveitosos para eles do que os dez sem essa bênção. Se alguém, por cobiça, roubava a Deus ou Lhe levava uma oferta imperfeita, seguia-se com certeza prejuízo ou ruína. Deus conhece os motivos do coração. Está familiarizado com os desígnios dos homens, e retribuir-lhes-á a seu tempo segundo aquilo a que fizeram jus.

O sistema especial de dízimos baseia-se em um princípio tão duradouro como a lei de Deus. Esse sistema foi uma bênção ao povo judeu, do contrário o Senhor não lho haveria dado. Assim será igualmente uma bênção aos que o observarem até ao fim do tempo. Nosso Pai celeste não instituiu o plano da doação sistemática com o intuito de enriquecer-se, mas para que o mesmo fosse uma grande bênção ao homem. Viu que o referido sistema era exatamente o que o homem necessitava.

As igrejas mais sistemáticas e liberais em sustentar a causa de Deus, são espiritualmente as mais prósperas. A verdadeira liberalidade no seguidor de Cristo, identifica-lhe os interesses com os de seu Mestre. No trato de Deus com os judeus e com Seu povo até ao fim dos tempos, Ele requer doação sistemática proporcional aos rendimentos. O plano da salvação foi estabelecido pelo infinito sacrifício do Filho de Deus. A luz do evangelho que irradia da cruz de Cristo, repreende o egoísmo, e anima a liberalidade e a beneficência. Não é para lamentar o haver crescentes pedidos. Em Sua providência, Deus está chamando Seu povo a sair da limitada esfera de ação em que vivem, a fim de entrarem em maiores empreendimentos. Ilimitado é o esforço requerido nesta época em que a treva moral está cobrindo o mundo. O mundanismo e a cobiça estão minando a vitalidade do povo de Deus. Cumpre-lhes compreender que é a misericórdia dEle que faz com que se multipliquem as solicitações de meios. O anjo de Deus coloca os atos de beneficência ao lado da oração. Disse ele a Cornélio: “As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para [386] memória diante de Deus.” Atos dos Apóstolos 10:4.

Em Seus ensinos, disse Cristo: “Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?” Lucas 16:11. A saúde espiritual e a prosperidade da igreja dependem, em alto grau, de sua doação sistemática. É como o sangue vital que deve fluir por todo o ser, dando vida a cada membro do corpo. Ela acrescenta o amor às almas de nossos semelhantes; pois por meio da abnegação e do sacrifício, somos postos em mais íntima relação com Cristo, que Se fez pobre por amor de nós. Quanto mais empregamos na causa de Deus para ajudar na salvação de almas, tanto mais achegadas nos serão elas ao coração. Fosse nosso número metade do que é, e fôssemos todos obreiros consagrados, e teríamos um poder que faria tremer o mundo. Aos ativos obreiros dirige Cristo essas palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” Mateus 28:20.

A todo o mundo

Havemos de encontrar oposição que se levanta por motivos egoístas e por causa de fanatismo e preconceitos; todavia, com intrépida coragem e viva fé, devemos semear sobre todas as águas. Poderosos são os agentes de Satanás; havemos de enfrentá-los e precisamos combatê-los. Nossos trabalhos não se devem limitar ao próprio país. O campo é o mundo; a seara está madura. A ordem dada por Cristo aos discípulos justamente antes de ascender ao Céu, foi: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15.

Sentimo-nos imensamente penalizados ao ver alguns de nossos pastores agitando-se em torno das igrejas, fazendo ao que parece algum esforço, mas não tendo afinal senão quase nada para apresentar como fruto de seu labor. O campo é o mundo. Saiam eles para o mundo incrédulo, e trabalhem para converter almas à verdade. Chamamos a atenção de nossos irmãos e irmãs para o exemplo de Abraão subindo o Monte Moriá a fim de oferecer, segundo o mando de Deus, seu único filho em sacrifício. Ali havia obediência e sacrifício. Moisés encontrava-se em uma corte real, com a perspectiva de uma coroa. Desviou-se, porém, do engodo tentador, e “recusou [387] ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito”. Hebreus 11:24-26.

Os apóstolos não reputaram preciosa a própria vida, regozijando-se em ser considerados dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Paulo e Silas perderam tudo. Suportaram açoites, e foram atirados, não com brandura, sobre o chão frio de uma prisão, em posição por demais penosa, com os pés erguidos e presos a um tronco. Chegaram então aos ouvidos do carcereiro queixas e murmurações? Oh, não! Da prisão interior irromperam vozes quebrando o silêncio da meia noite com hinos de alegria e louvor a Deus. Esses discípulos eram animados por profundo e fervoroso amor pela causa de seu Redentor, pela qual sofriam.

À medida que a verdade de Deus nos enche o coração, absorve-nos as afeições e nos rege a vida, também nós consideraremos alegria sofrer por amor da verdade. Nenhuma parede de prisão, nenhuma358 Testemunhos Seletos 1 estaca de martírio, nos pode intimidar ou impedir na realização da grande obra.

“Vem, ó Minha Alma, ao Calvário!”

Observai a vida humilde do Filho de Deus. Foi um “homem de dores, e experimentado nos trabalhos”. Isaías 53:3. Contemplai-lhe a ignomínia, a agonia do Getsêmani, e aprendei o que seja abnegação. Sofremos nós privações? Sofreu-as Cristo, a majestade do Céu. Essa pobreza, porém, foi por amor de nós que Ele suportou. Achamo-nos classificados entre os ricos? O mesmo se deu com Ele. Consentiu, no entanto, por amor de nós, bem fazer-Se pobre ,para que por meio dessa pobreza nos tornássemos ricos. Temos exemplificada em Cristo a abnegação. Seu sacrifício não consistiu apenas em deixar as reais cortes celestes, em ser julgado por homens ímpios como criminoso e declarado culpado, e ser entregue à morte do malfeitor, mas em o [388] peso dos pecados do mundo. Sua vida nos reprova a indiferença e frieza. Achamo-nos próximo ao fim do tempo, tempo em que Satanás desceu, tendo grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo. Está operando com todo o engano da injustiça naqueles que perecem. Por nosso grande Líder foi deixado em nossas mãos o conflito, para que o levemos avante com vigor. Não estamos fazendo a vigésima parte do que poderíamos fazer se estivéssemos alerta. A obra é retardada pelo amor da comodidade e falta do espírito de abnegação de que nosso Salvador nos deu exemplo em Sua vida. Carecemos de cooperadores de Cristo, de homens que sintam a necessidade de mais extensos esforços. A obra de nossos prelos não deve diminuir, mas duplicar. Devem-se estabelecer escolas em vários lugares a fim de educar nossos jovens em preparo para seu trabalho na divulgação da verdade.

Desperdiçamos já grande parte do tempo, e os anjos levam ao Céu o relatório de nossas negligências. Nosso estado de letargia e falta de consagração nos tem feito perder preciosas oportunidades enviadas por Deus na pessoa dos que se achavam habilitados a ajudar-nos na necessidade que enfrentamos. Oh! quanto necessitamos de nossa Ana Moore* para ajudar-nos agora a chegar a outras nações! Seu vasto conhecimento de campos missionários, dar-nos-ia acesso a outras línguas das quais não nos é possível aproximar. Deus trouxe essa dádiva para o meio de nós a fim de satisfazer a emergência em que nos achamos; mas não a apreciamos, e Ele no-la tirou. Ela descansa de seus labores, mas suas obras de abnegação a seguem. É de deplorar que nossa obra missionária fosse retardada por falta do conhecimento da maneira de encontrar acesso às diferentes nações e localidades no grande campo da seara. [*Nota: Ana Moore, missionária de experiência na África, havendo-se tornado adventista do sétimo dia enquanto se achava no serviço da missão, perdeu o apoio da junta missionária que a enviara, voltando assim aos Estados Unidos. Suas aptidões e talentos não foram plenamente apreciados e utilizados em Battle Creek (Depositários do Patrimônio Literário White).]

Angustiamo-nos em espírito por se haverem perdido para nós alguns dons que agora poderíamos possuir, se tão-somente houvéssemos estado alerta. Tem-se deixado de enviar obreiros aos [389] brancos campos da seara. Cumpre ao povo de Deus humilhar o coração diante dEle, e na mais profunda humilhação rogar que o Senhor nos perdoe a apatia e a condescendência egoísta, e apague o vergonhoso registro de deveres negligenciados e privilégios não aproveitados. Ao contemplar a cruz do Calvário, o verdadeiro cristão abandonará a ideia de restringir suas ofertas àquilo que nada lhe custe, e ouvirá um sonido de trombeta:

“Vai trabalhar em Minha vinha;

descanso por fim haverá.”

Quando Jesus estava prestes a ascender ao alto, apontou aos campos da colheita, e disse a Seus seguidores: “Ide a todo o mundo, e pregai o evangelho.” Marcos 16:15. “De graça recebestes, de graça dai.” Mateus 10:8. Negaremos o próprio eu de modo que a seara a desperdiçar-se possa ser ceifada?

Deus pede talentos de influência e de meios. Recusar-nos-emos a obedecer? Nosso Pai celestial concede dons e solicita parte de volta, a fim de provar se somos dignos de possuir o dom da vida eterna.

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As ofertas das crianças podem ser aceitáveis e aprazíveis a Deus. Segundo o espírito que anima as dádivas, será o valor das mesmas. Os pobres, seguindo a direção do apóstolo e pondo de parte semanalmente uma pequena soma, ajudam a encher o tesouro, e suas ofertas são inteiramente aceitáveis a Deus; pois eles fazem tão grandes sacrifícios e até maiores que seus irmãos mais afortunados. O plano da doação sistemática demonstrar-se-á uma salvaguarda para toda família contra a tentação de gastar dinheiro em coisas desnecessárias; e demonstrar-se-á uma bênção especialmente aos ricos, preservando os de condescender com extravagâncias. — Testimonies for the [390] Church 3:412 (1875).

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