Lição 7 – 10 a 17 de agosto: “Ensinando discípulos – parte 1”
Autor: Natal Gardino
Editor: André Oliveira Santos: [email protected]
Revisora: Rosemara Santos
A lição desta semana e da próxima tratam de uma grande seção no livro de Marcos (capítulos 8:27 a 10:45) em que Jesus ensina lições que preparam os discípulos para os eventos que viriam. Curiosamente, essa grande seção está situada entre duas curas de pessoas cegas (8:22-26 e 10:46-52). É possível que Jesus estivesse revelando a cegueira dos discípulos em relação ao real sentido de Sua missão, e que Ele quisesse fazer com que enxergassem corretamente.
A cura em duas etapas
Somente Marcos registra a cura de um cego em duas etapas (Mc 8:22-26). Além disso, essa é a única cura bíblica que ocorreu desse modo. Não há explicação para isso. Alguns estudiosos sugerem que a cura teria sido proporcional à fé do homem, que não foi suficiente. Mas isso é muito improvável, pois nesse caso haveria muitas outras pessoas que também teriam tido curas incompletas.
Outros sugerem que, assim como um cozinheiro às vezes “erra a mão” na quantia do sal para mais ou para menos, Jesus teria precisado de um “segundo toque” para completar o que faltou. Tal ideia é absurda. Tudo o que Jesus fazia e faz é perfeito.
Contudo, há uma proposta que parece lógica: ao curar o cego em duas etapas, é possível que Jesus estivesse ensinando fazendo uma referência aos discípulos que ainda não enxergavam direito Sua missão e Seu ministério. Eles precisariam de mais um “toque”. Mas isso dependia de uma entrega total da parte deles. Os discípulos precisavam abandonar ideias distorcidas e confiar Nele.
Jesus glorificado ao lado de Elias e Moisés
O relato da transfiguração de Jesus junto a Moisés e Elias é impressionante. Ele está registrado em Mateus 17:1 a 8, Marcos 9:2 a 8 e Lucas 9:28 a 36). Nos três relatos, uma misteriosa afirmação profética de Jesus aparece imediatamente antes dessa cena, como se fosse uma preparação para ela. A afirmação é: “Em verdade lhes digo que, dos que aqui se encontram, existem alguns que não passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o Reino de Deus” (Mc 9:1; Mt 16:28; Lc 9:27).
Então, dias depois, Jesus cumpre essa profecia de modo figurado: “Sobre o monte, o futuro reino da glória foi representado em miniatura: Cristo, o Rei; Moisés, como representante dos santos ressuscitados; e Elias, dos que serão trasladados” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2121], p. 337). Que Moisés ressuscitou da morte é inferido em Judas 1:9 e Romanos 5:14. Caso contrário, Moisés não poderia ter aparecido, considerando o fato de que os mortos estão inconscientes (Ec 9:5, 6, 10).
Um detalhe muito curioso no texto é que Moisés e Elias “conversavam” com Jesus. O assunto principal de sua conversa era “a esperança do mundo, a salvação de toda criatura humana” (O Desejado de Todas as Nações, p. 338). Eles haviam sido levados antecipadamente para o Céu como uma representação de todos os que Cristo salvaria. O pagamento na cruz viria mais tarde. A ressurreição de Moisés e a trasladação de Elias foram como que um “cheque pré-datado”. Se Jesus desistisse de Sua missão ou se Ele falhasse, caindo em alguma tentação, esse “cheque” ficaria sem fundos.
Nesse caso, Moisés e Elias (assim como Enoque) não teriam mais um Salvador, e por isso teriam que voltar à Terra e morrer, sem qualquer esperança de ressurreição. O mesmo aconteceria com cada ser humano que já viveu e que vive na Terra. Os que já morreram jamais ressuscitariam e os que agora vivem não teriam nenhuma esperança além da sepultura. Por isso, Moisés e Elias, além de confortarem o Salvador como mensageiros do Céu, também O motivaram a permanecer firme em Sua missão. Graças a Deus, Jesus suportou tudo até o fim e Se tornou o nosso Salvador!
Ninguém deve se mutilar, mas precisa ser abnegado
Em abril de 2003, o jovem Aron Ralston foi praticar alpinismo sozinho em uma região desértica nos Estados Unidos, sem avisar ninguém. Durante sua prática, caiu entre duas enormes paredes de rocha e, com a força da queda, algumas pedras que também caíram prenderam seu braço em um afunilamento muito apertado. Ele ficou 5 dias nesse lugar, preso pelo braço, sem esperança alguma de que alguém o encontrasse. Ele bebeu toda a sua água e depois precisou recolher na garrafa a própria urina para beber e continuar vivo. Ele sabia que morreria rapidamente de desidratação se continuasse ali. Assim, ele tomou uma decisão radical em favor de sua vida: com um canivete que estava cego, pois tinha sido usado em vão para cavar entre as pedras, ele teria que cortar o braço que estava preso, mesmo que isso lhe causasse extrema dor. E foi o que ele fez. Por isso, está vivo hoje. Sua história se tornou um filme em 2011, com o título “127 Horas”.
Muitas pessoas já mutilaram partes do corpo por entenderem que foi exatamente isso o que Jesus quis dizer em Marcos 9:43 a 48. Agostinho de Hipona, ou “Santo Agostinho”, como é conhecido, foi um dos mais ilustres a fazer isso. Ele amputou seu próprio órgão sexual para não cair em tentação e não perder o Céu. Muitas outras pessoas equivocadas já fizeram isso ao longo dos últimos dois milênios.
No entanto, não foi isso que Jesus quis dizer. Há muitas coisas que servem de empecilho e nos afastam do Céu. São essas coisas que devem ser “amputadas” de nossa vida. Ninguém deve se mutilar, mas devemos ser abnegados! Quais tipos de músicas, filmes, séries, entretenimentos, amizades, lugares ou coisas nos impedem de ter um relacionamento pleno com Jesus? São essas coisas que precisam ser abandonadas.
Além disso, devem ser tomadas firmes decisões em favor da vida que o Céu quer oferecer. Jó, por exemplo, não arrancou os olhos para não cair em tentação, mas diz que fez “uma aliança com os seus olhos” para não cobiçar as moças que lhe parecessem atraentes e tentadoras. Podemos nos decidir ao lado de Jesus e fazer uma aliança de corpo e alma com Ele para fugir da tentação (1Ts 4:3-7).
Conclusão
Jesus estava procurando fazer os discípulos enxergarem corretamente, conhecendo plenamente a verdade. Esse ainda é Seu desejo para nós (1Tm 2:4). Que não arranquemos literalmente os olhos, mãos ou pés, mas que os consagremos ao Senhor enquanto Ele nos ajuda a enxergar a verdade de maneira cada vez mais clara.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Natal Gardino é mestre em Novo Testamento e doutor em Ministério pela Andrews University. Iniciou seu ministério em 2003 como pastor distrital e atuou em quatro diferentes regiões. Desde 2022 é professor de Novo Testamento no Seminário Adventista de Teologia na FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Irineide Gardino, psicóloga clínica. O casal tem dois filhos: Kaléo e Nicholas.