Marcos Capitulo 1

A pregação de João Batista

Mateus 3.1-12; Lucas 3.1-9,15-17; João 1.19-28

1Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2Como está escrito na profecia de Isaías:

“Eis que envio o meu mensageiro

adiante de você,

o qual preparará o seu caminho.

3Voz do que clama no deserto:

Preparem o caminho do Senhor,

endireitem as suas veredas.”

4E foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados. 5E toda a região da Judeia e todos os moradores de Jerusalém iam até ele. E, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. 6A roupa de João era feita de pelos de camelo. Ele usava um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

7E João pregava, dizendo:

— Depois de mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desamarrar as correias das suas sandálias. 8Eu batizei vocês com água; ele, porém, os batizará com o Espírito Santo.

O batismo de Jesus

Mateus 3.13-17; Lucas 3.21-22

9Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. 10Logo ao sair da água, Jesus viu os céus se abrindo e o Espírito descendo como pomba sobre ele. 11Então veio uma voz dos céus, que dizia:

— Você é o meu Filho amado; em você me agrado.

A tentação de Jesus

Mateus 4.1-11; Lucas 4.1-13

12E logo o Espírito conduziu Jesus ao deserto, 13onde ficou durante quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Estava com as feras, e os anjos o serviam.

O começo do ministério na Galileia

Mateus 4.12-17; Lucas 4.14-15

14Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de Deus. 15Ele dizia:

— O tempo está cumprido, e o Reino de Deus  está próximo; arrependam-se e creiam no evangelho.

Jesus chama quatro pescadores

Mateus 4.18-22; Lucas 5.1-11

16Caminhando junto ao mar da Galileia, Jesus viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. 17Jesus lhes disse:

— Venham comigo, e eu farei com que sejam pescadores de gente.

18Então eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. 19Pouco mais adiante, Jesus viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, 20e logo os chamou. E eles seguiram Jesus, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados.

A cura de um endemoniado em Cafarnaum

Lucas 4.31-37

21Depois, entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, Jesus foi ensinar na sinagoga. 22E maravilhavam-se com a sua doutrina, porque os ensinava como alguém que tem autoridade e não como os escribas. 23E logo apareceu na sinagoga um homem possuído de espírito imundo, o qual gritou:

24— O que você quer conosco, Jesus Nazareno? Você veio para nos destruir? Sei muito bem quem você é: o Santo de Deus!

25Mas Jesus o repreendeu, dizendo:

— Cale-se e saia desse homem.

26Então o espírito imundo, agitando-o violentamente e gritando em alta voz, saiu dele. 27Todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si:

— Que é isto? Uma nova doutrina! Com autoridade ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!

28E a fama de Jesus se espalhou depressa em todas as direções, por toda a região da Galileia.

A cura da sogra de Pedro

Mateus 8.14-15; Lucas 4.38-39

29E, saindo da sinagoga, foram, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30A sogra de Simão estava de cama, com febre; e logo deram essa notícia a Jesus. 31Então, aproximando-se, Jesus pegou na mão dela e fez com que ela se levantasse. A febre a deixou, e ela passou a servi-los.

Muitas outras curas

Mateus 8.16-17; Lucas 4.40-41

32À tarde, depois do pôr do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoniados. 33Toda a cidade estava reunida à porta da casa. 34E ele curou muitos que se achavam doentes de todo tipo de enfermidades. Também expulsou muitos demônios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era.

Jesus prega nas sinagogas

Lucas 4.42-44

35Tendo-se levantado de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus saiu e foi para um lugar deserto, e ali orava. 36Simão e os que estavam com ele procuraram Jesus por toda parte. 37Quando o encontraram, lhe disseram:

— Todos estão à sua procura.

38Jesus, porém, lhes disse:

— Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que eu pregue também ali, pois foi para isso que eu vim.

39Então ele foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demônios.

A cura de um leproso

Mateus 8.1-4; Lucas 5.12-16

40Um leproso se aproximou de Jesus e lhe pediu, de joelhos:

— Se o senhor quiser, pode me purificar.

41E Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou nele e disse:

— Quero, sim. Fique limpo!

42No mesmo instante, a lepra desapareceu dele, e ele ficou limpo. 43E, advertindo-o severamente, logo o despediu. 44E lhe disse:

— Olhe! Não conte nada a ninguém, mas vá, apresente-se ao sacerdote e ofereça,  pela sua purificação, o sacrifício que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.

45Mas, tendo ele saído, começou a proclamar muitas coisas e a divulgar a notícia, a ponto de Jesus não poder mais entrar publicamente em nenhuma cidade. Por isso, permanecia fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham ao encontro dele.

Comentários

Por volta de 64dC., o Imperador Nero culpou os cristãos de Roma pelo grande incêndio que a consumiu e deu início a uma perseguição sistemática e ao martírio dos cristãos da cidade. Um dos propósitos do Evangelho de Marcos foi o de encorajar esses cristãos sofredores durante sua terrível provação.

No Evangelho de Mateus Jesus é identificado como o Messias

No Evangelho de Lucas Jesus é o homem perfeito

Marcos enfatiza Jesus como o servo sofredor

Conhecido como ‘a história da Paixão’, quase a metade do Evangelho de Marcos é dedicada aos ensinos do servo sofredor. Aqueles que Jesus chama, portanto, segundo o Evangelho de Marcos, são desafiados a um discipulado que envolve ‘tomar a cruz’.

Os títulos atribuídos a Cristo neste Evangelho são: ‘Filho de Deus’, ‘Filho do Homem’ e ‘Messias’.

Com ‘Filho de Deus’, Marcos destaca a divindade de Jesus e Sua autoridade divina. Ele ensinava com autoridade, podia perdoar pecados, exercia poder sobre os demônios e espíritos imundos, sobre a natureza, a lei e o Templo.

Quando Marcos retrata Jesus como o ‘Filho do Homem’, o termo enfatiza a humanidade de Cristo. Mas, vai além. O Filho do Homem veio para sofrer, servir e dar a vida em resgate por muitos. É o Filho do Homem que virá no fim do tempo com poder e grande glória. Ele tem autoridade mesmo sobre o sábado. Jesus é o Messias, mas não é o tipo de Messias esperado pelo povo, alguém com pompa e glória formal., que governaria no trono de Davi e derrotaria os romanos.

Marcos exorta os cristãos em sofrimento pela perseguição à verdade de que Jesus era um Messias que fora rejeitado, sofrera e por fim morrera. Marcos ensina que os discípulos de Jesus devem esperar para si a mesma experiência do Messias. “O servo não é maior que o senhor”.

Em Marcos o tema do grande conflito é evidente. Há o registro de lutas constantes de Jesus contra as forças do mal, com o próprio Satanás e as pessoas possuídas por demônios. Ele lutou com forças da natureza, com os líderes religiosos e com a própria família.

O Evangelho de Marcos nos deixa cientes de que o discipulado cristão, em especial à medida que nos aproximamos do fim do tempo, envolve sofrimento e conflito. Em meio a tudo isso, devemos vigiar e aguardar o grandioso evento do retorno de Cristo.

Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, Sua vida e morte, suas palavras e feitos mudaram para sempre o curso da vida de homens e mulheres no mundo. Ele estabeleceu as bases da esperança no futuro. Essas boas novas nos são apresentadas no “Evangelho Segundo Marcos”, provavelmente o mais antigo relato que temos sobre Jesus, e também o mais breve dos Evangelhos.

Esboço do Capítulo 1

I- Prólogo: preparo para a missão (1:1-13)

II- Parte 1 – Ações missionárias na Galileia e em regiões vizinhas (1: 14 – 8:30)

. Missão na Galileia (1:14 – 6:29)

No primeiro verso do seu evangelho, Marcos resume o tema não só do capítulo inicial, mas de todo o seu relato: o “evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1). Numa época em que as pessoas muitas vezes eram seduzidas pelo fascínio de um “evangelho diferente daquele que já receberam” (Gl 1:9), Marcos introduz o relato com uma declaração de abertura transcendente, a fim de destacar a essência da religião cristã: as boas-novas a respeito de Jesus Cristo. Jesus revelou o evangelho não apenas àqueles que foram restaurados pelo Seu toque de cura, mas também a uma comunidade de fé diversificada e que precisava crer Nele. De acordo com a perspectiva de Marcos, Jesus, em última análise, é o próprio evangelho.

1. “O evangelho de Jesus Cristo”. Para Marcos, o evangelho (em grego, euangelion) são as boas-novas de Deus, fundamentadas nas Sagradas Escrituras, proclamadas por Cristo nas sinagogas e reveladas em Seu ministério terreno. Como tal, as boas-novas de Deus também são, na verdade, as boas-novas de Jesus.

2. “Jesus Cristo”. Marcos apresenta Jesus nas diversas facetas de Seu ministério. Jesus é o Filho de Deus e o Santo. Ele também é descrito como um grande mestre e pregador, bem como um médico compassivo, que atuou na Galileia e em outras regiões.

Princípio

Cada um dos quatro evangelhos do NT começa fazendo referência ao “princípio” de Jesus Cristo. O evangelho de Mateus começa com Suas origens ancestrais, especificamente Sua linhagem humana, como “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1:1). Lucas revela, no prefácio do seu relato, que esse evangelho começa no “princípio” do ministério público de Jesus, conforme narrado por testemunhas oculares (Lc 1:2). O “princípio” de João é especial, porque se refere a uma época antes do alvorecer da história humana, um tempo que precede o “princípio” do próprio Gênesis (Gn 1:1). O “princípio” de João remonta à eternidade de Jesus Cristo: “No princípio era a Palavra” (Jo 1:1, NVI). Em contraste, Marcos começa seu relato com estas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1). Isto é, ele pretende narrar o evangelho de Jesus Cristo desde seu início.

Evangelho de Jesus Cristo

Com exceção de Marcos, nenhum outro escritor dos evangelhos usa a expressão “o evangelho de Jesus” (em grego, euangelion I?sou). Essa expressão é encontrada apenas em Marcos. Ela nos mostra que Jesus e Seu evangelho constituem o foco e a essência da narrativa de Marcos.

Assim, faremos bem em nosso estudo de Marcos se começarmos perguntando: O que é o evangelho? A partir dos estudos da lexicografia, a palavra grega euangelion, geralmente traduzida como “evangelho”, tem mais de um significado. Essa palavra se refere às “boas-novas de Deus para os seres humanos, boas-novas como proclamação”. Também se refere a “um livro que trata da vida e dos ensinos de Jesus, um relato do evangelho”. O termo euangelion também está relacionado com os “detalhes relativos à vida e ao ministério de Jesus, as boas-novas de Jesus” (William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 403). Com essas definições em mente, podemos concluir que Marcos usa a expressão “evangelho” para descrever os atos misericordiosos de Jesus durante Seu ministério, bem como para designar a ideia do próprio evangelho como “boas-novas” de Deus.

Os atos de Jesus como evangelho

Marcos apresenta o “evangelho de Jesus Cristo” no contexto de Sua atividade em favor da humanidade. Assim, desde o início do evangelho, Marcos retrata as boas-novas como são vistas no ensino e na pregação de Jesus (Mc 1:22, 39), no Seu domínio sobre os espíritos imundos (Mc 1:27) e em Seus vários atos de cura. Esses atos de cura incluem a restauração da sogra de Simão Pedro (Mc 1:30, 31) e de muitas pessoas que sofriam com diversas doenças (Mc 1:32, 34, 40-42).

Ao estudarmos os evangelhos, notamos que João inicia seu evangelho com a preexistência do Logos (o Verbo ou Palavra) e as credenciais de Jesus, conforme apresentadas por João Batista. Mateus e Lucas dedicam ampla seção às origens humanas de Jesus e aos Seus primeiros anos na Terra. Contudo, Marcos, desde o início, apresenta Jesus como alguém que realiza ações – elas são centrais à narrativa. Assim, o relato de Marcos é o evangelho em movimento.

Evangelho como “boas-novas” a serem pregadas

O evangelho de Marcos também está alicerçado na Palavra de Deus, especificamente em Sua revelação. Imediatamente após a declaração do primeiro verso, o “princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1), Marcos cita as Escrituras hebraicas, incluindo versos de Isaías (Mc 1:2, 3) e uma alusão às 70 semanas de Daniel (Mc 1:15; Dn 9:24-27). Aqui vemos claramente o evangelho como conteúdo, como “boas-novas”, ou notícias. Marcos define essa notícia como o “evangelho de Deus” (Mc 1:14). Portanto, as boas-novas são uma proclamação divina à humanidade.

Em resumo, Marcos mostra que o evangelho é tanto a Palavra de Deus quanto os atos de Jesus durante Seu ministério terreno.

Jesus Cristo

Outro conjunto importante de palavras no início do evangelho de Marcos é “Jesus Cristo”. De que maneira Marcos retrata Jesus?

Marcos retrata Jesus como o “Filho de Deus” (Mc 1:1), o “Filho do Homem” (Mc 9:31) e o “Filho de Davi” (Mc 10:47). As credenciais divinas de Jesus são apresentadas no início do evangelho de Marcos.

Jesus como o Filho de Deus

Na encarnação, Jesus, o Filho eterno, assumiu o papel redentivo em submissão à autoridade de Deus, o Pai (Mc 1:11), colocando-Se voluntariamente sob a orientação do Pai e sob a direção do Espírito Santo (Mc 1:10, 11). A descrição de Jesus como o Filho do Homem é uma referência a Daniel 7. Ao atribuir a identidade e o título de Filho do Homem a Jesus Cristo, Marcos confirma que o reino de Deus (Dn 7:14, 27) pertence a Jesus e que esse reino – naquela época – estava próximo (Mc 1:15).

Marcos descreve amplamente os atos de Jesus como ser humano, mas não antes de apresentá-Lo primeiro como Ser divino.

Jesus como o Santo

Em harmonia com a ideia de Jesus como divino, Marcos também apresenta Jesus Cristo como o “Santo de Deus” (Mc 1:24). Essa pode ser uma alusão a Isaías 6, em que o Senhor é apresentado como santo (Is 6:3). Essa é a expressão usada pelos seres celestiais para se referir ao Senhor. Em Marcos, até os demônios reconhecem Jesus como o Santo (em grego, ho hagios; Mc 1:24), isto é, eles reconhecem que Jesus é totalmente puro (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 11). A pureza é a essência do ser de Deus. Portanto, os demônios ou espíritos imundos não podem resistir diante de Jesus. Além disso, reconhecem que serão destruídos diante da Sua presença (Mc 1:24).

Jesus como Mestre e Pregador

Marcos também apresenta Jesus como Mestre e Pregador. O próprio Jesus menciona esses aspectos do Seu ministério como o propósito de Sua primeira vinda: “Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que Eu pregue também ali, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1:38). Parece que o local preferido para ensinar/pregar naquela época era dentro da sinagoga. Esse local é mencionado quatro vezes no primeiro capítulo do evangelho de Marcos (Mc 1:21, 23, 29, 39). O ensino e a pregação de Jesus tinham o selo divino, estando fundamentados na revelação, a qual Ele procurou tornar relevante e significativa para o Seu público, dizendo: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Depois do incidente na sinagoga, em que Jesus expulsou o espírito imundo de um homem, “todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: – Que é isto? Uma nova doutrina! Com autoridade Ele ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!” (Mc 1:27).

Embora Marcos afirme que Jesus não ensinasse nem pregasse como os escribas, Sua mensagem estava em harmonia com a pregação de João Batista, que pregou sobre o arrependimento (Mc 1:4, 22), e, de igual modo, Jesus pregou uma mensagem de arrependimento, convidando as pessoas a crer nela e aceitá-la (Mc 1:14, 15).

Embora frequentasse sinagogas para pregar, Jesus não estava restrito a nenhuma cidade, nem sequer a Cafarnaum, chamada “a cidade de Jesus”. Ele era um pregador itinerante. Como tal, “foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas” (Mc 1:21, 39).

Jesus como Aquele que cura

Como vimos, o ministério de Jesus, conforme retratado em Marcos 1, não estava ligado a uma cidade específica nem vinculado a um local específico, como a sinagoga. Marcos apresenta Jesus “caminhando junto ao mar da Galileia”. O evangelista também conta que Jesus foi à casa de Simão e André. Ele foi a um lugar deserto (Mc 1:16, 29, 35). Seu ministério alcançava todas as regiões da Galileia e arredores, incluindo as áreas despovoadas (Mc 1:28, 45). Ele procurava alcançar as pessoas onde estivessem.

Além do ministério no ensino e na pregação, Jesus foi ativo em curar os sofredores. Sua missão envolvia a restauração integral do ser humano. Ele curou um homem que sofria de convulsões (Mc 1:23-26) e restaurou a sogra de Simão, que estava de cama, com febre (Mc 1:30, 31). Libertou e curou pessoas atormentadas por demônios (Mc 1:32-34, 39). Jesus não ficou indiferente à situação de um leproso que foi a Ele em desespero. Sem temer o contágio, colocou a mão sobre ele e o curou (Mc 1:40-42).

Conforme narrado por Marcos, para muitas pessoas Jesus é a encarnação das boas-novas, o evangelho: “Toda a cidade estava reunida à porta da casa”. “E de toda parte vinham ao encontro Dele” (Mc 1:33, 45). Seu ministério trouxe restauração para todo o ser. A restauração é a essência do evangelho de Cristo nos termos mais práticos.

Paulo escreveu que, durante o primeiro século, existiam “outros” evangelhos, além daquele que ele ensinava. Muitos haviam sido enganados por um “evangelho diferente” (Gl 1:6), distorcido.” (Lição da Escola Sabatina 2024 – CPB)” (Pastor Natal Gardino)

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“O princípio do evangelho”Autor: Natal Gardino Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2024

Iniciamos um novo trimestre e um novo tema de estudos bíblicos: “O Evangelho de Marcos”. Deus, em Sua sabedoria, abençoou-nos com quatro relatos sobre a vida terrena de Jesus para que tivéssemos um quadro multicolorido pintado pelos relatos de diferentes testemunhas. Porém, antes de entrar no texto do evangelho propriamente dito, é importante fazer uma breve introdução ao livro de Marcos, conhecendo o seu contexto.

Nesta primeira lição, vamos primeiro conhecer o seu autor, Marcos. Aprenderemos também com a história de seu fracasso e sua posterior restauração como evangelista. Somente então, na parte final desta lição, é que começaremos a abordar o texto do evangelho.

  1. Quem foi Marcos

Marcos foi o filho de uma das muitas Marias do Novo Testamento, sendo esta uma das grandes colaboradoras da igreja nascente (At 12:12). Quando Pedro foi liberto da prisão, dirigiu-se diretamente para a casa dela, onde havia muitas pessoas reunidas em oração (12:12). O fato de uma empregada ter atendido à porta quando Pedro bateu (12:13) pode indicar que ela era uma pessoa privilegiada monetariamente. Ao que tudo indica, o cenáculo (que era um cômodo no piso superior) onde Jesus instituiu a Santa Ceia e onde os discípulos permaneceram por alguns dias após a ascensão, ficava na casa dela (Jo 20:19; At 1:12-14). Esse espaço era amplo o bastante para abrigar “mais ou menos cento e vinte pessoas” que oravam para receber o Espírito Santo (At 1:8,15).

Como filho dessa mulher, João Marcos certamente foi muito bem influenciado para servir no ministério evangelístico. Por isso, Paulo e Barnabé o levaram para Antioquia, que era na época um centro estratégico de planejamento da igreja (At 12:25). Pouco tempo depois, Paulo e Barnabé foram encarregados pelo Espírito Santo para levar o evangelho a outras regiões e países (13:2, 3). Assim, eles partiram para a viagem que chamamos de “primeira viagem missionária” (13:4–14:27), levando João Marcos como seu ajudante (13:5).

  1. Seu fracasso e restauração como evangelista

Ao sentir as dificuldades e perigos da viagem, e por estar “pouco habituado a sacrifícios” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, [CPB, 2021], p. 108), Marcos abandonou a missão e voltou para casa (At 13:13). Isso fez com que Paulo tivesse uma impressão muito negativa a seu respeito. Cerca de 3 anos depois, quando Paulo e Barnabé se preparavam para uma nova viagem missionária, Barnabé trouxe consigo João Marcos, que era seu primo (Cl 4:10), para que ele tivesse uma segunda chance. De acordo com Ellen White, Barnabé “se inclinava a desculpá-lo devido à sua inexperiência. Ficou angustiado com a possibilidade de que Marcos viesse a abandonar o ministério, pois via nele qualidades que poderiam torná-lo um obreiro útil para Cristo” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 108). Mas Paulo rejeitou completamente a ideia de levá-lo novamente devido à sua desistência na viagem anterior.

Talvez possamos compreender um pouco da severidade de Paulo se entendermos que a palavra traduzida como “ajudante” em Atos 13:5 para descrever a função de Marcos (“huperetes”) é também traduzida como “oficial de justiça” em Mateus 5:25 e como “ministro” em Atos 26:16 e 1 Coríntios 4:1. Portanto, é muito improvável que Marcos tivesse ido como um simples ajudante no sentido de servir água ou carregar bagagens. Ele servia como um oficial da missão evangelística. Por isso, sua deserção foi tão séria para Paulo. Por fim, o impasse foi tão grande entre ele e Barnabé que acabaram se separando (At 15:37-40).

Contudo, os esforços de Barnabé em favor de João Marcos deram frutos. Marcos teve a oportunidade de demonstrar, por suas nobres atitudes, que Paulo estava errado a respeito de seu caráter. Cerca de 15 anos mais tarde, quando Paulo escreve a partir da prisão, Marcos está ao seu lado (Cl 4:10). Reconhecendo seu erro anterior, Paulo lembra os crentes que devem receber bem João Marcos (Cl 4:10). Em Filemom 1:24, ele inclui Marcos entre os seus colaboradores. E em sua última epístola, escrita pouco tempo antes de sua morte, Paulo afirma que este mesmo homem lhe era “muito útil no ministério” (2Tm 4:11).

De acordo com a tradição, Marcos se tornou discípulo de Pedro, que o chama de “meu filho Marcos” (1Pe 5:13). Tendo como base os sermões desse apóstolo e suas narrativas, Marcos registrou o terceiro evangelho, o qual, apesar de levar o seu nome, é o testemunho de Pedro a respeito da vida, das palavras e da missão de Jesus (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 179, 611, 612).

  1. O início do evangelho

Marcos começa o seu relato com essas poderosas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1:1). Ele introduz João Batista como o cumprimento das profecias que o retrataram como um “mensageiro”, ou “anjo” de Deus (1:2-8). Então, ele descreve brevemente Jesus sendo batizado e apresenta os três membros da Trindade juntos nessa ocasião tão importante que marca o início do ministério de Jesus (1:9-11). A seguir, sempre de maneira bem objetiva e com poucas palavras, ele aponta o Espírito Santo impelindo Jesus para o deserto, onde Ele jejuou por 40 dias, um número muito significativo no Antigo Testamento em relação a períodos de consagração.

Ao voltar do deserto para a Galileia, após os 40 dias preparatórios em jejum e oração, Jesus pregava o “evangelho de Deus”, ou seja, as boas-novas de Deus para a humanidade: perdão e salvação. Uma ênfase de Jesus em sua pregação era a de que o tempo estava cumprido – uma referência à profecia de tempo de Daniel 9:25 a 27, que aponta o ano do batismo do Messias, que aconteceu como previsto, em 27 d.C.

Conclusão

Esse foi só o início do estudo deste trimestre sobre o livro de Marcos. Já podemos ver logo no início que esta será uma grande jornada de aprendizado e de transformação.

Uma grande lição que aprendemos nesta semana é a da segunda chance. Marcos falhou ao desertar da primeira viagem missionária, mas depois pôde demonstrar por suas atitudes que havia mudado. Paulo também falhou ao ser inflexível em relação a Marcos. Mas depois ele também pôde demonstrar por suas palavras e atitudes que reconhecia seu erro e que havia mudado. Temos que reconhecer também o caráter nobre de Barnabé, que lutou decididamente por seu primo e assim ajudou a mudar a história. Que sejamos como Barnabé, fortalecendo e encorajando os que falham; e quando falharmos, que sejamos como João Marcos e como Paulo, reconhecendo nosso erro e demonstrando isso com atitudes.

Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Natal Gardino é mestre em Novo Testamento e doutor em Ministério pela Andrews University. Iniciou seu ministério em 2003 como pastor distrital e atuou em quatro diferentes regiões. Desde 2022 é professor de Novo Testamento no Seminário Adventista de Teologia na FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Irineide Gardino, psicóloga clínica, e juntos eles têm 2 filhos: Kaléo e Nicholas.”

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Resumo da Lição 1: O princípio do evangelho





 Princípio 

Cada um dos quatro evangelhos do NT começa fazendo referência ao “princípio” de Jesus Cristo. O evangelho de Mateus começa com Suas origens ancestrais, especificamente Sua linhagem humana, como “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1:1). Lucas revela, no prefácio do seu relato, que esse evangelho começa no “princípio” do ministério público de Jesus, conforme narrado por testemunhas oculares (Lc 1:2). O “princípio” de João é especial, porque se refere a uma época antes do alvorecer da história humana, um tempo que precede o “princípio” do próprio Gênesis (Gn 1:1). O “princípio” de João remonta à eternidade de Jesus Cristo: “No princípio era a Palavra” (Jo 1:1, NVI). Em contraste, Marcos começa seu relato com estas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1). Isto é, ele pretende narrar o evangelho de Jesus Cristo desde seu início.

Evangelho de Jesus Cristo 

Com exceção de Marcos, nenhum outro escritor dos evangelhos usa a expressão “o evangelho de Jesus” (em grego, euangelion I?sou). Essa expressão é encontrada apenas em Marcos. Ela nos mostra que Jesus e Seu evangelho constituem o foco e a essência da narrativa de Marcos. 

Assim, faremos bem em nosso estudo de Marcos se começarmos perguntando: O que é o evangelho? A partir dos estudos da lexicografia, a palavra grega euangelion, geralmente traduzida como “evangelho”, tem mais de um significado. Essa palavra se refere às “boas-novas de Deus para os seres humanos, boas-novas como proclamação”. Também se refere a “um livro que trata da vida e dos ensinos de Jesus, um relato do evangelho”. O termo euangelion também está relacionado com os “detalhes relativos à vida e ao ministério de Jesus, as boas-novas de Jesus” (William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 403). Com essas definições em mente, podemos concluir que Marcos usa a expressão “evangelho” para descrever os atos misericordiosos de Jesus durante Seu ministério, bem como para designar a ideia do próprio evangelho como “boas-novas” de Deus. 

Os atos de Jesus como evangelho 

Marcos apresenta o “evangelho de Jesus Cristo” no contexto de Sua atividade em favor da humanidade. Assim, desde o início do evangelho, Marcos retrata as boas-novas como são vistas no ensino e na pregação de Jesus (Mc 1:22, 39), no Seu domínio sobre os espíritos imundos (Mc 1:27) e em Seus vários atos de cura. Esses atos de cura incluem a restauração da sogra de Simão Pedro (Mc 1:30, 31) e de muitas pessoas que sofriam com diversas doenças (Mc 1:32, 34, 40-42). 

Ao estudarmos os evangelhos, notamos que João inicia seu evangelho com a preexistência do Logos (o Verbo ou Palavra) e as credenciais de Jesus, conforme apresentadas por João Batista. Mateus e Lucas dedicam ampla seção às origens humanas de Jesus e aos Seus primeiros anos na Terra. Contudo, Marcos, desde o início, apresenta Jesus como alguém que realiza ações – elas são centrais à narrativa. Assim, o relato de Marcos é o evangelho em movimento. 

Evangelho como “boas-novas” a serem pregadas 

O evangelho de Marcos também está alicerçado na Palavra de Deus, especificamente em Sua revelação. Imediatamente após a declaração do primeiro verso, o “princípio do evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1:1), Marcos cita as Escrituras hebraicas, incluindo versos de Isaías (Mc 1:2, 3) e uma alusão às 70 semanas de Daniel (Mc 1:15; Dn 9:24-27). Aqui vemos claramente o evangelho como conteúdo, como “boas-novas”, ou notícias. Marcos define essa notícia como o “evangelho de Deus” (Mc 1:14). Portanto, as boas-novas são uma proclamação divina à humanidade. 

Em resumo, Marcos mostra que o evangelho é tanto a Palavra de Deus quanto os atos de Jesus durante Seu ministério terreno.

Jesus Cristo 

Outro conjunto importante de palavras no início do evangelho de Marcos é “Jesus Cristo”. De que maneira Marcos retrata Jesus? 

Marcos retrata Jesus como o “Filho de Deus” (Mc 1:1), o “Filho do Homem” (Mc 9:31) e o “Filho de Davi” (Mc 10:47). As credenciais divinas de Jesus são apresentadas no início do evangelho de Marcos. 

Jesus como o Filho de Deus 

Na encarnação, Jesus, o Filho eterno, assumiu o papel redentivo em submissão à autoridade de Deus, o Pai (Mc 1:11), colocando-Se voluntariamente sob a orientação do Pai e sob a direção do Espírito Santo (Mc 1:10, 11). A descrição de Jesus como o Filho do Homem é uma referência a Daniel 7. Ao atribuir a identidade e o título de Filho do Homem a Jesus Cristo, Marcos confirma que o reino de Deus (Dn 7:14, 27) pertence a Jesus e que esse reino – naquela época – estava próximo (Mc 1:15). 

Marcos descreve amplamente os atos de Jesus como ser humano, mas não antes de apresentá-Lo primeiro como Ser divino. 

Jesus como o Santo 

Em harmonia com a ideia de Jesus como divino, Marcos também apresenta Jesus Cristo como o “Santo de Deus” (Mc 1:24). Essa pode ser uma alusão a Isaías 6, em que o Senhor é apresentado como santo (Is 6:3). Essa é a expressão usada pelos seres celestiais para se referir ao Senhor. Em Marcos, até os demônios reconhecem Jesus como o Santo (em grego, ho hagios; Mc 1:24), isto é, eles reconhecem que Jesus é totalmente puro (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 11). A pureza é a essência do ser de Deus. Portanto, os demônios ou espíritos imundos não podem resistir diante de Jesus. Além disso, reconhecem que serão destruídos diante da Sua presença (Mc 1:24). 

Jesus como Mestre e Pregador 

Marcos também apresenta Jesus como Mestre e Pregador. O próprio Jesus menciona esses aspectos do Seu ministério como o propósito de Sua primeira vinda: “Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que Eu pregue também ali, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1:38). Parece que o local preferido para ensinar/pregar naquela época era dentro da sinagoga. Esse local é mencionado quatro vezes no primeiro capítulo do evangelho de Marcos (Mc 1:21, 23, 29, 39). O ensino e a pregação de Jesus tinham o selo divino, estando fundamentados na revelação, a qual Ele procurou tornar relevante e significativa para o Seu público, dizendo: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Depois do incidente na sinagoga, em que Jesus expulsou o espírito imundo de um homem, “todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: – Que é isto? Uma nova doutrina! Com autoridade Ele ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!” (Mc 1:27). 

Embora Marcos afirme que Jesus não ensinasse nem pregasse como os escribas, Sua mensagem estava em harmonia com a pregação de João Batista, que pregou sobre o arrependimento (Mc 1:4, 22), e, de igual modo, Jesus pregou uma mensagem de arrependimento, convidando as pessoas a crer nela e aceitá-la (Mc 1:14, 15).

Embora frequentasse sinagogas para pregar, Jesus não estava restrito a nenhuma cidade, nem sequer a Cafarnaum, chamada “a cidade de Jesus”. Ele era um pregador itinerante. Como tal, “foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas” (Mc 1:21, 39). 

Jesus como Aquele que cura 

Como vimos, o ministério de Jesus, conforme retratado em Marcos 1, não estava ligado a uma cidade específica nem vinculado a um local específico, como a sinagoga. Marcos apresenta Jesus “caminhando junto ao mar da Galileia”. O evangelista também conta que Jesus foi à casa de Simão e André. Ele foi a um lugar deserto (Mc 1:16, 29, 35). Seu ministério alcançava todas as regiões da Galileia e arredores, incluindo as áreas despovoadas (Mc 1:28, 45). Ele procurava alcançar as pessoas onde estivessem. 

Além do ministério no ensino e na pregação, Jesus foi ativo em curar os sofredores. Sua missão envolvia a restauração integral do ser humano. Ele curou um homem que sofria de convulsões (Mc 1:23-26) e restaurou a sogra de Simão, que estava de cama, com febre (Mc 1:30, 31). Libertou e curou pessoas atormentadas por demônios (Mc 1:32-34, 39). Jesus não ficou indiferente à situação de um leproso que foi a Ele em desespero. Sem temer o contágio, colocou a mão sobre ele e o curou (Mc 1:40-42). 

Conforme narrado por Marcos, para muitas pessoas Jesus é a encarnação das boas-novas, o evangelho: “Toda a cidade estava reunida à porta da casa”. “E de toda parte vinham ao encontro Dele” (Mc 1:33, 45). Seu ministério trouxe restauração para todo o ser. A restauração é a essência do evangelho de Cristo nos termos mais práticos. 

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