Testemunhos Seletos Vol. 1: A Parábola dos Perdidos – Capítulo 61

por Ellen White

A Ovelha Perdida

Minha atenção foi chamada para a parábola da ovelha perdida. As noventa e nove ovelhas são deixadas no deserto, e começa a busca daquela que se extraviou. Ao encontrar a ovelha perdida, o pastor suspende-a aos ombros, e volta cheio de regozijo. Não volta murmurando e censurando a pobre ovelha perdida por haver-lhe causado tanta dificuldade; pelo contrário, com júbilo ela é carregada.

E uma demonstração ainda maior de alegria é exigida. Os amigos e vizinhos são convocados para se alegrarem com o que a encontrou, “porque já achei a minha ovelha perdida”. Lucas 15:6.  O encontro era o motivo de regozijo; não se demorava no fato do extravio; pois a alegria de encontrar a ovelha superava a dor da perda e do cuidado, a perplexidade e o perigo enfrentados na busca da ovelha perdida, e no restituí-la à segurança. “Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15:6, 7.

A Dracma Perdida

A dracma perdida destina-se a representar o pecador errante, extraviado. O cuidado da mulher para achar a moeda perdida, destina-se a ensinar aos seguidores de Cristo uma lição quanto a seu dever para com os errantes que andam extraviados do caminho reto. A mulher acendeu a vela a fim de aumentar a luz, e depois varreu a casa, e procurou diligentemente até encontrá-la.  

Aqui se define claramente o dever dos cristãos para com os que necessitam auxílio devido a se desviarem de Deus. Os errantes não devem ser deixados em trevas e no erro, mas cumpre empregar todos os meios possíveis para os trazer novamente para a luz. (Testimonies for the Church 3:99-104 (1872)). Acende-se a vela; e, com fervorosa oração para que a luz celeste vá ao encontro daqueles que se acham circundados de trevas e incredulidade, examina-se a Palavra de Deus em busca dos claros pontos da verdade, para que os cristãos fiquem por tal modo fortalecidos com argumentos da Sagrada Escritura, com suas reprovações, ameaças e animações, que os desviados sejam alcançados. A indiferença ou a negligência atrairá o desagrado de Deus.

Quando a mulher encontrou a moeda, convocou suas amigas e vizinhas, dizendo: “Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” Lucas 15:9, 10. Se os anjos de Deus se regozijam pelo errante que vê e confessa suas culpas, e volve à comunhão dos irmãos, quanto mais se devem os seguidores de Cristo, eles próprios faltosos e dia a dia necessitados do perdão de Deus e dos irmãos, alegrar com a volta de um irmão ou irmã que foi iludido pelos enganos de Satanás, e seguiu uma direção errada, e sofreu por causa disto!

Em vez de manter os culpados longe, seus irmãos devem ir ao encontro deles onde estão. Em vez de criticá-los por se acharem em trevas, devem acender a própria lâmpada mediante a obtenção de mais graça divina e melhor conhecimento das Escrituras, a fim de dissiparem a escuridão dos que estão em erro pela luz que lhes levem. E quando são bem-sucedidos, e os errantes sentem as próprias culpas e se submetem para seguir a luz, devem ser recebidos com alegria, e não com espírito de murmuração, ou com empenho de impressioná-los com o sentimento de sua grande pecaminosidade, que demandará extraordinário esforço, ansiedade e penoso labor. Se os puros anjos de Deus saúdam o acontecimento com alegria, quanto mais o deveriam fazer seus irmãos, que necessitam, eles próprios, de compaixão, amor e auxílio quando erram e, em trevas, não sabem como se valer a si mesmos!

O Filho Pródigo

Minha atenção foi chamada para a parábola do filho pródigo. Ele solicitou do pai que lhe desse sua parte da herança. Desejava separar os próprios interesses dos de seu pai, dirigindo o que lhe cabia segundo as suas inclinações. O pai satisfez o pedido, e o filho afastou-se egoistamente, de modo a não ser perturbado com seus conselhos ou reprovações.

O filho achou que seria feliz quando lhe fosse dado empregar sua parte como lhe aprouvesse, sem ser incomodado com advertências ou restrições. Não queria ser perturbado com obrigações mútuas. Caso partilhasse dos bens de seu pai, este teria direitos sobre ele como filho. Ele, porém, não se sentia sob qualquer obrigação para com aquele generoso pai, e fortaleceu seu espírito egoísta e rebelde com o pensamento de que uma parte da propriedade paterna lhe pertencia. Reclamou seu quinhão quando, de direito, não podia reclamar nada, nem devia receber coisa alguma.

Depois de seu coração egoísta haver recebido o tesouro, que tão pouco merecia, retirou-se para longe, de seu pai, a fim de esquecer até que possuía um pai. Menosprezava a restrição, e estava inteiramente determinado a desfrutar por todos os meios e modos que quisesse. Havendo, com seus prazeres pecaminosos, gasto tudo quanto o pai lhe havia dado, a terra foi flagelada por uma fome, e ele veio a sofrer extrema miséria. Começou então a lamentar os pecaminosos caminhos de extravagantes prazeres em que andara; pois achava-se desamparado, carecido dos meios que esbanjara. Viu-se obrigado a descer da vida de pecaminosa satisfação em que vivia, ao baixo mister de guardador de porcos.

Havendo descido o mais baixo que era possível, pensou na bondade e no amor de seu pai. Sentiu então a necessidade que tinha dele. Trouxera sobre si a situação em que se encontrava, destituído de amigos e de todo recurso. Sua própria desobediência e pecado dera em resultado o separar-se de seu pai. Pensou nos privilégios e na abundância de que fruíam livremente os servos assalariados da casa paterna, ao passo que ele, que se alienara da mesma, perecia de fome. Humilhado pela adversidade, decidiu volver ao pai com humilde confissão. Era um mendigo, destituído de roupas confortáveis, ou decentes sequer. A falta de meios o reduzira a um estado miserável, e achava-se macilento por causa da fome.

O Amor do Pai  

Ainda a certa distância de casa, o pai avistou o caminhante, e seu primeiro pensamento foi aquele filho rebelde que o abandonara anos antes a fim de seguir uma desenfreada carreira de pecado. O sentimento paternal agitou-se dentro dele. Não obstante todos os sinais de sua degradação, o pai nele divisou a própria imagem. Não esperou que o filho percorresse toda a distância até onde ele estava, mas apressou-se a ir-lhe ao encontro. Não o censurou por, em consequência de sua própria direção de pecado, haver trazido sobre si tanto sofrimento, antes com a mais terna piedade e compaixão apressou-se a dar-lhe provas de seu amor, e testemunho do perdão que lhe concedia.

Se bem que o filho estivesse pálido e a fisionomia indicasse plenamente a vida dissoluta que levara, embora vestisse os trapos do mendigo, e tivesse os pés nus cobertos pela poeira dos caminhos, despertou-se no pai a mais terna piedade ao vê-lo prostrar-se diante dele em humildade. Não recuou, em sua dignidade; não se mostrou exigente. Não expôs diante do filho seus passados caminhos de erro e de pecados, a fim de fazê-lo ver quão baixo imergira. Ergueu-o, e beijou-o. Apertou ao peito o filho rebelde, envolvendo-lhe o corpo quase nu com seu próprio e rico manto. Tomou-o ao coração com tal calor, e demonstrou tal piedade que, se o filho já duvidara da bondade e do amor de seu pai, não mais poderia fazê-lo. Se, ao decidir volver à casa paterna, experimentava um senso de pecado, muito mais profundo foi o sentimento de sua ingratidão ao ser recebido assim. Seu coração, antes rendido, estava agora quebrantado por haver ofendido o amor daquele pai.

O arrependido e tremente filho, que temera grandemente ser renegado, não se achava preparado para tal recepção. Sabia que a não merecia, e assim reconheceu seu pecado em deixar o pai: “Pequei contra o Céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.” Lucas 15:21. Rogou apenas que fosse considerado como um servo assalariado. O pai, porém, solicitou dos servos que lhe dessem provas especiais de respeito, e o vestissem como se houvesse sido sempre um filho obediente.

O Irmão Enciumado

O pai tornou a volta de seu filho uma ocasião de regozijo especial. O filho mais velho, que se achava no campo, nada sabia acerca do regresso do irmão, mas ouviu as gerais demonstrações de alegria, e indagou dos servos o que significava tudo aquilo. Foi-lhe explicado que seu irmão, julgado morto, voltara, e que o pai matara o bezerro cevado por causa dele, pois o recebera como um morto que revive.

Então o irmão se zangou, e não queria entrar para ver e receber ao que chegara. Indignou-se porque esse indigno irmão, que abandonara o pai e lançara sobre ele o pesado fardo de cumprir os deveres que deveriam haver sido partilhados por ambos, fosse agora recebido com tantas honras. Esse irmão seguira um procedimento ímpio e dissoluto, desperdiçando os meios que seu pai lhe dera até ficar reduzido à penúria, enquanto ele cumprira fielmente em casa os deveres de um filho; esse libertino vem para a casa de seu pai, e é recebido com respeito e honras acima de tudo quanto ele próprio já recebera.

O pai rogou ao filho mais velho que fosse e recebesse seu irmão com alegria, pois ele estava perdido e fora achado; estava morto em pecado e iniquidade, mas achava-se novamente vivo; volvera ao senso moral, e aborrecia agora o caminho de pecado que seguira. O filho mais velho, porém, alega: “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.” Lucas 15:29, 30. O pai afirmou ao filho que ele estava sempre em sua companhia, e tudo quanto lhe pertencia era seu, do filho, mas que era justo que mostrassem agora essa alegria, pois “este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se”. Lucas 15:32. O fato de o perdido ser achado, o morto estar vivo, supera todas as outras considerações por parte do pai.

Esta parábola foi dada por Cristo a fim de representar a maneira em que nosso Pai recebe o errante e arrependido. É contra o pai que se comete o pecado; todavia, ele, na compaixão de sua alma, cheio de piedade e perdão, vai ao encontro do pródigo e manifesta sua grande alegria por seu filho, que ele acreditava morto para todas as afeições filiais, se haver tornado sensível a seu grande pecado e negligência, e voltar para o pai apreciando-lhe o amor, e reconhecendo-lhe os direitos. Sabe que o filho que seguiu a senda do pecado e agora se arrepende, necessita de sua piedade e seu amor. Este filho sofreu; sentiu sua necessidade, e veio ter com o pai como aquele que, unicamente, lhe pode suprir essa grande necessidade.

A volta do filho pródigo era causa de maior alegria. Eram naturais as queixas do irmão mais velho, mas não eram justas. Todavia é esta frequentemente a atitude que irmão segue para com irmão. Há demasiado esforço para fazer os culpados reconhecerem onde erraram, e ficar lembrando-lhes os erros que cometeram. Os que caíram em falta precisam de piedade, precisam de auxílio, de simpatia. Eles sofrem em seus sentimentos, e acham-se com frequência abatidos e acabrunhados. O que eles necessitam acima de tudo o mais, é de inteiro perdão.

Você pode ver todos os capítulos aqui

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *