Por Ellen White
De mais alto valor para todos os que estão buscando a imortalidade é a exortação de Pedro. Dirige-se ele aos da mesma fé:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor; visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude; pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência. E à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino Eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” 2 Pedro 1:1-11.
Achamo-nos em um mundo que está cheio de luz e conhecimento; todavia muitos que pretendem pertencer à mesma fé (Testimonies for the Church 2:471-478 (1870)) preciosa são voluntariamente ignorantes. Acham-se circundados de luz; todavia não a aproveitam para seu próprio bem. Os pais não veem a necessidade de informar-se, obtendo conhecimento, e pondo-o em uso prático em sua vida conjugal. Caso seguissem a exortação do apóstolo, e vivessem sob o plano de adição, não seriam infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos, porém, não compreendem a obra da santificação. Parecem pensar que a atingiram, quando aprenderam apenas as primeiras lições de adição. A santificação é uma obra progressiva; não é atingida em uma hora ou em um dia, sendo então conservada sem qualquer esforço especial de nossa parte.
Muitos pais não obtêm o conhecimento que deviam em sua vida matrimonial. Não se guardam para que Satanás não se aproveite deles, controlando lhes a mente e a vida. Não veem que Deus requer que eles controlem sua vida matrimonial, evitando qualquer excesso. Bem poucos, porém, sentem ser um dever religioso reger as próprias paixões. Uniram-se em matrimônio ao objeto de sua escolha, e daí raciocinam que o casamento santifica a condescendência com as paixões inferiores. Mesmo homens e mulheres que professam piedade dão rédea solta a suas paixões de concupiscência, e nem pensam que Deus os considera responsáveis pelo dispêndio da energia vital que lhes enfraquece o suporte da vida e lhes debilita todo o organismo.
O concerto matrimonial encobre pecados das mais negras cores. Homens e mulheres que professam piedade desonram o próprio corpo mediante a condescendência com as paixões corruptas, rebaixando-se mais que as criaturas irracionais. Abusam das faculdades que Deus lhes deu a fim de serem preservadas em santificação e honra. A saúde e a vida são sacrificadas sobre o altar da paixão inferior. As mais elevadas e nobres faculdades são postas em sujeição às propensões sensuais. Os que assim pecam não conhecem os resultados dessa maneira de proceder. Pudessem todos ver a soma de sofrimentos que trazem sobre si mesmos por sua pecaminosa condescendência, e ficariam alarmados, e alguns pelo menos, recuariam da senda de pecado que traz tão tremendos resultados. Tão miserável é a existência arrastada por uma grande classe, que a morte lhes seria preferível à vida; e muitos morrem prematuramente, sacrificada a existência nessa obra inglória da excessiva satisfação das paixões sensuais. Todavia, por serem casados, julgam não cometer pecado nenhum.
Uma falsa concepção de amor
Homens e mulheres, um dia aprendereis o que seja a concupiscência e os resultados de satisfazê-la. Pode-se encontrar no casamento paixão de tão baixa qualidade, como fora dele. O apóstolo Paulo exorta os maridos a amarem sua esposa “como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela”. “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja.” Efésios 5:25, 28, 29. Não é um amor puro o que leva um homem a tornar sua esposa instrumento para servir a sua sensualidade. É a paixão sensual que clama por satisfação.
Quão poucos os homens que manifestam seu amor na maneira indicada pelo apóstolo: “Como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela” “para [não a poluir, mas] a santificar, purificando-a” “para a apresentar… santa e irrepreensível.” Efésios 5:25-27. Tal é, nas relações conjugais, o amor que Deus reconhece como santo. O amor é um princípio puro e santo; a paixão sensual, porém, não admitirá restrição, e não será ditada pela razão ou por ela controlada. É cega às consequências; não raciocina de causa para efeito. Muitas mulheres sofrem de grande debilidade e doenças crônicas, porque as leis de seu ser têm sido desrespeitadas; as leis da natureza foram calcadas a pés. A energia nervosa do cérebro é esbanjada por homens e mulheres, sendo invocada para uso antinatural a fim de satisfazer baixas paixões; e este odioso monstro — a paixão baixa e vil — toma o delicado nome de amor.
Muitos professos cristãos que passaram diante de mim, pareciam destituídos de domínio moral. Tinham mais de animal que de divino. Eram, na verdade, quase simplesmente animais. Homens dessa espécie degradam a esposa a quem prometeram proteger e amar ternamente. Ela é tornada um instrumento para serviço das propensões vis e concupiscentes. E muitas mulheres se submetem a tornar-se escravas de paixão concupiscente; não possuem seu corpo em santificação e honra. A esposa não conserva a dignidade e o respeito de si mesma que possuía anteriormente ao casamento. Esta santa instituição devia ter preservado e desenvolvido seu respeito feminil e sua santa dignidade; mas sua feminilidade pura, digna, divina, tem sido consumida no altar da vil paixão; é sacrificada a fim de agradar ao marido. Em breve ela perde o respeito por ele, que não considera as leis a que a criação irracional presta obediência. A vida conjugal torna-se jugo mortificante; pois o amor extingue-se e frequentemente é substituído pela desconfiança, o ciúme e o ódio.
O fruto dos excessos
Homem algum amará verdadeiramente a sua esposa quando ela se submete pacientemente a tornar-se sua escrava, e servir a suas depravadas paixões. Em sua passiva submissão, ela perde o valor que outrora possuía aos olhos dele. Ele a vê degradada de tudo quanto era elevado, para um baixo nível; e não demora a que suspeite que ela se submeta com a mesma passividade a ser degradada por outro assim como por ele. Duvida-lhe da constância e pureza, cansa-se dela, e busca novos objetos para despertar e intensificar suas paixões infernais. A lei de Deus não é considerada. Tais homens são piores que os animais: são demônios em forma humana. Não conhecem os elevados, enobrecedores princípios do amor verdadeiro e santificado.
Também a esposa fica ciumenta do marido, e suspeita que, em havendo oportunidade, ele com a mesma prontidão dirigiria a outra, da mesma maneira que a ela, suas atenções amorosas. Vê que ele não é regido pela consciência ou o temor de Deus; todas essas santas barreiras são derribadas pelas paixões concupiscentes; tudo quanto é no marido semelhante a Deus, torna-se servo da concupiscência embrutecedora e vil.
O mundo está cheio de homens e mulheres desta classe; e casas bem arranjadas, de bom gosto, dispendiosas, encerram um inferno no interior. Imaginem, se lhes for possível, o que pode ser a descendência de pais assim. Não hão de os filhos imergir ainda mais baixo na escala? Os pais dão cunho ao caráter dos filhos. Portanto, os filhos nascidos a esses pais herdam deles disposições mentais de baixa, vil espécie. E Satanás incentiva tudo quanto tende à corrupção. A questão a ser assentada agora, é: Há de a esposa sentir-se obrigada a ceder implicitamente às exigências do marido, quando ela vê que coisa alguma senão a paixão vil o domina, e quando sua razão e discernimento se acham convencidos de que ela o faz com dano do próprio corpo que Deus lhe ordenou possuir “em santificação e honra” (1 Tessalonicenses 4:4), conservar como um “sacrifício vivo” (Hebreus 12:1) para Deus?
Apelo ao domínio próprio
Não é amor puro e santo o que leva a esposa a satisfazer às propensões sensuais do esposo, com prejuízo da saúde e da vida. Caso ela tenha verdadeiro amor e sabedoria, procurará desviar-lhe a mente da satisfação das paixões impuras para assuntos elevados e espirituais, falando sobre assuntos espirituais interessantes. Talvez seja necessário insistir humilde e afetuosamente, mesmo com risco de o desonrar, em que ela não pode aviltar seu corpo, cedendo a excessos sexuais. Deve, bondosa e ternamente, lembrar-lhe que Deus tem direitos mais altos, acima de todos os outros direitos, sobre todo o seu ser, e que ela não pode desrespeitar esses direitos, pois será por isto responsável no grande dia de Deus. “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” 1 Coríntios 6:19, 20. “Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens.” 1 Coríntios 7:23.
Caso ela eleve suas afeições, e em santificação e honra conserve sua pura dignidade de mulher, poderá por sua judiciosa influência, fazer muito para santificar o marido, cumprindo assim sua alta missão. Por esta maneira de agir, ela pode salvar, tanto o marido como a si mesma, realizando uma dupla obra. Nesta questão, tão delicada e tão difícil de manejar, são necessárias muita sabedoria e paciência, bem como ânimo e fortaleza morais. Graça e resistência podem ser obtidas na oração. O amor sincero deve ser o princípio dominante do coração. O amor para com Deus e para o esposo unicamente, pode ser a justa norma de procedimento.
Julgue a mulher que é prerrogativa do marido ter inteiro domínio sobre seu corpo, e moldar-lhe o espírito de modo a ajustar-se ao dele em todos os sentidos, para seguir a mesma direção que o seu, e renuncia a sua individualidade; ela perde a identidade, imergindo na do marido. É uma simples máquina para ele dirigir a sua vontade, uma criatura do seu prazer. Ele pensa por ela, decide por ela, por ela age. Ela desonra a Deus em ocupar essa posição passiva. Cabe-lhe diante de Deus uma responsabilidade que é seu dever conservar.
Quando a mulher sujeita o corpo e o espírito ao domínio do marido, sendo passiva diante da vontade dele em tudo, sacrificando sua consciência, dignidade e mesmo personalidade, perde a oportunidade de exercer aquela poderosa influência que deveria possuir para o bem, a fim de elevar o marido. Ela podia abandar-lhe a natureza áspera, e sua santificadora influência poderia ser usada de modo a purificar e polir, levando-o a esforçar-se zelosamente por governar as próprias paixões, e ser mais espiritual, para que sejam juntamente participantes da divina natureza, havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo.
Abnegação e temperança
Grande pode ser o poder da influência no conduzir a mente a assuntos elevados e nobres, acima das baixas condescendências sensuais naturalmente buscadas pelo coração não renovado pela graça. Caso a esposa ache que, a fim de agradar ao marido, deve descer à norma por ele mantida, quando a paixão sensual é a principal base de seu amor e lhe rege as ações, ela desagrada a Deus; pois deixa de exercer uma santificadora influência sobre o marido. Se ela acha dever submeter-se a suas paixões sensuais sem uma palavra de admoestação, não compreende seu dever para com ele e para com o seu Deus. O excesso sexual destruirá com efeito o amor para com os cultos devocionais, tirará do cérebro a substância necessária para nutrir o organismo, vindo positivamente a destruir a vitalidade. Mulher alguma deve ajudar o marido nesta obra de autodestruição. Ela não o fará caso esteja esclarecida, e tenha por ele verdadeiro amor.
Quanto mais condescendência houver com as paixões sensuais, tanto mais fortes se tornarão elas, e mais violentos serão seus reclamos quanto à satisfação. Que os homens e mulheres tementes a Deus despertem para o seu dever. Muitos professos cristãos sofrem de paralisia de nervos e cérebro, devido a sua intemperança neste sentido. Podridão, eis o que se encontra nos ossos e medula de muitos que são considerados bons homens, que oram e choram, e ocupam altas posições, mas cuja carcaça poluída jamais transporá os portais da cidade celestial.
Oh! se eu pudesse fazer todos compreenderem sua obrigação para com Deus quanto a conservar a estrutura mental e física nas melhores condições a fim de prestarem serviço perfeito a seu Criador! Refreie-se a esposa cristã, tanto por palavras como por atos, de excitar as paixões sensuais do marido. Muitos não têm absolutamente forças para desperdiçarem nessa direção. Desde sua juventude têm enfraquecido o cérebro e debilitado sua constituição em virtude da satisfação dos apetites sensuais. Abnegação e temperança, eis o que devia constituir sua divisa na vida conjugal.
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