Testemunhos Seletos Vol. 1 : O Engano das Riquezas

Por Ellen White

Prezada irmã M:

Ao mostrar-me o Senhor o seu caso, fui transportada a muitos anos atrás, quando a irmã se tornou crente na próxima vinda de Cristo. A irmã aguardava e amava Seu aparecimento. …

Vi a irmã lutando com a pobreza, buscando sustentar seus filhos. Muitas vezes, não sabia o que fazer; sombrio parecia o futuro, e incerto. Em sua aflição, a irmã clamava ao Senhor, e Ele a confortava e ajudava, e esperançosos raios de luz lhe brilhavam em torno. Quão precioso lhe era Deus naqueles tempos! quão doce Seu confortante amor! A irmã sentia possuir no Céu precioso tesouro. Ao considerar a recompensa dos aflitos filhos de Deus, que consolo sentir que O podia invocar como Pai! …

Minha atenção foi chamada para seu desejo de possuir recursos. Em seu coração estava este sentimento: “Oh! se tão-somente eu tivesse meios, não os havia de empregar mal! Daria um exemplo aos que são mesquinhos e avarentos. Havia de mostrar-lhes a grande bênção que se recebe em fazer o bem.” Sua mente aborrecia a cobiça. Quando via os que possuíam abundância dos bens deste mundo cerrarem o coração ao clamor dos necessitados, dizia: “Deus os visitará; Ele os recompensará segundo as suas obras.” Ao ver os ricos andarem orgulhosamente, o coração cingido de egoísmo como de cinta de ferro, sentia que eles eram mais pobres do que você, embora estivesse em necessidade e sofrimento. Quando via esses homens orgulhosos de sua bolsa, altivos porque o dinheiro tem poder, sentia compaixão* deles, e de modo algum teria sido induzida a trocar de lugar com eles. Todavia você desejava recursos para empregá-los de tal modo que fosse uma repreensão à avareza. *Testimonies for the Church 2:268-288 (1869). 229

Provada pela prosperidade

Disse o Senhor a Seu anjo que havia até então ministrado à irmã: “Tenho-a provado na pobreza e aflição, e ela não se separou de Mim, nem se rebelou contra Mim. Prová-la-ei agora com prosperidade. Revelar-lhe-ei uma página do coração humano com a qual ela não está familiarizada. Mostrar-lhe-ei que o dinheiro é o mais perigoso inimigo que ela já encontrou. Revelar-lhe-ei o engano das riquezas; que elas são um laço, mesmo para os que se julgam seguros contra o egoísmo e imunes contra a exaltação, a extravagância, o orgulho e o amor do louvor dos homens.”

Foi-me mostrado então que se abrira diante de você um caminho para melhorar suas condições de vida e, com o tempo, obter os recursos que julgava estar usando com sabedoria, e para a glória de Deus. Quão ansiosamente seu anjo ministrador observava a nova prova para ver como lhe havia de resistir! Ao lhe chegarem os meios às mãos, vi-a gradual e quase imperceptivelmente se separando de Deus. Os recursos a você confiados eram gastos para benefício próprio, para rodeá-la das boas coisas desta vida. Vi os anjos contemplando-a com piedosa tristeza, o rosto meio desviado, indispostos a deixá-la. A presença deles, porém, não era percebida, e você se conduzia sem dar atenção ao seu anjo da guarda. …

Em sua prosperidade, você não cumpriu as resoluções tomadas na adversidade. O engano das riquezas, desviou-a de seus propósitos. Aumentaram-se lhe os cuidados. Sua influência ampliou-se. Ao apreciarem os aflitos o alívio a seus sofrimentos, glorificavam-na, e você aprendeu a amar o louvor vindo dos lábios de pobres mortais. Encontrava-se em uma cidade popular, e julgou necessário, para o êxito de seus negócios, bem como para manter sua influência, que seu ambiente estivesse de algum modo em harmonia com suas ocupações. Mas você levou as coisas demasiado longe. Foi muito influenciada pelas opiniões e julgamento dos outros. E gastou dinheiro desnecessariamente, só para satisfazer “a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. 1 João 2:16. Esqueceu que estava manejando o dinheiro de seu Senhor. Gastando recursos, unicamente de modo a fomentar a vaidade, você não considerou que o anjo relator estava fazendo um registro do qual havia de se envergonhar quando se deparasse novamente com ele. Disse o anjo, apontando-a: “Você glorificou a si mesma, mas não engrandeceu a Deus.” Chegou mesmo a gloriar-se em poder comprar tais coisas. …

Um tempo de perigo

Sua fé e simples confiança em Deus começou a desaparecer assim que os recursos começaram a fluir. Não se apartou de Deus repentinamente. Sua apostasia foi gradual. Deixou a devoção matinal e vespertina, porque nem sempre era conveniente. A esposa de seu filho causou-lhe provações de caráter peculiar e ofensivo, que tiveram sobre você considerável influência em desanimá-la de continuar com as devoções de família. Sua casa ficou destituída de orações. Seus negócios ficaram em primeiro lugar; e o Senhor e Sua verdade tornaram-se secundários. Volva o olhar aos dias de sua primeira experiência cristã; teriam então essas provações levado você a afastar-se do culto de família?

Nisto, na negligência da oração particular, você perdeu em sua casa uma influência que poderia haver conservado. Era seu dever reconhecer a Deus na família, a despeito das consequências. Suas petições deveriam ter sido feitas a Deus pela manhã e ao entardecer. Devia ter sido como sacerdotisa de sua família, confessando seus pecados e os de seus filhos. Houvesse sido fiel, e Deus, que fora seu guia, não a teria abandonado a seu próprio entendimento.

Gastaram-se desnecessariamente recursos para ostentação. A irmã se entristecera profundamente por causa deste pecado em outros. E enquanto assim empregava os recursos, estava roubando a Deus. Então o Senhor disse: “Eu espalharei. Permitirei que por algum tempo ela ande em seus próprios caminhos. Cegarei o discernimento, e removerei a sabedoria. Mostrar-lhe-ei que sua força é fraqueza, e sua sabedoria loucura. Humilhá-la-ei, e abrir-lhe-ei os olhos para ver quão longe se afastou de Mim. Se então ela não voltar para Mim de todo o coração, e Me reconhecer em todos os seus caminhos, Minha mão espalhará, e o orgulho da mãe e dos filhos será abatido, e terão novamente por sorte a pobreza. Meu nome será exaltado. ‘A arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada.’” Isaías 2:17. …

Em sua experiência anterior, o Senhor lhe comunicou talentos de influência, mas não lhe deu o talento de recursos, e portanto, não esperava que você, em sua pobreza, doasse aquilo que não tinha. Como a viúva, você deu aquilo que podia, se bem que, houvesse considerado as próprias circunstâncias, ter-se-ia sentido dispensada de fazer mesmo o que fez. Em sua doença, Deus não exigiu de você aquela ativa energia de que a enfermidade a tinha privado. Embora ficasse limitada em sua influência e em seus recursos, Deus aceitou seus esforços para fazer o bem e promover Sua causa segundo o que possuía, e não segundo o que não tinha. O Senhor não despreza a mais humilde oferta dada com prontidão e sinceridade.

Você possui um temperamento ardente. O zelo em uma boa causa é digno de louvor. Em suas primeiras provas e perplexidades, estava obtendo uma experiência que seria proveitosa a outros. Era zelosa no serviço de Deus. Aprazia-lhe apresentar as evidências de nossa fé aos que não criam na verdade presente. Podia falar com firmeza; pois essas coisas lhe eram uma realidade. A verdade era uma parte de seu ser; e os que lhe ouviam os fervorosos apelos não tinham dúvida de sua sinceridade, mas ficavam convencidos de que essas coisas eram assim.

 Na providência de Deus, sua influência tem-se ampliado; em acréscimo a isto, Deus achou por bem prová-la dando-lhe talentos de recursos. Encontra-se assim sob dupla responsabilidade. Quando sua condição na vida começou a melhorar, você disse: “Assim que eu possa ter um lar, farei então donativo à causa de Deus.” Mas quando teve um lar, viu tanta coisa a melhorar para ter ao seu redor tudo conveniente e aprazível, que se esqueceu do Senhor e de Seus direitos sobre você, e tornou-se menos inclinada a ajudar na causa de Deus do que nos dias de sua pobreza e aflição.

Você buscava então amizade com o mundo, e se separava mais e mais de Deus. Esqueceu a exortação de Cristo: “Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.” Lucas 21:34. “Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia.” 1 Coríntios 10:12.

Há três lemas na vida cristã, os quais precisam ser atendidos, se não queremos que Satanás venha furtivamente sobre nós; ei-los: Vigiar, orar e trabalhar. Para o progresso na vida religiosa é necessário orar e vigiar. Nunca houve em sua história tempo mais importante que o atual. Sua única segurança é viver como um vigia.

Vigie e ore sempre. Oh! que preventivo contra a tentação, contra o cair nas armadilhas do mundo! Quão zelosamente deveria você haver trabalhado nos últimos anos, quando sua influência era ampla!

Prezada irmã, o louvor dos homens e a lisonja corrente no mundo, têm tido sobre você maior influência do que tem percebido. Não tem desenvolvido seus talentos — dando-os aos banqueiros. Você é naturalmente amigável e generosa. Estes traços de caráter têm sido cultivados até certo ponto, mas não tanto quanto Deus requer. Possuir meramente estes excelentes dons não basta; Deus requer que eles se mantenham em constante exercício; pois por meio deles Ele beneficia os que necessitam de auxílio, e leva avante Sua obra para salvação do ser humano. …

Oportunidade de volver

A você, minha irmã, são confiados talentos de influência e talentos de dinheiro; e grande é sua responsabilidade. Deve agir com cautela, e no temor de Deus. Sua sabedoria é fraqueza, mas a sabedoria do alto é força. O Senhor pretende iluminar lhe as trevas, e dar-lhe novamente um vislumbre do tesouro celeste, para que possa ter certa compreensão do valor comparativo de ambos os mundos, e então deixá-la escolher entre este mundo e a herança eterna. Vi que ainda há oportunidade de voltar ao rebanho. Jesus a remiu pelo próprio sangue, e requer que empregue seus talentos em Seu serviço. Você não ficou endurecida à influência do Espírito Santo. Ao ser apresentada a verdade de Deus, encontra eco em seu coração. …

Prezada irmã, o Senhor tem sido muito misericordioso para com você e sua família. Têm obrigação para com seu Pai celestial de louvar e glorificar Seu santo nome na Terra. A fim de permanecer em Seu amor, você deve trabalhar sempre para obter humildade de mente, e aquele “espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus”. 1 Pedro 3:4. Sua força em Deus crescerá à medida que tudo Lhe consagrar, de maneira que possa dizer com confiança: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8:35, 38-39.

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