Ellen White
Os apóstolos Paulo e Pedro estiveram por muitos anos, muito distanciados em seu trabalho, sendo que o trabalho de Paulo era levar o evangelho aos gentios, enquanto Pedro trabalhava especialmente pelos judeus. Contudo, na providência de Deus, ambos deviam testemunhar de Cristo na metrópole do mundo, e sobre seu solo ambos deviam derramar o sangue como semente de uma vasta colheita de santos e mártires.
Cerca do tempo do segundo aprisionamento de Paulo, também Pedro foi preso e encerrado na prisão. Tinha se tornado especialmente odioso as autoridades pelo seu zelo e sucesso em expor os enganos e desfazer a trama de Simão Mago, o encantador, que o seguira a Roma a fim de opor-se e impedir a obra do evangelho. Nero, que era crente em magias, patrocinava Simão. Ficou assim grandemente exasperado contra o apostolo, e dessa maneira prontamente ordenou sua prisão.
A maldade do imperador contra Paulo foi fortalecida pelo fato de que membros da casa imperial, e também outras pessoas de distinção, haviam sido convertidas ao cristianismo durante sua primeira prisão. Por esta razão, fez a segunda prisão mais severa do que a primeira, permitindo-lhe pouca oportunidade para pregar o evangelho, e determinou tirar sua vida tão logo um pretexto plausível pudesse ser achado para assim fazer. A mente de Nero ficou tão impressionada com a forca das palavras do apostolo em seu último julgamento, que protelou a decisão do caso, nem o absolvendo nem o condenando. Todavia, a sentença foi apenas protelada. Não muito tempo depois foi pronunciada a decisão que condenava Paulo a morte de mártir. Sendo cidadão romano não podia ser torturado, sendo portanto sentenciado a ser decapitado.
Pedro, como um estrangeiro judeu, foi condenado a ser acoitado e crucificado. Na perspectiva deste terrível morte, o apostolo lembrou seu grande pecado em haver negado a Jesus na hora de Seu julgamento, e seu único pensamento, foi que ele era indigno de morrer da mesma maneira que seu Mestre. Pedro havia-se arrependido sinceramente daquele pecado, e tinha sido perdoado por Cristo, como se pode ver pela alta missão a ele dada para alimentar as ovelhas e cordeiros do rebanho. Ele, porém, nunca pode perdoar a si mesmo. Nem mesmo o pensamento das agonias da última e terrível cena puderam diminuir a amargura de sua tristeza e arrependimento. Como último favor, rogou de seus algozes que fosse pregado na cruz de cabeça para baixo. O pedido foi atendido, e desta maneira morreu o grande apostolo Pedro.
O testemunho final de Paulo
Paulo foi levado reservadamente ao lugar da execução. Seus perseguidores, alarmados com a extensão de sua influência, temiam que fossem ganhos conversos para o cristianismo por meio das cenas de sua morte. A poucos espectadores se permitiu estar presentes. Mas, os empedernidos soldados que o acompanhavam, ouviram suas palavras, e com espanto o viram animoso e mesmo alegre a vista de semelhante morte. Seu espírito de perdão para com os assassinos e sua inabalável confiança em Cristo até o derradeiro momento, mostrou ser um cheiro de vida para vida para alguns que testemunharam seu martírio. Mais de um logo aceitaram o Salvador que Paulo pregava, e selaram destemidamente com o sangue a sua fé.
A vida de Paulo, até o último instante, testificou da verdade de suas palavras aos coríntios: “Porque Deus que disse: De trevas resplandecera luz—Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da gloria de Deus na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo.” 2 Coríntios 4:6-10. Sua competência não estava em si mesmo, mas na presença e na operação do divino Espírito que lhe enchia a alma, e levava cativo todo o entendimento a vontade de Cristo. O fato de que sua própria vida exemplificava a verdade que proclamava dava convincente poder tanto a sua pregação como a sua conduta. Disse o profeta: “Tu, Senhor, conservaras em perfeita paz aquele cujo proposito e firme; porque ele confia em Ti.” Isaias 26:3. Foi esta paz celestial expressa no semblante de Paulo que ganhou muitas almas para o evangelho.
O apostolo estava a olhar para o grande além, não com incerteza ou terror, mas com jubilosa esperança e anelante expectativa. Ao encontrar-se no lugar do martírio, não viu a luzente espada do carrasco nem a verde relva que tão logo lhe havia de receber o sangue; olha, atraves do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno. Sua linguagem foi: O Senhor, Tu es o meu conforto e galardão! Quando poderei tocar-Te? Quando poderei ver-Te por mim mesmo, sem um véu obscuro de permeio?
Paulo levou atraves de sua vida terrena a atmosfera do Céu. Todos os que com ele se associavam sentiam a influência de sua união com Cristo e a companhia com os anjos. Nisto reside o poder da verdade. A influência espontânea e inconsciente de uma vida santa e o mais convincente sermão que se pode fazer em prol do cristianismo. O argumento, mesmo quando seja irrespondível, pode só provocar oposição; mas o exemplo piedoso tem um poder a que e impossível resistir completamente.
Ao passo que o apostolo perdia de vista os seus próprios sofrimentos que se aproximavam, sentia uma profunda solicitude pelos discípulos que ele estava prestes a deixar a lutar com o preconceito, o ódio e a perseguição. Ele se esforçou para fortalecer e encorajar os poucos cristãos que o acompanharam ao local da execução, repetindo as inexcedíveis e preciosas promessas feitas aqueles que são perseguidos por causa da justiça. Assegurou-lhes que nada falharia de tudo aquilo que o Senhor falara com respeito a Seus filhos provados e fiéis. Eles se levantarão e brilharão; pois a luz do Senhor estará sobre eles. Eles vestirão suas belas vestes quando a gloria do Senhor lhes for revelada. Por pouco tempo poderão estar sob a opressão de multiformes tentações, poderão estar destituídos de conforto terrestre; mas devem animar seus corações dizendo: Eu sei em quem tenho crido. Ele e capaz de guardar o meu deposito. Os sofrimentos terão fim e a alegre manhã de paz e dia perfeito virá.
O Capitão da nossa salvação preparou Seu servo para o último grande conflito. Resgatado pelo sacrifício de Cristo, lavado do pecado em Seu sangue, e revestido de Sua justiça, Paulo tem o testemunho em si mesmo de que sua alma era preciosa a vista de seu Redentor. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, e ele está persuadido de que Aquele que conquistou a morte e capaz de guardar o seu deposito. Seu espirito se apega a promessa do Salvador: “Eu o ressuscitarei no último dia.” Joao 6:40. Seus pensamentos e esperanças estão centralizados na segunda vinda de seu Senhor. E quando a espada do carrasco desce e as sombras da morte envolvem a alma mártir, seu último pensamento se eleva, do mesmo modo que o primeiro quando ressuscitar, para encontrar o Doador da vida, que o há de convidar para o gozo dos santos.
Quase vinte séculos se passaram desde que o idoso Paulo derramou seu sangue em testemunho da Palavra de Deus e para testificar de Jesus Cristo. Nenhuma mão fiel registrou para as gerações vindouras as últimas cenas da vida desse santo homem; a inspiração, porém, nos preservou seu testemunho ao morrer ele. Como o clangor de uma trombeta, sua voz tem repercutido atraves de todos os séculos, enrijando com sua coragem milhares de testemunhas de Cristo, e despertando em milhares de corações, feridos pela tristeza, o eco de sua alegria triunfante: “Quanto a mim, estou sendo ja oferecido por libação, e o tempo da minha partida e chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda”. 2 Timóteo 4:6-8.
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