Ellen White
O Senhor fez a difusão da luz e verdade na Terra dependente dos esforços voluntários e das ofertas dos que são participantes dos dons celestiais. Relativamente poucos são chamados a viajarem como ministros ou missionários, mas multidões devem cooperar em disseminar a verdade mediante os seus recursos.
A história de Ananias e Safira é-nos dada para que possamos compreender o pecado do engano com respeito a nossas dádivas e ofertas. Tinham voluntariamente prometido dar uma porção de sua propriedade para a promoção da causa de Cristo; mas quando os meios estavam em suas mãos, deixaram de cumprir aquela obrigação, desejando ao mesmo tempo dara os outros a impressão de terem dado tudo. Sua punição foi assinalada, a fim de que pudesse servir como perpétua advertência aos cristãos de todos os séculos. O mesmo pecado acha-se terrivelmente prevalecente nos tempos atuais, no entanto não se ouve de semelhante punição notável. O Senhor mostra uma vez aos homens com que aversão Ele considera tamanha ofensa contra Suas sagradas reivindicações e Sua dignidade, e então os deixa a seguir os princípios gerais da administração divina.
Ofertas voluntárias e o dízimo constituem a receita do evangelho. Dos meios confiados ao homem, Deus reivindica determinada porção —o dízimo; mas Ele deixa todos livres para dizerem quanto seja o dízimo, e se querem ou não dar mais que isso. Devem dar segundo propõem no coração. Mas quando o coração é comovido pela influência do Espírito de Deus, fazendo-se um voto de dar determinada importância, aquele que faz o voto não tem mais nenhum direito à porção consagrada. Comprometeu-se diante dos homens, e estes são chamados* a testemunharem o ajuste. (*Testimonies for the Church 5:148-152 (1882). Ao mesmo tempo incorreu ele [41] numa obrigação da mais sagrada espécie, de cooperar com o Senhor em construir o Seu reino na Terra. Promessas desta espécie, feitas a homens, seriam consideradas obrigatórias. Não serão mais sagradas e obrigatórias quando feitas a Deus? Porventura as promessas feitas perante o tribunal da consciência serão menos obrigatórias do que acordos escritos, feitos com homens?
Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder incomuns, o egoísmo habitual afrouxa as garras, e há disposição de dar à causa de Deus. Ninguém precisa esperar que lhe seja permitido cumprir as promessas feitas então, sem um protesto da parte de Satanás. Ele não se agrada com ver desenvolver-se na Terra o reino do Redentor. Sugere ele que a promessa feita foi demasiadamente grande, que lhes poderá anular os esforços de adquirir propriedade ou satisfazer aos desejos da família. É maravilhoso o poder que Satanás tem sobre a mente humana. Ele labuta com todo o fervor para conservar o coração dos homens dominado pelo egoísmo.
A única maneira que Deus ordenou, para fazer avançar Sua causa, é abençoar os homens com propriedades. Dá-lhes Sua luz do Sol e a chuva; faz a vegetação medrar; dá saúde e habilidade para adquirir meios. Todas as nossas bênçãos provêm de Suas munificentes mãos. Por sua vez, deseja que os homens e mulheres mostrem sua gratidão devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas — em ofertas de gratidão, ofertas voluntárias e ofertas pelo pecado.
O coração dos homens endurece-se pelo egoísmo, e como Ananias e Safira são tentados a reterem parte do preço, ao mesmo tempo que pretendem cumprir as regras do dízimo. Roubará o homem a Deus? Se os meios entrassem no tesouro exatamente de acordo com o plano de Deus — um décimo de toda a renda — haveria abundância para levar avante a Sua obra.
Bem, dirá alguém, continuam a vir os pedidos para dar à causa. [42] Estou cansado de dar. Estareis mesmo cansados? Então, permiti que vos pergunte: Estais cansados de receber das beneficentes mãos de Deus? Só se Ele deixasse de vos abençoar, deixaríeis de estar sob obrigação de restituir-Lhe a porção que reivindica. Ele vos abençoa para que esteja em vosso poder abençoar aos outros. Quando estiverdes cansados de receber, então podereis dizer: Estou cansado de tantos pedidos para dar. Deus reserva para Si uma parte de tudo que recebemos. Quando isso Lhe é restituído, a parte remanescente é abençoada; mas se for retido, tudo se tornará, mais dia menos dia, uma maldição. A reivindicação divina primeiro; tudo o mais é secundário.41
Lembrai-vos dos pobres
Em cada igreja deveria ser estabelecido um tesouro para os pobres. Então apresente cada membro a Deus uma oferta de gratidão uma vez por semana ou uma vez por mês, conforme for mais conveniente. Essa oferta exprimirá nossa gratidão pelas dádivas da saúde, do alimento e do agasalhante vestuário. E segundo Deus nos tenha abençoado com esses confortos, poremos de parte para os pobres, sofredores e aflitos. Desejo chamar a atenção de nossos irmãos especialmente para este ponto. Lembrai-vos dos pobres. Renunciai a algumas de vossas superfluidades, sim, os próprios confortos, e ajudai àqueles que apenas conseguem o mais escasso alimento e vestuário. Fazendo isso por eles, vós o estais fazendo por Jesus na pessoa de Seus santos. Ele identifica-Se com a humanidade sofredora. Não espereis até que estejam satisfeitas todas as vossas necessidades imaginárias. Não confieis em vossos sentimentos, dando quando estais inclinados a fazê-lo, e retendo quando não tendes o desejo. Dai regularmente, dez, vinte ou cinquenta centavos por semana, como desejaríeis ver escrito no registro celestial no dia de Deus. [Trata-se de centavos americanos.]
Vossos bons desejos, nós vo-los agradecemos, mas os pobres não se podem manter em conforto, com bons desejos apenas. Precisam de provas tangíveis de vossa bondade, em forma de alimento e vestuário. Deus não pretende que nenhum de Seus seguidores mendigue o pão. Ele vos deu abundância, a fim de que possais suprir-lhes as necessidades que pela industriosidade e economia não são capazes [43] de suprir. Não espereis até que chamem vossa atenção para as suas necessidades. Agi como fazia Jó. Aquilo que não sabia, ele investigava. Ide a um giro de inspeção e verificai o que é necessário, e como melhor pode ser suprido.
Roubando ao Senhor
Foi-me mostrado que muitos de nosso povo roubam ao Senhor em dízimos e ofertas, e em resultado Sua obra é grandemente impedida. A maldição de Deus repousará sobre os que vivem das munificências de Deus e contudo cerram o coração e nada ou quase nada fazem para promover Sua causa. Irmãos e irmãs, como pode o42 beneficente Pai continuar a fazer-vos mordomos Seus, fornecendo-vos meios que deveriam ser empregados em Seu favor, quando tudo agarrais, reclamando egoistamente que vos pertence! Em vez de render a Deus os meios que Ele colocouemsuasmãos, muitos os empregam em m ais terras. Este mal está aumentando entre nossos irmãos. Já antes possuíam tudo de que pod iam cuidar, mas o amor do dinheiro ou o desejo de ser considerados tão abastados quant o os seus vizinhos, leva-os a enterrar seus meios no mundo, e reter de Deus o que Lhe é justam ente devido. Surp reender-nos-emos se não prosperarem? se Deus não lhes abençoa as colheitas, e ficam decepcionados?
Se nossos irmãos se lembrassem de que Deus pode abençoar vinte acres de terra, e fazê-las tão prósperas como cem, não continuariam a enterrar-se em propriedades, mas deixariam seus meios derivarem para o tesouro de Deus. “Olhai por vós”, disse Cristo, “não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida.” Lucas 21:34. Satanás se agrada com que aumenteis vossas fazendas e empregueis vossos meios em empreendimentos mundanos, pois assim procedendo não só impedis a causa de avançar, mas pela ansiedade e excesso de trabalho diminuís vossa perspectiva da vida eterna. Agora devemos tomar a peito a ordem de nosso Salvador: “Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe.” Lucas 12:33. É agora que nossos irmãos deveriam estar reduzindo suas posses, em vez de aumentá-las. Estamos prestes a mudar-nos para uma terra melhor, a celestial. Não procedamos, pois, como quem queira habitar confortavelmente sobre a Terra, mas ajuntemos nossos objetos no espaço mais limitado possível.
Tempo virá em que de modo algum poderemos vender. Logo sairá o decreto proibindo os homens de comprar ou vender a qualquer pessoa senão aos que tenham o sinal da besta.
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O Senhor me tem mostrado repetidamente que é contrário à Bíblia fazer qualquer provisão para nossas necessidades temporais no tempo de angústia. Vi que se os santos tivessem amontoado mantimento para si, ou o tivessem no campo, no tempo de angústia, quando a espada, a fome e a peste se acham na Terra, isto lhes seria tirado por mãos violentas, e estranhos lhes ceifariam os campos.43 Então será o tempo de confiarmos inteiramente em Deus, e Ele nos susterá. Vi que nosso pão e nossa água serão certos naquele tempo, e que não teremos falta nem sofreremos fome; pois Deus é capaz de nos preparar uma mesa no deserto. Se necessário, enviaria corvos para nos alimentar como fez com Elias, ou faria chover maná dos Céus, como para os israelitas.
Casas e terras não serão de nenhuma utilidade para os santos no tempo de angústia, pois então terão de fugir diante de enfurecidas massas, e naquele tempo não poderão dispor de seus bens para o progresso da causa da verdade presente. Foi-me mostrado que é a vontade de Deus que os santos se desprendam de todo embaraço, antes que chegue o tempo de angústia, e façam com Deus um concerto com sacrifício. Se eles tiverem sua propriedade sobre o altar, e inquirirem fervorosamente de Deus quanto ao dever, Ele lhes ensinará quando devem dispor destas coisas. Então estarão livres no tempo de angústia, e não terão ligaduras que os puxem para baixo. — Primeiros Escritos, 56, 57