Interpretando as Escrituras: Como foi possível preservar todas as Espécies na arca? E os dinossauros? – Capítulo 23

Richard M. Davidson

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“De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea” (Gn 7:2).

Algumas pessoas questionam a historicidade do dilúvio universal porque, dentre outras coisas, não conseguem imaginar a arca de Noé abrigando todas as diferentes espécies de animais existentes hoje. Acreditam, portanto, que aquilo que está descrito em Gênesis 7-9 não passou de uma inundação local, em alguma parte do Oriente Médio. O texto, porém, é claro: a inundação foi mundial e todas as diferentes espécies de animais terrestres criados por Deus foram salvas na arca.

O tamanho da arca – Em primeiro lugar, é preciso imaginar as dimensões da arca de Noé, conforme indicam os dados bíblicos. De acordo com Gênesis 6:15, a arca tinha 300 côvados de comprimento, 50 côvados de largura, 30 côvados de altura e continha três pavimentos. Supondo que o comprimento de um côvado fosse de 44,45 centímetros (poderia ser maior, mas esse é o tamanho amplamente reconhecido como o comprimento padrão para egípcios e israelitas), as dimensões da arca seriam aproximadamente 133 metros de comprimento, 22 metros de largura e 13 metros de altura. John Whitcomb e Henry Morris calculam que essas dimensões abrangeriam uma área total de 8.891 m2 , um volume total de 39.530 m3 e um peso bruto de 13.960 toneladas.1 Um tamanho como esse colocaria a arca na categoria dos modernos transatlânticos.

Em segundo lugar, o texto bíblico diz que Noé devia levar para dentro da arca representantes de todas as criaturas terrestres e de todas as aves, “para se conservar a semente sobre a face da Terra” (Gn 7:3). Não é correto supor que todas as espécies (no sentido técnico taxionômico moderno da palavra) existentes hoje estavam representadas na arca. Gênesis 2:19 sugere que, no momento da criação, havia muito menos tipos de animais de grande porte (“animais do campo”) e aves do que hoje, visto que Adão conseguiu observar e nomear cada um, individualmente, no sexto dia, antes de Eva ser criada. Certamente esse era o caso também das outras criaturas terrestres menores a que Adão não pôs nome no sexto dia. É possível que, na época do dilúvio, cada “espécie” (heb. min) básica dos animais criados por Deus se houvesse diversificado em vários subgrupos, mas ainda não tivesse alcançado a quantidade quase infinita de espécies e subespécies de criaturas terrestres existentes hoje e que se desenvolveram a partir das diferentes variedades das espécies básicas da criação.2 Dadas essas restrições básicas, cálculos3 recentes mostram que haveria espaço mais do que suficiente para abrigar na arca as espécies básicas de animais criadas por Deus, além do alimento para sustentá-las.

E quanto aos dinossauros? – Embora não haja no hebraico palavra específica que possa ser
traduzida como “dinossauro”, o relato bíblico da criação mostra que Deus criou tanninim, “grandes animais marinhos” (Gn 1:21) e todo behemah, “animais selváticos” (Gn 1:24), dentre os quais poderia muito bem estar incluídos os que chamamos hoje de dinossauros. Cada tipo de animal criado por Deus foi preservado na arca (Gn 9:10), mas os de grande porte podem ter sido representados por filhotes, de dimensão ainda reduzida.

Além dos animais criados por Deus, parece que havia também algumas variedades de animais
grandes e ferozes, que não foram especificamente criados por Deus, mas que passaram a existir como resultado das mudanças ocorridas após a queda e quem sabe até como resultado da manipulação direta de Satanás. Gênesis 3:15 aponta para a obra incansável da “serpente” (Satanás) sobre a Terra desde a entrada do pecado neste planeta; e Gênesis 3:18 descreve os resultados da obra do inimigo no mundo vegetal, com o aparecimento de cardos e abrolhos. Gênesis 6:12 também parece sugerir que houve corrupção semelhante nas espécies animais, pois, nesse texto, Deus observa que “toda carne [que, à luz de Gênesis 6:17 e 7:21 inclui animais e seres humanos] havia corrompido o seu caminho sobre a Terra” (ARC). Essa corrupção encheu a Terra de chamas (“violência”), uma palavra hebraica forte para denotar muitas vezes violência cruel e maldosa, envolvendo derramamento de sangue.
Esses animais corrompidos e violentos, dentre os quais podiam estar os dinossauros, não foram representados na arca, mas pereceram no dilúvio.4

Percepções de Ellen White – Todos esses pontos, subentendidos no texto bíblico, ficam mais
explícitos em Ellen White. Ela observa que Deus “jamais […] criou um espinho, um cardo, uma erva daninha. Estes são obras de Satanás, resultado de degeneração, por ele introduzida entre as coisas preciosas” (CSE, p. 172). “Todo joio é semeado pelo maligno. Toda erva nociva é de sua semeadura, e por seus métodos engenhosos de amálgama ele corrompeu a Terra com joio” (ME2, p. 288, 289). Da mesma forma, em relação aos animais, ela escreve: “Todas as espécies [isto é, as ‘espécies’ de Gênesis1, e não o termo técnico ‘espécies’ da moderna taxionomia] de animais que Deus criara foram preservadas na arca. As espécies confusas que Deus não criou, que eram o resultado de amalgamação, foram destruídas pelo dilúvio, (SG3, p. 75). Ela pode ter se referido aos dinossauros (dentre outros animais) quando declara o que lhe foi revelado: “Foi-me mostrado que existiam antes do dilúvio animais muito grandes e poderosos que não existem mais agora” (SG3, p. 92). “Havia uma classe de animais muito grandes que pereceu no dilúvio. Deus sabia que a força do homem diminuiria e esses animais gigantescos não poderiam ser controlados pelo homem fraco” (SG4a, p. 121). Embora seja impossível ter absoluta certeza de que essas declarações inspiradas da Bíblia e de Ellen White se refiram especificamente aos dinossauros, parece não haver razão convincente para excluí-los dessas descrições.5

Nota: De acordo com Gênesis 7:11, 24 e 8:3, 4, os cinco meses do dilúvio abrangeram 150 dias;
um mês tinha, portanto, 30 dias.

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1 John Whitcomb and Henry Morris, The Genesis Flood: The Biblical Record and Its Scientific Implications (Filadélfia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1961), p. 10, 11.

2 A. Rachel Davidson Schafer, “The ‘Kinds’ of Genesis 1: What is the Meaning of Min?” Journal of the Adventist Theological Society 14/1 (Spring, 2003), p. 86-100.

3 John Woodmorappe, Noah’s Ark: A Feasibility Study (Santee, CA: Institute for Creation Research, 1996).

4 A história paralela de um dilúvio no antigo Oriente Médio encontrada no Gênesis de Eridu (escrita em sumério por volta de 1600 a.C.) talvez faça alusão também ao fato de que os animais grandes e violentos, como os dinossauros, não foram criados por Deus nem foram preservados na arca. O Gênesis de Eridu menciona que somente os “animais pequenos que subiram da terra” foram criados pela divindade e preservados na arca (Thorkild Jacobsen, “The Eridu Genesis,” Journal of Biblical Literature 100/4 [1981], p. 515, 525.

5 Sobre dinossauros na arca, ver Paul S. Taylor, The Great Dinosaur Mystery and the Bible (Denver, CO: Accent Books, 1987); Elaine Kennedy, Dinossauros: Como Surgiram os Dinossauros e Por Que Eles Desapareceram? (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008); David C. Read, Dinosaurs an Adventist View (2009)

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