Ellen White
A tentação apresentada por Satanás a nosso Salvador no cimo da elevada montanha, é uma das mais poderosas que a humanidade tem de enfrentar. A Cristo foram oferecidos por Satanás os reinos deste mundo com sua glória, sob a condição de que lhe desse a honra devida a um superior. Nosso Salvador sentiu a força dessa tentação; enfrentou-a, porém, em nosso favor, e saiu vitorioso. Ele não teria sido tentado nesse ponto, não houvesse o homem de ser provado pela mesma tentação. Em Sua resistência, deu-nos o exemplo da direção que devemos seguir quando o inimigo nos ataca individualmente, a f imdedesviar-nos da integridade.
Homem algum pode ser seguidor de Cristo, e pôr ainda nas coisas deste mundo as afeições. Em sua primeira epístola, João escreve: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” 1 João 2:15. Nosso Redentor, que enfrentou esta tentação de Satanás, em toda a sua força, conhece o perigo em que está o homem de ceder à tentação de amar o mundo.
Cristo identificou-Se com a humanidade suportando a prova nesse ponto, e vencendo em favor do homem. Com advertências protegeu Ele os próprios pontos em que o inimigo seria mais bem sucedido ao tentar a criatura. Sabia que Satanás obteria a vitória sobre o homem, a menos que este se guardasse especialmente no sentido do apetite e do amor das riquezas e honras mundanas. Diz [405] Ele: “Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde* nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” [*Testimonies for the Church 3:477-482 (1875)]. Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:19-21, 24.
Cristo nos apresenta aí dois senhores, Deus e o mundo, e mostra claramente que nos é simplesmente impossível servir a ambos. Se nosso interesse e amor pelo mundo predominam, não apreciamos as coisas que, acima de todas as outras, são dignas de nossa atenção. O amor do mundo exclui o amor de Deus, fazendo com que nossos mais altos interesses sejam subordinados às considerações mundanas. Assim o Senhor não ocupa em nossa afeição e devotamente o exaltado lugar tomado pelas coisas do mundo.
Nossas obras manifestarão o justo grau ocupado pelos tesouros terrestres em nossas afeições. Devota-se o máximo cuidado, ansiedade e labor aos interesses mundanos, ao passo que as considerações eternas têm lugar secundário. Nisto recebe Satanás dos homens aquela homenagem que reclamou de Cristo, sem o conseguir. É o amor egoísta do mundo que corrompe a fé dos professos seguidores de Cristo, tornando-os débeis em força moral. Quanto mais amam suas riquezas terrenas, tanto mais longe se afastam de Deus, e tanto menos participam de Sua natureza divina, a qual lhes comunicaria o senso das corruptoras influências do mundo, e dos perigos a que se acham expostos.
Com suas tentações, Satanás tem o intuito de tornar o mundo muito atrativo. Por meio do amor das riquezas e das honras mundanas, exerce um fascinante poder para atrair as afeições mesmo do professo mundo cristão. Grande parte dos cristãos professos farão todo sacrifício para adquirir riquezas; e quanto mais bem-sucedidos forem nesse objetivo, menos será o amor que consagram à preciosa verdade, e menor o interesse por seu progresso. Perdem o amor de Deus, e procedem como loucos. Quanto mais prosperarem na [406] aquisição das riquezas, tanto mais pobres se sentirão por não terem mais, e menos empregarão na causa de Deus.
As obras desses homens possuídos de insano amor às riquezas, mostra que não lhes é possível servir a dois senhores, Deus e Mamom. O dinheiro, eis seu deus. Ao poder do mesmo rendem eles homenagem. Para todos os efeitos, servem o mundo. Sua honra, que lhes é o direito de primogenitura, é sacrificada pelo ganho deste mundo. Esse poder dominante lhes rege o espírito, e transgredirão a lei de Deus a fim de servir aos interesses pessoais e aumentar o tesouro terrestre.
Servos de Mamom
Muitos podem professar a religião de Cristo, sem amar nem dar ouvidos à letra ou aos princípios de Seus ensinos. Dão o melhor de suas energias aos empreendimentos mundanos, curvando-se diante de Mamom. É alarmante ver tantos iludidos por Satanás, tendo a imaginação estimulada por suas brilhantes perspectivas de lucro mundano. São absorvidos pela perspectiva de felicidade perfeita se conseguirem seu objetivo de adquirirem honras e fortuna neste mundo. Satanás os tenta com o fascinante engodo: “Tudo isto te darei” (Mateus 4:9) — todo esse poder, toda essa riqueza, com a qual podes fazer grande soma de bem. Uma vez alcançado seu objetivo, no entanto, não têm comunhão com o abnegado Redentor que os tornaria participantes da natureza divina. Apegam-se a seus tesouros terrestres, e desprezam a abnegação e o sacrifício exigidos por Cristo. Não têm nenhum desejo de separar-se dos queridos tesouros terrenos em que puseram o coração. Mudaram de senhor; aceitaram Mamom em lugar de Cristo. Mamom, eis seu deus, e a Mamom servem.
Satanás conseguiu para si o culto dessas almas iludidas por meio do amor das riquezas. Tão imperceptível foi a mudança, e tão enganoso é o poder satânico, tão astuto, que se acham conformados com o mundo e não percebem haverem-se separado de Cristo, não [407] sendo mais servos Seus senão em nome.
Satanás trata com os homens mais cautelosamente do que o fez com Cristo no deserto da tentação, pois está apercebido por haver ali perdido a causa. É um inimigo vencido. Não vem ao homem diretamente, exigindo homenagem mediante um culto exterior. Pede-lhes simplesmente que se afeiçoem às boas coisas do mundo. Uma vez conseguido empregar-lhes assim mente e afeições, as atrações celestes ficam eclipsadas. Tudo quanto ele quer dos homens é que lhe caiam sob o enganoso poder das tentações, para amarem o mundo, amarem a posição, amarem o dinheiro e afeiçoarem-se aos tesouros deste mundo. Isto feito, consegue tudo quanto pretendera de Cristo.
Livramento mediante Cristo
O exemplo de Cristo nos mostra que nossa única esperança de vitória se acha na contínua resistência aos ataques de Satanás. Aquele que triunfou sobre o adversário das almas no conflito da tentação, compreende o poder de Satanás sobre a raça humana, e derrotou-o em nosso favor. Como vencedor, deu-nos o benefício de Sua vitória, para que em nossos esforços para resistir às tentações de Satanás, unamos nossa fraqueza a Sua força, nossa indignidade a Seus méritos. E, sustidos em meio da forte tentação por Sua infalível força, é-nos dado resistir em Seu todo-poderoso nome, e vencer como venceu.
Foi mediante inexprimível sofrimento que nosso Redentor nos pôs ao alcance a redenção. Esteve neste mundo ignorado e sem honras, para que, por meio de Sua maravilhosa condescendência e humilhação, pudesse exaltar o homem a receberas honras celestiais e as alegrias eternas em Seu reino. Murmurará o homem caído porque o Céu só pode ser alcançado por meio de conflito, humilhação e labuta?
A indagação de muito coração orgulhoso, é: Por que preciso andar em humilhação e penitência antes de poder ter a certeza de minha aceitação por Deus, e alcançar a recompensa eterna? Por que não é mais fácil o caminho para o Céu, mais agradável e atrativo? Remetemos todos esses duvidosos e murmuradores a nosso grande [408] Exemplo, a sofrer sob o fardo da culpa do homem, e padecendo as mais vivas angústias da fome. Era inocente e, mais que isto, era o Príncipe do Céu; mas, em favor do homem fez-Se pecado por ele. “Foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pela Suas pisaduras fomos sarados.” Isaías 53:5.
Cristo sacrificou tudo pelo homem, a fim de tornar-lhe possível conseguir o Céu. Cabe agora ao homem caído mostrar o que sacrificará de sua parte por amor de Cristo, de modo a ganhar a glória imortal. Os que têm um justo senso da magnitude da salvação, e de seu custo, jamais murmurarão por terem de semear em lágrimas, e que a parte do cristão nesta vida sejam lutas e abnegações. As condições da salvação para o homem são ordenadas por Deus. A humilhação do próprio eu e levar a cruz, eis as providências tomadas para que o pecador arrependido venha a encontrar conforto e paz. O pensamento de que Jesus Se submeteu a humilhação e sacrifício que o homem jamais será chamado a sofrer, deve silenciar toda murmuração. A mais doce alegria sobrevém ao homem mediante o sincero arrependimento que ele experimenta para com Deus pela transgressão de Sua lei, e a fé em Cristo como Redentor e Advogado do pecador.
Com grande custo trabalham os homens a fim de assegurar-se os tesouros desta vida. Sofrem labuta e suportam asperezas e privações para obterem alguma vantagem mundana. Por que seria o pecador menos voluntário para sofrer, resistir e sacrificar no intuito de adquirir um tesouro imperecível, uma vida que se prolonga ao lado da existência de Deus, uma coroa de glória perene, incorruptível? Os infinitos tesouros do Céu, a herança que ultrapassa em valor a toda estimação, e é um eterno peso de glória, isto cumpre ser alcançado [409] [410] por nós, custe o que custar. Não nos devemos queixar por ser preciso abnegação; pois o Senhor da vida e da glória a exerceu primeiro. Não evitemos os sofrimentos, pois a Majestade do Céu os aceitou em benefício dos pecadores. O sacrifício da comodidade e da conveniência não deve suscitar um pensamento de murmuração, uma vez que o Redentor do mundo tudo isso aceitou em nosso favor. Calculando o mais elevadamente possível todas as nossas abnegações, privações e sacrifícios, isso nos custa, em todos os sentidos, incomparavelmente menos do que custou ao Príncipe da vida. Qualquer sacrifício que possamos fazer como que se esvaece quando comparado com o que Cristo fez por nós.
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