Ellen White
Desde o início do grande conflito no Céu, o propósito de Satanás tem sido subverter a lei de Deus. Quer seja pondo de parte toda a lei, quer seja rejeitando um de seus preceitos, o resultado será o mesmo. Aquele que guarda toda a lei, mas “tropeça num só ponto”, manifesta desprezo por toda a lei, pois por sua influência e exemplo estará do lado da transgressão e se torna “culpado de todos”. Tiago 2:10.
Satanás perverteu as doutrinas da Bíblia, e assim se incorporaram erros na fé alimentada por milhares. O último grande conflito entre a verdade e o erro relaciona-se com a lei de Deus, e ocorre entre a Bíblia e a religião das fábulas e tradições.
A Bíblia está ao alcance de todos, mas poucos há que a aceitem como guia da vida. Muitos, na igreja, negam os pilares da fé cristã. A criação, a queda do homem, a expiação e a lei de Deus são rejeitadas, quer no todo, quer em parte. Milhares consideram como prova de fraqueza depositar implícita confiança na Bíblia.
É tão fácil fazer um ídolo de falsas teorias quanto talhá-lo em madeira ou pedra. Representando falsamente a Deus, Satanás leva os homens a olhá-Lo sob falso prisma. Um ídolo filosófico é entronizado em lugar do Deus vivo, conforme é revelado em Sua Palavra e nas obras da criação. O deus de muitos filósofos, poetas, políticos e jornalistas — de muitas universidades, e até mesmo de algumas instituições teológicas—é pouco melhor do que Baal, o deus-Sol da Fenícia nos dias de Elias. Nenhum erro fere mais audaciosamente a autoridade do Céu, nenhum é mais pernicioso em seus resultados, do que a doutrina de que a lei de Deus não mais vigora. Suponha que clérigos preeminentes estivessem ensinando publicamente que os estatutos que governam seu país não são obrigatórios, que eles restringem as liberdades do povo e, portanto, não devem ser obedecidos; quanto tempo esses homens seriam tolerados no púlpito?
Seria mais razoável que as nações abolissem seus estatutos, do que o Governador do Universo anular Sua lei. A experiência de abolir a lei de Deus já foi praticada na França, quando o ateísmo se tornou o poder dirigente. Foi demonstrado que sacudir as restrições que Deus impôs é o mesmo que aceitar o governo do príncipe do mal.
Pondo de parte a lei de Deus — Os que ensinam o povo a considerar com leviandade os mandamentos de Deus semeiam desobediência para colherem desobediência. Rejeite-se completamente a restrição imposta pela lei de Deus, e as leis humanas logo serão desatendidas. Os resultados de se banir os preceitos de Deus seriam de uma ordem não prevista por essas pessoas. A propriedade não mais estaria segura. Os homens obteriam pela violência as posses de seus semelhantes, e o mais forte se tornaria o mais rico. A própria vida não seria respeitada. O voto matrimonial não mais permaneceria como o baluarte da proteção da família. O que tivesse força tomaria, pela violência, a esposa de seu vizinho. O quinto mandamento seria posto de parte, junto com o quarto. Filhos não recuariam de tirar a vida a seus pais, se em assim procedendo pudessem satisfazer ao desejo do coração corrompido. O mundo civilizado se tornaria uma horda de salteadores e assassinos, e a paz e a felicidade desapareceriam da Terra.
Essa doutrina já está abrindo sobre o mundo as comportas da iniquidade. Ilegalidade e corrupção nos assoberbam qual maré esmagadora. Mesmo nos lares professamente cristãos existe hipocrisia, contenda, traição de santos legados, condescendência para com as paixões. Os princípios religiosos, fundamento da vida social, assemelham-se a uma massa vacilante, prestes a ruir. Os mais vis criminosos tornam-se muitas vezes recebedores de atenções, como se houvessem alcançado invejável distinção. Dá-se grande publicidade a seus crimes. A imprensa publica as minúcias revoltantes do vício, iniciando desta maneira outros na prática da fraude, roubo e assassínio. O enfatuamento do vício, a terrível intemperança e a iniquidade de todos os graus, deveriam despertar a todos. O que pode ser feito para sustar a maré do mal?
A intemperança obscurece a muitos—Os tribunais de justiça estão corrompidos; governantes são movidos pelo desejo de ganho e amor aos prazeres sensuais. A intemperança obscureceu a muitos, de modo que Satanás exerce sobre eles quase completo domínio. Os juristas se acham pervertidos, subordinados, seduzidos. Embriaguez e orgia, desonestidade de toda sorte, estão representadas entre os que administram as leis. Agora que Satanás não pode mais conservar o mundo sob seu domínio, privando-o das Escrituras, recorre a outros meios para realizar o mesmo objetivo. Destruir a fé na Bíblia funciona tão bem quanto destruir a própria Bíblia.
Tal como em épocas passadas, ele está operando através da igreja a fim de favorecer seus desígnios. Combatendo verdades impopulares apresentadas na Bíblia, adotam interpretações que têm espalhado largamente as sementes do ceticismo. Apegando-se ao erro papal da imortalidade natural e consciência do homem na morte, rejeitam a única defesa contra os enganos do espiritismo. A doutrina do tormento eterno tem levado muitos a descrer da Bíblia. Ao insistir-se com o povo acerca das reivindicações do quarto mandamento, verifica-se que a observância do sábado do quarto mandamento é ordenada; e como único meio de livrar-se de um dever que não estão dispostos a cumprir, os ensinadores populares repelem a lei e o sábado, juntamente. À medida que se estende a obra de reforma do sábado, essa rejeição do quarto mandamento se tornará quase universal. Líderes religiosos abrem as portas à incredulidade, espiritismo e desprezo à santa lei de Deus — uma terrível responsabilidade pela iniquidade que existe no mundo cristão.
Todavia, essa mesma classe apresenta a alegação de que a imposição da observância do domingo melhoraria a moral da sociedade. É um dos ardis de Satanás combinar com a falsidade precisamente uma porção suficiente de verdade para que aquela tenha um caráter plausível. Os dirigentes do movimento em favor do domingo podem advogar reformas de que o povo necessita, princípios em harmonia com a Bíblia; contudo, enquanto houver com eles uma exigência contrária à lei de Deus, Seus servos não poderão se unir a eles. Coisa alguma pode justificar que se ponha de parte os mandamentos de Deus, substituindo-os pelos preceitos dos homens.
Mediante os dois grandes erros — a imortalidade da alma e a santidade do domingo — Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança as bases do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através da voragem para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência dessa tríplice união, esse país seguirá as pegadas de Roma, esmagando os direitos da consciência.
Imitando o cristianismo nominal da época, o espiritismo tem maior poder para enganar. O próprio Satanás está “convertido”. Aparecerá como anjo de luz. Através do espiritismo, milagres serão operados, doentes serão curados, e se efetuarão muitas e inegáveis maravilhas. Os romanistas, que se gloriam dos milagres como sinal certo da verdadeira igreja, serão facilmente enganados por esse poder; e os protestantes, havendo rejeitado o escudo da verdade, serão também iludidos. Romanistas, protestantes e mundanos juntamente verão nesta aliança um grandioso movimento para a conversão do mundo.
Por meio de espiritismo, Satanás aparece como o benfeitor da humanidade, curando enfermidades e apresentando um novo sistema de fé religiosa, mas ao mesmo tempo conduzindo multidões à ruína. A intemperança destrona a razão; condescendência sensual, contenda e matança vêm a seguir. A guerra excita as piores paixões e arrasta para a eternidade as suas vítimas engolfadas de sangue. É seu objetivo incitar as nações à guerra, pois assim pode desviar o espírito do povo da obra de preparo para estar em pé no dia de Deus.
Satanás estudou os segredos da Natureza e utiliza seu poder para dirigir os elementos, tanto quanto Deus o permite. É Deus quem protege Suas criaturas do destruidor. Mas o mundo cristão tem demonstrado desprezo à Sua lei, e o Senhor fará aquilo que declarou que faria — removerá Seu cuidado protetor daqueles que se rebelam contra a Sua lei e ainda forçam outros a assim proceder. Satanás exerce domínio sobre todos os que Deus não guarda especialmente. Ajudará e fará prosperar alguns, a fim de favorecer os seus próprios intuitos; trará calamidade sobre outros, e levará os homens a crer que é Deus quem os aflige.
Ao mesmo tempo que aparece aos olhos dos homens como o grande médico que pode curar as suas enfermidades, Satanás trará moléstias e desastres até que cidades populosas se reduzam a ruínas. Nos acidentes por mar e terra, nos grandes incêndios, nos violentos furacões e saraivadas, em tempestades, inundações, ciclones, ressacas e terremotos, e sob milhares de formas, Satanás está exercendo o seu poder. Destrói a seara que está a amadurar, e seguem-se fome e angústia. Comunica ao ar infecção mortal, e milhares perecem.
E então o grande enganador persuadirá os homens a lançarem todas as suas tribulações à conta daqueles cuja obediência aos mandamentos de Deus é uma perpétua reprovação aos transgressores. Declarar-se-á que os homens estão ofendendo a Deus pela violação do domingo, que este pecado acarretou calamidades que não cessarão antes que a observância do domingo seja estritamente imposta. “Os que destroem a reverência ao domingo estão impedindo a restauração do divino favor e da prosperidade.” Assim a acusação dirigida na antiguidade contra o servo de Deus, será repetida: “Foi Acabe ter com Elias. Vendo-o, disse-lhe: És tu o perturbador de Israel?” 1 Reis 18:16, 17.
O poder operador de milagres exercerá sua influência contra os que obedecem a Deus em vez dos homens. Os “espíritos” declararão que Deus os enviou para convencer de seu erro os que rejeitam o domingo. Lamentarão a grande impiedade no mundo e apoiarão o testemunho dos ensinadores religiosos, de que o estado de degradação moral está sendo causado pela profanação do domingo. Sob o governo de Roma, os que sofreram em favor do evangelho foram denunciados como malfeitores, coligados a Satanás. Assim será agora.
Satanás fará com que sejam acusados como violadores da lei aqueles que a observam, identificando-os como homens que estão acarretando juízos sobre o mundo. Por meio do medo, procura reger a consciência, levando as autoridades religiosas e seculares a impor leis humanas em desafio à lei de Deus.
Os que honram o sábado bíblico serão denunciados como inimigos da lei e da ordem, como que a derribar as restrições morais da sociedade, causando anarquia e corrupção, e atraindo os juízos de Deus sobre a Terra. Serão acusados de deslealdade para com o governo. Pastores que negam a obrigação da lei divina apresentarão do púlpito o dever de prestar obediência às autoridades civis. Nas assembleias legislativas e nos tribunais de justiça, os observadores dos mandamentos serão condenados. Dar-se-á um falso colorido às suas palavras; a pior interpretação será dada aos seus intuitos. Dignitários da Igreja e do Estado se unirão para persuadir ou compelir todas as classes a honrar o domingo. Mesmo na livre América do Norte governantes e legisladores cederão ao pedido popular de uma lei que imponha a observância do domingo. A liberdade de consciência, obtida a tão elevado preço de sacrifício, não mais será respeitada. No conflito prestes a desencadear-se, veremos exemplificadas as palavras do profeta: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus”. Apocalipse 12:17.
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