Testemunhos Seletos Vol. 1: Os Dois Caminhos

Ellen White

Na assembléia de Battle Creek (Michigan), em 27 de Maio de 1856, foram-me em visão mostradas algumas coisas que dizem respeito à igreja em geral. Foram-me mostradas a glória e a majestade de Deus. Disse o anjo: “Ele é terrível em Sua majestade, contudo não O compreendeis; terrível em Sua ira, e no entanto vós O ofendeis diariamente. ‘Porfiai por entrar pela porta estreita’ (Lucas 13:24); ‘porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.’” Mateus 7:13, 14. Estes caminhos são distintos, separados, em direções opostas. Um leva à vida eterna, e o outro à morte eterna. Vi a distinção entre esses caminhos, e também a diferença entre as multidões que neles viajam. Os caminhos são opostos; um é largo e suave; o outro, estreito e acidentado. Semelhantemente as duas multidões que os percorrem são opostas no caráter, na vida, no vestuário e na conversa.

Os que viajam pelo caminho estreito conversam a respeito da alegria e felicidade que terão no fim da viagem. Seu rosto muitas vezes está triste, e, todavia, brilha frequentemente com piedosa e santa alegria. Não se vestem como a multidão do caminho largo, nem como eles falam, nem procedem. Um modelo lhes foi dado. Um homem de dores, e experimentado nos trabalhos lhes abriu aquele caminho e o palmilhou. Seus seguidores veem-lhe os rastos, e ficam consolados e animados. Ele o percorreu em segurança; assim também poderão fazer os da multidão, se seguirem Suas pegadas.

Na estrada larga todos estão preocupados com sua pessoa [Testimonies for the Church 1:127-131 (1856)], suas vestes, seus prazeres. Dão-se livremente ao riso e à zombaria e não pensam no termo da viagem nem na destruição certa, no fim do caminho. Cada dia se aproximam mais de sua destruição; contudo loucamente se arrojam, mais e mais depressa. Oh, como me pareceu terrível isso!

Vi, percorrendo a estrada larga, muitos que tinham sobre si escritas estas palavras: “Morto para o mundo. Próximo está o fim de todas as coisas. Estai vós também preparados.” Pareciam precisamente iguais a todas aquelas pessoas frívolas que em redor se achavam, com a diferença única de uma sombra de tristeza que lhes notei no rosto. Sua conversa era perfeitamente igual à daqueles que, divertidos e inconscientes, se encontravam em redor; mas de quando em quando mostravam com grande satisfação as letras sobre suas vestes, convidando outros a tê-las sobre si. Estavam no caminho largo, e no entanto professavam pertencer ao número dos que viajavam no caminho estreito. Os que em redor deles estavam, diziam: “Não há distinção entre nós. Somos iguais; vestimos, falamos e procedemos semelhantemente.”

Uma bênção não apreciada

Foi-me então dirigida a atenção para os anos de 1843 e 1844. Havia naquela ocasião um espírito de consagração que hoje não existe. Que aconteceu com o povo que professa ser o povo peculiar de Deus? Vi a conformidade com o mundo, a indisposição de sofrer em prol da verdade. Vi grande falta de submissão à vontade de Deus.

Foi-me chamada a atenção para os filhos de Israel, depois que saíram do Egito. Deus misericordiosamente os chamou dentre os egípcios para que pudessem adorá-Lo sem impedimento nem restrição. Operou em prol deles, no caminho, por meio de milagres; provou-os e experimentou-os pondo-os em situações angustiosas. Depois do maravilhoso trato de Deus com eles, e seu livramento muitas vezes, murmuravam quando por Ele provados ou experimentados. Suas expressões eram: “Quem dera houvéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito!” Êxodo 16:3. Cobiçavam os alhos e as cebolas de lá.

Vi que muitos que professam crer na verdade para estes últimos dias, acham estranho que os filhos de Israel murmurassem enquanto viajavam; que depois do maravilhoso trato de Deus com eles, fossem tão ingratos que esquecessem o que por eles fizera. Disse o anjo: “Vós tendes feito pior do que eles.” Vi que Deus deu a Seus servos a verdade tão clara, tão compreensível, que é impossível negá-la. Onde quer que estejam, têm certa a vitória. Seus inimigos não poderão fugir à convincente verdade. A luz foi derramada com tanta clareza que os servos de Deus podem levantar-se em qualquer parte e fazer com que ela, clara e harmoniosa, ganhe a vitória. Esta grande bênção não tem sido apreciada nem compreendida. Se surge alguma provação, alguns começam a olhar para trás, e pensam que passam por um tempo difícil. Alguns dos professos servos de Deus não sabem o que sejam provações purificadoras. Algumas vezes suscitam eles próprios as provações, imaginam-nas, e desanimam tão facilmente, tão prontamente se magoam, e ressentem-se tão depressa, que fazem mal a si próprios, ofendem a outros e prejudicam a causa de Deus. Satanás faz parecer grandes as suas provações, e incute-lhes no espírito pensamentos que, a serem satisfeitos, lhes destruirão a influência e utilidade.

Alguns se têm sentido tentados a retirar-se da obra, a fim de trabalhar por sua própria conta. Vi que se a mão de Deus fosse retirada deles, e ficassem sujeitos à enfermidade e à morte, saberiam então o que são dificuldades. Coisa terrível é murmurar contra Deus.

Eles não têm em mente que o caminho que trilham é áspero, cheio de abnegação, e de crucifixão do próprio eu, e não deveriam esperar que tudo corresse tão suavemente como se estivessem andando no caminho largo.

Vi que alguns dos servos de Deus, mesmo pastores, desanimam tão facilmente, tão prontamente se magoa o seu eu, que se julgam menosprezados e ofendidos quando não há tal. Acham ruim a sua sorte. Tais pessoas não compreendem como se sentiriam se Deus as desamparasse, e passassem por angústia de alma. Achariam então sua sorte dez vezes pior do que antes, quando se achavam empregadas na obra de Deus, sofrendo provações e privações, mas tendo a aprovação do Senhor.

Alguns dos que trabalham na causa de Deus não sabem quando têm um tempo suave. Sofreram tão poucas privações, tão pouco sabem de necessidades, trabalho exaustivo ou contrariedades que, passando bem e sendo favorecidos por Deus, e quase inteiramente livres de angústias de espírito não reconhecem as provações e as acham grandes. Vi que, a menos que tais pessoas tenham espírito de abnegação, e estejam dispostas a trabalhar animosamente, não poupando a si mesmas, Deus as dispensará. Ele não as reconhecerá como Seus servos abnegados, mas suscitará quem trabalhe, não indolentemente, mas com fervor, e reconheça quando desfrutam de bem-estar. Os servos de Deus deveriam sentir responsabilidade pelo trabalho em prol das almas, e chorar entre o alpendre e o altar, clamando: “Poupa a Teu povo, ó Senhor!” Joel 2:17.

Alguns dos servos de Deus consagraram a vida à causa de Deus, até ao ponto de terem a saúde enfraquecida e ficarem quase consumidos pelo trabalho mental, cuidados incessantes, fadigas e privações. Outros não sentiram essa responsabilidade, ou não a quiseram assumir. Entretanto, justamente esses, por nunca terem experimentado dificuldades, acham que passam por um tempo difícil. Nunca foram batizados no quinhão do sofrimento, e nunca o serão enquanto manifestarem tanta fraqueza e tão pouca força, e amarem tanto a comodidade.

Segundo o que Deus me mostrou, é preciso haver, entre os pastores, uma sacudidura, a fim de serem eliminados os negligentes, preguiçosos e comodistas, e permanecer um grupo fiel, puro e abnegado, que não busque seu bem-estar pessoal, mas administre fielmente na palavra e na doutrina, dispondo-se a sofrer e suportar todas as coisas por amor de Cristo, e salvar aqueles por quem Ele morreu. Sintam esses servos o “ai” que sobre eles pesa se não pregarem o evangelho, isso será o bastante; mas nem todos o sentem.

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