Autoria e Contextualização da Carta aos Romanos

Comentário Pastor Clacir – Teólogos

Comentário Reverendo Hernandes Lopes ( Presbiteriano Calvinista)

Comentário Dr. Wilson Paroschi

Autoria

A autoria paulina de Romanos nunca foi seriamente questionada, nem pelos pais da igreja, nem pelos eruditos. Todos os pais da igreja do 2º século atribuíram Romanos a Paulo.

Público-alvo

Pouco se sabe sobre quem fundou a Igreja em Roma. Uma vez que existia um fluxo constante de comerciantes, militares e outras pessoas passando pela cidade, provenientes de todas as partes do império, não é difícil imaginar que a igreja romana tenha sido fundada por judeus que se tornaram cristãos nas províncias orientais no império. Lucas, por exemplo, afirma que “romanos” estavam presentes, entre os que se reuniram no Pentecostes atos 2:10.

Parece provável, então, que os fundadores da igreja de Roma não foram os apóstolos como Paulo e Pedro, mas cristãos judeus comuns que pertenciam às camadas econômicas e sociais mais baixas da sociedade romana. Os nomes mencionados em Romanos 16 nos dão um vislumbre da constituição da igreja de Roma. Parece que muitos cristãos romanos foram escravos ou ex-escravos oriundos do Leste. Contudo, deve-se lembrar que muitos escravos romanos eram pessoas instruídas e cheias de habilidades. As mulheres também formaram uma parte importante da liderança da igreja, incluindo Júnias e Priscila.

A despeito da expulsão por Cláudio em 49 d.C., havia grandes colônias de judeus em Roma quando Paulo escreveu aos romanos. A igreja de Roma era formada por uma comunidade mista de judeus e gentios. Noi entanto, tinha uma forte origem judaica, conforme deixam claras as muitas citações e alusões ao Antigo Testamento. Quando Paulo escreveu aos romanos, Roma passava, sem dúvida, por um período de relativa paz e prosperidade sob o governo de Nero (54- 68 d.C.), cujos cinco primeiros anos no comando foram bons, de modo geral, antes de se deteriorar.

É provável que Paulo tenha escrito de Corinto. É certo que a Epístola foi composta depois de 52 d.C., mais para o final da terceira viagem missionária (Atos 20:2-3), em 57 ou 58 d.C., durante os três primeiros meses de sua permanência em Corinto.

Mensagem

Romanos é uma carta longa e complexa, com vários propósitos. Paulo escreve Romanos para:

  1. Apresentar-se à igreja de Roma e conquistar apoio financeiro e moral para sua missão posterior na Espanha. Este propósito é declarado com clareza em Romanos 15:24. Paulo queria visitar Roma a caminho da Espanha, a fim de que pudesse ser ‘encaminhado’ a seu destino final. O trabalho missionário do apóstolo no império romano oriental estava se aproximando do fim, e ele buscava uma nova base e um novo local de atividade.
  2. Cumprir seu dever de apóstolo aos gentios. (Gálatas 2: 7-9; ver Atos 9:15). […] Paulo sabia que sua explicação do evangelho tinha importância especial para os cristãos gentios que careciam da apreciação e de entendimento profundo do Antigo Testamento.
  3. Explicar o significado das leis mosaicas e das profecias à luz do evangelho e vice-versa. Paulo enfrentou obstinada oposição a seu conceito de justificação (absolvição, ver 3:24) pela fé (ver 1:17) durante sua obra missionária no oriente. Seus oponentes eram, em grande parte, cristãos judeus que o acusaram de perverter ensinos claros do Antigo Testamento acerca da importância central da lei de Moisés e de Israel. Romanos é uma síntese convincente das reflexões do apóstolo a esse respeito.
  4. Abordar a tensão no relacionamento entre judeus e gentios na igreja de Roma. Quando os cristãos judeus expulsos por Cláudio voltaram para Roma, por volta de 54 d.C., eles se viram numa situação estranha. A igreja romana estava nas mãos de uma liderança formada por gentios que assumiram o controle da comunidade durante a ausência deles. Ao mesmo tempo, eles não mais eram bem-vindos nas mais de 10 sinagogas existentes na cidade. Como resultado, desenvolveu-se uma tensão entre os cristãos judeus e gentios.

Paulo escreveu Romanos a fim de lembrar aos gentios da prioridade dos judeus tanto na salvação quanto no juízo. Deus nunca excluiu os judeus da salvação, muito embora vários deles, inclusive seus principais líderes, tenham se recusado a aceitar a Cristo. Embora os judeus não mais ocupassem a posição central de agentes da redenção no plano da salvação, eles ainda eram amados pelo Senhor, em consideração por seus antepassados (11:28).  

5. Pregar o evangelho. Paulo sabia que todos os seres humanos, sejam judeus ou gentios, encontram-se sob o poder do pecado e não são capazes de se libertar por conta própria. Nenhum grau de observância da lei, sabedoria humana ou instrução pode livrar as pessoas de sua terrível condição. Somente Cristo, pregava o apóstolo, tem poder para salvar os seres humanos das garras mortais do pecado.

É muito provável que Paulo tenha sido o primeiro escritor do Novo Testamento. Jesus foi o fundador da igreja, mas não deixou nenhuma mensagem escrita. É possível que os quatro evangelhos, bem como os outros livros do Novo Testamento, tenham sido concluídos após a morte de Paulo. Portanto, ele deve ter sido o primeiro escritor cristão a fazer reflexões teológicas escritas sobre o sentido da morte e ressurreição de Cristo.

Isto significa que Paulo estava pisando em território inexplorado. Muitas coisas ainda não estavam claras nas mentes dos cristãos. Por exemplo, ainda não estava completamente esclarecido a todos que algumas partes da lei de Moisés, hoje chamadas de leis cerimoniais, não mais eram obrigatórias para os cristãos. Nem estava claro qual seria o papel de Israel na nova fase da história da salvação inaugurada por Cristo. Embora as outras cartas de Paulo deem amplos indicativos de seus pensamentos sobre esses aspectos, Romanos contém a reflexão mais abrangente e equilibrada.

Romanos não trata de todas as doutrinas importantes. Não inclui, por exemplo, a segunda vinda de Cristo nem a natureza da igreja. É, porém, a tese mais completa e definitiva de Paulo sobre salvação, fé e graça de Cristo. Romanos oferece debates únicos e aprofundados sobre:

  1. As consequências do pecado de Adão para seus dependentes. Embora alguns livros do Novo Testamento façam breves alusões a estes temas, Romanos o discute extensivamente no Capítulo 5.
  2. A primazia de Israel. Nenhum outro livro do Novo Testamento aborda a relação específica entre a igreja e Israel. Paulo dedica três capítulos (9-11) ao assunto em Romanos. Além disso, Romanos é o único livro do Antigo Testamento que diz explicitamente ‘primeiro do judeu’.
  3. A incapacidade humana de guardar a lei. Romanos é o único livro do Novo Testamento que contém a exclamação: ‘Desaventurado homem que sou!’ (7:24). Nenhum outro livro da Bíblia apresenta um vislumbre tão penetrante da obra letal e enganosa do pecado.
  4. A definição de fé. Romanos dedica um capítulo inteiro a questão da fé. No capítulo 4, com ajuda da história de Abraão, Paulo define a fé como uma forma de ficar diante do deus Criador, que é capaz de criar vida a partir do nada.

À luz de seu conteúdo e de seus temas, Romanos é um livro de grande importância para todos aqueles que procuram proclamar o evangelho enquanto aguardam o retorno de Jesus (ver Apocalipse 4: 6-7).

Fonte: Bíblia de estudos Andrews

Esboço:

A impiedade da raça humana e a justiça da parte de Deus

  1. Introdução (1: 1-17)
  2. Abertura da carta (1: 1-7)
  3. Paulo apresenta a si mesmo e seu evangelho (1: 8-17)
  4. A acusação do mundo (1:18-3:20) – a universalidade do mal/pecado (problema e solução)
  5. Condenação do mundo gentílico (1: 18-32)
  6. A imparcialidade de Deus no julgamento (2: 1-16)
  7. Condenação dos judeus (2:17 – 3:8)
  8. Condenação de todo mundo (3:9-20)

Justiça Imputada (por algo na conta. Crédito. Termo jurídico recebido pela fé). Justiça de Cristo creditada ao cristão. É uma ação divina que capacita o cristão no seu processo de santificação.

  1. Justificação pela fé (3:21 – 4:25) – mediante Cristo (3:21-26)
  2. A justiça de Deus (3:21-31) – mediante Cristo (3:21-26)
  3. A justiça de Abraão (4:1-12) – recebido pela fé (3:21-26))
  4. Abraão e sua fé (4:13-25) – recebido pela fé (3:21-26)
  5. Cristo nossa justiça (5:1 – 8:39)
  6. Introdução (5:1-5) – os frutos da justiça.
  7. A morte de Cristo por nossos pecados (5: 6-11) – os frutos da justiça.
  8. A morte de Cristo e a lei (5: 12-21) – a iniquidade do homem contraposta ao dom da justiça de Deus.

Justiça outorgada (consentida)

  • Sepultamento, ressurreição de Cristo e o batismo (6:1-11) – libertação da tirania do pecado. Cristo proveu o meio. Aceitação pela fé.
  • Nova vida de santidade mediante a ressurreição (6: 12-23) – libertação da tirania do pecado. Cristo proveu o meio. Aceitação pela fé.
  • Ressurreição e a lei (7:1-25) – libertação da condenação da lei.
  • Ressurreição e o Espírito (8: 1-17) – vida e poder do espírito Santo
  • Ressurreição e criação (8: 18-39) – vida e poder do espírito Santo

Vindicação da justiça de Deus: o problema da rejeição de Israel

  • Israel e a Igreja (9:1- 11:36)
  • Israel e a promessa (9:1-33) – o juízo por causa da rejeição
  • Israel e Cristo (10: 1-21) – a causa da rejeição
  • Israel incrédulo e o propósito divino (11: 1-36) – fatos que atenuam a dificuldade:

  1-10 = a rejeição não é total

11-24 = a rejeição não é definitiva

25-36 = o derradeiro propósito de Deus é a misericórdia.

Justiça Praticada

  • Conduta cristã (12:1-15:12)
  • A conduta cristã em relação à comunidade (12: 1-21) – No corpo/igreja
  • A conduta cristã em relação ao mundo (13: 1-14) – No mundo
  • Respeito às diferenças (14: 1-23) – Entre os cristãos fracos e fortes
  • O exemplo de Jesus (15: 1-12) – Entre os cristãos fracos e fortes
  • Comentários Finais (15: 13 – 16:27)

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