Anunciando a Glória da Cruz: Gálatas 6:11-18 por Matheus Cardoso

“11que o pai nunca cometeu, mas comer carne sacrificada nos altos, contaminar a mulher de seu próximo, 12oprimir o pobre e necessitado, praticar roubos, não devolver o penhor, levantar os olhos para os ídolos, cometer abominação, 13emprestar para ter lucro e cobrar juros, será que esse viverá? Não viverá. Ele fez todas estas abominações e será morto; é responsável pela própria morte.

14— E, se esse filho gerar um filho que veja todos os pecados que o pai cometeu, e, vendo-os, não fizer coisas semelhantes, 15não comer carne sacrificada nos altos, não levantar os olhos para os ídolos da casa de Israel, não contaminar a mulher de seu próximo, 16não oprimir ninguém, não retiver o penhor, não roubar, repartir o seu pão com o faminto, cobrir com roupas aquele que está nu, 17desviar a sua mão da injustiça, não emprestar para ter lucro nem cobrar juros, executar os meus juízos e andar nos meus estatutos, esse tal não morrerá por causa da iniquidade de seu pai; certamente viverá. 18Quanto ao pai dele, porque praticou extorsão, roubou os bens do próximo e fez o que não era bom no meio de seu povo, eis que ele morrerá por causa de sua iniquidade.

19— Mas vocês perguntam: “Por que o filho não paga pela iniquidade do pai?” Porque o filho fez o que era justo e reto. Ele guardou todos os meus estatutos e os praticou. Por isso, certamente viverá.”

Em Gálatas 6:14-16, Paulo diz: “Mas longe de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu estou crucificado para o mundo. Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. E, a todos os que andarem em conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.”

Tim Keller comenta a respeito desses versículos: “Em última análise, diz Paulo, o cerne da sua religião é aquilo de que você se orgulha. No fundo, qual o motivo pelo qual você pensa estar em um relacionamento adequado com Deus?

“Se a cruz é só uma ajuda, mas você tem de completar sua salvação com boas obras, na verdade são as suas obras que fazem a diferença entre você rumar para o céu ou não. Portanto, você se orgulha da sua carne (v. 13), dos seus próprios esforços. Que mensagem mais atraente: ser capaz de se auto parabenizar por ter reservado para si um lugar no céu!

“Todavia, se você compreende o evangelho, deposita seu ‘orgulho’ só e exclusivamente na cruz. Nossa identidade, nossa autoimagem, é baseada naquilo que nos dá um senso de dignidade e importância – aquilo de que nos orgulhamos. A religião induz a que nos orgulhemos de alguma coisa a nosso respeito. O evangelho, a que nos orgulhemos da cruz de Jesus. Isso significa que nossa identidade em Jesus é confiante e segura – orgulhamo-nos mesmo! –, mas, ao mesmo tempo, humilde, por basear-se em um senso profundo de nossos erros e miséria.

“Portanto, o evangelho pode bem ser resumido cm uma frase notável: ‘Longe de mim orgulhar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo’ (v. 14).

“Sou salvo exclusiva e completamente em razão da obra de Cristo, não da minha. Ele reservou um lugar para mim no céu, o qual me concede de graça. ‘Longe de mim orgulhar-me’ – não tomo para mim crédito nenhum por minha posição com Deus – ‘a não ser na cruz’; o que Cristo fez é agora algo de que me orgulho. Orgulhar-se é exultar com alegria por algo em que também se tem alto nível de confiança. Saber que você é salvo só pela obra de Cristo produz uma alegre confiança digna de orgulho; não a autoconfiança, mas a confiança em Cristo.

“E se de fato só me orgulho em Cristo, acontece uma reviravolta surpreendente em minha vida. O mundo está morto para mim. Primeiro, como diz Stott, o cristão não precisa dar importância ao que o mundo pensa dele. Mas é provável que Guthrie se aproxime mais da essência de Paulo ao dizer: ‘O mundo natural […] deixou de ter quaisquer reivindicações sobre nós. ’ […]

“Em razão do evangelho do Cristo crucificado, diz Paulo, não me sinto inferior a ninguém nem intimidado por ninguém – a circuncisão não significa nada. E, em razão do evangelho, não me sinto superior a ninguém nem desprezo ninguém – a incircuncisão não significa nada. […]

“Portanto, os versículos 14 e 15 resumem o que significa confiar no que Cristo fez, em vez de no que estou fazendo. Paulo diz: O evangelho muda aquilo de que fundamentalmente me orguIho, transforma toda a base da minha identidade. Nada no mundo inteiro tem qualquer poder sobre mim; sou livre, afinal, para desfrutar do mundo, pois não preciso dele. Não preciso me sentir inferior nem superior a ninguém e estou sendo reconstruído, transformado em algo e alguém completamente novos.”[1]

Considerações finais: o poder do evangelho para hoje

A carta de Paulo aos gálatas ajudou aqueles primeiros cristãos a compreender e a viver o verdadeiro evangelho. Mas essa carta não se destinava apenas a eles. Ao longo de 2 mil anos, muitos cristãos têm sido transformados pela mensagem apresentada nesse livro. A Reforma Protestante teve início com o estudo desse livro.

“Cristianismo” que é apenas conhecimento intelectual não é cristianismo verdadeiro. Colocar Cristo no centro de nosso sistema de crenças é apenas o primeiro passo na direção correta. Uma coisa é pôr Cristo no centro de nosso sistema de crenças e aceitar teoricamente a justificação pela fé e o conceito transformador e santificador do Espírito Santo. Outra coisa bastante diferente é realmente viver a vida cristã.

No clássico livro O Desejado de Todas as Nações, lemos que “o maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação. Não produz os frutos de justiça. […] Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão, e vangloriavam-se de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. Julgavam-se os maiores religiosos do mundo, mas sua chamada ortodoxia os levou a crucificar o Senhor da glória.

“O mesmo perigo existe ainda. Muitos se consideram cristãos, simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. Não introduziram, porém, a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a santificação da verdade. As pessoas podem professar fé na verdade; mas, se ela não os torna sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo.”[2]

Jesus é a grande necessidade da igreja hoje, exatamente como era há quase 2 mil anos, quando Paulo escreveu aos romanos. Esta citação expressão muito bem a mesma necessidade: “Falemos, oremos e cantemos a esse respeito, e isso quebrantará e conquistará os corações. Frases prontas, formais, a apresentação de assuntos meramente argumentativos, não trazem benefício. O amor enternecedor de Deus no coração dos obreiros será reconhecido por aqueles em cujo benefício eles trabalham. As pessoas estão sedentas da água da vida. Não sejam cisternas vazias. Se lhes revelarem o amor de Cristo, vocês poderão levar os sedentos e famintos a Jesus, e Ele lhes dará o pão da vida e as águas da salvação.”[3]

Aceitar e viver o verdadeiro evangelho é a única maneira de concluirmos a missão que o Senhor nos confiou, de pregar “este evangelho do Reino, por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” (Mt 24:14), e “a cada nação, tribo, língua e povo” (Ap 14:6). O “evangelho eterno” (Ap 14:6) – o único evangelho que já existiu – é verdadeiramente o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16).

Perguntas para reflexão e aplicação

  1. A cruz influenciou o seu relacionamento com o mundo? Que diferença ela fez na sua vida? Qual é a diferença entre sua vida hoje e a sua vida antes de se entregar ao Senhor, que morreu por você?

2. Você percebeu em sua vida as mudanças que devem ocorrer na “nova criação”? O que você pode fazer para permitir a obra do Espírito Santo em você?

3. Qual o impacto de Gálatas 6:14 sobre você? Como ele o desafia?

4. Em que áreas da vida você tem conhecido a paz de viver pelo evangelho? Em quais você tem posto essa paz a perder, vivendo para a aprovação do mundo?

5. De que maneiras práticas você pode colocar Jesus e o evangelho no centro de sua vida? Como o evangelho pode ser real em sua vida, e não apenas uma mera teoria?

6. Se tivesse de resumir a mensagem de toda a Carta aos Gálatas em poucas palavras, o que você diria?[4]

Referências

1. Timothy Keller, Gálatas Para Você, Série A Palavra de Deus para Você (São Paulo: Vida Nova, 2015), p. 190-193 (grifos no original).

2. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 309-310.

3. Idem, Review and Herald, 2 de junho de 1903.

4. A perguntas 3, 4 e 6 foram extraídas de Keller, Gálatas Para Você, p. 194.

Você pode ver mais estudos de Gálatas aqui

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