Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 9:23-31; 22:17-21.
Paulo retornou agora a Damasco e pregou ousadamente em nome de Jesus. Os judeus não podiam resistir à sabedoria de seus argumentos, e em conselho resolveram silenciar sua voz pela força — o único argumento deixado para uma causa em decadência. Decidiram assassiná-lo. O apóstolo foi feito sabedor de seu propósito. As portas da cidade estavam vigilantemente guardadas, dia e noite, para impedir sua fuga. A ansiedade dos discípulos levou-os a Deus em oração; poucos entre eles dormiam, pois estavam ocupados em idear meios e recursos para a fuga do apóstolo escolhido. Finalmente conceberam um plano pelo qual ele seria, de noite, baixado de uma janela por sobre o muro, num cesto. Dessa humilhante maneira Paulo efetuou sua fuga de Damasco.
Então partiu para Jerusalém, desejando familiarizar-se com os apóstolos ali, especialmente com Pedro. Estava ansioso para encontrar-se com os pescadores galileus que viveram, oraram e conversaram com Cristo enquanto esteve na Terra. Foi com o coração anelante que desejou encontrar-se com o principal dos apóstolos. Quando Paulo entrou em Jerusalém, considerou com opiniões mudadas a cidade e o templo. Agora sabia que o juízo retribuitivo de Deus pendia sobre eles.
O desgosto e a ira dos judeus por causa da conhecida conversão de Paulo não conhecia limites. Mas estava firme qual uma rocha, e esperançoso de que quando relatasse sua maravilhosa experiência a seus amigos, estes mudariam sua fé como ele havia feito, e creriam em Jesus. Havia sido estritamente consciencioso em sua oposição a Cristo e Seus seguidores, e quando foi subjugado e convencido de seu pecado, imediatamente abandonou seus maus caminhos e professou a fé em Jesus. Agora cria plenamente que quando seus amigos e associados anteriores ouvissem as circunstâncias de sua maravilhosa conversão, e vissem quão diferente estava ele do orgulhoso fariseu que perseguira e entregara à morte aqueles que criam em Jesus como o Filho de Deus, também eles tornar-se-iam convencidos de seu erro e se uniriam às fileiras dos crentes.
Tentou unir-se a seus irmãos, os discípulos; grande foi, porém, seu pesar e desapontamento quando verificou que eles não o recebiam como um de seu número. Eles relembravam suas passadas perseguições e suspeitavam que ele operava um plano para enganá-los e destruí-los. Na verdade, tinham ouvido de sua maravilhosa conversão, mas como se havia retirado imediatamente para a Arábia, não ouviram nenhuma notícia definida a seu respeito, e não deram crédito a sua grande transformação.
Encontro com Pedro e Tiago
Barnabé, que havia contribuído liberalmente com seu dinheiro para sustentar a causa de Cristo e suprir as necessidades dos pobres, fora conhecido de Paulo quando ele se opunha aos crentes. Agora, apresentou-se e renovou aquele conhecimento, ouviu o testemunho de Paulo em referência a sua maravilhosa conversão e sua experiência daquele tempo. Creu completamente e recebeu a Paulo, tomando-o pela mão e levando-o à presença dos apóstolos. Ele relatou sua experiência, a qual acabara de ouvir — que Jesus pessoalmente aparecera a Paulo no caminho de Damasco; que Ele havia conversado com ele; que Paulo havia recobrado sua visão em resposta as orações de Ananias, e que posteriormente sustentara, nas sinagogas da cidade, que Jesus era o Filho de Deus.
Os apóstolos não mais hesitaram; não podiam resistir a Deus. Pedro e Tiago, que a este tempo eram os únicos apóstolos em Jerusalém, deram a mão direita da comunhão ao que uma vez fora um feroz perseguidor de sua fé; e ele era agora tão amado e respeitado, como tinha sido anteriormente temido e evitado. Aqui os dois grandes personagens da nova fé se encontraram — Pedro, um dos escolhidos companheiros de Cristo enquanto Ele esteve na Terra, e Paulo, o fariseu, que, depois da ascensão de Jesus, O vira face a face e conversara com Ele, e também O contemplara em visão, bem como a natureza de Sua obra no Céu.
Esta primeira entrevista foi de grandes resultados para ambos os apóstolos, mas de curta duração, pois Paulo estava ansioso para tratar O início do ministério de Paulo 219 dos negócios do seu Mestre. Logo a voz que havia disputado tão ardentemente com Estêvão foi ouvida na mesma sinagoga, destemidamente proclamando que Jesus era o Filho de Deus — advogando a mesma causa, em cuja defesa morrera Estêvão. Relatou sua própria maravilhosa experiência, e com o coração cheio de anelo por seus irmãos e antigos associados, apresentou as evidências proféticas, como fizera Estêvão, de que Jesus, que fora crucificado, era o Filho de Deus.
Mas Paulo avaliara mal o espírito de seus irmãos judeus. A mesma fúria que irrompera sobre Estêvão veio sobre ele. Viu que devia separar-se de seus irmãos, e seu coração encheu-se de tristeza. De boa vontade entregaria sua vida, se por este meio fossem eles [279] trazidos ao conhecimento da verdade. Os judeus começaram a formular planos para tirar-lhe a vida, e os discípulos recomendaram-lhe que deixasse Jerusalém; contudo ele hesitou, indisposto a abandonar o lugar, e ansioso por trabalhar um pouco mais por seus irmãos judeus. Tinha tomado parte tão ativa no martírio de Estêvão que estava profundamente desejoso de delir a mancha, reivindicando ousadamente a verdade, que custou a Estêvão sua vida. Parecia-lhe covardia, fugir de Jerusalém.
Fuga de Jerusalém
Enquanto Paulo, arrostando todas as consequências de tal passo, estava orando fervorosamente a Deus no templo, o Salvador apareceu-lhe em visão, dizendo: “Apressa-te, e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a Meu respeito.” Paulo mesmo então hesitava em deixar Jerusalém sem convencer os obstinados judeus da verdade de sua fé; pensava que, mesmo que sua vida tivesse que ser sacrificada pela verdade, isto não seria mais do que saldar o terrível débito que assumira pela morte de Estêvão. Respondeu: “Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em Ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam.” Porém, a réplica foi mais decidida do que antes: “Vai, porque Eu te enviarei para longe aos gentios.”
Quando os irmãos souberam da visão de Paulo, e o cuidado que Deus teve com ele, sua ansiedade em seu favor aumentou; compreenderam que ele era sem dúvida um vaso escolhido do Senhor, para levar a verdade aos gentios. Apressaram seu secreto escape de Jerusalém, temendo seu assassínio pelos judeus. A partida de Paulo suspendeu por algum tempo a violenta oposição dos judeus, e a igreja teve um período de descanso, no qual muitos foram acrescentados ao número dos crentes.
Indicamos esta leitura complementar: Dias de Preparo – Capítulo 13, Atos dos Apóstolos
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