Quem é o Arcanjo Miguel? Por Edílson Constantino

Miguel é mencionado no Antigo Testamento Hebraico (Daniel 10: 13, 21; 12:1); no Novo Testamento Grego (Judas 9; Apocalipse 12:7); na literatura apocalíptica judaica (1 Enoque 9; 20:5; 40); e no Alcorão Árabe (Sura 2; Aleya 98). O nome significa “Quem é como Deus?”. E todos concordam que Miguel é um ser celestial.

Quem é o ‘Príncipe do Exército’? (Daniel 8:11)

A expressão “Príncipe do Exército” (Hebraico: Sar Hassaba’) tem sido interpretada de diferentes formas. Alguns especialistas que usam o método histórico-crítico aplicam os versos 9 à 14 de Daniel 8 a Antíoco IV Epifânio e veem o “Príncipe” (Sar) como referência ao Sumo Sacerdote pós-exílico Onias III (morto em 171 a.C.).

Embora o substantivo “Príncipe” (Sar) seja usado no Antigo Testamento (AT) algumas vezes para se referir ao Sumo Sacerdote (ver 1 Crônicas 9:11; 24:5; Esdras 8:24; Neemias 11:12; etc.), a expressão composta “Príncipe do Exército” NUNCA é aplicada a um Sumo Sacerdote no AT.

A expressão “Príncipe do Exército” aparece em Josué 5:13-15: “Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis que se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversários? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do SENHOR (Heb. Sar Sebá YHWH) e acabo de chegar. Então, Josué se prostrou com o rosto em terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo? Respondeu o príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim”.

Quem é esse “Príncipe do Exército do Senhor”? Trata-se, evidentemente, de um ser não-terreno que, assim como Deus, recebe adoração. Quem é Ele?

No Livro de Daniel, a palavra “Príncipe” aplica-se claramente ao Messias. Em 8:11, ele é chamado “Príncipe do Exército” contra quem o poder representado pela “Ponta Pequena” se levanta; em 8:25, ele é o “Príncipe dos príncipes”; em 9:25, ele aparece na profecia as Setenta Semanas como “O Príncipe, o Ungido (O Messias)”; em 10:13 é-nos dito: “Miguel, um dos primeiros príncipes”; em 10:21, ele é “Miguel, vosso príncipe”; em 11:22 ele é chamado “O Príncipe da Aliança”; e 12:1 fala de “Miguel, o Grande Príncipe, o Defensor dos filhos de teu povo”. Fica clara a relação entre o Messias Príncipe e o Príncipe Miguel.

Alguns pensam que a expressão “Um dos primeiros príncipes” (Daniel 10:13) impossibilita que Miguel seja um dos títulos de Cristo. Contudo, a palavra hebraica para “Um” (ehad) também pode ser traduzida por “o primeiro” (ver Gênesis 1:5; Êxodo 40:2; Levítico 23:35; Deuteronômio1:3; 1 Reis.16:23; 2 Crônica 29:17; Esdras 1:1; 3:6; 7:9; 10:16, 17; Ezequiel 26:1; 29:17; 31:1; Daniel 1:21; 9:1, 2; 11:1; 6:2; 7:1, etc.). Neste caso, a tradução de 10:13 é “Miguel, o PRIMEIRO dos principais príncipes”, o que equivale ao “Príncipe dos príncipes” de 8:25.

Quem é o Arcanjo Miguel?

No Novo Testamento (NT), Miguel é chamado de ARCANJO (Judas 9). Por isso muitos entendem que equiparar Miguel a Jesus rebaixa a divindade de Cristo à categoria de um anjo. Mas a objeção está longe de ser convincente. Convém recordar que Cristo é chamado “Anjo de Jeová” em diversas passagens do AT, mas nem por isso fica rebaixada sua absoluta divindade.1 O título honorífico de mensageiro (Anjo) que Ele assume em certas ocasiões não afeta, de modo algum, sua natureza divina (consubstancial ao Pai). Além do mais, a palavra ARCANJO só aparece duas vezes na Bíblia (1 Tessalonicenses 4:16 e Judas 9), sempre no singular, e pode ser traduzida como “Chefe dos Anjos”, não necessariamente um deles ou da mesma natureza que eles. Sem dúvida, o Chefe dos anjos é absolutamente divino.

A passagem de 1 Tessalonicenses 4:16, que fala da “voz de Arcanjo”, está intimamente relacionada com Daniel 12:1-2. Ambas se referem a um período escatológico. Ambas vinculam a figura do Arcanjo (Miguel) com a ressurreição dos mortos. Interessante é que Jesus disse que os mortos ouviriam “SUA VOZ” e sairiam dos túmulos na ressurreição (cf. João 5:28); mas Paulo afirma que os mortos em Cristo ressuscitarão ao ouvirem a “VOZ DO ARCANJO” (1 Tessalonicenses 4:16). Isso não reforça a identidade do Arcanjo?

Em Apocalipse 12 também encontramos a figura de Miguel. Ele peleja contra o Dragão, que é Diabo e Satanás, e o expulsa do Céu. A estrutura deste texto favorece a interpretação de que Miguel é Cristo. Jesus é representado como o Filho da Mulher que Satã deseja destruir quando nascer. Mas o Filho é arrebatado para o trono de Deus (cf. 12:5 – uma referência inequívoca a Sua ascensão). No verso imediatamente seguinte, Miguel peleja com o Diabo e o expulsa definitivamente do Paraíso de Deus. Faz sentido que Miguel aqui seja um título dado ao Cristo ressuscitado. Foi Ele quem “morreu-ressuscitou-ascendeu” para que “o príncipe desse mundo” fosse expulso.

Só mais um detalhe: a expressão “Miguel e os SEUS anjos” (12:7) é elucidativa, porque a expressão também é usada com referência a Cristo (“SEUS ANJOS”, ou seja, de Cristo – cf. Mateus 16:27; 24:31).

Alguns têm utilizado a passagem de Judas 9 para afirmar que Miguel não pode ser um outro nome para Cristo. Mas isso também é infundado. Vejamos o que diz a passagem:

“Contudo, o Arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!”

Alegam os opositores: Se Miguel fosse Cristo, por que ele não proferiu juízo contra Satanás? Por que declinou da repreensão contra o Diabo? Por que disse: “O Senhor (gr. kyrios) te repreenda” se ele era o próprio Jesus?

Vejamos de perto a passagem. O transfundo literário desse texto é Zacarias 3:1-3.

Observe: “Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o SENHOR disse a Satanás: O SENHOR te repreende, ó Satanás; sim, o SENHOR, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo? Ora, Josué, trajado de vestes sujas, estava diante do Anjo”.

Bem, se foi o “Anjo do Senhor” (identificado como Cristo) quem falou “O Senhor te repreende, ó Satanás”, ou, como está explícito no texto, foi o próprio SENHOR quem o disse, não altera o fato de que a objeção dos opositores, acima citada, é descabida. Miguel pode ser um outro nome para Cristo e ainda assim poderia ter dito a Satanás “O Senhor te repreenda” (Jud. 9). A expressão grega ‘epitimesai (repreenda) usada em Judas 9 é a mesma usada em Zacarias 3:2 (cf. Septuaginta ou LXX). Portanto, a alegação de que Miguel, sendo Cristo, não poderia ter dito ao Diabo a expressão “O Senhor te repreenda” é falha e não leva em conta o contexto da passagem. Em Zacarias 3, o SENHOR diz as mesmas palavras ao Diabo e nem por isso deixou de ser o que era.

A passagem de Judas representa Cristo (Miguel) como alguém abnegado e humilde, em contraste com os falsos mestres, que “rejeitam governo e difamam autoridades superiores” (v. 8). Cristo, em Sua disputa com Satanás, não o insultou ou depreciou, embora pudesse haver justa razão para isso. Eis o contraste: o que aqueles hereges faziam ao depreciar autoridades, Cristo não o fez, porque não estava em harmonia com a perfeição de seu caráter. Não desceu ao nível de palavras infamatórias.

OBS: Muitos protestantes aceitam que Miguel é o próprio Cristo (ex. João Calvino, Matthew Henry e Adam Clark).

Conclusão:

MIGUEL não é senão um dos muitos títulos aplicados a Cristo, a segunda pessoa da Divindade. Tal ideia, de modo algum, colide com nossa crença basilar na eterna preexistência e absoluta divindade de Cristo. Ellen White conclui: “Cristo é chamado o Verbo de Deus. (João 1:1-3). É assim chamado porque Deus deu Suas revelações ao homem em todos os tempos por meio de Cristo. Foi o Seu Espírito que inspirou os profetas. (1 Pedro 1:10 e 11). Ele lhes foi revelado como o Anjo de Jeová, o Capitão do exército do Senhor, o Arcanjo Miguel”. [Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, p. 366].

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1 Na Bíblia, o “Anjo de Jeová” é visto como o próprio Jeová (ver Gênesis 16:7, 8, 13; 31:11-13; 48:15, 16; Êxodo 3: 2-6, 14; 23:20, 21; 7:30-32; Números 22:21-23:5; Isaías 63:9; Malaquias 3: 12; etc.). A maioria dos protestantes crê que se refere a Cristo. Jeová é outro nome dado ao Cristo pré-encarnado. [Na literatura judaica, às vezes, Miguel é representado como o “Anjo de Jeová” (Talmud Yoma 37°; Midrash Rabbah, sobre Gên. 18:3, Êxodo 3:2; Targum, Gênesis 32:25; etc.)].

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