Estes artigos foram traduzidos para o português, a partir do livro em francês “Lire Ellen White”, por Ruth Mª C. Alencar. Título do original em inglês, Reading Ellen White: How to Understand and Apply Her Writings (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1997, escrito pelo pastor George Knigh
“O que você acha, perguntou um membro do auditório, da declaração da senhora White sobre a importância do estudo aprofundado dos 144.000 antes do fim do tempo da graça?” Felizmente, eu conhecia a resposta a esta questão. Ela disse exatamente o contrário: que este estudo não era indispensável e que nós deveríamos dedicar tempo e nossas energias a estudar o que é claramente ensinado na Bíblia. (ver Mensagens Escolhidas vol. 1, pág. 191-192) Enfim, ela nunca disse que é importante estudar a identidade dos 144.000 antes do fim do tempo da graça.
Esta declaração, juntamente com outras, faz parte dos apócrifos de Ellen White. Você talvez pergunte: O que são os apócrifos de Ellen White?” São essas declarações ou esses sentimentos que lhe são atribuídos, mas à propósito dos quais não existe nenhuma documentação, e que são falsas.
Circula muitas informações que lhe são falsamente atribuídas. Como podemos identificá-las? A primeira característica que permite reconhecê-las como apócrifas pelos que são familiarizados com os escritos de Ellen White, é que estas declarações não se harmonizam com o conteúdo geral de seus pensamentos. Isto quer dizer que elas parecem estranhas em relação ao conjunto de suas ideias e fora de propósito em sua boca. A característica de estranho não é, certamente, uma prova de que se trata de um apócrifo, mas sim uma indicação. A maneira mais clara de autenticar uma declaração de Ellen White é de pedir uma referência. Uma vez encontrada, podemos verificar se ela o disse realmente, se ela o disse desta maneira, e examinar o enunciado e o contexto para determinar se foi corretamente interpretado.
Sempre, nos seminários, me perguntam sobre as declarações de Ellen White que me parecem estranhas. Peço então a quem me pergunta para me dar a referência, prometendo de examiná-la e de lhe escrever ou de lhe telefonar sobre o assunto. Em geral, não existe referência, porque elas não existem. Mas às vezes existe uma como esta da Review and Herald de 24 de julho de 1895, página 30, por exemplo. Tais citações parecem impressionantes por sua precisão. Mas, é também verdade que nem sempre são autênticas, que a declaração foi lida de maneira tendenciosa, ou má interpretada para lhe atribuir um sentido que Ellen White não tinha a intenção de dar.
Como nascem tais declarações apócrifas? Arthur White propõe pelo menos cinco causas no Comprehensive Index to the Writings of Ellen G. White: a) Erros de memória, b) uma associação de idéias incorretas, c) afirmações extraídas de seu contexto, d) escritos falsamente atribuídos e e) pura ficção. (vol. 3, p. 3189-3192)
Tais erros podem ser sinceros e acidentais, ou, em certos casos, intencionais e maliciosos. Mas todos eles induzem ao erro. Como muitos assuntos tratados neste livro, este também se apresentou durante o período em que Ellen White estava viva. Ela tratou de maneira completa esse assunto no vol. 5 dos Testemunhos Para a Igreja, p. 692 a 696. Isto pode ser examinado com benefício por todos os leitores dos escritos de Ellen White: “Sejam vigilantes, diz ela, à maneira como vocês dão autoridade a tais referências.” (Testemunhos Para a Igreja vol. 5, pág. 694)
Ela conclui sua análise sobre assunto nos seguintes termos: “Digo a todos os que procuram a verdade: não dêem crédito às citações do que a irmã White fez, disse ou escreveu. Se vocês desejam saber o que o Senhor tem revelado por seu intermédio, leiam o que ela publicou. […] Não se apressem a apoiar rumores e a reproduzir o que ela disse.” (Testemunhos Para a Igreja vol. 5, pág. 696)
Em 1904, ela deu o seguinte conselho: “Todos aqueles que ouvem tais rumores dizem: Fui aconselhado a não prestar atenção a essas informações e eu não posso aceitar isso como uma declaração da irmã White, a menos que você me mostre, por escrito, com a sua assinatura. Então, eu lhe enviarei para saber se está correta.” (W.C.White à W.S. Sadler, 20 janeiro de 1904)
Willie White, falava, é claro, de suas cartas não publicadas ao invés de seus livros e artigos, mas a ideia é clara. E já que não podemos mais lhe escrever para lhe pedir para autenticar, podemos contatar a Fundação White na sede da Conferência Geral, ir ao centro de pesquisa da Fundação mais próxima, para verificar a autenticidade de uma declaração, ou para toda questão que precisemos esclarecer. Muitas pessoas não tiram vantagem dos serviços que estão à disposição por telefone, correio ou fax.
A questão das extensões proféticas de Ellen White está muito próxima do problema das declarações que lhe são falsamente atribuídas. Ao longo dos anos, alguns têm empregado as declarações de Ellen White para subentender que seu apoio ilimitado a alguns autores ou pregadores tem dado a seus trabalhos ou às suas ideias uma sorte de autoridade profética.
E, quando alguns leram que “anjos celestiais estavam ao seu lado [Martinho Lutero], e raios de luz procedentes do trono de Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade” (Grande Conflito, pág. 122), eles chegaram a crer que suas ideias eram também inspiradas como eram as de um profeta. Ellen White queria dizer certamente que Deus se serviu de Lutero e que Seus anjos conduziram o conjunto de sua obra. Mas, seria um erro concluir que ela aprovava toda sua teologia.
O caso de William Miller é semelhante. Ellen White escreveu em relação a ele que “Deus mandou Seu anjo mover o coração de um lavrador, que não havia crido na Bíblia, a fim de o levar a examinar as profecias. Anjos de Deus repetidamente visitavam aquele escolhido, para guiar seu espírito e abrir à sua compreensão profecias que sempre tinham sido obscuras para o povo de Deus.” (Primeiros Escritos 229) Por essas observações, embora impliquem que Ellen White aprovava a abordagem geral de Miller, não deve ser compreendido como significando que ela cria que ele tinha razão em todas as coisas. Por exemplo, ela diferia muito certamente de Miller sobre a identidade do santuário antes de ser purificado no fim dos 2.300 tardes e manhãs.
É interessante ressaltar que consideraram os representantes dos dois pontos de vista presentes no conflito de Mineápolis, em 1888, como uma extensão da autoridade profética de Ellen White. E, alguns tendo tomado conhecimento de que Ellen White declarou que os anjos do céu ajudaram Uriah Smith na redação do seu livro Daniel e a Revelação (Daniel e Apocalipse) chegaram a tratar o livro como um escrito inspirado e, portanto, não passível de revisões. Afinal de contas, ela não havia recomendado “que este livro seja espalhado por todos os lugares.”? (Cartas 25ª, 1889) E não tinha ela escrito que “Patriarcas e Profetas, Daniel e Apocalipse e O Grande Conflito […] contêm exatamente a mensagem de que o povo necessita, a luz especial que Deus deu a Seu povo. “Os anjos de Deus preparariam o caminho para estes livros no coração do povo.” (Colportor Evangelista pág. 123-124)
Tais sentimentos conduziram ao que Willie White chamou “a doutrina da infalibilidade” em relação à influência do tratamento da profecia por Uriah Smith (W.C. White à J. H. Waggoner, 27 de fevereiro de 1889). Eles conseguiram levar um bom número a pensar que a obra de Smith não deveria ser revisada, porque Ellen White lhe tinha dado todo apoio. Alguns consideraram a análise de Daniel e de Apocalipse feita por Smith como uma extensão profética de Ellen White. Eles compreendiam que não era para se colocar em questão ou alterar as ideias de Smith porque elas tinham o apoio do dom profético.
Outros empregaram a mesma lógica para os ensinamentos de A. T. Jones e de E. J. Waggonner aos quais Uriah Smith se opôs na reunião da Conferência Geral de 1888. Porque Ellen White, por várias vezes, apoiou os dois homens e disse em termos claros que Deus os tinha enviado e que eles tinham “uma mensagem muito preciosa”. (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos 91) para a Igreja adventista, alguns deduziram que ela endossava toda sua teologia em 1896. E, Waggoner e Jones foram também considerados como candidatos à extensão profética.
Mas assim como para Lutero, Miller e Smith, é preciso ter cuidado. Primeiramente, Ellen White teve de apoiar fortemente a mensagem de Jones e Waggoner para que ele tivesse uma chance de ser escutado pelos responsáveis da Conferência Geral que lhes opuseram injustamente. Segundo, Jones e Waggoner portavam uma mensagem sobre Jesus e a salvação pela fé que a igreja necessitava muito. Enfim, por várias vezes, Ellen White afirmou que ela não estava de acordo com toda a teologia deles. Por exemplo, em novembro de 1888 ela declarou aos delegados reunidos para a Conferência geral: “Não considero como corretas algumas das interpretações das Escrituras dadas pelo pastor Waggoner” (1888 Materials 164). Entretanto, ela não especificou em que ela se aproximava ou se distanciava dele.
Em resumo, Ellen White não tem extensões proféticas. É um erro empregar seus escritos para justificar esta posição. Se quisermos realmente saber no que ela creu e ensinou, é conveniente seguir seu conselho: “Se você deseja saber o que o Senhor revelou por seu intermédio, leia suas publicações.” (Testemunhos Para a Igreja, pág.696)