Este capítulo é baseado em Êxodo 15:23-18:27.
Os filhos de Israel viajaram pelo deserto e por três dias não puderam achar boa água para beber. Sofrendo com a sede “murmurou o povo contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? Então Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces. Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação, e ali os provou, e disse: Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e fizeres o que é reto diante de Seus olhos, e deres ouvido aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios; pois Eu sou o Senhor que te sara.”
Os filhos de Israel mostraram possuir um mau coração de incredulidade. Não estavam dispostos a suportar as durezas do deserto. Quando deparavam com dificuldades no caminho, consideravam-nas como impossibilidades. Sua confiança em Deus falhava, e eles não viam ante si coisa alguma senão a morte. “Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto; disseram-lhes os filhos de Israel: Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão a fartar! pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão.”
Na verdade, eles não tinham sofrido a agonia da fome. Tinham alimento para o presente, mas estavam temerosos pelo futuro. Não viam como as hostes de Israel subsistiriam, em sua longa jornada através do deserto, com o simples alimento que então possuíam, e na sua descrença viam seus filhos a perecer de fome. O Senhor permitiu que escasseasse o suprimento de alimentos e que as dificuldades os rodeassem, para que seu coração pudesse volver-se Àquele que até ali os ajudara, e cressem nEle. Estava pronto para ser-lhes um auxílio presente. Se em sua necessidade O invocassem, Ele lhes manifestaria sinais de Seu amor e contínuo cuidado.
Entretanto, pareciam indispostos a continuar confiando no Senhor, a não ser que pudessem testemunhar diante de seus olhos a contínua evidência de Seu poder. Se tivessem possuído verdadeira fé e firme confiança em Deus, inconvenientes e obstáculos, e mesmo sofrimentos reais teriam sido alegremente suportados, depois que o Senhor operara de modo tão maravilhoso para seu livramento da servidão. Além disso, o Senhor prometeu que se fossem obedientes aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade viria sobre eles, pois disse: “Eu sou o Senhor que te sara.”
Depois desta segura promessa de Deus era pecaminosa incredulidade de sua parte temer antecipadamente que eles e seus filhos pudessem morrer de fome. Tinham sofrido grandemente no Egito, sobrecarregados de trabalho. Seus filhos tinham sido condenados à morte, e em resposta a suas orações de angústia, Deus misericordiosamente os livrara. Prometera ser o seu Deus, e tomá-los para Si como um povo, e guiá-los a uma terra larga e boa.
Mas, eles estavam prontos a desfalecer a cada sofrimento que tivessem de suportar no caminho para aquela terra. Tinham suportado muito mais em serviço aos egípcios, porém agora não podiam suportar o sofrimento em serviço a Deus. Estavam prontos a ceder a suas sombrias dúvidas e a mergulhar no desencorajamento quando fossem tentados. Murmuraram contra o devoto servo de Deus, Moisés, e o acusaram de todo o seu sofrimento, e expressaram o desejo ímpio de permanecer no Egito, onde podiam se assentar junto às panelas de carne e comer pão a fartar.
Lição para nosso tempo
A incredulidade e a murmuração dos filhos de Israel ilustra o povo de Deus ora sobre a Terra. Muitos olham para o Israel do passado, e se maravilham de sua descrença e contínua murmuração, depois de o Senhor ter feito tanto por eles, dando-lhes repetidas evidências de Seu amor e cuidado. Acham que não se deviam ter mostrado ingratos. Mas alguns que assim pensam, murmuram e se queixam ante coisas de pequena consequência. Não se conhecem a si mesmos. Deus os experimenta com frequência, e prova sua fé com pequenas aflições; e eles não suportam a prova melhor do que fez o antigo Israel.
Muitos têm suas necessidades presentes supridas; mesmo assim não confiam no Senhor para o futuro. Manifestam incredulidade e caem no abatimento, no desânimo, em face de necessidades antecipadas. Alguns vivem em contínua preocupação, com medo de que venham a ter necessidade e que seus filhos sofram. Quando surgem dificuldades ou eles são postos em aperto — quando sua fé e seu amor a Deus são provados — recuam do sofrimento e murmuram do meio escolhido por Deus para purificá-los. Seu amor não se prova puro e perfeito para suportar tudo.
A fé do povo do Deus do Céu deve ser forte, ativa e perseverante — a prova das coisas que se esperam. Então a sua linguagem será: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao Seu santo nome”, pois Ele me tem tratado generosamente.
A abnegação é considerada por muitos como sendo real sofrimento. Os apetites depravados são tolerados. E uma restrição ao apetite não saudável levaria até muitos professos cristãos a iniciar agora um retorno, como se a inanição fosse a consequência de um regime simples. E, à semelhança dos filhos de Israel, prefeririam a escravidão, corpos enfermiços, e mesmo a morte, a serem privados das panelas de carne. Pão e água é tudo o que foi prometido aos remanescentes no tempo de angústia.
O maná
“E quando se evaporou o orvalho que caíra, na superfície do deserto restava uma coisa fina e semelhante a escamas, fina como a geada sobre a terra. Vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? pois não sabiam o que era. Disse-lhes Moisés: Isso é o pão que o Senhor vos dá para vosso alimento. Eis o que o Senhor vos ordenou: Colhei disso cada um segundo o que pode comer, um ômer por cabeça, segundo o número de vossas pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda.
“Assim o fizeram os filhos de Israel; e colheram, uns mais, outros menos. Porém, medindo-o com o ômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco, pois colheram cada um quanto podia comer. Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para [130] a manhã seguinte. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para a manhã seguinte; porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles. Colhiam-no, pois, manhã após manhã, cada um quanto podia comer; porque, em vindo o calor, se derretia.
“Ao sexto dia colheram pão em dobro, dois ômeres para cada um; e os principais da congregação vieram, e contaram-no a Moisés. Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o Senhor: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte, como Moisés ordenara; e não cheirou mal nem deu bichos. Então disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sábado é do Senhor: hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá.”
O Senhor não é agora menos minucioso com respeito a Seu sábado do que quando deu essas orientações especiais aos filhos de Israel. Determinou-lhes que no sexto dia assassem o que quisessem assar, e cozessem o que quisessem cozer, em preparo para o repouso do sábado.
Deus manifestou Seu grande cuidado e amor por Seu povo enviando-lhe pão do céu. “Comeram pão dos anjos”; isto é, alimento provido para eles pelos anjos. O triplo milagre do maná — dupla porção no sexto dia, nenhuma no sétimo, e sua conservação através do sábado, quando nos outros dias se tornava impróprio para o uso — foi designado para impressioná-los quanto à solenidade do sábado.
Depois de terem sido abundantemente supridos de alimento, ficaram envergonhados de sua descrença e murmurações e prometeram confiar no Senhor para o futuro, mas logo olvidaram sua promessa e falharam na primeira prova de sua fé.
Água da rocha
Viajaram do deserto de Sim, e acamparam em Refidim, onde não havia água para o povo beber. “Contendeu, pois, o povo com Moisés, e disse: Dá-nos água para beber. Respondeu-lhes Moisés: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao Senhor? Tendo aí o povo sede de água, murmurou contra Moisés, e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos, e aos nossos rebanhos? Então clamou Moisés ao Senhor: Que farei a este povo? Só lhe resta apedrejar-me:
“Respondeu o Senhor a Moisés: Passa adiante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, leva contigo em mão a vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água, e o povo beberá. Moisés assim o fez na presença dos anciãos de Israel. E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?”
Deus guiou os filhos de Israel para acamparem nesse lugar, onde não havia água, para prová-los, a fim de ver se eles O buscariam em seu desespero, ou murmurariam como já tinham feito anteriormente. À vista do que Deus tinha feito por eles em seu maravilhoso livramento, deviam ter crido nEle em seu infortúnio. Deviam ter compreendido que Ele não permitiria perecer de sede, a quem Ele havia prometido tomar para Si como Seu povo. Mas, em vez de humildemente suplicarem do Senhor a provisão para suas necessidades, murmuraram contra Moisés, e exigiram dele água.
Deus tinha estado manifestando de contínuo Seu poder de forma maravilhosa diante deles, para fazê-los entender que todos os benefícios que recebiam vinham dEle; que Ele os podia dar ou remover, de acordo com a Sua própria vontade. Algumas vezes tiveram um perfeito entendimento disso, e humilharam-se grandemente diante do Senhor; mas quando sedentos ou famintos, lançavam tudo sobre Moisés, como se tivessem deixado o Egito para agradar-lhe. Moisés contristou-se com suas cruéis murmurações. Indagou do Senhor o que devia fazer, pois o povo estava pronto para apedrejá-lo. O Senhor mandou que ferisse a rocha com a vara de Deus. A nuvem da Sua glória repousava diante da rocha. “No deserto fendeu rochas, e lhes deu a beber abundantemente como de abismos. Da pedra fez brotar torrentes, fez manar água como rios.” Salmos 78:15, 16.
Moisés feriu a rocha, mas era Cristo que estava com ele e fazia a água correr da pederneira. O povo tentou o Senhor em sua sede, e disse: Se Deus nos trouxe aqui, por que não nos dá água assim como pão? A incredulidade assim demonstrada era criminosa, e fez com que Moisés receasse que o Senhor os punisse por suas ímpias murmurações. O Senhor provou a fé de Seu povo, mas este não suportou a prova. Murmurou por alimento e por água e acusou a Moisés. Por causa de sua incredulidade, o Senhor permitiu que seus inimigos fizessem guerra contra ele, para manifestar a Seu povo de onde vinha a sua força.
Livramento de Amaleque
“Então veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Com isso ordenou Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, peleja contra Amaleque; amanhã estarei Eu no cume do outeiro, e a vara de Deus estará na minha mão. Fez Josué como Moisés lhe dissera, e pelejou contra Amaleque; Moisés, porém, Arão e Hur subiram ao cume do outeiro. Quando levantava a mão, Israel prevalecia; quando, porém, ele abaixava a mão, prevalecia Amaleque. Ora as mãos de Moisés eram pesadas, por isso tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur sustentavam-lhe as mãos, um dum lado e o outro do outro: assim lhe ficaram as mãos firmes até o pôr-do-sol.”
Moisés ergueu as mãos na direção do Céu, com a vara de Deus na mão direita, suplicando a ajuda de Deus. Então Israel prevaleceu e afugentou seus inimigos. Quando Moisés baixou as mãos, viu-se que Israel logo perdeu tudo que havia ganho, e estava sendo vencido pelo inimigo. Moisés de novo ergueu as mãos na direção do Céu, e Israel prevaleceu, e o inimigo foi feito recuar.
Este ato de Moisés, estendendo as mãos para Deus, devia ensinar a Israel que enquanto pusessem em Deus sua confiança e se apegassem a Sua força e exaltassem o Seu trono, Ele lutaria por eles e subjugaria seus inimigos. Contudo, quando perdessem a confiança em Seu poder e confiassem em sua própria força, seriam mesmo mais fracos do que seus inimigos, que não tinham o conhecimento de Deus, e estes haviam de prevalecer sobre eles. Então “Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo ao fio de espada.
“Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isso para memória num livro, e repete-o a Josué; porque Eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu. E Moisés edificou um altar, e lhe chamou: O Senhor é minha bandeira. E disse: Portanto, o Senhor jurou, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração.” Se os filhos de Israel não tivessem murmurado contra o Senhor, Ele não teria permitido que seus inimigos fizessem guerra com eles.
A visita de Jetro
Antes de Moisés deixar o Egito, levou de volta sua esposa e filhos ao seu sogro. E depois que Jetro ouviu do maravilhoso livramento dos israelitas do Egito, visitou a Moisés no deserto, trazendo-lhe sua esposa e filhos. “Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, inclinou-se e o beijou; e, indagando pelo bem-estar um do outro, entraram na tenda. Contou Moisés a seu sogro tudo o que o Senhor havia feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no Egito, e como o Senhor os livrara.
“Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a Israel, livrando-o da mão dos egípcios, e disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou das mãos dos egípcios e da mão de Faraó; agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses, porque livrou este povo de debaixo da mão dos egípcios, quando agiram arrogantemente contra o povo. Então Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus.”
O olho experimentado de Jetro logo viu que os encargos sobre Moisés eram muito grandes, pois o povo trazia a ele todas as questões difíceis e ele os instruía com relação aos estatutos e à lei de Deus. Disse a Moisés: “Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei, e Deus seja contigo: Representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus; ensina-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer.
Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, e chefes de dez, para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo. Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás então suportar; e assim também todo este povo tornará em paz em seu lugar. “Moisés atendeu as palavras de seu sogro, e fez tudo quanto este lhe dissera. Escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta, e chefes de dez. Estes julgaram o povo em todo tempo; a causa grave trouxeram a Moisés, e toda causa simples julgaram eles. Então se despediu Moisés de seu sogro, e este se foi para a sua terra.”
Moisés não se julgava diminuído ao receber instrução de seu sogro. Deus o exaltara grandemente e operara maravilhas por sua mão. Contudo, Moisés não arrazoou que Deus o escolhera para instruir outros e que cumprira coisas maravilhosas por sua mão, e que por isso não necessitava ser instruído. Alegremente ouviu as sugestões de seu sogro, e adotou seu plano como uma sábia providência.
Indicamos: Patriarcas e Profetas: Do Mar Vermelho ao Sinai – Capítulo 26