Apocalipse 14:9-12
“Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:9-12).
Esta advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um a permanecer firme contra as ameaças de morte do anticristo, e desenvolve a mensagem do segundo anjo de que todas as nações se viram compelidas a “beber o vinho” de Babilônia (Apocalipse 14:8): “Se alguém beber o vinho da ira de Babilônia, também terá que beber o vinho da ira de Deus!” O “cálice” simbólico da ira de Deus (Apocalipse 14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de juízo de Israel. O “cálice de vinho” na mão de Deus servia como o símbolo de sua justiça punitiva.
Até Israel que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira (Jeremias 25:15, 16, 17; 49:12; Ezequiel 23:31-34; Isaías 51:17, 22; Sal. 60:3; 75:8). Mas Israel experimentou a taça da ira de Deus só em forma temporária (ver Salmo 60:3; Isaías 51:22).
Entretanto, alguns inimigos de Israel tiveram que beber a taça da ira até sua extinção:
“Beberão, e engolirão, e serão como se não tivessem sido” (Obadias 16). “Bebei, embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a levantar-vos…” (Jeremias 25:27; também o v. 33).
A aceitação por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus no Getsêmani pertence à essência do evangelho (Mateus 20:22; 26:39, 42). Declara E. W. Fudge:
“Porque ele aceitou aquela taça, seu povo não tem que bebê-la. A taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo constante de que ele ocupou nosso lugar (Mateus 26:27-29)”.1
Os adoradores da besta têm que beber a ira de Deus “pura” [em gr., akrátu; “sem diluir”, NBE; “sem mistura”, CI). Este cálice da ira já não está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas (Apocalipse 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16 constituem uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma expressão hebraica nestes versículos tem desafiado os intérpretes:
“Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome” (Apocalipse 14:10, 11).
A frase “fogo e enxofre” é parte da maldição do pacto, maldição que inclui extinção ou aniquilação (Deuteronômio 29:23; Salmo 11:6). O juízo sobre Sodoma e Gomorra resultou em que “subia da terra fumo como fumaça de um forno” (Gênesis 19:23, 28, CI).
Também foi o juízo de Deus sobre Edom, um dos arqui-inimigos de Israel (Isaías 30:27- 33; Ezequiel 38:22):
“Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela” (Isaías 34:9, 10).
É evidente que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14 toma sua fórmula de maldição especificamente de Isaías 34. A desolação e a extinção histórica de Edom é o modelo ou o tipo da sorte de Babilônia (ver Judas 6, 7). A natureza deste castigo não reside em um tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom, a não ser na consequência eterna do fogo: “Subirá para sempre a sua fumaça” (ver Isaías 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha completado sua obra. Nas palavras do E. W. Fudge: “Os ímpios morrem uma morte atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar significa que as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas”.2
A maldição que diz que os que adorem à besta não terão “repouso de dia nem de noite” está tirada de uma maldição específica do pacto sobre um Israel rebelde: “Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso” (Salmo 95:11). Enquanto o significado original se referia ao repouso de Israel na terra prometida, o Novo Testamento aplica o repouso prometido ao repouso da graça de Deus no qual cada crente deve entrar agora (Hebreus 4:3). Este repouso divino esteve disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da semana da criação! (Gênesis 2:2, 3). “Portanto, ainda fica um descanso sabático para o povo de Deus. Porque o que ‘entra em seu repouso’ descansa ele também de suas obras, como Deus das suas” (Hebreus 4:9, 10, JS; CI; BJ).
O castigo final será o rechaço de Deus de dar repouso aos adoradores da besta.
Por outro lado, uma voz celestial anuncia que os “mortos que, desde agora, morrem no Senhor…. que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (Apocalipse 14:13). Esta bem-aventurança se refere aos que morrem em Cristo durante as perseguições do anticristo do tempo do fim. Sua perseverança será recompensada. A mensagem do terceiro anjo pronuncia a resposta de Deus à ameaça feita pela besta, como mostra a seguinte comparação.
APOCALIPSE 13:16 | APOCALIPSE 14:9, 11 |
“A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte”. | “Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão … e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome”. |
Estas correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14 indicam que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma correta compreensão de Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a respeito da besta está exposta na visão do juízo de Apocalipse 17, o que significa que Apocalipse 17 constitui igualmente uma parte interpretativa essencial da mensagem de advertência de Apocalipse 14.
A Marca da Besta
Nosso tema agora é compreender o significado teológico de “a marca da besta”. É a marca identificadora do culto de adoração que se rende à besta. “Não se pode ter a marca sem o ato de adoração”.3 A ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade de Babilônia. Seu endeusamento próprio entra em conflito com a chamada de Israel a adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apocalipse 14:7). A mensagem do terceiro anjo é o rogo do céu à humanidade para que se volte para o Criador, ao Deus do pacto do Israel, tal como está revelado nas Escrituras.
O assunto fundamental não é identificar a marca de uma maneira isolada, mas sim vê-la como um ato de adoração da besta e por isso, como uma atitude de idolatria.
O terceiro anjo “indica a natureza da usurpação: a besta se apropria das prerrogativas do Deus Criador, e é adorada”.4
A usurpação das prerrogativas divinas pela besta é seguida por sua demanda para que a reconheçam por meio da “marca em sua fronte ou em sua mão” (Apocalipse 14:9).
Seu significado chega a ser claro quando se considera à luz do dever de Israel de atar os mandamentos e as palavras de Deus: “Ata-as à tua mão como um sinal, como um aviso ante teus olhos” (Deuteronômio 6:8; cf. 11:18, BJ). Para Israel, seu significado espiritual era evidente: atuar e pensar em harmonia com a vontade de Deus e recordar diariamente a redenção do êxodo (ver Deuteronômio 6:5; Êxodo 13:8, 9).
* Nota do Tradutor: A nota da versão Cantera-Iglesias diz que a interpretação literal de Deuteronômio 6:8 deu origem aos filactérios, “par de pequenas caixas de couro usadas ritualmente, amarradas ao braço e à testa por correias, também de couro, e que contêm trechos das Escrituras” Dic. Aurélio.
Gerhard von Rad faz este comentário sobre o Deuteronômio 6:8: “Provavelmente temos que tratar ainda aqui com uma forma figurada de expressão que mais tarde foi entendida literalmente e levou ao uso dos chamados filactérios”.5 De fato, Moisés mesmo explicou o propósito moral de atar os mandamentos de Deus a suas mãos e a suas frentes:
“O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás, e, pelo seu nome, jurarás. Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra… Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos que te ordenou” (Deuteronômio 6:13-15, 17).
O mandamento do Senhor incluía também a observância ritual da Páscoa e o comer pães sem levedura para comemorar a libertação do êxodo: “E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor te tirou do Egito. Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano” (Êxodo 13:9, 10).
Este histórico da adoração de Israel esclarece o propósito da marca da besta “na fronte e na mão” (Apocalipse 20:4). A marca evoca a antítese intencional da adoração de Israel. Representa a essência de um culto falsificado como usurpação e substituição.
A besta ameaça com a morte se suas ordens totalitárias são desobedecidas (Apocalipse 13:15-17). Promete vida, mas só temporal, a todos os que levem sua marca. R. H. Charles comentou a respeito: “Ambos [o selo e a marca] estavam destinados a mostrar que os que levam as marcas estão sob a proteção sobrenatural: os primeiros sob a proteção de Deus; os últimos, sob a de Satanás”.6
Beatrice S. Neall explica mais isto quando diz:
“No Apocalipse, o selo de Deus protege da ira de Deus (Apocalipse 15:2, 3; 16:2) mas não da ira da besta (13:15, 17). De maneira similar, a marca da besta protege das sanções econômicas (v. 17) e do decreto de morte (v. 15) da besta, embora faça a seus possuidores elegíveis para receber a ira de Deus (14:9-11)”.7
Tanto Cristo como o anticristo desejam a lealdade indivisa de seus adoradores, a devoção completa de seu pensamento (a “fronte”) e de seu atuar (a “mão”). O anticristo pode satisfazer-se com a marca ou na mão ou sobre a fronte, como sugere Apocalipse 13:16 e 14:9 (entretanto, ver Apocalipse 20:4).
Uma diferença básica entre os sistemas rivais de adoração é que a besta emprega a coerção, enquanto o Cordeiro emprega a persuasão. A prova final da adoração verdadeira não é crer porque há milagres, os quais podem ser enganosos (Apocalipse 13:14;19:20; Mateus 24:24), e sim crer na “Palavra de Deus e no testemunho de Jesus” (Apocalipse 1:9; 6:9; 12:17; 20:4).
A verdade tanto do Antigo como do Novo Testamento é a revelação de que o Deus de Israel é o Criador Todo-poderoso e que ele ordenou o sétimo dia, no sábado, como um monumento recordativo de sua obra criadora (Gênesis 2:2, 3; Êxodo 20:8-11; 31:12-17). Este mandamento da criação foi enriquecido como o sinal da redenção de Israel da escravidão (ver Deuteronômio 5:12-15). A celebração do sábado identifica o Criador vivente que permanece fiel à sua criação (1 Pedro 4:19). Igualmente oferece a participação em sua graça redentora (ver Ezequiel 20:12, 20). Esta verdade chega a ser relevante de uma maneira especial no tempo do fim, quando o dogma da evolução veio a ser a hipótese da ciência (desde 1859). Por isso a tríplice mensagem de Apocalipse 14 assume cada vez mais relevância. Requer a celebração do sábado restaurado como “a expressão concreta da fé na criação, o sinal da dependência de um do céu… o sinal de que a salvação vem só de cima”.8
O Surgimento do Povo Remanescente de Deus (Apocalipse 14:12)
No conflito entre as adorações rivais, Deus preserva os que se apegam a ele com lealdade. A mensagem do terceiro anjo conclui com uma chamada especial a perseverar na fé:
“Aqui está a paciência dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12).
Este texto levou J. M. Ford a fazer o seguinte comentário:
“Parece que não há caminho intermediário; ou se adora a besta e está condenado, ou se aceita com paciente resistência a perseguição da besta, obedece aos mandamentos de Deus, morre nele e recebe a recompensa por suas boas obras (v. 13)”.9
Autores dispensacionalistas tomam aos santos de Apocalipse 14:12 como crentes judeus cuja parte não está no corpo de Cristo simplesmente porque “guardam os mandamentos de Deus”. Mas isto mostra como um dogma preconcebido influi na exegese. Uma comparação de Apocalipse 14:12 com 12:17 e 1:9 demonstra que as características dos santos no capítulo 14:12 são as da igreja apostólica e as mesmas de João. A primeira epístola de João define o pecado como a transgressão da lei, como anomia ou ilegalidade (1 João 3:4). Exorta a todos os crentes cristãos a obedecer aos mandamentos de Deus, incluindo o mandamento de crer em seu Filho Jesus Cristo e o mandamento de Cristo de amar-se uns aos outros (1 João 2:3-6; 3:21-24).
A ameaça final contra a vida dos santos requer uma perseverança [em gr., upomoné]. Jesus tinha mencionado esta característica como sendo essencial para o tempo do fim: “Mas o que perseverar [upomeínas] até o fim, este será salvo” (Mateus 24:13). Mas “perseverar” é o fruto da fidelidade à vontade de Deus, tanto ao evangelho como à lei de Deus. A advertência da epístola aos Hebreus também é a ter “perseverança [upomoné] para que, depois de fazer a vontade de Deus, consigam a promessa” (Hebreus 10:36, CI; ver 12:1-3). A epístola aos Hebreus assinala os exemplos dos santos que viveram “por fé” [em hebreu, ‘emunáh, “fidelidade”] em uma crise anterior (Hebreus 10:37, 38; Habacuque 2:3, 4).
Tiago explica que “a prova de sua fé produz paciência” e a maturidade da estabilidade (Sant. 1:3-8). Por isso anima a todos os santos dizendo: “Feliz o homem que suporta a prova! Superada a prova receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam” (v. 12). Um exemplo evidente é Jó, que seguiu confiando em que Deus o vindicaria contra seus falsos acusadores (Tia. 5:11). Não entendendo por que tinha que sofrer tanto sendo inocente, Jó ainda expressou sua fé: “Eu sei que meu Redentor [ou “defensor”, BJ; ou “reivindicador”, CI] vive, e no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25).
A última geração de crentes cristãos pode ter que suportar uma prova de fé similar a do Jó. A fé perseverante se expressa em guardar “os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12, RC). Obedecem tanto à lei como à fé de Jesus em suas vidas (ver mais acima sobre Apocalipse 12:17 e 19:10).
O Significado Bíblico do Sábado do Senhor
Muitos teólogos negam que o sábado seja uma ordem da criação. Insistem em que o sábado foi feito por Moisés só para a nação de Israel (Êxodo 16; Deuteronômio 5:12-15). O assunto mais profundo que está em jogo neste debate teológico é a credibilidade do registro da criação em Gênesis 1 e 2 e seu reflexo no quarto mandamento em Êxodo 20. Um teólogo americano apresentou esta avaliação válida da origem do sábado:
“De acordo com o cânon da Escritura, a ‘interpretação da criação’ do sábado se afirma como teologicamente anterior à ‘interpretação da redenção’. Entretanto, isto significa que o mandamento do sábado sempre é obrigatório para todos os homens, obedeçam-no ou não! Na redenção de Israel da terra do Egito não se estabeleceu o sábado pela primeira vez, mas sim se restaurou; a lei moral não foi primeiro proclamada no Sinai, mas sim ali se voltou a proclamá-la. Em consequência, porque a lei do sábado está fundada na ordem da mesma criação e pertence a todas as criaturas, a interpretação tradicional cristã do sábado como uma cerimônia abolida por Jesus Cristo, é incorreta”.10
O motivo básico da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é o da restauração! Desempenha o mesmo propósito que a chamada de Isaías a um Israel extraviado:
“Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados” (Isaías 58:1).
“Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável” (Isaías 58:12).
Para Isaías, a prova da verdadeira adoração era a restauração da justiça do pacto entre o povo de Deus. Isto significava ter amor pelos fracos (Isaías 58:6, 7) e obediência em louvar a Deus em seu “santo dia” (vs. 13, 14).
No tempo do fim, o céu suplica mais uma vez a seu povo extraviado para que faça frente ao desafio de usurpação e substituição com a chamada pela restauração e a restituição. Requer o reavivamento dos mandamentos de Deus e do evangelho de Jesus Cristo (Apocalipse 14:12). Esta é a chamada final para um retorno à verdade e autoridade da Bíblia. A Escritura deve ter a última palavra para determinar a vontade de Deus. Toda certeza da verdade religiosa depende de se se aceitarem as Escrituras como a revelação autorizada da vontade de Deus. “Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa”.11
A Mensagem de Preparação para o Segundo Advento
As mensagens de Apocalipse 14 insistem a todos os adoradores a escutar atentamente a voz de Deus e a procurar uma compreensão melhor do evangelho e do testemunho de Jesus. Esta súplica assinala a diferença fundamental entre a Bíblia e a tradição da igreja. Insiste-nos a aceitar a responsabilidade pessoal para distinguir entre a autoridade bíblica e a autoridade da igreja, e a subordinar todos os profetas extra bíblicos à autoridade suprema da Escritura.
O assunto essencial da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a questão do que em última instância ata a consciência humana ante Deus! A súplica do céu em Apocalipse 14 nos recorda que a criação e a redenção não podem ser separadas, que o Redentor é o Sustentador da criação.
O sábado do Senhor nunca pode ser anulado ou mudado porque é o mandamento da criação do Criador e Redentor. É o monumento comemorativo de uma criação perfeita por parte de um Criador digno de confiança, Criador que nunca abandonará a obra de suas mãos (Salmo 138:8). Entretanto, suplica-nos que lhe respondamos como o “fiel Criador” (ver 1 Pedro 4:19).
“Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há” (Salmo 146:5, 6).
O Convite do Último Elias
A relação da tríplice mensagem de Apocalipse 14 com a promessa de Malaquias de que Deus enviará o “profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4:5, 6), é de um significado dramático. É evidente que o último profeta do Antigo Testamento prediz uma chamada final para o reavivamento e a reforma entre o povo do pacto de Deus antes do dia do juízo apocalíptico (ver os vs. 1, 2).
Este convite corresponde em essência ao que Elias fez ao Israel: “Se Jeová é Deus, sigam-no; e se Baal, sigam-no” (1 Reis 18:21). O último convite de Deus no Apocalipse se apresenta em sua súplica a “adorar” a Deus como o Criador e a não adorar a besta nem a sua imagem (Apocalipse 14:6-9).
Para compreender melhor o significado do Elias do tempo do fim, precisamos ler a narração da missão de Elias em 1 Reis 17 e 18. Malaquias exaltou a missão histórica de Elias, com sua confrontação dramática em combate com Baal no Monte Carmelo, como um tipo ou símbolo teológico para o tempo do fim. Uma análise detalhada desta correspondência tipo-antítipo da promessa de Elias em Malaquias 4 se oferece em outro lugar.12
A medula deste tipo histórico pode compendiar-se em três pontos: (1) Elias foi enviado por Deus em um tempo de apostasia moral e religiosa em Israel (1 Reis 16:30-33; 18:18; 21:25); (2) Elias foi enviado com uma mensagem de restauração do Deus do pacto, que significava um compromisso novo de Israel com seu Deus e uma restauração de seu sagrado culto de adoração e de seus mandamentos morais (18:18, 21, 30, 31); e (3) a aceitação ou o rechaço da mensagem de Elias significava vida ou morte e, portanto, era um assunto de consequências eternas (ver 18:39-44).
A chave para a aplicação do tempo do fim nós a encontramos na mensagem de João Batista, porque sua mensagem em preparar o caminho para a vinda do Messias continha os fundamentos da mensagem de Elias (ver Lucas 1:11-17). Jesus reconheceu que João era o Elias da profecia mesmo que o judaísmo contemporâneo não o reconheceu (Mateus 17:10-13).
A missão de João era preparar a Israel para a vinda do Messias (João 1:23) e para “restaurar todas as coisas” (Mateus 17:11). Sua presença era o sinal visível do advento iminente do Messias (ver João 1:29; Mateus 3:10-12). João negou que ele fora uma reencarnação do Elias (João 1:21), mas afirmou que ele era a mensagem de Elias “com o fim de preparar ao Senhor um povo bem-disposto” (Lucas 1:17; ver João 1:23). João foi enviado no momento correto, com uma mensagem urgente de arrependimento para despertar Israel à vontade de Deus e a sua visitação iminente. Sua mensagem criou um povo remanescente novo dentro da nação de Israel. Jesus aceitou o batismo de João e chegou a ser parte deste remanescente. Escolheu a seus primeiros apóstolos dentre os seguidores de João Batista.
A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem de preparação para o tempo do fim. Sua ativação cria um povo que está preparado para encontrar-se com seu Criador.
Assim como Elias, são fiéis à lei do pacto original de Deus. Escolheram estar ao lado de Deus, o Criador. Tornaram seus corações ao Deus de seus ascendentes espirituais e mantêm uma continuidade com o Israel do Antigo Testamento (Malaquias 4:6).
A mensagem de Elias para o tempo do fim está desenvolvida pelo Espírito de profecia em Apocalipse 14:6-12. Sua proclamação mundial será seguida pela segunda vinda de Cristo como o Rei e Juiz (ver os vs. 14-20), o que define a tríplice mensagem como a chamada a despertar com o fim de preparar um povo para a segunda vinda de
Cristo. Leva à hora da decisão, da mesma maneira que Elias e João Batista levaram ao Israel apóstata a um compromisso novo com seu Senhor.
Hoje a mensagem de Elias convoca a todas as pessoas para que deixem de idolatrar a criação e que adorem o Criador (Apocalipse 14:7). Uma mensagem assim é oportuna considerando o surgimento da hipótese da evolução e o triunfo da filosofia materialista. Esta chamada de Deus tem aplicações de longo alcance:
“Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal”.13
Necessita-se cada vez mais a voz de Elias em nossa civilização decadente. Reverberará por toda a sociedade e está refletida no movimento mundial de cristãos guardadores do sábado. Fizeram um compromisso com o Deus de Israel e com seu Cristo neste tempo do fim. Aceitam como seu credo a Bíblia e a Bíblia só.
Referências
1 Fudge, The Fire That Consumes, p. 296.
2 Ibid., p. 298.
3 R. H. Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 360.
4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 69.
5 Von Rad, Deuteronomy, p. 64.
6 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 363.
7 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education, p. 151.
8 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 71.
9 J. M. Ford, Revelation, p. 249.
10 Richardson, Toward an American Theology, p. 115.
11 Ellen White, GC 7.
12 Ver LaRondelle, Chariots of Salvation, cap. 11.
13 Ellen White, PR 170.