Essa imagem não consta no original do artigo do Dr. Hans LaRondelle
Para começar, desejo enfatizar a natureza simbólica das visões que Deus deu a João, “para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer” (Apocalipse 1:1; também 4:1; 17:1; 21:9; 22:1, 6, 8). A linguagem apocalíptica não deve ser pressionada nas descrições literais de nossa moderna sociedade tecnocrata. Antes esta linguagem exige que determinemos o que simboliza. Tomar as descrições visionárias como realidades literais, da mesma maneira que os livros de Gênesis e Êxodo descrevem história, é um mal-entendido básico da intenção de João. Não obstante, os comentadores que apoiam o sistema futurista de interpretação, supõem simplesmente que as 4 primeiras trombetas descrevem colisões repetidas de meteoros ou asteroides com a terra. As visões de João nos exigem que perguntemos: Onde e como usa o Antigo Testamento estes quadros em sua perspectiva profética? Rechaçamos tanto os princípios do literalismo como os do alegorismo para a linguagem apocalíptica do livro porque são enfoques especulativos. Está mais em harmonia com o pensamento bíblico, ver as trombetas como juízos do pacto sobre os que quebrantam o pacto. João usa a linguagem e os símbolos do pacto, não descrições seculares e de adivinhação.
Na era da igreja, Cristo executa seus juízos preliminares sobre as fortalezas do reino das trevas. O som de trombeta era um símbolo familiar de guerra santa (ver Números 10:9; Sofonias 1:16; Jeremias 4:5, 19, 21; Ezequiel 7:14).
As trombetas descrevem como Cristo, como o Leão da tribo do Judá (Apocalipse 5:5) ou o Guerreiro santo, começa a enviar seus juízos preliminares. Usa os agentes tradicionais da guerra santa, tais como o fogo, o granizo, a espada, as pragas, o escurecimento dos céus, as lagostas e os escorpiões, um terremoto, e até anjos caídos, porque tudo permanece sob seu domínio soberano. Nas trombetas, Cristo põe em atividade uma série de juízos limitados de admoestação.
A aplicação histórica das trombetas é notoriamente difícil e discutível. A maioria dos comentadores se abstém de fazer qualquer aplicação concreta à história. Não obstante, estamos obrigados a identificar as realidades históricas às quais se referem as trombetas de guerra. Nosso guia mais seguro é a profecia mestra de Jesus em Mateus 24, que está apoiada no esboço apocalíptico do Daniel (ver Mateus 24:15).
Jesus se referiu especificamente aos juízos messiânicos sobre Jerusalém e Judéia por meio do exército romano entre os anos 66 e 135 d.C. (ver Mateus 24:15-21; Lucas 21:20-24). Paulo aplicou as profecias de Daniel concernentes ao quarto império mundial a Roma imperial, a que seria removida como “o que impede” ou “o que o freia” antes do surgimento do anticristo (ver 2 Tessalonicenses 2:7). Paulo esperava que o anticristo se revelasse posteriormente dentro do templo de Deus, só para ser julgado e destruído na vinda de Cristo (2 Tessalonicenses 2:4, 8; para uma análise detalhada de 2 Tessalonicenses 2).
Tanto Jesus como Paulo indicaram os juízos vindouros de Deus na era cristã. Como o Senhor soberano da história, Cristo usa os governantes terrestres como seus instrumentos de castigo, assim como Deus tinha usado antes os reis de Assíria (Isaías 10:5, 6), de Babilônia (Jeremias 25:8-11) e da Pérsia (Isaías 44:28; 45:1) como seus instrumentos. Ao mesmo tempo, os profetas anunciaram que Deus também julgaria e castigaria as nações que tinha usado porque tinham excedido os limites assinalados por Deus com crueldades e vangloria idólatras (Isaías 10:5-7, 12; Jeremias 25:15-26; 51:47- 49, 55, 56; Daniel 5:24-28).
O estilo de Deus para executar justiça deve começar com seu próprio povo do pacto (“começarão por meu santuário”, Ezequiel 9:6). Jeremias declarou que a taça da ira divina seria derramada primeiro sobre o Israel rebelde: “Porque se na cidade que leva meu nome comecei o castigo, vós ides ficar impunes? [as nações gentias inimigas]. Não ficareis impunes, porque eu reclamo a espada contra todos os habitantes do mundo, oráculo do Senhor dos exércitos” (Jeremias 25:29, NBE; ver também Amós 3:2 e Miquéias 3:12).
O Antigo Testamento descreve quão terrivelmente sofreram Jerusalém e todo o Israel quando o exército de Babilônia destruiu finalmente Jerusalém e seu templo no ano 586 a.C. (2 Crônicas 36:15-19; Lamentações 4:11). O mesmo juízo foi predito por Daniel para o templo reconstruído de Jerusalém, esta vez pelo pecado supremo de expor o Messias a uma morte violenta (Daniel 9:26, 27). Isto se cumpriu, de acordo com a aplicação do Jesus, quando o exército romano destruiu a cidade e o templo no ano 70 d.C. e continuou devastando a terra do Israel até que a rebelião de BarKoba foi sufocada em 135 (Mateus 23:32, 37-39; 24:1, 2, 15-21; Lucas 19:41-44; 21:20-24).
Jesus tomou uma imagem de juízo de Ezequiel que também forma parte do simbolismo da trombeta: “Porque se à árvore verde fazem isso, que se fará à árvore verde?” (Luc. 23:31). Ezequiel anunciou que o Deus do Israel acenderia um fogo [em Jerusalém] “o qual consumirá em ti toda árvore verde e toda árvore seca” (Ezequiel 20:47). Jesus usou este simbolismo da árvore para anunciar o juízo iminente sobre Jerusalém. A metáfora das “árvores” representa claramente o povo, e se aplica em particular aos israelitas (tanto no Ezequiel 20 como no Lucas 23:31). David Aune o explica assim: “Se Jesus, que é inocente, está a ponto de ser executado, quanto mais aqueles que são culpados (os judeus que rechaçaram a Jesus) pagam essa penalidade”.1
A Primeira Trombeta Aplicada à História
A primeira trombeta anuncia “saraiva e fogo misturados com sangue” que foram lançados sobre a terra e queimaram uma terça parte das árvores e de erva verde (Apocalipse 8:7). Esta combinação irreal de sangre com granizo do céu, assinala uma descrição simbólica dos juízos de Deus sobre os primeiros perseguidores do Israel messiânico.
Em seu discurso profético, Primeiro Jesus começou a informar a seus discípulos a respeito de “guerras e rumores de guerras” (Mateus 24:6), mas na seção paralela descreveu a queda de Jerusalém e as aflições do povo judeu (vs. 15-19), junto com a aflição do povo messiânico de Deus (vs. 20, 21). Quando João escreveu o Apocalipse, ainda não tinha terminado a guerra de Roma contra os judeus. O exército romano às ordens do Trajano e Adriano continuaram desolando a Judéia até o ano 135, quando 50 cidades e 985 povos foram destruídos e despovoados. João Wesley comenta sobre a primeira trombeta o seguinte: “Dessa forma, a vingança começou com os inimigos judeus do reino de Cristo”.2
Jesus tinha declarado: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra” (Lucas 12:49). Para ele, uma figueira estéril que estava no caminho a Jerusalém representava a nação judia. Seu ato simbólico de lhe jogar uma maldição (Mat. 21:19) funciona como um tipo do simbolismo da árvore na primeira trombeta. Tanto os dirigentes como seus seguidores foram tidos como responsáveis por sua incredulidade no Cordeiro que Deus tinha enviado a Israel. Cristo advertiu: “E te derribarão, a ti e a teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação” (Lucas 19:44).
A Segunda Trombeta Aplicada à História
A segunda trombeta descreve como “[algo] como um grande monte envolto em fogo foi arrojado ao mar”, causando que uma terceira parte do mar se convertesse em “sangue”, destruindo os seres vivos que estavam no mar e as naves (Apocalipse 8:8, CI).
Esta representação simbólica (“algo parecido”) toma suas imagens da queda de Babilônia descrita em Jeremias 51; Deus julgou à antiga Babilônia por “todo o mal que eles fizeram a Sião” (Jeremias 51:24).
“Eis que sou contra ti, ó monte que destróis, diz o Senhor, que destróis toda a terra; estenderei a mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte em chamas” (Jeremias 51:25).
Assim o “destruidor” (Babilônia) seria destruído pelo Deus de Israel, ao ser arrojado no mar. Os “montes” foram usados no Antigo Testamento como símbolos de nações (ver Isaías 2:2, 3; 11:9; 13:4; 41:15; Daniel 2:35, 44, 45; Ezequiel 35:2, 7, 8; Zacarias 4:7). Jon Paulien observou o seguinte: “Em passagens que se referem a juízo, montes que representam nações sempre são o objeto dos juízos de Deus, nunca os agentes de seus juízos (Isa. 41:15; 42:15; Ezequiel 35:2-7; 38:20; Zacarias 4:7)”.3
Depois do ano 70, tanto judeus como cristãos viram em Roma imperial uma nova “Babilônia”, porque Roma, como Babilônia, tinha destruído o templo e Jerusalém (4 Esdras 3; 2 Baruque 10-11; 1 Enoc 18). Pedro inclusive menciona “Babilônia” como um nome misterioso para Roma (1 Pedro 5:13). O segundo toque de trombeta anuncia o juízo de Cristo sobre o monte ardente ou império de Roma. Depois da queda de Jerusalém veio a queda de Roma. João descreve a queda de Babilônia do tempo do fim com uma imagem similar: “Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. … E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra” (Apocalipse 18:21, 24).
Este paralelo notável entre a segunda trombeta e Apocalipse 18 assinala o mesmo motivo dos juízos: o clamor dos santos martirizados! Diz Paulien: “O mar que se converte em sangre na segunda trombeta representa provavelmente uma completa mudança proléptica da perseguição do povo de Deus pelos ímpios mencionados em Apocalipse 16:4-6 (cf. 18:24). Recebem isso em pago pelo que têm feito”.4
A segunda trombeta indica que tanto o monte como o mar são julgados, “converteram-se em sangue”. O “mar” era um símbolo corrente para os povos da terra (Isaías 57:20; 17:12, 13; Jeremias 51:41, 42; Daniel 7:2, 3, 17). Dessa maneira, a segunda trombeta anuncia não só a queda de Roma mas também a devastação de sua ordem social e econômica: “E morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações” (Apocalipse 8:9).
A Terceira Trombeta Aplicada à História
A terceira trombeta anuncia que “uma grande estrela” chamada “Absinto” cairia do céu ardendo como uma tocha sobre a terça parte dos rios e sobre as fontes das águas, convertendo-as em absinto, de maneira que “muitos homens morreram” (Apocalipse 8:10, 11). O Apocalipse começa com a visão inaugural de Cristo tendo em sua mão direita as “sete estrelas” (1:16). Estas estrelas se interpretaram como símbolos dos “anjos das sete igrejas” (v. 20). Este simbolismo de “estrelas” tem uma raiz em Daniel:
“Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente” (Daniel 12:3).
Jesus aplicou o simbolismo das estrelas a todos os justos no reino vindouro do Pai (Mateus 13:43). Apocalipse 12 usa “estrelas” como um símbolo dos dirigentes do povo de Deus (Apocalipse 12:1). Então, o ato de uma estrela que cai representa a maneira como a liderança da igreja cairia coletivamente da verdade na escuridão do engano e a apostasia. Moisés usou o venenoso e amargo “absinto” como um símbolo de idolatria (Deuteronômio 29:17, 18), e Jeremias o empregou como uma maldição do pacto pela idolatria:
“Eis que alimentarei este povo com absinto e lhe darei a beber água venenosa” (Jeremias 9:15). O Novo Testamento dá um exemplo prático dos falsos professores como “estrelas errantes”, que são pastores que “apascentam-se a si mesmos”, e portanto caem sob o juízo de Cristo (Judas 12, 13).
Então podemos compreender que a terceira trombeta prediz a apostasia na igreja cristã depois da queda de Roma, quando a liderança espiritual apostataria de Cristo como a fonte de luz e de águas vivas (João 4:14; 7:37-39). Como resultado, os ensinos doutrinais e a forma religiosa de vida chegaria a ser um veneno amargo e mortal para as almas dos homens: “E a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas” (Apocalipse 8:11).
Tanto Jesus como Paulo tinham advertido à igreja apostólica contra a chegada de falsos profetas e seus ensinos enganosos que apartariam os crentes de Cristo “de vós mesmos” (Mateus 24:4, 5, 24; Atos 20:26-31). O paralelo mais surpreendente com a 3º trombeta é o esboço apocalíptico que Paulo apresenta da era da igreja em 2 Tessalonicenses 2! Neste capítulo apresenta a era da igreja em dois períodos sucessivos: primeiro a fase do agente que o detém, que demora a apostasia predita, seguido pelo surgimento desenfreado do anticristo dentro da igreja ou o templo de Deus (2 Tessalonicenses 2:7, 8, 4). Esta ordem de acontecimentos se cumpriu na história quando Roma imperial (o agente que o freia) caiu e aconteceu a Roma papal e a união medieval da Igreja e o Estado. Tanto 2 Tessalonicenses 2 como as trombetas predizem que a queda de Roma dispôs o cenário para a grande apostasia. Essa apostasia traria a morte de “muitos homens”. Disse Paulo: “perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2 Tessalonicenses 2:10-12). A perversão do evangelho apostólico traz indevidamente a decadência e a morte espirituais. Entretanto, tanto os líderes como seus seguidores são tidos por responsáveis pelas heresias e idolatrias que prevaleceram no mundo cristão.
A Quarta Trombeta Aplicada à História
A quarta trombeta fere os corpos celestiais, com o resultado de que o sol, a lua e as estrelas se “escurecem” uma terça parte do tempo (Apocalipse 8:12). O assunto de se isso significa um terço da intensidade do brilho ou um terço do tempo do brilho, é problemático. Paulien conclui dizendo que “há uma escuridão total durante uma terça parte do tempo”.5 Esta indicação matemática (1/3) aponta de novo ao controle divino dos juízos limitados da trombeta. Em harmonia com as trombetas anteriores, também devemos ver a quarta como uma representação simbólica de um juízo que afeta a humanidade e adverte contra um grande juízo vindouro. De novo o significado simbólico assinala a uma realidade mais séria que um escurecimento do céu por uma terça parte do dia e da noite. O uso simbólico de “escuridão” no Antigo Testamento nos mostra a forma para entender adequadamente isto.
Isaías usa a “escuridão” como uma metáfora para “desastre” na guerra santa do Israel de Deus (Isaías 45:7; também Amós 5:20). Também usa a “escuridão” como um símbolo para a ignorância ou a cegueira com respeito à verdade salvífica do Deus de Israel. Israel é chamado a ser “luz para os gentios; para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas” (Isaías 42:6, 7; também Salmo 107:10, 11). É especialmente importante a identificação do profeta de “luz” com a revelação de Deus em “a lei e o testemunho” (Isaías 8:20). Todos os falsos professores que não falam de acordo com esta palavra, “jamais verão a alva” (“é porque não há luz neles”, NKJV). Seu destino é ser “sumidos em trevas” (v. 22).
Miquéias explica o juízo de Deus sobre Jerusalém em termos de escuridão espiritual: “Por isso chegará uma noite sem visão, escuridão sem oráculo; ficará o sol para os profetas obscurecendo o dia… porque Deus não responde” (Miquéias. 3:6, 7, NBE).
Chegará o tempo quando todo mundo estará coberto de “escuridão” (Isaías 60:2), incluindo uma parte da terra de Israel (9:1, 2). O Novo Testamento proclama que Jesus começou a pregar sua mensagem de luz salvadora na Galileia para cumprir o que Isaías tinha prometido: “O povo situado em trevas viu grande luz; e aos assentados em região de sombra de morte, resplandeceu-lhes a Luz” (Mateus 4:16; Isaías 9:1, 2; ver também Lucas 1:79). Isto mostra que no Novo Testamento, a luz e a escuridão estão determinadas pelo evangelho de Cristo. Inclusive Paulo espiritualiza o ato de Deus de criar a luz em Gênese 1: “Porque Deus, que mandou que das trevas resplandecesse a luz, é o que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face do Jesus Cristo” (2 Coríntios 4:6).
No evangelho, Deus em realidade repete sua obra de criar luz. Isto cria o marco para o aspecto demoníaco de ocultar esta luz das pessoas que se assentam em trevas: “O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz de evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:4).
A idolatria é uma expressão do “escurecimento” do insensato coração do homem (Romanos 1:21), da perversão do verdadeiro conhecimento de Deus, das “trevas” dos gentios (2:19). Mas pela fé em Cristo, “livrou-nos do império das trevas, e nos transladou ao reino de seu amado Filho, em quem temos redenção por seu sangue, o perdão dos pecados” (Colossenses 1:13, 14; também 1 Pedro 2:9).
A compreensão apostólica de “luz e trevas” é o motivo fundamental nos escritos de João, que nos informam dos ditos de Jesus:
“Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12).
“Eu, a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça em trevas” (João 12:46; também os vs. 35, 36).
O reino das trevas chega a ser visível na perseguição e aprisionamento de Cristo (Lucas 22:53). Isto foi simbolizado por um escurecimento literal cósmico do sol por 3 horas durante a crucificação de Jesus (Mateus 27:45). Em harmonia com este simbolismo apostólico de luz/escuridão, a quarta trombeta prediz que durante a era da igreja viria sobre uma grande parte do mundo um escurecimento temporário de toda luz. A gravidade deste juízo pode entender-se melhor se este “escurecimento” for visto como o decidido encobrimento do evangelho de Cristo. Paulien explica: “A quarta trombeta resulta no cancelamento destas bênçãos evangélicas [da terceira trombeta]. A verdade que proporciona vida espiritual já não é visível… a mesma presença destas fontes doadoras de vida é retirada em parte”.6
Que tempo e situação igualam uma escuridão assim da luz do evangelho no mundo? A quarta trombeta traz uma intensificação do juízo da terceira trombeta. A “Idade Média” dos mil anos de supremacia do Estado-Igreja do período medieval terminou com o surgimento dos grandes reformadores no século XVI. Mas a onda de outros movimentos reacionários – tais como o racionalismo, o humanismo e o liberalismo teológico – começaram a escurecer a luz do evangelho na cristandade.
Nasceu o homem renascentista, a pessoa obstinada que rechaça cada norma externa de restrição e que põe em tela de juízo toda tradição e autoridade. O tratado da paz da Westfália, em 1648, “terminou com o reino da teologia na mente europeia, e deixou o caminho escurecido, mas aceitável para a tentativa da razão”.7
Charles D. Alexander descreveu o surgimento do racionalismo moderno como “a última praga da igreja, a negação sistemática da Bíblia, o desprezo de todas as ideias de uma revelação inspirada por Deus, e a aceitação total da ciência ateia para dar razão da criação”, assim como a morte do protestantismo.8 Durante as trombetas seguintes se fariam mais evidentes as consequências espantosas de ignorar e negar a palavra de Deus.
A Introdução de João às 3 Últimas Trombetas
“Na visão, ouvi uma águia que voava por metade do céu clamando: Ai, ai, ai dos habitantes da terra pelos restantes toques de trombeta, pelos três anjos que vão tocar” (Apocalipse 8:13, NBE ).
João faz um corte na série das trombetas depois da quarta, semelhante ao que tinha feito na série dos selos. As 3 últimas trombetas são caracterizadas como 3 “ais” que se sucedem um após o outro, só depois de existir notáveis pausas entre cada trombeta (ver Apocalipse 8:13; 9:12; 11:14). Com estes ais ou maldições do pacto, Deus permite um incremento da manifestação demoníaca e da escuridão sobre a terra, mas não sem assegurar a seus adoradores que não lhes ocorrerá nenhum dano. Eles estão sob seu selo de aprovação e proteção (9:4). A repetida frase em voz passiva, “lhe deu” (vs. 1, 3, 5), indica que Cristo está no controle dos poderes sobrenaturais do mal que são desatados, de modo que sua obra espantosa permaneça restringida a uma terça parte da humanidade (v. 18). As descrições extensas da quinta e a sexta trombetas são confusas tanto em sua forma gráfica como em sua aplicação histórica. D. Ford percebe seu propósito da seguinte maneira: “Representam a tortura e a morte espirituais que ocorrem aos que persistem em resistir o convite divino a arrepender-se”.9 A descrição de João pode entender-se melhor à luz do oráculo de juízo de Oséias sobre um Israel idólatra: “Põe a trombeta à tua boca. Ele vem como águia contra a casa do Senhor, porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha lei” (Oséias 8:1).
A Quinta Trombeta Aplicada à História
“O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte” (Apocalipse 9:1-4).
A visão de João descreve uma estrela que caiu do céu à terra. Isto conecta a quinta trombeta com a terceira, em que João tinha visto “uma grande estrela” chamada “absinto” que caía do céu e que tinha envenenado uma terceira parte dos rios e das fontes das águas (Apocalipse 8:10, 11). A esta estrela agora “foi-lhe dada” a chave do poço do abismo, que representa a região de Satanás e seus anjos (Lucas 8:31; Judas 6; Apocalipse 20:1, 3). Esta estrela caída é como um símbolo de Satanás, “o anjo do abismo”, cujo nome representa sua obra e caráter: “Abadón” (em hebreu) ou “Apolión” (em grego), que quer dizer o Destruidor (Apocalipse 9:11).
Esta chega a ser agora sua missão atribuída (“foi-lhe dada”) e autoridade (“rei”, Apocalipse 9:9, 11), da parte de que tem “as chaves da morte e do Hades” (1:18). Dessa maneira Cristo permanece como o governante soberano sobre todos os demônios.
Contra o Criador aparece o destruidor ou anticriador, o próprio inimigo de Cristo. A primeira tarefa que o destruidor leva a cabo é abrir o abismo, de modo que o sol e todo o céu escureça por meio de uma fumaça gigantesca que sai do abismo. Este obscurecimento do céu pela fumaça que sai do reino dos demônios está no coração do ai desta trombeta.
Enquanto as trombetas anteriores anunciavam a perversão e o escurecimento parcial da luz do evangelho, a quinta trombeta mostra um grande eclipse do evangelho por meio da propagação triunfante de enganos e heresias satânicos. Agora se oculta publicamente a luz de Cristo. A mentira triunfa sobre a verdade.
João vê como “da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra” (Apoc. 9:3). Descreve-os como “cavalos preparados para a guerra” que serão vitoriosos (“coroas de ouro”), e entretanto suas caras eram como caras humanas, com cabelo de mulher, dentes de leões, e caudas e aguilhões como de escorpiões (vs. 7-10).
A descrição gráfica que João faz destes gafanhotos extravagantes está tirada da descrição poética que Joel faz de uma praga de gafanhotos (Joel 1, 2), como se reconhece geralmente. Joel usou uma praga literal de gafanhotos, que tinha devastado a terra de Judá ao comer toda a vegetação (1:4), como um símbolo do vindouro exército babilônico e sua cavalaria vitoriosa (2:1-9).
Aquele vindouro dia do juízo seria “dia de trevas e de escuridão, dia de nuvem e de sombra”. Devia advertir-se a Jerusalém tocando a trombeta em Sião (Joel 2:1, 2).
Portanto, os gafanhotos de Joel “a sua aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm. Estrondeando como carros, vêm, saltando … como um povo poderoso posto em ordem de combate” (vs. 4, 5; cf. Apocalipse 9:7, 9). Também têm
“dentes de leão” (Joel 1:6; cf. Apocalipse 9:8).
Enquanto Joel descreveu o exército inimigo de Babilônia, João representa as forças hostis de Satanás que invadirão o mundo com filosofias que destroem a alma e que fazem com que as pessoas percam toda a esperança e significado da vida. João sobretudo assinala à natureza psicológica da praga de gafanhotos apocalípticos, declarando que “foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses” (Apocalipse 9:5).
A tortura é causada pelo aguilhão venenoso das caudas como de escorpiões dos gafanhotos. J. Ellul sugere que o característico dominante destes gafanhotos é a mistura de diferentes espécies de natureza: “O mal que causam, causam-no por trás, como o escorpião. O que significa que atuam pelo poder da mentira”.10 As principais ferramentas de operação de Satanás são na verdade as mentiras, o engano e a perseguição (Mateus 24; 2 Tessalonicenses 2).
Jesus usou serpentes e escorpiões como metáforas para os demônios, mas assegurou a seus discípulos: “Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano.
Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lucas 10:19, 20).
De igual maneira, a quinta trombeta assegura ao povo de Cristo que os gafanhotos demoníacos receberam autoridade só para fazer mal aos que não têm o selo protetor de Deus (Apocalipse 9:4). Sobre isto, comenta Metzger: “Assim como os israelitas ficaram isentos das pragas do Egito, assim agora os cristãos que têm o selo de Deus sobre suas frontes não serão absolutamente danificados por estas horríveis criaturas de juízo divino”.11
Os que estiverem sem Cristo receberão o aguilhão venenoso das mentiras mortíferas, causando-lhes um agonia mental insuportável e uma angústia suicida (Apocalipse 9:5, 6). O período de tortura dado de “cinco meses” (vs. 5, 10), talvez o explicou melhor Ch. Wordsworth: “Como os gafanhotos naturais têm seu tempo de cinco meses prescrito e limitado por Deus, assim também estes gafanhotos espirituais não poderão exercer seu poder para machucar os homens mais além do período que Deus lhes determinou”.12 De novo a mensagem aqui é que Cristo é o governante soberano que só permite um tempo para esta maldição do destruidor. Nesta severa prova, os impenitentes são declarados culpados de quebrantar o pacto, enquanto que os que estão selados são vindicados.
A que tempo e a que filosofias destrutivas assinala esta trombeta? Enquanto qualquer aplicação deve permanecer como tentativa, pode-se fazer uma aplicação pertinente ao tempo quando as filosofias ateias do Renascimento ou do Iluminismo varreram a civilização ocidental e causaram a agonia da vacuidade desta vida e da desesperança para o futuro. A teologia tradicional centrada em Deus foi substituída pela filosofia centrada no homem, na qual o homem é responsável só ante si mesmo.
Nas diversas formas de humanismo contemporâneo, somos testemunhas de uma religião sem Deus, na qual o homem mesmo é a medida de todas as coisas. Seu arrogante slogan é: “Nenhuma deidade nos salvará; devemos nos salvar a nós mesmos”.13 Nesta mentira fundamental estão arraigadas todas as agonias mentais e os desejos suicidas. Joel perguntou: “Quem pode suportá-lo?” (2:11), mas também apresenta o caminho de liberação de Deus: “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto… convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (vs. 12, 13).
A Sexta Trombeta Aplicada ao Tempo do Fim
Pelo fato de não se prever arrependimento, a sexta trombeta segue num segundo ai. Agora dá a Satanás mais liberdade para revelar seu verdadeiro caráter e para levar a cabo seu objetivo diabólico de destruir a terra e todos os seus moradores. Entretanto, Deus desata as forças do mal só à hora exata que escolheu (ver Apoc. 9:15). Então, o ai desta trombeta dirige à confrontação definitiva final entre Satanás e seus exércitos por um lado, e Cristo e seus exércitos pelo outro:
“O sexto anjo tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus, dizendo ao sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta: Solta os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número” (Apocalipse 9:13-16).
Esta trombeta de guerra recorda primeiro à igreja o propósito misericordioso deste juízo, assinalando a sua origem do “altar de ouro que estava diante de Deus”, em forma específica seus “chifres”. Estes chifres representam o lugar onde o sacerdócio Levítico orvalhava o sangue da expiação para Israel (Levítico 4:7, 18, 25).
A voz celestial é a resposta divina às orações dos santos oprimidos (Apocalipse 6:9). A resposta chega na ordem: “Solta aos quatro anjos que estão atados junto ao grande rio Eufrates” (9:14). Como resultado, se solta a uma cavalaria incrivelmente enorme de 200 milhões que sai para matar “a terça parte dos homens”.
Estes 4 anjos são claramente anjos maus, os líderes de uma multidão de demônios. O Eufrates é um símbolo importante, porque no Antigo Testamento representava os arqui-inimigos de Israel que invadiram sua terra como uma inundação transbordante (ver Isaías 8:8, 9; Jeremias 46:2, 10). Soltar “os quatro anjos” no Eufrates no tempo do fim significa um conflito mundial contra o povo de Deus. O número
“quatro” simboliza todas as direções da bússola (Apocalipse 7:2; 20:7).
De novo João descreve os cavalos e seus cavaleiros como havia descrito as lagostas na trombeta anterior: como poderes demoníacos inumeráveis (Apocalipse 9:17-19).
Ao mesmo tempo são os instrumentos do juízo divino sobre um mundo unido em rebelião contra Deus. Matam uma terça parte da humanidade (vs. 15, 18) por meio de “fogo, fumaça e enxofre'” que sai das “bocas” dos cavalos” (vs. 18, 19). A qualidade demoníaca destas três pragas está indicada pela frase repetida de que estas pragas infernais “saíam de sua boca” (vs. 18, 19; ver 16:13, 14).
Em essência, o significado deste juízo se desdobra posteriormente na segunda metade do Apocalipse, onde o rio Eufrates está de novo descrito como os seguidores mundiais da meretriz “Babilônia” (Apocalipse 17:1, 15). Essas multidões se voltam finalmente contra Babilônia e a queimam com “fogo” (V. 16) para cumprir o propósito divino (V. 17).
O ponto de atividade da sexta trombeta está estritamente sobre a multidão esmagadora (João só “ouviu” seu número) de forças demoníacas que matam uma grande parte da humanidade. Essas pessoas estavam presumivelmente desprotegidas contra as doutrinas e poderes demoníacos. Estavam sem o selo protetor de Deus, sendo adoradores de demônios e de ídolos (Apocalipse 9:20). D. Ford o explicou assim: “As multidões que rechaçaram o sangue da expiação, o incenso da justiça de Cristo, o refrigério dos rios e das fontes divinas, e a luz dos corpos celestiais, não tem amparo contra as doutrinas de demônios, e finalmente, não tem amparo contra os próprios demônios”. 14
É esclarecedora a observação de que a sexta trombeta apresenta uma contraparte surpreendente ao selamento dos 144.000 servos de Deus em Apocalipse 7. Jon Paulien apresenta um sumário de seus paralelos importantes: “Em ambas as seções [Apocalipse 7:1-4 e 9:14-16], atar e desatar estão relacionados com os quatro anjos. Em ambas as seções, está-se contando um povo: em Apocalipse 7 ao povo de Deus; em Apocalipse 9 a seus equivalentes demoníacos. E estes são os dois únicos lugares no Apocalipse que contêm as palavras misteriosas: ‘Ouvi o número’ [ékusaton arithmón]’. Se o tempo de graça segue durante a sexta trombeta e termina com o toque da sétima trombeta, a sexta trombeta é o equivalente histórico exato de Apocalipse 7:18. É a última oportunidade para a salvação, exatamente antes do fim”. 15
Chega a ser evidente que Deus desenhou um plano básico de acordo com o qual a história humana seguirá seu curso e alcançará seu objetivo indicado. Quando Deus tirar o freio de Satanás, este adversário poderá unir todas suas forças terrestres e demoníacas. Por outro lado, Cristo concederá o poder do Espírito Santo em sua plenitude a seus seguidores, o remanescente fiel (Apocalipse 18:1). Apesar de tudo, os 200 milhões de cavaleiros ímpios não poderão destruir aos 144.000 servos de Cristo porque possuem o selo da proteção divina. Estes movimentos notavelmente paralelos se desenvolvem em forma adicional em Apocalipse 16:13-16. Ali Cristo anima a seus fiéis a estar alerta e a estar vestidos com a armadura de sua justiça para que suas bênçãos permaneçam sobre eles (v. 15), enquanto os seguidores do dragão, a besta e o falso profeta em todo mundo se encaminham para seu “Armagedom” (vs. 13-16).
Enquanto a sexta trombeta mostra uma destruição e decepção demoníacas em aumento, ainda trata com o tempo anterior ao fim (Apocalipse 10:6). Como ensinam de maneira impressionante as visões subsequentes de Apocalipse 10 e 11, a sexta trombeta também inclui o período da oportunidade final para todas as pessoas, com o fim de que respondam ao testemunho do tempo do fim do evangelho eterno de Cristo (ver Apocalipse. 10:11; 11 :7). A respeito, assinala Metzger: “Embora as imagens sejam horrendas, a intenção total do toque das sete trombetas não é infligir vingança e sim levar as pessoas ao arrependimento. Embora não se faça nada para minimizar a gravidade do pecado e da rebelião contra Deus, há uma ênfase tremenda na paciência e misericórdia de Deus. Em vez de uma destruição total, só é afetado um terço (9:18) ou alguma outra fração do total. A fração é simbólica da misericórdia de Deus”.16
O simbolismo do tempo que se usa em Apocalipse 9:15 indicando que se soltam os 4 anjos de destruição “para aquela hora, dia, mês e ano” (CI; cf. BJ, NBE, JS, RC, BLH) é significativo e merece uma atenção especial. O original tem o artigo definido [ten, o] antes de toda esta frase fazendo de todas suas partes uma unidade sintática, sem considerar cada parte em forma separada.
A ideia tradicional de que Apocalipse 9:15 indica quatro períodos de tempo separados ou independentes, não pode dar-se por sentado desta frase bíblica. Também pode legitimamente entender-se como um momento no tempo divinamente indicado.
Se o virmos dessa forma, a sexta trombeta assinala para frente, ao fim do tempo de graça, quando começa a sétima trombeta com suas 7 últimas pragas. Esse momento de tempo pavoroso pode identificar-se com a declaração profética de Apocalipse 22:11: “quem é injusto continue sendo injusto… o justo continue fazendo justiça” (CI).
Portanto, a sexta trombeta ensina que Deus domina os tempos de Satanás e lhe determinou um tempo limite absoluto. Em forma parecida, Roy Naden comenta Apocalipse 9:15:
“A sexta trombeta termina na hora assinalada, em um dia, em um mês, em um ano (note a quádrupla descrição indicando o significado ‘universal’ do momento). Quando soar essa hora, terminará o tempo de graça e não haverá mais oportunidade para que nenhuma pessoa mude sua lealdade… O Pai baixará o pano de fundo do tempo de graça da história na mesma hora já determinada”.17
Antes que chegue esse momento, Deus remove gradualmente sua proteção e seu poder restritivo, mostrando aos homens os frutos amargos de suas próprias idolatrias e seu ódio contra o Criador e contra seus fiéis seguidores. Estes juízos das 6 trombetas não representam a Deus como o executor dos decretos divinos. Antes demonstram o “poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle”.18 Satanás se oporá em forma persistente a Deus e à proclamação do evangelho até a hora final do tempo de graça.
Enfoque Especial sobre os Acontecimentos do Tempo do Fim
As trombetas acentuam seu enfoque crescente no tempo do fim por meio da declaração de uma voz celestial: “Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar!” (Apocalipse 8:13).
Dessa maneira, as visões das 3 últimas trombetas são juízos intensificados ou “ais”, e formam a transição das advertências divinas aos ais demoníacos. Paulien declara com acuidade: “Nestes ais, Deus, para seus próprios propósitos, permite que as forças do mal se incrementem até que alcancem virtualmente o domínio do cenário da terra”.19
Como é típico no Apocalipse, o lado escuro está equilibrado por uma visão brilhante para o tempo do fim. Assim como João inseriu uma visão de israelitas vitoriosos em Apocalipse 7 entre o sexto selo e o sétimo, assim agora insere algumas visões animadoras para o povo de Deus do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta, ou seja: Apocalipse 10 e 11:1-13.
O plano literário particular de um parêntese entre o sexto e o sétimo selo e de novo entre as trombetas correspondentes tem um propósito específico. Estes interlúdios são refletores que se ampliam sobre os acontecimentos do tempo do fim em conexão com o sexto episódio de cada série profética. Dessa forma, Apocalipse 7 apresenta o selamento dos 144.000 israelitas espirituais como o equivalente da cena espantosa de juízo do sexto selo (Apocalipse 6:12-17).
Nas visões de Apocalipse 10 e 11, João introduz o equivalente positivo das ameaças e ais demoníacos das últimas trombetas. Isto significa que as visões de Apocalipse 7, 10 e 11 transladam o leitor ao tempo do fim, quer dizer, aos acontecimentos finais da era da igreja. Estas visões que iluminam estão designadas para consolar e animar o povo de Deus do tempo do fim. Os seguidores de Cristo recebem seu cuidado especial e são chamados por um mandato específico a cumprir sua missão apesar da oposição cruel e do sofrimento (Apocalipse 7:14; 10:1-11). Receberão um poder extraordinário para dar seu testemunho quando se intensificar a luta entre o anticristo e a igreja remanescente. Deus vindicará no fim a suas testemunhas verdadeiras, que dão a ele toda a honra e a glória (Apocalipse 11:1-13).
Referências
1 Aune, Prophecy in Early Christianity, p. 177.
2 Wesley, Explanatory Note Upon the New Testament, p. 975.
3 Paulien, Decoding Revelation’s Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 388.
4 Ibid., p 383.
5 Ibid., P. 414.
6 Ibid., P. 415.
7 Durant, The Age of Reason Begins, P. 572.
8 Alexander, The Mystery of the First Four Trumpets, p. 166.
9 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 442.
10 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 75.
11 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 65.
12 Ch. Wordsworth, The New Testament in the Original Greek, t. II, p. 207).
13 “Humanist Manifesto II”, Humanist Manifestos I & II [Manifesto humanista II, em Manifestos Humanistas I e II]. P. Kurtz, ed. (Buffalo: Prometheus, 1973, P. 183). ver também N. L. Geisler.
14 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 458.
15 Paulien. “Seals and Trumpets: Some Current Discussions” [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 196.
16 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 66.
17 Naden, P. 152.
18 Ellen White, GC 36.
19 Paulien, Decoding Revelation’s Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 417.
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Artigos
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Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, pp.
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