Os sete selos de Apocalipse 6 – Introdução a partir de Apocalipse 4-5 – Comentário Dr. Jon Paulien

Fonte: Estudos Relacionados em Interpretação Profética – UNASPRESS
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As cenas descritas na Terra na abertura sequencial dos primeiros seis selos ocorrem ao longo da Era Cristã. Uma cena do trono no santuário celestial — descrição do Apocalipse da investidura de Jesus em Sua ascensão como um “Príncipe e Salvador” ao lado do Pai (Atos 5:31, KJV) — é o cenário histórico para a recepção, por Cristo, do livro selado. A partir deste ponto no tempo Ele começa a abrir os selos, um por um.

Uma chave importante para desvendar o simbolismo do livro de Apocalipse são as imagens que João extrai do Antigo Testamento para descrever o conteúdo das visões. O presente escritor provê uma ferramenta proveitosa a este respeito anexando três tabelas de alusões ao Antigo Testamento que têm impacto sobre a profecia dos selos. Uma quarta tabela, comparando Apocalipse 6 com o sermão apocalíptico de Jesus nos Evangelhos, está também incluída.

Embora o livro selado nunca seja aberto no tempo da graça, sua identidade é importante para a interpretação desta seção da profecia geral. O presente escritor sugere que o livro deve ser compreendido como relacionado ao próprio livro do Apocalipse. Assim, o livro que o Pai entrega ao Cordeiro vitorioso para ser aberto e lido (5:1-7) é o mesmo que a “revelação” dada por Deus a Cristo das “coisas que em breve devem acontecer” (1:1, KJV; ver 1:19). Neste caso o livro contém não somente a história e o destino do mundo e da igreja, mas também o plano de Deus para livrar o Seu povo e para resolver o conflito moral que tem rasgado a unidade de Sua Criação.

A linguagem dos selos contém fortes alusões às maldições ou juízos da aliança que ameaçavam Israel mediante sua rejeição de Deus. Ao mesmo tempo as experiências que ocorrem na abertura de cada selo se assemelham de uma maneira impressionante aos acontecimentos preditos por nosso Senhor no monte das Oliveiras (Mateus 24–25; Marcos 13; Lucas 21) — eventos que ocorreriam antes da queda de Jerusalém e antes da Sua volta e do fim do mundo.

Assim, a bem-sucedida pregação do evangelho (cavalo branco) resulta não somente em vitórias para o reino, mas é seguida por perseguições, divisões, e por aqueles que rejeitam Sua graça, aumentando a fome e o declínio espiritual.

O quinto selo registra o clamor dos mártires por justiça divina, enquanto o sexto abandona o simbolismo, por assim dizer, e esboça em nítidas pinceladas os eventos que apontam para a aproximação do grande “dia do Senhor”.

Embora a profecia dos selos inspecione brevemente os sucessos e provações da “igreja militante”, conserva presente diante do olho da fé as grandes verdades de que o Cordeiro de Deus, o Leão de Judá, tem prevalecido no Calvário sobre as forças do mal e atualmente está reinando com Seu Pai. Todas as coisas estão sob Seu controle. Em Suas mãos está o destino da humanidade.

Introdução

Em anos recentes a profecia dos sete selos de Apocalipse tem estimulado crescente interesse entre os pastores e os leigos adventistas do sétimo dia. Neste capítulo examinamos os principais problemas que surgem do texto de Apocalipse 4–6. Espera-se que esta breve introdução estimule cuidadosa análise da passagem e forneça orientação para estudo futuro. Sendo que nenhuma interpretação dos selos tem de forma tão decisiva resolvido as questões quanto a ser auto evidente para todos os pesquisadores honestos, nenhuma interpretação dos selos (inclusive esta) deve se tornar um centro de controvérsia teológica.

Exegese Geral

A passagem se inicia com um convite a João para “subir para aqui” através de uma porta aberta no próprio Céu (4:1). Ali lhe é permitido ver o trono de Deus circundado pela corte celestial (4:2-8). Em uma cena de inexprimível louvor e devoção (4:8-11), “Aquele que se acha assentado no trono” é adorado por Sua santidade e Sua função na criação de todas as coisas.

A cena de adoração é interrompida por um momento de crise. Um livro de grande importância na mão do Monarca entronizado não pode ser aberto a menos que uma pessoa “digna” seja encontrada para desatar os seus sete selos (5:1-4). Cristo, descrito como um “cordeiro morto” e declarado digno, se apresenta e toma o livro da mão direita do que estava assentado no trono (5:5-7).

Esse ato evoca um crescendo ainda maior de louvor ao Cordeiro e ao que está assentado no trono (5:8-14). É deixada a impressão de que este é, talvez, o momento mais decisivo na história do Universo.

A cena se volta agora para a sucessiva abertura dos sete selos do livro pelo Cordeiro (6:1-17). Conquanto um livro selado não possa ser lido até que todos os selos sejam abertos, a ação de abrir cada selo provoca eventos assustadores na Terra. A abertura dos primeiros quatro resulta no aparecimento de cavaleiros em cavalos cujas ações produzem crescente desunião e angústia sobre a Terra (6:1-8). A abertura do quinto e do sexto selos destaca o sofrimento dos mártires e os sinais cósmicos que precedem o fim (6:9-17). O capítulo conclui com uma solene interrogação em face do grande dia da ira de Deus e do Cordeiro: Que ser humano “pode suster-se” (6:17)?

A resposta é apresentada no capítulo 7. Quando os ventos da agitação sopram sobre a Terra, aqueles que estão selados na fronte com o selo do Deus vivo serão abrigados (7:1-3). Esses que estão “em pé” são descritos por um par de imagens: 144.000 compostos de 12.000 de cada uma das 12 tribos de Israel (7:4-8), e uma multidão inumerável de todas as tribos da Terra (7:9-17). Quer estas duas designações representem um grupo ou dois, elas claramente retratam a totalidade daqueles que são protegidos no grande dia da ira. Eles se unem à corte celestial em louvor (7:9-12) e em serviço diante do trono (7:14-17).

Selos no Contexto

Declarações de introdução e conclusão são de grande importância na compreensão de qualquer livro bíblico. É particularmente importante no que diz respeito ao Apocalipse. O profeta João tem uma técnica de encaixar engenhosamente cada um dos seus resumos introdutórios na seção precedente, geralmente no ponto culminante.

Por exemplo, embora o sofrimento das almas debaixo do altar (6:9-11) forneça um incisivo clímax para a guerra, fome e pestilência na sequência dos quatro cavaleiros, a resposta ao seu clamor “Até quando, ó Senhor?” aguarda as pragas das sete trombetas (ver 8:3-5, 13). Igualmente, os cinco conceitos centrais de 11:18 se tornam o princípio ordenador dos capítulos 12 a 22.1 A mensagem do terceiro anjo (14:9-12) chega ao clímax na resposta de Deus ao ataque do dragão e seus aliados. Ao mesmo tempo, porém, a linguagem aponta para 15:1 que introduz as taças das pragas. Apocalipse 21:1-8 funciona como o ponto culminante da visão dos mil anos e como a introdução à descrição detalhada da nova Jerusalém.

Passagem trampolim: Apocalipse 3:21. A chave para o significado mais amplo de muitas porções do Apocalipse está, portanto, frequentemente localizada em uma declaração culminante precedente. Tendo isto em mente, não deve vir como nenhuma surpresa que o melhor ponto de partida para um estudo dos selos e seu contexto é Apocalipse 3:21. Embora a passagem funcione como o ponto culminante de todas as promessas ao vencedor (Apocalipse 2–3), sua linguagem fornece uma visão geral resumida do conteúdo dos sete selos.

Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.2

Neste texto Cristo promete uma recompensa ao vencedor (ho nikōn) com uma participação em Seu trono. Uma analogia a esta ação (“assim como” — hōs) é a vitória (enikēsa) de Cristo que resultou em Sua junção ao Pai em Seu trono. Do ponto de vista do profeta, a vitória do crente é descrita como uma presente experiência contínua,3 mas o seu assentar no trono de Cristo é futuro (dōsō). A título de contraste, a vitória de Cristo (enikēsa) e estar assentado (ekathisa) são específicos eventos em tempo passado.4

O trono do Pai (4:2ss.), a vitória de Cristo (enikēsen, 5:5), e a junção de Cristo ao Pai em Seu trono (5:6ss.) são os temas centrais de Apocalipse 4 e 5.

Somente em Apocalipse 7 é explicitamente permitido aos redimidos se unir no regozijo e na adoração da corte celestial (7:9-12). Da mesma forma que a recompensa dos santos está relacionada com a de Cristo em Apocalipse 3:21, assim as duas cenas do trono de Apocalipse 5 e 7:9ss. estão relacionadas, embora igualmente separadas cronologicamente.5

A cena introdutória dos selos (Apocalipse 4–5) é, portanto, um aprimoramento da última parte de 3:21 (concernente à vitória e entronização de Cristo). A cena de louvor de 7:9-17 cumpre a promessa de que o vencedor se juntará a Cristo em Seu trono. Entre as duas cenas do trono está o capítulo 6. Portanto, os selos do capítulo 6 correspondem à asserção de 3:21 (“ao vencedor”); eles abrangem o tempo desde a vitória do Cordeiro à recompensa dos selados.

Os selos do capítulo 6 tem a ver com o período contínuo em que o povo de Deus está em processo de vencer. Sendo que as muitas promessas ao vencedor (2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21) são oferecidas às sete igrejas da Ásia Menor do primeiro século, o período de sua vitória já havia começado nos dias de João e continuará até que todo o povo de Deus tenha se juntado a Jesus em Seu trono.

Localização dos selos. Que evento o profeta tinha em mente para o ponto de partida dos selos? As expressões “eu venci”, “me sentei”, “ele venceu” provêm marcadores que nos apontam de volta para a morte, ressurreição, e investidura de Cristo como Sumo Sacerdote no santuário celestial.6 A natureza desta vitória centralizada na cruz é confirmada pelo “novo cântico” dos quatro seres viventes e dos 24 anciãos (5:9, 10):  “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.”

Neste cântico o tempo grego dos verbos7 remete ao evento Cristo e suas consequências. É o Cordeiro morto que, por meio do Seu sangue, compra a humanidade e lhe oferece nEle uma nova condição. É a cruz que tem feito Cristo “digno” (5:2; cf. 5:9) de assumir Sua obra para nossa salvação no santuário celestial. É a morte de Cristo que provê a base para a vitória do crente (12:11).

Sendo que os eventos de Apocalipse 7 caem no final da história terrestre,8 enquanto que a ênfase da cena do trono em Apocalipse 5 está sobre a morte de Cristo, é evidente que Apocalipse 6 é uma descrição visionária dos eventos sobre a Terra entre a cruz e a Segunda Vinda. Há um foco especial sobre o evangelho de Jesus Cristo e sobre as pessoas que aceitam e proclamam esse evangelho.

Paralelos Estruturais

É essencial que o intérprete do Apocalipse seja sensível às outras partes do livro que podem se relacionar com a passagem em estudo. No livro do Apocalipse a chave para o significado de uma passagem pode estar na extremidade oposta da profecia.

Kenneth Strand tem concluído que os primeiros 14 capítulos do livro funcionam como um paralelo quiástico aos últimos oito capítulos.9

A escolha da linguagem por João sugere-lhe que Apocalipse 4–7 está disposto em posição paralela principalmente pelo material de Apocalipse 19 (embora elementos de 7:15-17 estejam estreitamente relacionados com 21:3, 4).10 Construindo sobre a obra de Stand, comparei cuidadosamente a linguagem dos capítulos 4–7 com a do capítulo 19.11 Ali parece estar quatro principais grupos de palavras e ideias paralelas.

Cenas de adoração. O primeiro grupo envolve as cenas de adoração. A única passagem que combina os quatro seres viventes, os 24 anciãos, o trono de Deus, e cenas de louvor e adoração são encontradas em Apocalipse 4, 5, 7 e 19.12 Outros elementos comuns destes capítulos incluem as palavras escolhidas para louvar a Deus13 e as vestimentas que se usavam.14

Nos capítulos 4 e 5, Deus e o Cordeiro são louvados por sua atividade na Criação e na cruz (4:11; 5:9, 12). Mas nos capítulos 7 e 19 eles são louvados por redimir a grande multidão no final de sua tribulação (7:9-14) e por destruir a grande Babilônia do fim dos tempos (19:1-8). Isto confirma o ponto de vista de que a cena de Apocalipse 4–5 pertence principalmente ao início da Era Cristã, mas aquelas de Apocalipse 7 e 19 focalizam o final desta era.

Cenas dos cavalos. O segundo grupo principal liga as atividades dos quatro cavaleiros (6:1-8), principalmente o primeiro, ao cavalo e o cavaleiro de 19:11-15. Os elementos comuns incluem o cavalo branco, a coroa e a espada.15 A analogia mais impressionante é a do cavalo branco, um símbolo que não aparece em nenhuma outra parte do Apocalipse. A imagem em ambos os casos tem a ver com conquista.

Em 6:2, porém, a palavra grega para “coroa” (stephanos) implica uma recompensa pela vitória. Mas a palavra grega em 19:12 (diadēmata) indica uma coroa real, implicando o direito de reinar.16

Em seu contexto (veja abaixo) 6:2 destaca a vitória sobre a cruz e suas consequências, ao passo que 19:11-15 realça a subjugação final do mal na segunda vinda de Cristo, quando Cristo literalmente assume o Seu reino.

Esta analogia sinaliza a mudança de estabelecer o direito de Cristo de reinar nos lugares celestiais (caps. 4–5) para demonstrar esse direito de reinar sobre a Terra em Seu retorno (19:11-15).

O cavalo branco do capítulo6 simboliza a vitória de Cristo na propagação do Seu reino invisível através da pregação do evangelho. O cavalo ou cavalos brancos do capítulo 19 simboliza a subjugação total do mal por Cristo em Sua segunda vinda.

Juízo. O terceiro grupo de analogias liga o quinto selo (6:9-11) a Apocalipse 19:1, 2. O primeiro é um chamado ao juízo (krineis) e vingança (ekdikeis) sobre aqueles que habitam na Terra. O último proclama que o juízo (kriseis, ekrinen) e a vingança (exedikēsen) têm sido executados sobre Babilônia, o equivalente do fim dos tempos daqueles que atormentaram os mártires ao longo da Era Cristã.

A hora do juízo e vingança mencionada em Apocalipse 19 não se refere diretamente a nada nos selos, mas resume o conteúdo explícito de Apocalipse 18, que por sua vez edifica sobre Apocalipse 17 e 14:8-11. Assim, o surgimento da Babilônia do fim dos tempos e o seu juízo e destruição caem entre o tempo do quinto selo e a proclamação de Apocalipse 19:2. Dos quatro principais grupos de analogias entre os selos e Apocalipse 19, o terceiro é o mais direto e abrangente, com sete analogias verbais entre 19:2 sozinho e 6:10-11 (dez se 19:1 está incluído).17

Dia da ira. Finalmente, o quarto grupo envolve um paralelo ou analogia entre aqueles que são aterrorizados no dia da ira (6:15-17) e aqueles que são consumidos no banquete de Deus do fim dos tempos (19:17-18). Sendo que estes dois acontecimentos parecem ser o mesmo, pode ser seguro concluir que o sexto selo culmina com a pavorosa destruição descrita em 19:17-21.

O exame acima apoia a observação geral (Strand) de que a profecia dos selos cobre a vasta extensão da história cristã, ao passo que o material do capítulo 19 focaliza os acontecimentos finais que precedem a consumação dessa história.

Isto não exclui o fato óbvio de que os elementos desta sequência histórica podem em sua ordem focalizar o fim como parte dessa extensão histórica. A evidência sugere que o quinto e o sexto selos definitivamente “inclinam-se para o fim” e apontam para o mesmo clímax mencionado em Apocalipse 19. Por outro lado, os quatro cavaleiros (6:1-8) tomam seu exemplo da cruz e suas consequências, com ênfase na primeira parte da Era Cristã.

Cena Introdutória do Santuário

Centralizada no Trono

A palavra “trono” (thronos) representando o direito de reinar, é indubitavelmente a palavra-chave de Apocalipse 4. Aparece 14 vezes. Ainda fundamental para a atividade da cena, aparece cinco vezes no próximo capítulo. Quase desaparece de vista no capítulo 6 (uma vez), mas retorna em 7:9-17 com uma ênfase comparável à sua posição no capítulo 4 (sete vezes em apenas nove versos).

Assim, o capítulo 4 arma o cenário para a atividade celestial do capítulo 5, enquanto 7:9-17 é uma extensão dos capítulos 4 e 5 em seu foco renovado sobre o trono. O trono quase desaparece de vista no capítulo 6 porque este capítulo está preocupado com os eventos na Terra.18

O trono, portanto, é claramente fundamental para a descrição visionária (Apocalipse 4–5) (SCHMITZ, 1964, p. 165). É a primeira coisa que João vê no Céu; depois disto, toda atividade é orientada para ele.19 Embora a palavra “trono” normalmente esteja ligada a Deus no livro de Apocalipse, também pode estar associada a Satanás e seus aliados.20 Assim, a centralidade do trono nesta porção do Apocalipse realça a preocupação com o conflito entre Cristo e Satanás sobre o domínio do Universo (FORD, 1975, p. 76).

Os versos iniciais de Apocalipse 5 retratam um ponto de crise no desenvolvimento dessa controvérsia. O restante do capítulo afirma que a morte de Cristo tem garantido o resultado dessa controvérsia, e que o Cristo exaltado agora compartilha o trono de Deus (SCHMITZ, 1964, p. 166-167; ver Apocalipse 3:31; 5:6-14; 7:15, 17; 22:1, 3).

Som de Cântico

Há deliberada progressão de pensamento nos cinco hinos desta cena introdutória. Dois hinos são dirigidos ao Pai (4:8, 11). Os dois seguintes são dirigidos ao Cordeiro (5:9-10, 11-12). O quinto e final hino é dirigido ao Pai e ao Cordeiro (5:13).

Que a igualdade de louvor é o realce explícito deste pano de fundo é evidente do sempre crescente volume dos participantes. O hino de 4:8 é cantado somente pelos quatro seres viventes. O hino de 4:11 é cantado pelos 24 anciãos. O hino de 5:9-10 é cantado pelos seres viventes e os anciãos.

Com o hino de 5:11-12, dezenas de milhões de anjos unem-se ao coro celestial. O hino quinto e final (5:13) é cantado por toda a Criação. Está sempre crescente participação indica que a maior alegria do Céu é exaltar a Jesus Cristo da mesma forma que Seu Pai é exaltado (cf. Jo 5:23).

A super-abrangente linguagem de 5:13 sugere que esse hino final é profético (descrito antecipadamente): todo o Universo em louvor a Deus (ver Filipenses 2:9-11) (FORD, 1975, p. 95). Portanto, embora a cena do capítulo 5 destaque a entronização de Cristo no início da era, também aponta para o universal regozijo no final.

Cena do Santuário

Nem um só elemento de Apocalipse 4 é extraído explicitamente do santuário do Antigo Testamento; todavia, o efeito cumulativo de alusões reflete uma forte reminiscência daquele santuário e seus rituais. Enumeramos a evidência.

A palavra para “porta” (thura, 4:1) aparece mais de 200 vezes no grego do Antigo Testamento (LXX), dezenas das quais se relacionam diretamente ao santuário.21 Trombetas (4:1) eram usadas no culto bem como na batalha (Números 10:8-10). É possível que o trono (4:2) visava lembrar a arca da aliança (ver 11:19; Salmo 99:1), mas isto não pode ser assumido. Poderia corresponder à mesa dos pães da proposição do lugar santo (MAXWELL, 1985, p. 163-167),22 sendo que a mesa é o único artigo do mobiliário do santuário não mencionado explicitamente em Apocalipse.

As três pedras preciosas (4:3) são também encontradas no peitoral do sumo sacerdote (Êxodo 28:17-21).23 Os 24 anciãos nos lembram os 24 turnos de sacerdotes no Templo (1Crônicas 24:4-19). As sete lâmpadas (lampades, 4:5) podem lembrar o candelabro do lugar santo, embora uma palavra grega diferente seja usada.24 O mar de vidro (4:6) faz uso da palavra grega (thalassa) aplicada ao “mar de fundição” do Templo de Salomão (1Reis 7:23-24).

A proximidade dos quatro seres viventes (4:6-8) do trono em Ezequiel 1 e 10 nos lembra os querubins associados com a arca da aliança (Êxodo 25:18-20; 1Reis 6:23-28). Os querubins eram, porém, visíveis também no lugar santo (Êxodo 26:1, 31-35). A tradição judaica também associa o leão, novilho, homem e águia às quatro bandeiras ou estandartes em torno dos quais Moisés organizou o acampamento israelita no deserto (ver Número 2).

No capítulo 5 muitas destas imagens são repetidas, com algumas adições. O Cordeiro morto (5:6), recordativo de Isaías 53:7, nos lembra os sacrifícios da manhã e da tarde (Êxodo 29:38-42) ou o Sacrifício da Páscoa (1Coríntios 5:7). O sangue do Cordeiro (5:9) provê os meios para comprar as pessoas da Terra para Deus. Elas, por sua vez, servem a Deus em analogia aos sacerdotes do santuário do Antigo Testamento (5:10). Os 24 anciãos seguram taças de ouro de incenso que são interpretadas como as orações dos santos (5:8). O incenso e as orações dos santos estão associados aos contínuos sacrifícios matutinos e vespertinos do santuário (ver Salmo 141:2; Êxodo 29:38-43; 30:7-8; Lucas 1:9-10). Nenhuma passagem do Apocalipse contém uma quantidade maior ou uma variedade mais ampla de alusões ao santuário do que esta cena introdutória do santuário.

Havia apenas duas ocasiões no ritual hebraico em que todo o santuário estava envolvido: o Dia da Expiação e o serviço de inauguração (cf. Êxodo 40). Visto que Apocalipse 4–5 apresenta tão forte cena do santuário, a qual desses ritos deve estar ligado? Sendo que 3:21 associa esta cena com a cruz e a entronização de Cristo, sendo que a linguagem de “templo” (naos) e “juízo” (cf. 11:18-19) está ausente, e sendo que a estrutura implícita de Apocalipse coloca o Dia da Expiação na última metade do livro,25 a melhor identificação para a cena introdutória do santuário nos capítulos 4–5 é o serviço de inauguração.

Assim, concluímos que a cena é mais bem compreendida como uma descrição da inauguração de todo o santuário celestial em 31 A.D. Em 8:3-5 o autor focaliza mais especificamente o serviço diário associado ao primeiro compartimento do santuário. Posteriormente, em 11:19 a arca do Segundo Compartimento é claramente trazida à vista.

Alusões ao Antigo Testamento

[…] Incluídas na tabela 1 estão passagens do Antigo Testamento que João provavelmente tinha em mente ao descrever a cena de Apocalipse 4. Um exame da tabela 1 indica repetidas analogias às três grandes visões do trono do Antigo Testamento: Isaías 6; Ezequiel 1–10; e Daniel 7:9-14. De fato, somente dois importantes elementos da cena do Apocalipse não são encontrados nelas, a saber, os 24 anciãos e o hino da criação (4:4, 11). As três visões do Antigo Testamento são aproximadamente iguais em sua importância a Apocalipse 4, com Ezequiel 1 mantendo uma pequena margem em influência.

Há também uma relação com as duas passagens anteriores do Antigo Testamento direcionadas para o trono; a visão de Micaías (1Reis 22:19; 2Crônicas 18:18) e a aparição de Deus no Sinai (Êxodo 19:16-24). Além disso, vários elementos presentes nesta cena não são encontrados em nenhuma das “visões do trono” do Antigo Testamento.26 Portanto, embora Ezequiel e Daniel sejam de maior significado para Apocalipse 4, apenas cerca de um terço do material do capítulo os reflete. Apocalipse 4 é paralelo a uma ampla variedade de fontes em sua descrição da corte celestial.27

O capítulo 5 edifica sobre a cena do capítulo 4. Portanto, muitas das passagens-chave do Antigo Testamento sobre o trono contribuem com pouco ou nada de novo para acena.28 Daniel 7, porém, fornece o mais importante paralelo estrutural. Por exemplo, Daniel 7 descreve Deus sobre o trono, livros abertos para o juízo, a vinda do “filho do homem”, a concessão de domínio sobre a Terra, a presença dos santos, bem como múltiplas miríades do exército celestial.

Apocalipse 5:9-14 parece estar estruturado em importantes movimentos de Daniel 7:13-27. Primeiro, o Filho do homem recebe domínio (Daniel 7:13-14; cf. Apocalipse 5:6-9). Então povos, nações, e homens de todas as línguas são mencionados (Daniel 7:14; cf. Apocalipse 5:9). Então os povos recebem domínio (Daniel 7:18, 22, 27a; cf. Apocalipse 5:10); e finalmente, o controle sobre todas as coisas é devolvido a Deus (Daniel 7:27b; cf. Apocalipse 5:13-14).

Há, porém, diferenças significativas entre Daniel 7 e Apocalipse 5. Muitos elementos intervenientes de Daniel são excluídos e muitos outros elementos são adicionados em Apocalipse.29 Em Daniel os livros (plural) são abertos antes que o Filho do homem apareça em cena; em Apocalipse o livro (singular) nunca é aberto na visão.

Embora João esteja familiarizado com o termo de Daniel “Filho do homem” para Cristo (Apocalipse 1:13), ele deliberadamente evita usá-lo aqui. Antes, ele prefere usar os títulos Cordeiro, Leão de Judá e Raiz de Davi em vez disto. Em realidade, a despeito de algumas semelhanças gerais, menos de um quarto de Apocalipse 5 é extraído de Daniel 7.

O mais impressionante de tudo, porém, é o fato de que João intencionalmente evita a linguagem do juízo nesta cena do trono. Na língua grega juízo é geralmente expresso pelos substantivos krisis e krina, e o verbo krinō30. Como as referências indicam, João está muito familiarizado com a linguagem do juízo mas deliberadamente evita usá-la na primeira metade do livro de Apocalipse. A aparente exceção (6:10) não é uma descrição do juízo, mas um pedido para que esse juízo se inicie.

Em contraste com o resto do novo testamento, onde a linguagem do julgamento é, por vezes, aplicada à cruz (cf. João 12:31; Romanos 8:3) e à pregação do evangelho,31 a linguagem do julgamento no apocalipse se atem a descrições dos eventos finais (Apocalipse 12-20)

Portanto, devemos resistir à tentação de presumir que sendo que Daniel 7 e Ezequiel 1–10 envolvem juízos investigativos, Apocalipse 4–5 deve igualmente ser uma cena de juízo investigativo. João, de fato, geralmente evita aquelas partes de Daniel e Ezequiel que envolvem juízo. Antes, ele se concentra naquelas partes que oferecem linguagem familiar com que descrever a sala do trono celestial.

Por exemplo, a cena do trono de Ezequiel (Ezequiel 1, 10) é repetidamente confrontada em Apocalipse 4. Mas porções do juízo, como Ezequiel 9 (sinal na testa), entram em ação não na cena introdutória, mas em 7:1-8, um claro cenário do fim dos tempos. É dada aos 24 anciãos uma tarefa intercessória (5:8), mas não uma julgadora (como os mártires de 20:4). A crise do capítulo 5 é resolvida não por juízo, mas pela morte do Cordeiro.

Falar deste modo não é negar que a própria cruz foi um ato de juízo (João 12:31- 32; Romanos 8:3). Se João tivesse desejado enfatizar os aspectos de juízo da cruz, lhe teria sido fácil fazer isto. Mas João deliberadamente evita usar este tipo de linguagem.32

Portanto, por mais significativos que sejam para esta cena os paralelos estruturais a Daniel e Ezequiel, eles não exigem de nós que sugira que qualquer porção dos eventos celestiais de Apocalipse 4–5 retrata o juízo pré-advento, do tempo do fim.

Esta pesquisa dos antecedentes do Antigo Testamento para a primeira cena introdutória do santuário no livro demonstra a extensão em que o Apocalipse extrai dos elementos de sua base literária. Também demonstra como o Espírito Santo adapta esses elementos de maneiras criativas, resultando em um produto novo e original. O intérprete deve, portanto, evitar uma busca aleatória de fontes de fundo para símbolos que podem estar conectados à vontade.

Os símbolos por sua variada natureza são flexíveis em significado. Seu significado específico deve ser determinado pelo contexto imediato, e não necessariamente pelo seu uso em um contexto anterior. Onde o ponto do autor não está claro a parti do contexto imediato, o intérprete pode procurar pistas nos temas e contexto de passagens de fundo; mas nunca se deve permitir a tais “pistas” desfazer o significado de textos que são razoavelmente claros por si mesmos.

Série Igreja Define os Rumos

Antes do início de uma análise mais detalhada da visão introdutória aos selos pode ser proveitoso considerar o papel e função das cenas introdutórias no Apocalipse. O melhor ponto de partida para tal análise é a introdução às sete igrejas (1:9-20). Ela define o padrão, em linguagem relativamente clara, para o que João irá fazer de maneira mais enigmática do capítulo 4 em diante.

A cena introdutória às sete igrejas fornece a base teológica para as cartas às sete igrejas (Apocalipse 2–3). Jesus vem para confortar João com uma revelação de Si mesmo (1:17-18). O que Ele tem feito por João fará por todas as igrejas que João representa (1:19-20).33

Cristo se apresenta a cada igreja em termos das características registradas no primeiro capítulo.34 A nenhuma igreja é oferecida todas as Suas características; ela recebe somente aquelas apropriadas à sua condição. Desta forma, a cena introdutória permanece no fundo da consciência do leitor ao longo das cartas às igrejas.

Muitas características do Apocalipse lembram os dramas do antigo mundo greco-romano (BOWMAN, [s. d.], v. 4, p. 58-71). As cenas do santuário no início da maioria das seções do Apocalipse funcionam como as configurações do palco para os respectivos atos do drama (BOWMAN, [s. d.], v. 4, p. 63-64; Apocalipse 1:9-20; 4:5; 8:2-6; 11:19; 15:1-8). Cada um, portanto, é destinado a estar constantemente em vista durante a seção que ele introduz. As cenas fornecem o sustento teológico para tudo o que segue nesta seção do livro. Não devem ser compreendidas como prontas antes de se iniciar o bloco de material seguinte.

Um padrão literário similar pode ser encontrado na seção dos selos do livro (4:1–8:1). A cena introdutória (Apocalipse 4–5) é repetidamente lembrada no capítulo 6 através da abertura dos selos (6:1, 3, 5, 7, 9, 12) e menção dos seres viventes (6:1- 8). Os acontecimentos do capítulo 6 resultam dos sucessivos atos de abertura dos selos. Sendo que o cântico de 5:13 só pode ser realmente cumprido na Nova Terra (Apocalipse 21–22), a cena introdutória é contemporânea a todo o período de tempo coberto pelos selos (6:1–8:1).

O foco central de Apocalipse 5 é a cruz de Cristo (5:1, 6, 9, 12; cf. 3:21). A vitória de Cristo na cruz forneça a base teológica para os eventos do capítulo 6, que se relaciona com o povo de Deus ao procurarem vencer por Seu sangue (cf. 12:11). Assim, os selos se estendem da cruz e entronização de Cristo até o fim do grande conflito entre Cristo e Satanás quando todo o Universo estará cheio de completa harmonia de louvor a Deus (5:13; cf. 7:9-17).

O Deus Criador

“Depois destas cousas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas cousas.” Apocalipse 4:1

Cena do Santuário Celestial. A profecia dos selos se inicia com uma cena introdutória em que João ascende ao santuário celestial. A porta aberta (thura ēneōgmenē) é recordativo da porta aberta (thuran ēneōgmenēn) de acesso a Cristo que fortalece a igreja de Filadélfia em sua fraqueza (3:8) (COLLINS, 1979, p. 27, 34). A voz como de trombeta lembra a aparição anterior de Jesus a João (1:10).

A frase “o que deve acontecer depois destas cousas”35 deliberadamente lembra o propósito de Apocalipse (1:1, 19).36 Jesus declara que as “as cousas que são, e as que hão de acontecer depois destas” são a substância do livro de Apocalipse (1:19). Apocalipse 1:1 indica que a ênfase está sobre a última.

A ausência das “cousas que são” em 4:1 nos diz duas coisas: (1) as cartas às igrejas focalizam principalmente a situação original do tempo de João em vez da história posterior,37 e (2) com o capítulo 4 estamos caminhando para a principal ênfase do livro — os eventos que devem ocorrer depois do tempo da visão.38 Vistos nesta luz, a conexão literária entre a “porta aberta” de 3:8 e 4:1 não pressupõe um cenário do fim dos tempos para a cena do trono de Apocalipse 4–5.

A porta aberta, através da qual João ascende às cortes celestiais, o habilita a “ver” a “revelação de Jesus Cristo” que resultará na produção do seu livro. Não é, portanto, deformar o texto sugerir que o capítulo 4 provê uma introdução não somente para os selos mas para o restante do livro de Apocalipse.

“Em espírito” (4:2) parece ser a maneira de João de introduzir uma sequência visionária (cf. 1:10; 17:3; 21:10). O tempo do verbo grego traduzido na NASB, “estava em pé” (ekeito),39 atesta que o profeta não compreende o trono como estando recentemente posto ou armado, mas antes ter estado continuamente naquele lugar até aquela ocasião. Isto está em contraste com Daniel 7:9 onde tronos são “postos” ou “levantados”,40 um claro sinal de que João não percebe esta cena como sendo uma duplicata daquela encontrada em Daniel.

A visão do santuário celestial apresenta uma série de imagens que destacam a glória da cena (Apocalipse 4:3-6a). Há pedras preciosas, um arco-íris, trovões e relâmpagos, sete lâmpadas, um mar de vidro semelhante ao cristal, e 24 anciãos que se assentam em tronos ao redor do trono vestidos de branco e usando coroas (stephanoi) de ouro em suas cabeças.

Quem são esses 24 anciãos? Eles são mencionados 12 vezes em Apocalipse.41 O fato de que o numeral 24 é a soma de duas séries de 12 pode sugerir um elo com as 12 portas da Nova Jerusalém que têm os nomes das doze tribos de Israel e 12 fundamentos que têm os nomes dos 12 apóstolos do Cordeiro.42 Uma ligação com os 144.000 (12 vezes 12) pode ser também indicada.

Os 24 anciãos evidentemente representam a humanidade exaltada e redimida. Os crentes vencedores partilham o trono de Deus, não anjos (3:21). As vestes brancas são normalmente usadas pelos santos em Apocalipse.43 E as coroas de ouro não são coroas reais (diadēmata, cf. 19:11) mas coroas de vitória (stephanoi), particularmente apropriadas para os redimidos e Cristo.44

Esta evidência de sua humanidade é ainda apoiada pela evidência de fundo. Anjos nunca se assentam em tronos em lugar algum na Bíblia ou na primitiva literatura judaica (FEUILLET, 1958, p. 7). Os cristãos, por outro lado, que têm funções reais45 podem ser assim descritos.46 A palavra para “coroas de vitória” (stephanoi) é usada para a coroa de espinhos de Cristo47 e para a dos crentes e sua recompensa.48 Anjos jamais as usam (FEUILLET, 1958, p. 7). Nem os anjos são chamados anciãos, embora esta seja uma designação comum para os dirigentes tanto da sinagoga quanto da igreja (FEUILLET, 1958, 9-14).

Os 24 anciãos, portanto, parecem ser seres humanos exaltados ao Céu antes da consumação de todas as coisas. Eles devem provavelmente ser identificados com os indivíduos ressuscitados na ressurreição de Cristo.49 Eles simbolizam o que todos os crentes podem se tornar em Cristo.50

Seres viventes. O pleno significado dos quatro seres viventes (4:6b-8) torna-se evidente apenas quando eles são vistos à luz da formação literária de João, um assunto que não pode ser explorado aqui por falta de espaço. Como criaturas do trono celestial, eles introduzem o primeiro hino cantado na sala do trono, o tríplice “santo” (4:8). Esse hino é fortemente recordativo de 1:4, 8.

“Sempre que” (hotan) os quatro seres viventes louvam ao Pai que se encontra sentado no trono, os 24 anciãos prostram-se em adoração, lançam suas coroas diante do trono, e cantam um cântico próprio (4:9-11). A expressão “sempre que” deixa claro que esta cena do capítulo 4 não é um ponto específico no tempo (como 31 A.D. ou 1844). Antes, retrata a natureza contínua da adoração celestial. O capítulo 4 não é um evento único, mas o cenário básico para toda a atividade da sala do trono celestial.

No capítulo 5, por outro lado, uma grande crise atinge a corte celestial. O cântico dos anciãos em 4:11 se inicia com uma palavra que se tornará central para a resolução dessa crise:

Tu és digno,

Senhor e Deus nosso,

de receber a glória,

a honra

e o poder,

porque todas as cousas tu criaste,

sim, por causa da tua vontade

vieram a existir

e foram criadas.”

Os anciãos atribuem dignidade suprema a Deus baseados em que, como Criador, Ele é a fonte para a existência de toda a criação (COLLINS, 1979, p. 37). Assim o capítulo 4 é levado ao seu glorioso clímax sem nenhum indício da crise a seguir.

Crise e Resolução

Apocalipse 5 move-se da descrição geral da sala do trono e suas atividades para um ponto específico no tempo quando se desenvolve uma crise.

A crise é um evento único, decisivo. Mas é vencida pela morte do Leão/Cordeiro, resultando em universal regozijo.

Embora o trono esteja presente, ele é mencionado menos frequentemente do que no capítulo 4.51 Agora o enfoque literário é sobre um livro (biblion), seus selos (sphragidas), o Cordeiro (arnion) e o assunto de quem é digno (axios) de tomar o livro e abrir-lhe os selos.

O livro com sete selos. Um grande problema para a interpretação desta seção de Apocalipse (4:1–8:1) é a identidade e significado do livro selado com sete selos.52

Quando pessoas são seladas (em Apocalipse), o selamento funciona como uma marca de proteção ou um sinal da propriedade, posse ou do domínio de Deus (7:2; 9:4; ver 14:1) (FITZER, 1964, p. 951). Mas quando um livro ou uma mensagem é selada, a ocultação ou segredo normalmente está em vista (22:10; ver 10:4) (FITZER, 1964, p. 950).

Qual é o misterioso conteúdo do livro? Parece que tem a ver com o propósito global do livro de Apocalipse (1:1-2):

Revelação de Jesus Cristo,  

que Deus lhe deu

                 para mostrar aos seus servos

                           as cousas que em breve devem acontecer

e que ele,

enviando por intermédio do seu anjo,

               notificou ao seu servo João,

o qual atestou

a palavra de Deus

              e o testemunho de Jesus Cristo,

                              quanto a tudo o que viu.

O livro do Apocalipse veio à existência por um triplo processo. Deus entregou a “revelação” a Jesus Cristo, que a transmitiu em símbolos por intermédio de um anjo a João. João então o transmitiu à igreja, em forma de um “livro [biblion] de profecia” (22:7, 10, 18, 19), as coisas que ele tinha visto.53 Assim, é uma impressionante analogia quando no capítulo 5 Deus entrega um ”livro” (biblion) a Jesus.

O conteúdo da transmissão é resumido particularmente em 1:1 pela frase “as cousas que em breve devem acontecer”, isto é, eventos futuros. Estas considerações, combinadas com o número de analogias entre 1:4-8 e 4:1-8,54 deixam a impressão de que o livro do capítulo 5 é o conteúdo do Apocalipse em si. Assim, pode ser inferido que o livro selado contém o destino do mundo, e o propósito e plano de Deus para livrar o Seu povo no fim dos tempos, e para resolver a controvérsia moral no Universo.

Esta futura ação de Deus está fixada em Seu propósito (anotado em um documento legal), mas está removido do conhecimento humano (selado) (SCHRENK, 1964, p. 619); donde o choro de João. Felizmente, ele pode ser aberto como resultado da cruz.

Possíveis alusões ao Antigo Testamento. Significativa informação de fundo oferece outras perspectivas sobre o significado do livro.52 Dois cenários do Antigo Testamento colocam os rolos em um contexto de juízo. O rolo desenrolado escrito dos dois lados em Ezequiel contém palavras de “lamentações, suspiros e ais”, uma ameaça dos juízos prestes a cair sobre Judá (2:9-10). O gigantesco rolo voante de Zacarias escrito dos dois lados contém as maldições de Deus contra os notórios pecadores da terra (5:1-4). Os rolos, porém, já estão abertos quando os profetas os veem, de sorte que as analogias não são plenamente convincentes.

Dois outros possíveis antecedentes se relacionam com questões de herança. Os testamentos romanos eram selados por seis testemunhas e o testador.56 E no tempo de Jeremias os rolos escritos garantem que sua compra de terra segundo a lei do go’e57será válida mesmo depois do retorno do exílio babilônio (32:6-15).

Ambas as ideias são atraentes. Como um testamento, o livro pôde ser aberto e suas instruções cumpridas por causa da morte sacrifical de Cristo (SCHRENK, 1964, p. 618-619). Como uma escritura de compra, o livro representaria o título de propriedade para o mundo. O choro de João (4:4) refletiria o confisco dessa herança como resultado do pecado. Através de Sua morte o Cordeiro redime a herança confiscada e, assim, é digno de abrir os selos e restaurar a posse legal (ver WATERHOUSE, 1983, p. 33).

Por mais atraentes que sejam estas ideias, e por mais fiéis ao conceito neotestamental da cruz, elas não são realizadas consistentemente no livro de Apocalipse. Se em mente aqui, elas podem funcionar apenas como um artifício literário (FITZER, 1964, p. 950).

Outro livro selado encontra-se no livro de Isaías (29:11, 18; 30:8). Como o Apocalipse, o livro de Isaías contém as mensagens do próprio profeta. A ausência de uma forte analogia estrutural entre Isaías 29–30 e Apocalipse 5 torna menos do que certo, porém, que João estava extraindo de Isaías para sua descrição do livro selado.

A imagem da entronização do capítulo 5 é muito compatível com outro conceito do Antigo Testamento. Como a coroação de um novo rei israelita, o livro da aliança (Deuteronômio) seria apresentado a ele (WATERHOUSE, 1983, p. 32; ver Deuteronômio 17:18-20; 2Rs 11:12-17; 23:2-3). A recepção do livro e a capacidade de abri-lo e lê-lo demonstrava o direito de reinar e lidar com qualquer crise que pudesse ocorrer. Teria sido proveitoso para nossa compreensão, porém, se a possível alusão a Deuteronômio tivesse sido mais explícita.

Alguns têm afirmado que o livro selado deve ser identificado com o livro da vida do Cordeiro (13:8; 21:27). Sendo que este é o único livro em Apocalipse cujo conteúdo é claramente identificado, isto é, digno de consideração. O conteúdo do livro selado, porém, parece ser mais amplo do que o do livro da vida.

Possíveis alusões ao Novo Testamento. Um fundo mais promissor, talvez, é o conceito neotestamental de “mistério” (mustērion). No Novo Testamento o termo “mistério” é sempre usado em um sentido escatológico.58 Ele seria revelado somente nos últimos dias. Mas sendo que Jesus é o Messias, os últimos dias já vieram.59 O reino apocalíptico tem se tornado uma realidade presente.60 Portanto, a plenitude do evangelho, embora oculta durante séculos, agora se tornou um mistério manifesto, revelado.61 Anunciar o mistério de Deus (1Coríntios 2:1) é pregar a Cristo crucificado (1Coríntios 1:23; cf. 2:2).

Mas embora o mistério esteja aberto aos seguidores de Jesus, ele é fechado para aqueles que não O conhecem (Mateus 13:11; Marcos 4:11; Lucas 8:10). Além disso, certos aspectos desse mistério não estão ainda plenamente revelados mesmo para o crente.62 Embora em um sentido os últimos dias já vieram no evento Cristo, em outro sentido, eles também ainda estão no futuro.63 O Apocalipse partilha a tensão do Novo Testamento entre o que já tem sido revelado em Cristo, e o que pode ser tornado conhecido somente no final.64 Nos “dias” da sétima trombeta o “mistério de Deus” será cumprido (10:7).

A crise no Universo (5:1-4) é precipitada pela combinada rebelião de Satanás e suas hostes no Céu e a família humana na Terra. O livro é o celestial livro do destino, contendo a substância do ordenado plano divino para enfrentar essa crise. Como tal, ele incluiria toda a informação revelada em Apocalipse, Daniel e mais. Por causa de Sua morte sacrifical, o Cordeiro é capaz de pôr em funcionamento acontecimentos que levarão a História à sua conclusão preordenada (COLLINS, 1979; STRAND, 1982, p. 55; MOUNCE, 1977, p. 142-143).

A série dos sete selos, contudo, retrata um período em que o propósito divino permanece, em grande medida, oculto da visão terrestre (cf. 6:9-11). Mas do capítulo 10 em diante, o propósito deve ser claramente revelado por intermédio das mensagens dos três anjos e os acontecimentos visíveis da consumação.

As qualificações do Cordeiro. Que o Universo está em crise torna-se evidente da descrição desta passagem. Deus tem um livro em Sua mão que só pode ser aberto por uma pessoa digna. Mas não é encontrada nenhuma tal pessoa, levando o profeta a chorar. A interrogação: “Quem é digno?” requer qualificações singulares (FOERSTER, 1964, p. 379). De acordo com 5:9, 10, 12 as qualificações singulares do Cordeiro derivam do fato de que Ele foi morto e assim habilitado a redimir a humanidade com o Seu sangue.

Dinastia davídica restabelecida. O simbolismo do Leão de Judá é, sem dúvida, baseado na promessa de domínio para a tribo de Judá (Gênesis 49:9-10). Combinar isto com o simbolismo da “Raiz de Davi” dá a ideia de que a entronização do Cordeiro implica o restabelecimento da eterna dinastia davídica prometida no Antigo Testamento.65 O Cordeiro é o Messias prometido. Assim, Jesus é compreendido como tendo restabelecido a dinastia davídica quando Ele proclamou a chegada do Seu reino (Mateus 12:28; Lucas 17:20-21).

A primeira impressão é que o Cordeiro tinha sido morto (v. 6, hōs esphagmenon). Contudo, o Cordeiro se move para tomar o livro, deixando claro que Sua morte tem sido vencida (v. 7; ver 1:18). O Cordeiro então prossegue para juntar-se a Deus em Seu trono, receber a adoração da hoste celestial, e assumir o governo do mundo (5:12-14; 17:14; 19:16; 22:3). Finalmente, na conclusão da profecia, o Cordeiro desposa a Nova Jerusalém, simbólica da comunidade cristã (19:6-8; 21:9ss) (JEREMIAS, 1964, p. 341).

Não pode haver dúvida de que para João, o Cordeiro é o exaltado Cristo de Apocalipse 1–3, que está qualificado para tomar o livro, não somente por causa do que Ele tinha feito (Sua morte na cruz), mas por causa do que Ele é. Assim, está implícita no texto a plena divindade e humanidade que o Cordeiro tinha de incorporar a fim de realizar a tarefa redentora. A humanidade do Cordeiro é evidente em que Ele foi morto. Sua divindade é evidente em que Ele é exaltado ao trono de Deus para receber a adoração de toda a criação (Apocalipse 3:21; 5:7-14).

Os sete chifres do Cordeiro lembram imagens do Antigo Testamento de poder político e/ou militar (COLLINS, 1979, p. 41; Deuteronômio 33:17; Daniel 7:8, 21, 22, 24; 8:3-12). Os sete olhos do Cordeiro lembram a visão de Zacarias (4:10) em que o próprio Senhor tem sete olhos para percorrer toda a Terra (COLLINS, 1979, p. 41). Por estes dois símbolos a todo-poderosa e onisciente divindade do Cordeiro é claramente estabelecida.

Alguns sugerem que quando Jesus toma o livro da mão do Pai, isto implica que Ele se mudou do primeiro compartimento para o Segundo Compartimento do santuário celestial. Mas não há nenhum indício em algum lugar na visão imediata de que o trono de Deus é movido. Nem são os movimentos do Cordeiro significativos para a cena, sendo que Ele já está “no meio do trono” (5:6). É melhor compreender a visão dos capítulos 4 e 5 como uma única cena em um único lugar no santuário celestial. A localização exata não parece ser decisiva para a interpretação da visão.

Um novo cântico. A ideia de cantar um “novo cântico” de louvor a Deus é comum no Antigo Testamento. Novos cânticos são cantados para louvar a Deus por um recente livramento (Salmo 40:1-3; 144:9-10; Isaías 42:10-13), por atos de salvação e juízo (Salmo 96:1-2; 98:1-2; 149:1-9), ou por Seu poder criador que é manifesto continuamente na Terra de novas maneiras (Salmo 33:1-9; Isaías 42:5, 10). Tal novo cântico é inteiramente apropriado como resultado do maior ato de Deus de todos os tempos, a morte expiatória de Jesus Cristo (5:8-10).

O sacerdócio real (v. 10) baseia-se na declaração de Deus a Israel de que a nação iria ter uma especial função sacerdotal (veja Êxodo 19:5-6). Por intermédio de Israel, Yahweh planejava levar a bênção de Abraão a todas as nações (Gênesis 12:1-3; 22:18). Em Cristo esse privilégio é transferido para a igreja (Mateus 21:43; 1Pedro 2:9-10; Gálaas 3:29; 6:15-16). Assim, Apocalipse 5:9-10 declara os seguidores de Cristo como sendo um Novo Israel, com uma função mundial de domínio e bênção. Esse domínio é uma consequência do domínio de Cristo que foi estabelecido como resultado da cruz (Apocalipse 5:3; cf. Mateus 28:18).

Nos versos 11-14 o crescendo de louvor atinge um clímax magnífico. Toda a criação inteligente louva ao Cordeiro e ao Pai que está sentado no trono. Conquanto apropriado no contexto da entronização de Cristo em Sua ascensão, o hino final se estende além do desterro do pecado e seus efeitos para o dia em que toda a criação viverá para louvar a Divindade (cf. Filipenses 2:9-11).

Referências:

1 Isto é desenvolvido com mais detalhes em meu livro Decoding Revelation’s Trumpets (1988, p. 337-339).

2 A menos que seja de outro modo especificada, todas as citações do texto do Novo Testamento são a tradução do próprio autor.

3 O particípio presente grego expressa a ação como um processo contínuo.

4 Ambos os verbos são aoristos gregos indicativos e expressam ação passada como pontos no tempo em vez de um processo.

5 Note as analogias literárias entre as duas cenas:

Apocalipse 5:12

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.

 Apocalipse 5:13

Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos.

Apocalipse 7:12

“Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, as ações de graças, a honra, o poder e a força sejam ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém!”

Apocalipse 7:10

E clamavam com voz forte, dizendo: “Ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.”

6 Os verbos gregos (enikōsa, ekathisa, “eu venci . . . me sentei”, 3:21; enikēsen, “ele venceu”, 5:5) são aoristos indicativos, indicando eventos específicos no tempo passado.

7 ”Foste morto” (esphagēs), “compraste” (ēgorasas), “fizeste” (epoiēsas).

8 Eles estão no contexto do grande dia do Senhor (Apocalipse 6:12-17) e do selamento (Apocalipse 7:1-3).

9 Para um diagrama de como isto funciona para todo o livro veja Kenneth A. Strand (1972, p.52). Para uma compactação mais limitada da análise de Strand, veja os caps. 1–3 deste volume.

10 Veja o gráfico mais detalhado de Strand (1972, p. 46). Há outros pontos de ligação com os selos em Apocalipse, principalmente no cap. 14, mas estes são muito menos explícitos do que aqueles do cap. 19.

11 Embora vários escritores adventistas tenham procurado encontrar analogias aos caps. 18, 20 e 21, estes têm tendido focalizar as analogias temáticas que não chegam a ser demonstrações convincentes da intenção de João. Apocalipse 6 e 19 contêm uma multidão de analogias verbais e temáticas sobre as quais construir nossa investigação.

12 Apocalipse 4:6-11; 5:8-14; 7:9-14; e 19:4.

13 Ver a linguagem de Apocalipse 4:8, 11; 5:12, 13; 7:10, 12; 19:1, 6, 7.

14 Palavras diferentes são usadas para descrever vestimentas essencialmente semelhantes em 4:4; 6:11; 7:9, 13; 19:8, 14.

15 A palavra usada em 19:15, 21 para “espada” é hromphaia, e somente em 6:8, mas não em 6:4 (machaira).

16 O termo é plural (muitas coroas).

17 Sendo que 19:1 tem nove analogias verbais de si próprio com 7:9 – 12, a relevância de 19:1-2 para os selos é certamente indiscutível.

18 Um forte vínculo literário, contudo, liga o cap. 6 aos caps. 4 e 5 em que tudo o que ocorre no cap. 6 está ligado à abertura do livro selado pelo Cordeiro e frequentes referências são feitas aos quatro seres viventes.

19 A atividade ocorre “no trono” (epi ton thronon — 4:2, 4, 9, 10), “ao redor [kuklothen e kuklō] do trono” (4:3, 4, 6), “do [ek] trono” (4:5), “diante do [enōpion] trono” (4:5, 6, 10), e “no meio [en mesō] trono” (4:6).

20 Apocalipse 2:13; 13:2; 16:10. A palavra é também aplicada aos 24 anciãos (4:4 [duas vezes] e 11:16) e aos mártires (20:4). Embora o grego de 20:4 seja difícil, os tronos parecem estar ali para o uso dos mártires em uma obra de juízo (krima). Tal tarefa de julgamento não é dada aos anciãos nos capítulos 4 e 5; eles se empenham, contudo, em algum tipo de tarefa intercessória (5:8).

21 Ver Êxodo 29:4, 10-11; Levíticos 1:3, 5; 1Rs 6:31-32, 34. Como mostra uma leitura das passagens registradas, a

palavra em si não dá nenhuma informação sobre que porta do santuário poderia estar à vista.

22 Maxwell designa o trono de 4:2, “o trono-mesa”.

23 A ligação com o peitoral do sumo sacerdote é realçada pelo fato de que o sárdio era a primeira pedra registrada no hebraico de Êxodo 28 e o jaspe a última. Assim todas as tribos estão representadas nas pedras dos mais velhos e os mais jovens filhos de Jacó (Ford, 71, 85). No grego (LXX) de Êxodo 28:21, o peitoral é dito estar “selado” (sphragidōn) com os nomes das 12 tribos.  

24 A palavra grega do Antigo Testamento para o candelabro é luchnia, a palavra usada em Apocalipse 1:12, 13, 20.

25 Veja o precedente cap. 10, “Selos e Trombetas: Algumas Discussões Atuais”.

26 Estes incluem “que deve acontecer depois destas cousas”; as três pedras do verso 3; os 24 anciãos; os sete candeeiros; a frase “Senhor Deus, o Todo-poderoso” (usada no grego do Antigo Testamento para o hebraico “Senhor, Deus dos Exércitos”); a frase “o que vive pelos séculos dos séculos”; e a proclamação de Deus como o Criador de todas as coisas.

27 É também possível que João estava ciente de 1 Enoque 14:8-25, uma passagem cerca de 200 anos mais antiga do que Apocalipse que também é recordativo de Ezequiel e Daniel. Para o texto de 1 Enoque em inglês veja James Charlesworth (1983-1985, p. 13-89).

28 Veja tabela 2 para uma lista de alusões diretas ao Antigo Testamento em Apocalipse 5. Uma possível contribuição de Ezequiel 1–10 é o livro escrito por dentro e por fora, que pode ser encontrado em Ezequiel 2:9-10. Êxodo 19 contribui com o conceito do povo de Deus como um reino de sacerdotes (Apocalipse 5:10). Isaías 6 e 1Rs 22 não têm absolutamente nenhuma contribuição adicional.

29 Elementos significativos do cap. 5 tais como o Leão de Judá, a Raiz de Davi, o Cordeiro morto, os sete olhos, o incenso que sobe, o novo cântico e o Universo de três camadas (Apocalipse 5:13) correspondem a outros cenários do Antigo Testamento. Um conceito-chave “digno” não pode ser baseado de modo algum no Antigo Testamento.

30 Krisis, Apocalipse 14:7; 16:7; 18:10; 19:2; krima, Apocalipse 17:1; 18:20; 20:4; crinō, Apocalipse 6:10; 11:18; 16:5; 18:8, 20; 19:2, 11; 20:12-13.

31 Ver João 3:18-21; 5:22-25; 9:35-41.

32 Há realmente poucas passagens do Antigo Testamento que não estão associadas a juízo em algum sentido. João, embora se inspirando em algumas destas, tem saído do seu caminho para ajudar o leitor a evitar a tirar conclusões erradas dessa linguagem.

33 Note o significado do “portanto” (oun) no v. 19 no texto grego, ligando o ministério de Jesus ao ministério de João às sete igrejas através do livro que João escreverá para Ele.

34 Por favor note o seguinte: Éfeso 2:1 cf. 1:13, 16

Esmirna 2:8 cf. 1:17, 18

Pérgamo 2:12 cf. 1:16

Tiatira 2:18 cf. 1:14-15

Sardes 3:1 cf. 1:4, 16

Filadélfia 3:7 cf. 1:18

Laodiceia 3:14 cf. 1:5

35 Uma importante analogia verbal a Daniel 2:28, 29, 45, em dois diferentes Antigos Testamentos gregos, a Septuaginta (LXX) e Teodocião.

36 Em Apocalipse 1:1 a frase “coisas que devem acontecer” (ha dei genesthai) é seguida não pelo “depois disto” (meta tauta) mas por “brevemente” ou “logo” (em tachei). Em Apocalipse 1:19 “deve” (dei) é substituído por “prestes a” (mellei): “coisas que estão prestes a acontecer depois disto.”

37 Que as cartas às igrejas tenham um intento primário na situação original de modo algum exclui a validade de seu simbolismo profético de certos aspectos da história da igreja ao longo da Era Cristã.

38 A futura orientação de Apocalipse 4 e capítulos subsequentes não exclui retrospectos aos eventos do passado (como o nascimento de Cristo, 12:1-5) ou a descrições dos terrenos sobre os quais Cristo agirá no futuro (como a descrição de Apocalipse 5).

39 Um imperfeito indicativo grego de keimai (encostar-se, reclinar). O tempo expressa ação contínua, como o tempo presente, mas no tempo passado.

40 O Antigo Testamento Grego não usa ekeito em Daniel 7:9, mas emprega a forma aoristo de tithēmi (montar, levantar, instalar, estabelecer ou colocar), implicando o ato de colocar os tronos na posição.

41 Apocalipse 4:4, 10; 5:5, 6, 8, 11, 14; 7:11, 13; 11:16; 14:3; 19:4. 42 É interessante notar que os muros e fundamentos são mencionados duas vezes, e cada vez em relação um ao outro (21:12-14, 19-21). Isto evidentemente tem em vista chamar a atenção do leitor para a relação entre as duas séries de 12.

43 Apocalipse 3:4, 5, 18; 6:11; 7:9, 13, 14. Nisto, é claro, eles seguem o modelo de Cristo (Apocalipse 1:14). Uma possível exceção é Apocalipse 19:14, onde aqueles que acompanham a Cristo em Sua Parousia estão vestidos de branco. A palavra grega para “branco” não é usada em Apocalipse 19:8, embora este texto indubitavelmente apoie as referências anteriores aos crentes em vestiduras brancas.

44 Apocalipse 2:10; 3:11; 12:1; 14:14. E para Sua falsificação ver Apocalipse 9:7. Pode ser de especial interesse para os leitores adventistas do sétimo dia de que haja várias conexões literárias contrastantes entre os 24 anciãos e a carta aos laodiceanos. Os anciãos estão em uma relação de adoração com Jesus nos lugares celestiais, os terrestres laodiceanos são repulsivos para Jesus. Os anciãos usam vestes brancas, os laodiceanos estão nus e são convidados a comprar tais vestes. Os anciãos usam ouro, os laodiceanos têm falta dele. Os anciãos se uniram a Deus em Seu trono, tal condição é prometida aos laodiceanos se vencerem. Os anciãos estão totalmente focalizados em Deus, os laodiceanos estão satisfeitos consigo mesmos. Os anciãos estão dentro de uma porta aberta com Jesus, os laodiceanos estão dentro de uma porta fechada, estando Jesus em pé lá fora. O impacto literário desta comparação expressava um chamado aos laodiceanos a ultrapassar a porta aberta para os lugares celestiais em Cristo Jesus.

45 1Pedro 2:9-10; Apocalipse 1:6; 5:9-10.

46 Mateus 19:28; Lucas 22:30; Apocalipse 20:4.

47 Mateus 27:29; Marcos 15:17; João 19:2, 5.

48 Filipenses 4:1; 1Tessalonicenses 2:19; 2Timóteo 4:8.

49 Mateus 27:52-53; Efésios 4:8.

50 Apocalipse 3:21; 12:11; cf. Efésio 2:6.

51 Deus continua sentado sobre (epi) o trono (5:1, 7, 13), o Cordeiro aparece no meio do (enmesō) trono (5:6), e uma hoste de anjos ao redor do (kuklō) trono (5:11) juntam-se aos anciãos e aos quatro seres viventes em louvor ao Cordeiro.

52 O livro selado com sete selos é claramente um rolo (ver 6:14 não um códice, onde as páginas são alinhavadas juntas em uma encadernação central.

53 Embora o termo “livro da profecia (tēs prophēteias tou bibliou) não seja usado no contexto imediato de Apocalipse 1:1-2, o v. 3 fala acerca “das palavras desta profecia” que estão escritas, e o verso 11 fala acerca de “escreve em um livro o que tens visto.” De sorte que o livro de Apocalipse foi mediado por um processo movendo-se de Deus para Cristo para João para o livro escrito.

54 Ex., tais analogias como Aquele que “é e que era e que há de vir”, o Todo-poderoso, e os sete espíritos diante do trono.

55 Veja Schrenk (1964, p. 618-619) para outro resumo das considerações de fundo ao livro selado. Ver também Douglas Waterhouse (1983, p. 32-35).

56 Ver exemplo em: Fitzer (1964, p. 950); Schrenk (1964, p. 618-619); Strand (1982, p. 55).

57 Segundo essa lei, uma pessoa em perigo de perder a sua herança podia apelar para um parente mais próximo a fim de comprar a propriedade e com isso conservá-la na família até tal tempo emque pudesse arcar com as despesas para comprá-la de volta. Veja a história de Rute.

58 Para uma discussão completa desta palavra veja Günther Bornkamm (1964, p. 802-828).

59 Hebreus 1:2; 9:26; 1Pedro 1:20; 1João 2:18.

60 Mateus 12:22-28; 13:24-26, 31-33; Lucas 11:20-22; 17:20-21.

61 Romanos 16:25-27; 1Coríntios 2:7-10; Efésios 3:3-10; 6:19; 1Timóteo 3:16.

62 Romanos 11:25; 1Coríntios 13:2; cf. 12: Efésios 1:9-10.

63 Mateus 6:10; 25:1ss.; 31-46; Lucas 13:28-29; 19:11; João 6:39, 40, 44, 54; 11:24; 12:48; 2Timóteo 3:1; 1Pedro 1:5; 2Pedro 3:3.

64 Um relacionado conceito do Novo Testamento é aquele das duas eras. A prometida era porvir no Antigo Testamento é compreendida como uma realidade presente em Cristo (Mateus 28:20; Romanos 12:2; 2Coríntios 4:4; Gálatas 1:4) embora sua plenitude seja consumada somente na futura era vindoura (Efésios 2:7; Hebreus 6:5).

65 2Samuel 7; 2Cr 17; Deuteronômio 9:24-27; Lucas 1:32-33.

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