“[…] Neste capítulo, o autor descreve detalhadamente 12 importantes temas com respeito a essa segunda fase do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial, em andamento desde 1844:
1. O juízo pré-advento é uma atividade atual de Deus.
2. O juízo pré-advento constitui um momento decisivo ou um ponto crítico na história da salvação.
3. O juízo pré-advento distingue o “tempo do fim” do fim dos tempos.
4. O juízo pré-advento ocupa a primeira das três grandes fases do juízo final de Deus que termina com o estabelecimento de seu reino eterno.
5. O juízo pré-advento focaliza Cristo e tem algo a dizer a seu respeito no seu clímax.
6. O juízo pré-advento fala a respeito dos ímpios e sua sentença.
7. O juízo pré-advento fala a respeito dos justos e seu destino.
8. O juízo pré-advento dá uma resposta à questão do presente estado dos justos mortos.
9. O juízo pré-advento fornece uma demonstração do caráter de Deus.
10. O juízo pré-advento fornece uma conclusão lógica à primeira fase do ministério sacerdotal de Cristo no Céu.
11. O juízo pré-advento coloca uma forte ênfase sobre as demandas éticas do evangelho.
12. O juízo pré-advento enfatiza nossa responsabilidade de observar todos os mandamentos de Deus, incluindo a guarda do sábado.
Introdução
Em vários estudos recentes, tanto nos volumes da Série Santuário e Profecias Apocalípticas como em outros materiais, eruditos adventistas do sétimo dia têm reafirmado a base bíblica para o ensinamento de que um juízo é conduzido no Céu antes do tempo em que Cristo retornará a terra. Devido ao fato de esse juízo ocorrer antes do segundo advento de Cristo, ele é conhecido como juízo pré-advento, e pelo fato de registros no Céu serem examinados durante esse juízo, é conhecido também como juízo investigativo. Um desses títulos se refere ao tempo em que é realizado; o outro à sua natureza.
Visto que estudos recentes determinaram que o fundamento para esse ensino baseia-se firmemente nas Escrituras, não é necessário citar as diferentes linhas de evidência examinadas nesses estudos. Essa conclusão pode ser aceita como o ponto de partida para a ênfase particular colocada sobre esse juízo neste ensaio: sua importância teológica.
Há alguns temas ensinados nas Escrituras, tal como aqueles sobre a natureza factual de algum evento histórico no passado, que não parecem ser especialmente importantes para os cristãos hoje. Deve o ensino bíblico sobre o juízo pré-advento ser relegado a esse nível de menor importância? É essa doutrina, por exemplo, apenas uma posição teológica herdada dos pioneiros da igreja adventista do sétimo dia que já não tem para a geração atual a importância que tinha para eles?
Várias razões são listadas abaixo para explicar por que esse ensinamento é ainda hoje muito importante para a igreja e para o cristão como indivíduo. Essas razões são listadas como temas individuais e, em seguida, há uma breve discussão do assunto suscitado em cada tema. Essa lista não pretende ser exaustiva; mas apenas representar o pensamento bíblico sobre esse tópico.
1. O juízo pré-advento é uma atividade atual de Deus. As aplicações corretas determinadas para as grandes profecias de tempo de Daniel e de Apocalipse indicam que estamos vivendo agora o que é conhecido como o “tempo do fim”. É no “tempo do fim”, mas antes do segundo advento de Cristo, que esse juízo deve ser realizado no Céu. Visto que estamos vivendo agora nesse tempo demarcado profeticamente, significa que o juízo está sendo conduzido neste momento no Céu.
De todas as coisas que os cristãos devem se interessar em saber sobre Deus, uma das mais importantes é o que Ele está fazendo agora. Portanto, como uma atividade presente de Deus, esse juízo pré-advento deve ser um tema de grande interesse para os cristãos contemporâneos.
2. O juízo pré-advento constitui um momento decisivo ou um ponto crítico na história da salvação. Na visão de Daniel 7, são mostradas ao profeta a ascensão e a queda de uma série dos principais reinos da história humana e o curso de uma entidade político religiosa. Depois de ter visto a atividade do último desses poderes, a atenção do profeta é dirigida à corte celestial, onde vê o Ancião de Dias e miríades que estavam diante dele darem início ao juízo final.
Em consequência desse juízo começa uma ordem inteiramente nova da história humana, uma ordem que se estende à eternidade no reino de Deus. Portanto, o juízo que Daniel contempla em visão está no ponto crítico entre a presente ordem da existência humana e a ordem eterna que se seguirá.
3. O juízo pré-advento distingue o “tempo do fim” do fim dos tempos. O “tempo do fim” é conhecido das profecias de Daniel como um período de tempo durante o qual vários eventos ocorrerão. As pessoas esquadrinharão o livro de Daniel, então o rei do norte fará certas coisas, etc. O acontecimento mais importante do “tempo do fim” é o juízo no Céu.
Quando o juízo for concluído, o “tempo do fim”, durante o qual o juízo ocorreu, terá também um fim. Quando isso acontecer, Deus estabelecerá seu próprio reino eterno. A história humana como a conhecemos agora irá terminar. Esse é o fim dos tempos. Assim, o “tempo do fim” tem início aproximadamente quando começa o juízo pré-advento, e o fim dos tempos chega quando acaba o tempo do fim.
4. O juízo pré-advento ocupa a primeira das três grandes fases do juízo final de Deus, que termina com o estabelecimento de seu reino eterno. O juízo Pré-advento descrito em Daniel não é o único juízo de abrangência cósmica que conhecemos da Bíblia. É seguido pelo juízo conduzido no Céu por Cristo e Seus santos durante o milênio (Apocalipse 20:4-6; 1Coríntios 6:2~3). Um terceiro juízo deve ser realizado perante o grande trono branco de Deus no fim do milênio (Apocalipse 20:11-15). Dado que essas cenas dos três juízos fluem de uma à outra numa sucessão ininterrupta, pode-se pensar que são três fases do juízo final. Com a terceira e última dessas fases, o plano de salvação é concluído.
Cada uma das fases do juízo final tem seu objeto especial de atenção. Na fase do juízo pré-advento, é resumido o relato final de todos os santos de todas as eras que entrarão no reino eterno de Deus. Durante a fase do juízo milenial, esses santos julgarão ou avaliarão os registros daqueles que não foram aceitos nesse reino. Então, no fim do milênio, na terceira fase executiva, será dado aos ímpios o veredito final, e aos justos, sua recompensa.
Assim, todas essas três fases do juízo final podem ser vistas como complementares. O juízo pré-advento dá início a essa sequência que terminará com a cena do juízo na qual os justos tomam posse da terra renovada.
5. O juízo pré-advento focaliza Cristo e tem algo a dizer a seu respeito no seu clímax. De acordo com a descrição da visão em Daniel 7, o profeta vê duas cenas diferentes desse juízo. Na primeira, lhe é mostrado o começo do juízo na cena do tribunal presidido pelo Ancião de Dias, Deus o Pai.
A conclusão do juízo é mostrada ao profeta em uma segunda cena. Nessa última cena, é concedido ao Filho do Homem, Jesus Cristo, o governo definitivo sobre toda a terra e seus habitantes. 0 grande clímax desse juízo é assim mostrado ao profeta, e em seu centro está Jesus Cristo.
Naturalmente, isso não significa que Cristo teve que esperar até o juízo final para descobrir se Ele iria governar sobre o reino eterno. Antes, o trabalho de revisão e resumo conduzido durante o curso desse juízo resulta numa grande e definitiva reafirmação de tudo o que Ele realizou com o plano de salvação. Da mesma forma, esse juízo representa um resumo e uma afirmação da salvação que os santos individualmente obtiveram antes por meio de seu relacionamento com Cristo.
6. O juízo pré-advento fala a respeito dos ímpios e sua sentença. A entidade incorporada dos que se opõe a Deus é representada nas profecias de Daniel 7 e 8 pelo símbolo do chifre pequeno. Contudo, mesmo a esses que compartilham do destino do chifre pequeno é assegurado o recebimento da sentença de um Deus justo. As decisões tomadas em seus casos não são o resultado de um ato arbitrário da parte de Deus, mas resultam de um exame de seus próprios registros. Esse exame não é conduzido em segredo; é realizado tendo como testemunha o exército de anjos celestiais.
7. O juízo pré-advento fala a respeito dos justos e seu destino. Um evento que segue imediatamente a conclusão desse juízo é a entrada dos santos do Altíssimo em seu reino eterno. Dada essa estreita relação, esses dois eventos devem ser vistos como causa e efeito. Assim, é evidente que uma das funções desse juízo é servir como uma revisão final e determinar o total de santos de todas as eras que podem, pela graça de Deus, entrar nesse reino.
De tempos em tempos, alguns desses santos foram sentenciados culpados de vários crimes por tribunais terrenos, quando na verdade estavam servindo a Deus e ao homem fielmente. No juízo pré-advento essas sentenças injustas proferidas por tribunais terrenos serão revertidas pelo tribunal celestial. Dessa forma, Deus vindicará seus santos. Daniel 7:22 se refere a esse fato indicando que a corte celestial fará justiça aos santos (para o benefício de, a favor de). A fim de dar o veredito mais preciso, a corte celestial, obviamente, deve estar mais bem familiarizada com a vida e com os casos dos santos do que os perseguidores e acusadores terrestres, tais como o chifre pequeno.
Ao se considerar tal curso de ação, é bom ter em mente que se Deus é por seu povo, ninguém pode oferecer oposição significativa a eles (Romanos 8:31-39). Como parte do plano de salvação, o objetivo desse juízo é salvar tantos quanto possível, não excluir o maior número possível. 0 falso seguidor, que não está em genuína união com Deus terá que ser rejeitado nesse juízo (Êxodo 32:33; Mateus 22:10-14). Mas o desejo por parte de Deus de salvar é representado no apelo feito por meio de seu profeta: “Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?” (Ezequiel 33:11).
Uma bonita ilustração dessa obra de misericórdia, graça e justificação nos é dada na visão sobre Josué, o sumo sacerdote na época de Zacarias (Zacarias 3). Esse caso acontece no santuário, e envolve uma decisão ou julgamento da parte de Deus a favor do sacerdote. O anjo do Senhor ordena: “Tirai-lhe as vestes sujas.” E assegura ao penitente Josué: “Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes” (Zacarias 3:4).
8. O juízo pré-advento dá uma resposta à questão do presente estado dos justos mortos. De acordo com uma compreensão bíblica correta da natureza do homem, ele é mortal. Quando ele morre, dorme no túmulo. Isso significa que os mortos justos de todas as eras ainda estão dormindo em seus túmulos, e a solução final para seu problema com relação a esse estado ainda será dada.
Quando Cristo vier novamente, Ele ressuscitará seus santos que estão dormindo e lhes dará sua justa recompensa. Portanto, a recompensa é determinada antes de Ele vir. Uma ocasião apropriada para se determinar isso é quando seus casos são revistos no juízo pré-advento.
Tem sido difícil para os não-adventistas entenderem o ensinamento do juízo pré-advento sustentado pela Igreja Adventista. Uma forte razão para essa falta de compreensão deriva do conceito que as pessoas têm sobre a natureza do homem. Quando se adota a opinião de que o homem é imortal por natureza, o momento em que a pessoa é julgada é na sua morte. Então, ela é recompensada com uma vida futura no céu ou no inferno.
Consequentemente, um juízo pré-advento, tal como é apresentado na Bíblia, não pode se harmonizar com o conceito de imortalidade do homem. Mas se, por outro lado, a questão é vista a partir da perspectiva bíblica da natureza do homem, esse juízo pré-advento é uma consequência lógica e natural ou requisito dessa compreensão correta da Bíblia.
9. O juízo pré-advento fornece uma demonstração do caráter de Deus. Finalmente, em virtude da maneira como Ele conduz esse juízo pré-advento, a retidão, a justiça e misericórdia de Deus será proclamada por todos os seres da terra e do céu (Isaías 45:23; Romanos 3:26; 14:10-11; Filipenses 2:10-11; Apocalipse 15:3-4; 16:5, 7; 19:2,11). Dessa forma, o caráter bondoso de Deus, que foi discutido durante a controvérsia com Satanás (Apocalipse 12:7-9), será vindicado. Essa vindicação definitiva pode nos dar confiança a respeito do tipo de Juiz e Advogado que temos agora na corte celestial.
10. 0 juízo pré-advento fornece uma conclusão lógica à primeira fase do ministério sacerdotal de Cristo no Céu. 0 plano de redenção está sendo executado desde a queda do homem. Durante esse período, tem alcançado grandes resultados. Portanto, é natural e lógico que as conquistas cumulativas do plano de redenção devem ser demonstradas à medida que for concluído. O juízo pré-advento oferece a oportunidade para tal demonstração. Essa demonstração é feita ao se fornecer uma revisão e resumo dessas conquistas diante dos seres leais do universo. É, portanto, uma conclusão lógica disso`
É possível traçar um paralelo com o curso da ministração no antigo tabernáculo/ templo/ santuário dos hebreus. Durante o curso do ano cúltico foram realizados vários sacrifícios com o propósito de fazer expiação ou reconciliação entre o pecador e Deus. Essas cerimônias culminavam nos serviços conduzidos no Dia da Expiação.
Os serviços no Dia da Expiação tinham dois propósitos principais até onde se sabe: (1) eles cumpriam a expiação final por todos os pecados confessados durante o ano. E (2) servia como um dia de juízo para os pecadores não arrependidos e rebeldes. Eles deviam ser eliminados do acampamento. (O Dia da Expiação também servia para purificar o santuário e sua mobília para prepara-lo para o próximo ano de serviços). Assim, esse dia cúltico de juízo servia como uma conclusão do ministério que era realizado no acampamento e no santuário durante o ano.
Da mesma forma, o juízo pré-advento pode ser visto como uma fase final da ministração celestial de Cristo. Esse ministério de reconciliação e intercessão começou em sua ascensão (Hebreus 8-9). Também serviu como validação do que foi cumprido durante os serviços do templo terrestre e tabernáculo no tempo do Antigo Testamento (Hebreus 9: 15). Com o juízo pré-advento chega o tempo para o relato e resumo final do que foi alcançado com esse ministério. Funciona, portanto, como uma conclusão dele.
Deve-se observar que o fato de Cristo ter entrado na segunda fase do seu ministério em 1844, não significa que Ele tenha cessado de realizar as funções da primeira fase. A salvação ainda está disponível para pecadores arrependidos. Com base no paralelo antigo dos tipos pode-se dizer que no antitípico Dia da Expiação ambas as fases do ministério de Cristo no santuário celestial – intercessão e julgamento podem ser e são realizadas ao mesmo tempo em que dura a provação humana.
11. O juízo pré-advento coloca uma forte ênfase sobre as demandas éticas do evangelho. Viver nesse tempo, quando o juízo está sendo conduzido no Céu, é algo que faz refletir. Deve ter um efeito sobre o modo como o povo de Deus vive, não com relação a um esforço para demonstrar retidão com nossas próprias obras, mas com relação a uma fé profunda ligação com o Deus que nos justifica e nos santifica e nos habilita a fazer sua obra no mundo.
Saber que estamos vivendo numa época tão solene é um chamado a: (1) adorar o Deus verdadeiro e não adorar o que é falso (Apocalipse 14:6-14); (2) receber o evangelho ou as boas novas da salvação em Jesus Cristo e exercitar a fé nele (Atos 4:12), (3) viver uma vida santificada por meio do poder do Espírito Santo (1Tessalonicenses 5:23); (4) testemunhar ao próximo e a todo o mundo sobre o caráter de Deus, o que o plano de salvação tem cumprido, e as responsabilidades do cristão para com Deus (Mateus 28:19).
Com o evangelho vem um chamado para o viver santo (Mateus 5-7). Portanto, os cristãos não podem continuar a viver de modo complacente, porque deve ser levado diante de Deus. Essa prestação de contas é enfatizada pelo juízo que está sendo realizado agora no Céu. Ao colocar esse juízo num contexto profético, e localizar essa parte desse contexto em nosso próprio tempo, Cristo confere um sentido de urgência particular em seu chamado à missão de seu povo neste tempo.
12. O juízo pré-advento enfatiza nossa responsabilidade de observar todos os mandamentos de Deus, incluindo a guarda do Sábado. O chamado de Cristo para se observar as demandas éticas do evangelho neste tempo profético não pode ser separado do dever de guardar Seus mandamentos porque O amamos. Num julgamento, alguns padrões devem ser observados como regra. Para Deus, essa regra é sua lei, os Dez Mandamentos (Tiago 2:9-12). A função do juízo final naturalmente chama atenção para um aspecto muito negligenciado dos Dez Mandamentos: o chamado para se observar o sétimo dia do quarto preceito. No mesmo “tempo do fim” no qual se localizam as profecias de Daniel e Apocalipse, o juízo pré-advento encontrará na Terra um povo que expressa lealdade a Deus observando todos os seus mandamentos (Apocalipse 12:17; 14:12).
Esse é um tempo profético em que homens e mulheres são chamados especialmente a adorar a Deus como seu Criador (Apocalipse 14:6-7). A maneira mais apropriada de se adorar a Deus como Criador é adorá-LO no dia que Ele separou, santificou e abençoou como memorial de sua criação, o sétimo dia, o sábado (Gênesis 2:2-3).
Uma relação profética entre o sábado e o juízo pré-advento pode, portanto, ser estabelecida. Essa relação convida a humanidade a observar o sábado como uma verdade presente sobre seu Criador e Redentor.