Por Ellen White
Um grande despertamento religioso é predito na mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14. É visto um anjo “voando pelo meio do Céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o Céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas”. Apocalipse 14:6, 7.
Um anjo representa o caráter exaltado da obra a ser realizada pela mensagem, e o poder e glória que a deveriam acompanhar. O voo do anjo “pelo meio do Céu”, com “grande voz”, e sua proclamação “a cada nação, e tribo, e língua e povo” evidenciam a rapidez e extensão mundial do movimento. Quanto ao tempo em que isto deveria ocorrer, vê-se que a mensagem anuncia a abertura do juízo.
Essa mensagem é uma parte do evangelho que só poderia ser pregada nos últimos dias, pois somente então seria verdade que a hora do juízo havia chegado. A parte da profecia de Daniel que se relaciona com os últimos dias, o profeta teve a ordem de fechar e selar “até ao tempo do fim”. Daniel 12:4. Não poderia, antes que alcançássemos o tempo do juízo, ser proclamada uma mensagem relativa ao mesmo juízo e baseada no cumprimento daquelas profecias.
O apóstolo Paulo advertiu a igreja a não esperar a vinda de Cristo em seu tempo. Não poderíamos esperar pelo advento de nosso Senhor senão depois da grande apostasia e do longo período de domínio do “homem do pecado”. 2 Tessalonicenses 2:3. O “homem do pecado” — também identificado como “mistério da iniquidade”, “filho da perdição” e “o iníquo”, — representa o papado, que deveria manter sua supremacia durante 1.260 anos. Esse período terminou em 1798. É depois dessa data que a mensagem da segunda vinda de Cristo deve ser proclamada.
Semelhante mensagem jamais foi apresentada nos séculos passados. Paulo, como vimos, não a pregou; indicou a vinda do Senhor para um futuro então muito distante. Os reformadores não a proclamaram. Martinho Lutero admitiu o julgamento para mais ou menos trezentos anos no futuro, a partir de seus dias. Mas desde 1798 o livro de Daniel foi aberto, e muitos têm proclamado a mensagem solene do juízo próximo.
Simultaneamente em diferentes países — Assim como ocorreu com a grande Reforma do século dezesseis, o Movimento Adventista apareceu simultaneamente em vários países. Homens de fé foram levados ao estudo das profecias e viram provas convincentes de que o fim estava próximo. Grupos isolados de crentes, guiados unicamente pelo estudo das Escrituras, creram na proximidade do advento do Salvador.
Três anos depois de Miller chegar à sua explicação das profecias, o Dr. José Wolff, “o missionário a todo o mundo”, começou a pregar a próxima vinda de Cristo. Nascido na Alemanha, de filiação hebreia, foi convencido da verdade da religião cristã quando ainda muito jovem. Fora ávido ouvinte das conversas do pai, em casa, ao se congregarem diariamente os judeus devotos para recordar as esperanças de seu povo, a glória do Messias vindouro e a restauração de Israel. Um dia, ouvindo a menção a Jesus de Nazaré, o garoto perguntou quem era Ele. “Um judeu do maior talento”, foi a resposta; “mas como pretendesse ser o Messias, o tribunal judaico O condenou à morte.”
“Por que, então” — volveu o que havia feito a pergunta, “Jerusalém se acha destruída e nós nos encontramos em cativeiro?”
“Ai de nós!” respondeu o pai, “porque os judeus assassinaram os profetas.” Logo se insinuou na criança o pensamento: “Talvez fosse também Jesus um profeta, e os judeus O mataram sendo Ele inocente.” Embora lhe fosse proibido entrar em qualquer igreja cristã, muitas vezes o menino se demorava do lado de fora escutando a pregação. Tendo apenas sete anos de idade, estava ele a jactar-se, diante de um vizinho cristão, do triunfo futuro de Israel pelo advento do Messias. O idoso homem disse amavelmente: “Querido garoto, vou lhe dizer quem foi o verdadeiro Messias: foi Jesus de Nazaré, […] a quem os seus antepassados crucificaram. […] Vá para casa e leia o capítulo cinquenta e três de Isaías, e se convencerá de que Jesus Cristo é o Filho de Deus.”1.
Foi para casa e leu a passagem. Quão perfeitamente ela se havia cumprido em Jesus de Nazaré! Seriam verdadeiras as palavras do cristão? O rapaz pediu ao pai uma explicação da profecia, mas enfrentou um silêncio tão rigoroso que nunca mais ousou referir-se ao assunto.
Quando contava apenas onze anos de idade, saiu para o mundo a fim de obter educação, escolher sua religião e ofício. Sozinho e sem vintém, teve de arranjar-se por si mesmo. Estudou diligentemente, mantendo-se através do ensino do hebraico. Foi levado a aceitar a fé romana e prosseguiu seus estudos no Colégio da Propaganda, em Roma. Ali atacou abertamente os abusos da igreja e insistiu na necessidade de reforma. Depois de certo tempo, foi removido. Tornou-se evidente que nunca poderia ser levado a submeter-se ao cativeiro do romanismo. Declararam-no incorrigível e deixaram-no em liberdade para ir aonde desejasse. Encaminhou-se então à Inglaterra e uniu-se à Igreja Anglicana. Depois de dois anos de estudo, entregou-se, em 1821, à sua missão.
Wolff percebeu que as profecias apresentavam o segundo advento de Cristo com poder e glória. Ao passo que procurava conduzir seu povo a Jesus de Nazaré como o Prometido, e indicar-lhes a Sua primeira vinda como sacrifício pelos pecados dos homens, ensinava-lhes também a Sua segunda vinda.
Wolff cria na proximidade da vinda do Senhor. Sua interpretação dos períodos proféticos colocava o grande acontecimento em bem poucos anos de diferença do tempo indicado por Miller. “Porventura nosso Senhor[…] não nos deu sinais dos tempos, a fim de que possamos ao menos saber a aproximação de Sua vinda, assim como alguém sabe da proximidade do verão pelo brotar das folhas da figueira? […] Pelos sinais dos tempos […] será conhecido o suficiente para nos induzir ao preparo para a Sua vinda, tal como Noé preparou a arca.”2.
Contrariando a interpretação popular — Em relação ao sistema popular de interpretar as Escrituras, escreveu Wolff: “A maior parte da igreja cristã tem se separado do claro sentido das Escrituras […] e suposto que quando leem judeus, devem entender gentios; e quando leem Jerusalém, devem compreender igreja; e se se fala de Terra, isto significa Céu; e pela vinda do Senhor, devem compreender o progresso das sociedades missionárias; e subir ao monte da casa do Senhor significa imponente reunião religiosa dos metodistas.”3. De 1821 a 1845, Wolff viajou pelo Egito, Etiópia, Palestina, Síria, Pérsia, Bucara, Índia e Estados Unidos.
Poder no Livro — O Dr. Wolff viajou pelos países mais bárbaros, sem qualquer proteção, suportando agruras e cercado de inumeráveis perigos. Sofreu fome, foi vendido como escravo, três vezes foi condenado à morte, foi assediado por ladrões, e algumas vezes quase pereceu de sede. Uma ocasião foi despojado de tudo que possuía e deixado a viajar centenas de quilômetros a pé, através de montanhas, com o rosto açoitado pela neve e os pés enregelados ao contato com o chão congelado.
Quando advertido pelo fato de ir desarmado entre tribos selvagens e hostis, declarou estar “provido de armas — oração, zelo para com Cristo e confiança em Seu auxílio”. “Também estou provido do amor de Deus e do meu próximo em meu coração, e com a Bíblia em minhas mãos.” “Sentia que o meu poder estava no Livro, e que sua força me sustentaria.”4. H. D. Adams, In Perils Oft, p. 192, 201.
Assim perseverou até que a mensagem foi levada a uma grande parte do globo habitável. Entre judeus, turcos, persas, hindus e muitas outras nacionalidades e povos, distribuiu a Palavra de Deus em várias línguas, e em toda parte anunciou a aproximação do Messias.
Em Bucara encontrou a doutrina da próxima vinda do Senhor, professada por um povo isolado. Os árabes do Iêmen, diz ele, “acham-se de posse de um livro chamado ‘Seera’, que dá informação sobre a segunda vinda de Cristo e Seu reino em glória; e esperam que ocorram grandes acontecimentos no ano de 1840”. “Encontrei filhos de Israel, da tribo de Dã, […] que esperam, com os filhos de Recabe, a breve vinda do Messias nas nuvens do Céu.”5.
Semelhante crença foi encontrada por outro missionário na Tartária. Um sacerdote tártaro perguntou quando Cristo viria pela segunda vez. Ao responder o missionário que nada sabia a respeito, o sacerdote pareceu ficar grandemente surpreso com tal ignorância por parte de quem ensinava a Bíblia, e declarou sua própria crença, baseada na profecia, de que Cristo viria aproximadamente em 1844.
A mensagem do advento na Inglaterra — Já em 1826 a mensagem do advento começou a ser pregada na Inglaterra. O tempo exato do advento não era geralmente ensinado, mas proclamava-se vastamente a verdade da próxima vinda de Cristo em poder e glória. Declara um escritor inglês que mais ou menos setecentos ministros da Igreja Anglicana estavam empenhados na pregação do “evangelho do reino”.
A mensagem que indicava 1844 como o tempo da vinda do Senhor foi também apresentada na Grã-Bretanha. Publicações adventistas dos Estados Unidos eram amplamente disseminadas lá. Em 1842, Robert Winter, um inglês que aceitou na América a fé do advento, retornou a seu país natal a fim de anunciar a vinda do Senhor. Muitos se uniram a ele nesse trabalho, em várias partes da Inglaterra.
Na América do Sul, Lacunza, jesuíta espanhol, recebeu a verdade da imediata volta de Cristo. Desejando escapar da censura de Roma, publicou sua versão sob o pseudônimo de “Rabi Ben-Ezra”, representando-se a si próprio como um judeu converso. Por volta de 1825 seu livro foi traduzido para o inglês. Serviu para aprofundar o interesse já despertado na Inglaterra.
A revelação se desdobra a Bengel — Na Alemanha, a doutrina foi ensinada por Bengel, ministro luterano e erudito bíblico. Enquanto preparava um sermão sobre Apocalipse 21, a luz da segunda vinda de Cristo raiou na mente de Bengel. As profecias do Apocalipse se desvendaram à sua compreensão. Vencido pela intuição da importância estupenda e da glória das cenas apresentadas pelo profeta, foi obrigado a desviar-se por algum tempo da contemplação do assunto. No púlpito este lhe foi apresentado novamente em toda a sua clareza. Desde aquele tempo dedicou-se ao estudo das profecias e em breve chegou à crença de que a vinda de Cristo estava próxima. A data que fixou como o tempo do segundo advento diferia, em muito poucos anos, da que Miller admitiu mais tarde.
Os escritos de Bengel se espalharam em seu próprio Estado de Würtemberg e em outras partes da Alemanha. A mensagem do advento foi ouvida na Alemanha ao mesmo tempo em que despertava atenção em outras terras.
Em Genebra, Gaussen pregou a mensagem do segundo advento. Ao entrar para o ministério, inclinava-se ao cepticismo. Na juventude sentira interesse pelas profecias. Depois de ler a História Antiga de Rollin, sua atenção foi despertada para o segundo capítulo de Daniel. Surpreendeu-se com a exatidão com que as profecias haviam sido cumpridas. Ali estava um testemunho em favor da inspiração das Escrituras. Não podia satisfazer-se com os ensinos do racionalismo e, ao estudar a Bíblia, foi levado a uma fé positiva.
Chegou à conclusão de que a vinda do Senhor estava às portas. Impressionado com a importância dessa verdade, desejou levá-la à presença do povo. Mas a crença popular de que as profecias de Daniel não podiam ser compreendidas representava sério obstáculo. Finalmente tomou a decisão — tal como Farel o fizera antes dele ao evangelizar Genebra — de começar com as crianças, através das quais esperava conseguir o interesse dos pais. Disse ele: “Arranjo um auditório de crianças; se o grupo aumenta e os ouvintes escutam com interesse e agrado, compreendem e explicam o assunto, estou certo de que terei logo uma segunda reunião, e os adultos, por sua vez, hão de ver também que vale a pena sentar-se e estudar. Feito isto, a causa está ganha.”6. Gaussen, Daniel the Prophet, v. 2, prefácio.
Ao ele falar às crianças, pessoas mais idosas vieram também para ouvir. As galerias de sua igreja ficavam repletas de ouvintes, entre os quais havia homens de posição e saber, bem como desconhecidos e estrangeiros que visitavam Genebra. Assim a mensagem foi levada a outras partes.
Animado, Gaussen publicou suas lições sob a esperança de promover o estudo dos livros proféticos. Mais tarde se tornou professor numa escola de teologia, ao passo que nos domingos continuava seu trabalho como catequista, falando às crianças e instruindo-as nas Escrituras. Da cátedra de professor, através da imprensa, e como instrutor de crianças, continuou durante muitos anos a atuar como instrumento para chamar a atenção de muitos ao estudo das profecias que indicavam a proximidade da vinda do Senhor.
Crianças-pregadoras na Escandinávia — Na Escandinávia, também, a mensagem do advento foi proclamada. Muitos despertaram para confessar e abandonar seus pecados, buscando perdão em Cristo. O clero da igreja oficial, contudo, opôs-se ao movimento, e alguns que pregavam a mensagem foram lançados na prisão.
Em muitos lugares, onde os pregadores da próxima vinda do Senhor foram silenciados, Deus dignou-Se em enviar a mensagem através de crianças pequenas. Como fossem menores, o Estado não podia restringi-las, de modo que lhes foi permitido falar sem ser molestadas.
O povo reunia-se nas modestas cabanas dos trabalhadores para ouvir a advertência. Algumas das crianças não tinham mais que seis ou oito anos de idade; e, ao mesmo tempo que sua vida testificava que amavam o Salvador, manifestavam, normalmente, apenas a habilidade e inteligência que geralmente se veem nas crianças daquela idade. Quando se encontravam em pé diante do povo, contudo, eram movidas por uma influência acima dos seus dotes naturais. O tom e as maneiras mudavam, e com poder solene faziam a advertência do juízo: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo.”
O povo ouvia com tremor. O Espírito de Deus falava-lhes ao coração. Muitos eram levados a investigar as Escrituras, os intemperantes e imorais se corrigiam e fazia-se uma obra tão marcante, que mesmo os ministros da igreja oficial eram obrigados a reconhecer que a mão de Deus estava no movimento.
Era vontade de Deus que as novas da vinda do Salvador fossem dadas nos países escandinavos, e Ele pôs o Seu Espírito sobre as crianças para que a obra pudesse cumprir-se. Quando Jesus Se aproximava de Jerusalém, as pessoas, intimidadas pelos sacerdotes e príncipes, cessaram com a alegre proclamação ao entrarem pelas portas de Jerusalém. Mas as crianças, nos pátios do templo, entoavam logo o estribilho, clamando: “Hosana ao Filho de Davi!” Mateus 21:8-16. Assim como Deus agiu por meio das crianças no tempo do primeiro advento de Cristo, também o fez ao dar a mensagem de Seu segundo advento.
Difunde-se a mensagem — A América tornou-se o centro do grande movimento do advento. Os escritos de Miller e seus companheiros foram levados a países distantes, onde quer que missionários houvessem penetrado. Por toda parte se propagou a mensagem do evangelho eterno: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo.”
As profecias que pareciam indicar a vinda de Cristo na primavera de 1844 exerceram profunda impressão na mente do povo. Muitos estavam convictos de que os argumentos dos períodos proféticos eram corretos, e, sacrificando o orgulho de suas opiniões, receberam alegremente a verdade. Alguns ministros renunciaram a seus salários e igrejas, unindo-se na proclamação da vinda de Jesus. Comparativamente, poucos ministros, entretanto, aceitaram essa mensagem; assim foi ela em grande medida outorgada a homens humildes. Lavradores deixavam o campo; mecânicos, suas ferramentas; comerciantes, as suas mercadorias; profissionais, as suas ocupações. Voluntariamente suportaram as fadigas, privações e sofrimento, a fim de poderem chamar os homens ao arrependimento, para a salvação. A verdade do advento foi aceita por milhares.
As Escrituras simples produzem convicção — Tais como João Batista, os pregadores punham o machado à raiz da árvore, e insistiam com todos a que produzissem “frutos dignos de arrependimento”. Em marcante contraste com as afirmações de paz e segurança que se ouviam dos púlpitos populares, o testemunho simples das Escrituras comunicava uma convicção a que poucos eram capazes de resistir inteiramente. Muitos buscavam ao Senhor com arrependimento. As afeições que durante tanto tempo se haviam apegado às coisas terrestres agora se fixavam no Céu. Com o coração abrandado e subjugado, uniam-se para fazer soar o clamor: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo.”
Pecadores, chorando, perguntavam: “Que devo fazer para me salvar?” Aqueles que haviam sido desonestos ansiavam por fazer restituição. Todos os que encontravam paz em Cristo anelavam por ver outros participarem dessa bênção. O coração dos pais se convertia aos filhos, e o dos filhos, aos pais. Malaquias 4:5, 6. Barreiras de orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se confissões sinceras. Por toda parte havia pessoas pleiteando com Deus. Muitos passavam em oração noites inteiras a fim de obter a certeza de que seus pecados estavam perdoados, ou pela conversão dos parentes ou vizinhos.
Todas as classes — ricos e pobres, grandes e humildes — achavam-se ansiosas por ouvir a doutrina do segundo advento. O Espírito de Deus dava poder a Sua verdade. A presença de santos anjos era sentida nessas assembleias, e muitos eram diariamente acrescentados aos crentes. Vastas multidões escutavam em silêncio as solenes palavras. Céu e Terra pareciam aproximar-se um do outro. Os homens procuravam seus lares com louvores nos lábios, ressoando o som festivo no ar silencioso da noite. Qualquer pessoa que tenha assistido àquelas reuniões jamais poderá esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse.
Oposição à mensagem — A proclamação de um tempo definido para a vinda de Cristo despertou grande oposição de muitos, dentre todas as classes, desde o ministro no púlpito, até ao mais ousado pecador. Muitos declaravam que não se opunham à doutrina do segundo advento; contestavam unicamente a fixação de um tempo definido. Mas os olhos de Deus, que tudo veem, liam-lhes o coração. Não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. Suas obras não resistiriam à inspeção do Deus que sonda os corações, e receavam encontrar-se com o Senhor. Tais como os judeus nos dias de Cristo, não estavam preparados para recebê-Lo. Não somente se recusavam a ouvir os claros argumentos da Bíblia, como ainda procuravam ridicularizar os que aguardavam o Senhor. Satanás lançava afronta ao rosto de Cristo, de que Seu povo professo sentia tão pouco amor por Ele, que não desejava o Seu aparecimento.
“Daquele dia e hora ninguém sabe”, era o argumento mais frequentemente apresentado pelos que rejeitavam a fé do advento. A passagem é: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, senão somente o Pai”. Mateus 24:36. Uma explicação clara dessa passagem era apresentada pelos que aguardavam o Senhor, e o emprego errôneo que seus oponentes faziam dela foi claramente demonstrado.
Uma declaração do Salvador não deve destruir outra. Embora ninguém saiba o dia ou a hora de Sua vinda, requer-se que saibamos de sua proximidade. Recusar ou negligenciar o conhecimento da proximidade de Sua vinda será tão fatal para nós quanto o foi nos dias de Noé não saber quando viria o dilúvio. Diz Cristo: “Se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti”. Apocalipse 3:3.
Paulo fala daqueles que atendem à advertência do Salvador: “Vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz, e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas”. 1 Tessalonicenses 5:4, 5.
Aqueles, porém, que desejavam uma desculpa para rejeitar a verdade, fechavam os ouvidos a essa explicação, e as palavras — “Daquele dia e hora ninguém sabe” — prosseguiam ecoando por parte dos escarnecedores e mesmo pelos professos ministros de Cristo. Ao começarem as pessoas a inquirir quanto ao meio de salvação, ensinadores religiosos se interpuseram entre estes e a verdade, interpretando falsamente a Palavra de Deus.
Os mais devotos nas igrejas eram geralmente os primeiros a receber a mensagem. Onde quer que o povo não fosse controlado pelos clérigos, onde quer que pesquisassem a Palavra de Deus por si mesmos, a doutrina do advento precisava apenas ser comparada com as Escrituras para que fosse estabelecida a sua autoridade divina.
Muitos eram transviados por maridos, esposas, pais ou filhos, sendo levados a crer que era pecado até mesmo escutar as “heresias” ensinadas pelos adventistas. Os anjos receberam ordens de velar fielmente por aquelas pessoas, pois outra luz, procedente do trono de Deus, deveria ainda resplandecer sobre elas.
Os que haviam recebido a mensagem aguardavam a vinda do Salvador. O tempo em que esperavam encontrar-se com Ele estava às portas. Com calma e solenidade viam aproximar-se a hora. Pessoa alguma que tenha experimentado essa confiante esperança poderá esquecer-se daquelas horas de expectativa. Algumas semanas antes do tempo, as ocupações seculares foram em sua maior parte postas de lado. Crentes sinceros examinavam cuidadosamente o coração, como se dentro de poucas horas devessem fechar os olhos às cenas terrestres. Não houve a confecção de “vestes para a ascensão”, porém todos sentiam necessidade de evidências internas, no sentido de que estavam preparados para encontrar-se com o Salvador. Suas vestes brancas representavam a pureza de vida — o caráter purificado pelo sangue expiatório de Cristo. Quisera Deus que houvesse ainda entre seu professo Seu povo o mesmo espírito de exame do coração, a mesma fé ardorosa!
Deus teve a intenção de provar Seu povo. Sua mão ocultou um erro no cômputo dos períodos proféticos. O tempo da expectação [ou seja, de que Cristo apareceria na primavera de 1844] passou, e Cristo não apareceu. Os que haviam esperado o Salvador vivenciaram amargo desapontamento. Todavia, Deus estava provando o coração dos que professavam estar à espera de Seu aparecimento. Muitos haviam agido motivados pelo medo. Estas pessoas declararam que jamais haviam crido que Cristo viria. Dentre estes acharam-se os primeiros a ridicularizar a tristeza dos verdadeiros crentes.
Mas Jesus e toda a hoste celestial olhavam com amor e simpatia para os fiéis, embora decepcionados. Se pudessem descerrar o véu que separava o mundo visível do invisível, teriam visto anjos aproximando-se daquelas pessoas perseverantes, escudando-as dos dardos de Satanás.
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