O terceiro capítulo de Daniel é tão atualizado quanto qualquer outro da Bíblia. No exato momento em que você lê estas páginas, devotos cristãos em algumas partes do mundo estão sofrendo em virtude de sua fé. Pode ser que alguns deles até mesmo estejam defrontando a morte. Ore por eles.
A situação se tornará pior. Apocalipse 13 diz que no fim do tempo autoridades com vocação persecutória irão erigir uma imagem simbólica e exigirão que todas as pessoas a adorem; caso se neguem a fazê-lo, serão mortas. Daniel 3 fala acerca de uma tentativa, empreendida nos tempos bíblicos, no sentido de compelir à adoração de uma imagem literal, sob pena de morte. A história mostra também de que modo Deus permaneceu ao lado daqueles que nEle confiaram.
Essa imagem blasfema, de Daniel 3 era visível a uma distância de vários quilômetros, enquanto a sua superfície dourada resplandecia sob os intensos raios do sol. A tecnologia e o custo de sua construção devem ter sido assunto para vários meses.
Nabucodonosor havia sido profundamente impressionado pela estátua com cabeça de ouro que contemplara no sonho. Tinha sido profundamente comovido face à habilidade de Daniel – sob orientação de Deus – em repetir o sonho e prover-lhe uma interpretação inteligente, sendo que todos os astrólogos e outros homens sábios – a despeito do treinamento que possuíam – haviam falhado. A promoção de Daniel a uma elevada posição, sem dúvida estimulou em todo o reino o interesse pelo Deus verdadeiro e por Seus ensinamentos.
Contudo, as impressões iniciais muitas vezes se esvaem. Parece que Nabucodonosor começou a sentir-se crescentemente ressentido em virtude das palavras: “Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu.” Possuindo o temperamento ativo e impaciente, típico de um alto executivo, o rei decidiu certo dia escrever a sua própria profecia dos eventos futuros. Ele construiria uma imagem feita inteiramente de ouro, da cabeça aos pés; simbolizaria a dourada Babilônia que jamais teria fim, jamais seria substituída. E ele construiria uma imagem maior do que qualquer outra de que se tivesse notícia – maior até mesmo que as estátuas em forma de torre que existiam no Egito. Em harmonia com os costumes da época, ele reuniria os oficiais governamentais de todas as províncias do império e faria com que todos se ajoelhassem diante da imagem, numa espécie de compromisso universal de fidelidade. Assim seria garantida a perpetuidade da dinastia.
Um tablete de barro, traduzido e publicado em 1956, relata que um sério motim irrompeu no exército de Nabucodonosor em dezembro de 594, no décimo ano de seu reinado. Nabucodonosor abafou vigorosamente a rebelião, e diz o tablete que ele “matou muitos de seus próprios soldados. Sua própria mão capturou os inimigos”. Talvez a decisão de reunir os oficiais para a festa de dedicação da estátua, tenha sido inspirada pela referida revolta.
Muitos séculos antes que conhecêssemos o sistema pelo qual somos numerados pelo lmposto de Renda, Registro Geral de ldentificação etc., os homens sábios de Babilônia haviam estabelecido místicos números religiosos para as suas muitas divindades. 0 deus-líder de seu clássico trio era Anu. Este recebeu o número 60, a figura básica do sistema numérico sexagesimal. Nabucodonosor decidiu que sua estátua inteiramente de ouro, junto com a sua maciça base ou fundação, deveria atingir a altura de 60 côvados. O côvado babilônico (distância entre o cotovelo e a ponta dos dedos) foi padronizado em aproximadamente meio metro. Portanto, a imagem se erguia por aproximadamente trinta metros acima do nível da planície.
Ordens executivas foram emitidas, a imagem foi projetada e construída. Os oficiais foram reunidos, vindos de todas as partes. Podemos imaginar paradas, banquetes e exibições militares. Depois, o clímax na Planície de Dura. O arauto anuncia em alta voz: “No momento em que ouvirdes a música, deveis todos prostrar-vos diante da imagem erguida pelo rei Nabucodonosor. Se alguém não se prostrar, será considerado como traidor e lançado na fornalha de fogo ardente.” A pequena distância da estátua, grossa coluna de fumaça subia de uma fornalha feita de tijolos, o que evidentemente reforçava de forma prática o argumento do arauto, mostrando que a ameaça era séria e definitiva.
A música soou. A multidão caiu de joelhos. Nabucodonosor sente-se satisfeito. Seu império acha-se unido, seu futuro assegurado.
Mas o seu suspiro de triunfo não durou muito. No momento em que a multidão começa a erguer-se, alguns ambiciosos caldeus – líderes do grupo étnico dominante – interrompem o rei, indicando que possuem uma informação da maior relevância. Três dos judeus a quem o rei havia concedido posições de responsabilidade, acabavam de desafiá-lo. Enquanto soara a música, diziam os caldeus, aqueles três hebreus haviam assumido a posição de rebeldes, permanecendo de pé.
Os três judeus eram Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os amigos de Daniel. O que eles, o rei e Deus fizeram em seguida, constitui uma das mais famosas e inspiradoras histórias da Bíblia.
Quando Nabucodonosor descobriu que não era capaz de queimar os homens que se haviam recusado a adorar a estátua de ouro, exclamou entusiasticamente: “Não há outro Deus que possa livrar como Este.” Daniel 3:28 a 30. Ele ficou pasmado. Deus havia livrado os seus três fiéis servos da fornalha mais aquecida que o rei jamais havia conhecido. Deus até mesmo enviara o Seu anjo para passear no meio do fogo em companhia dos jovens hebreus.
Se Nabucodonosor conhecesse melhor a Deus, certamente teria se sentido bem menos surpreso em face daquela série de eventos -embora, naturalmente, tivesse as mesmas razões para mostrar-se entusiasmado. Quatro séculos antes, o rei Davi, que conhecia muito bem a Deus, havia escrito: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.” Salmo 46: 1. “0 anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra.” Salmo 37:4. Um século antes da experiência da fornalha ardente, Deus prometera por intermédio de Isaías: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; . . . quando passares pelo fogo, não te queimarás.” Disse ainda:
Não temas, porque Eu sou contigo;
Não te assombres, porque Eu sou o teu Deus;
Eu te fortaleço, e te ajudo,
e te sustento com a Minha destra fiel. Isaías 43:2; 41:10.
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sabiam que Deus libertara os israelitas ao abrir diante deles o Mar Vermelho (Êxodo 14). Em época mais recente, Deus livrara Jerusalém ao enviar um anjo que destruiu um grande número de soldados assírios (veja Isaías 37).
Para a Sua honra sempiterna, Sadraque, Mesaque e Abede-Negp sabiam também que – embora sempre esteja conosco – nem sempre Deus decide livrar-nos de forma como apreciaríamos que Ele fizesse. Apenas uns poucos anos antes da experiência da fornalha ardente, Deus não havia operado o milagre de libertar o profeta Urias, o qual erguera a voz contra os crimes do rei Jeoaquim. Deus permitiu que aquele ímpio rei mandasse executar o profeta (veja Jeremias 26:20 a 23).
Algumas vezes o empregado cristão que jamais roubou alguma coisa consegue manter o seu emprego, quando os demais trabalhadores de sua seção veem-se despedidos. Mas nem sempre. Algumas vezes a mocinha cristã que insistiu em permanecer virgem consegue mais tarde ser eleita a rainha da faculdade. Mas não com muita frequência. O que ocorre mais comumente, é que o garoto cristão que não ri enquanto circula uma piada cheia de “veneno”, serve de motivo de zombaria de seus coleguinhas.
No Getsêmani, Jesus orou: “Meu Pai: Se possível, passe de Mim este cálice! Todavia, não seja como Eu quero, e, sim, como Tu queres.” S. Mateus 26:39. A resposta de Deus foi a morte de Jesus no Calvário.
Dessa forma, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego disseram ao rei: “Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.” Daniel 3:17 e 18.
A frase “se não”, da mesma forma que a expressão “todavia” proferida por Cristo no Getsêmani, condensava a fé dos jovens. Eles não desejavam morrer; mais que isto, porém, eles não desejavam desapontar o Deus maravilhoso e pessoal que sempre estava com eles. Sabiam que Deus havia dito, ao conceder os Dez Mandamentos lá no Monte Sinai:
“— Não tenha outros deuses diante de mim.
— Não faça para você imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não adore essas coisas, nem preste culto a elas, porque eu, o Senhor, seu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, mas faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” Êxodo 20: 3 – 6
Deus descreve a Si mesmo como sendo “zeloso” porque ama todas as pessoas. Ele Se sente profundamente entristecido quando vê as pessoas de mais idade ensinando seus filhos ou netos a adorarem ou a colocarem os seus próprios deuses e valores e objetivos acima de Deus – decisões estas que poderão tão somente prejudicar as referidas crianças.
Uma vez que Apocalipse 13 nos adverte de que haverá um outro grave teste de nossa lealdade a Deus nos últimos dias, será apropriado que nos perguntemos: “Será que na atualidade Deus ainda é capaz de livrar as pessoas que Lhe obedecem?” Uma de minhas respostas favoritas é a experiência do cabo Desmond Doss – jovem adventista do sétimo dia e o único não-combatente da Segunda Guerra Mundial que recebeu a Medalha de Honra do Congresso, a mais alta comenda militar oferecida pelos Estados Unidos.
Desmond Doss cresceu num lar cristão e sabia tudo a respeito de Deus e da fornalha de fogo ardente. Ele também memorizou os Dez Mandamentos.
Ao ingressar no Exército dos Estados Unidos em 1º de abril de 1942, solicitou que lhe fosse concedido servir nos corpos de saúde. Respeitosamente explicou que sua religião não lhe permitiria transgredir o sexto mandamento, matando alguém – ou então transgredir o quarto mandamento, realizando serviços ordinários no dia de sábado. Cria ele que Deus poderia aprovar o seu serviço em qualquer dia, desde que realizado na assistência médica de emergência.
Quando Desmond se ajoelhou junto ao leito para orar em sua primeira noite no exército, outros soldados, vestidos em uniforme de campanha, arremessaram suas botas contra ele. Contudo, ele se tornou muito mais popular quando as balas começaram a voar em Guam, Leyte e Okinawa.
No sábado 5 de maio de 1945, o Décimo Exército Americano ordenou que a 77ª Divisão lançasse um assalto decisivo contra a Escarpa Maeda – um longo penhasco de aproximadamente 20 metros de altura, que representava a chave de acesso e controle de Okinawa. Sem que os americanos soubessem os japoneses haviam escolhido este mesmo dia para lançar um decisivo contra-ataque, e para este a mesma escarpa serviria de base.
O pelotão no qual Doss era o único militar encarregado da assistência médica emergencial – e que era constituído por uns 200 homens – recebeu a incumbência de escalar o penhasco e neutralizar o posto de comando japonês, escondido em uma caverna que se achava algumas dezenas de metros acima, à margem da montanha.
A batalha foi selvagem e perversa. O pelotão sofreu cerca de 100 baixas em questão de poucos minutos, e os 55 homens que ainda conseguiam locomover-se, tornaram a descer a escarpa em busca de proteção. Doss permaneceu sozinho em seu posto de dever; em breve seu uniforme estava todo manchado de sangue, enquanto ele tentava retirar os feridos sob pesado fogo inimigo. Seus entusiásticos camaradas e superiores relataram mais tarde a quase incrível façanha por ele executada: auxiliou 75 homens a alcançarem um lugar seguro, além de numerosos atos de heroísmo praticados em outras ocasiões. Foi assim que o recomendaram enfaticamente para o recebimento da Medalha de Honra do Congresso.
Doss explicou-me depois que gastou várias horas, trabalhando sozinho a fim de resgatar seus 75 companheiros. Um breve cálculo revela que efetivamente foi assim. Durante a maior parte desse tempo ele esteve sob o fogo cruzado de rifles, granadas e morteiros. Duas vezes os inimigos abriram uma barreira de artilharia contra ele.
Um batalhão inimigo – centenas de homens – tentaram durante horas, naquele sábado de maio de 1945, matar um único cristão decidido, e não o conseguiram. Doss atribui seu miraculoso livramento à promessa divina encontrada no Salmo 91: “0 que habita no esconderijo do Altíssimo, e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: `Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.” Doss diz também: “Durante todo o tempo em que estive no Exército, minha fonte de fortalecimento foi o estudo diário da Palavra de Deus e a oração. […] Quando eu conversava com Deus, como que desapareciam meus sentimentos de temor. [..]. A Deus seja concedida toda a honra.’
Durante uma missão-surpresa levada a cabo poucos dias depois que a Escarpa Maeda fora finalmente conquistada, Doss foi severamente ferido em ambas as pernas por uma granada de mão. Mas ele insistiu em ajudar um outro soldado, e nesse processo recebeu um ferimento no braço esquerdo. Sua saúde esteve debilitada durante anos. Desmond Doss conhece o significado do ‘se não’ ou do ‘todavia’. Ele sabe também que Deus pode livrar ainda hoje os que nEle confiam.
Voltemos, porém, à planície de Dura, à história dos três homens corajosos que resolveram não adorar a imagem de Nabucodonosor. Pode você ver os operários lançando palha embebida em óleo para dentro da fornalha, em obediência à ordem de Nabucodonosor? Pode você ver a pele daqueles homens tornar-se vermelha face ao calor, tentando secar o suor que flui aos borbotões de seus poros? Pode você ver as colunas enormes de fumaça negra enquanto se erguem em direção ao céu, chegando a escurecer até mesmo a imagem real? Pode você observar as chamas de fogo vivo engalfinhando-se em luta com as nuvens de fumaça que crescem rapidamente?
Nossos três heróis achavam-se prontos! Ao chegarem em Babilônia, tomaram a inequívoca decisão de não contemporizar no tocante a uma dieta inadequada à sua saúde. Durante os anos que se seguiram, mantiveram em mente a bondade de Deus manifestada na forma honrosa com que se graduaram na escola, bem como nos assuntos relacionados com o sonho de Nabucodonosor. Quando começaram a circular os rumores a respeito da adoração da imagem que se estava planejando, eles meditaram em seu Deus, reavivaram na mente as Suas promessas e os Seus Dez Mandamentos, e tomaram uma firme decisão. Haveriam de nEle confiar e obedecer-Lhe, quer Ele os livrasse, quer não.
E Deus os livrou. Enviou o Seu Filho para que caminhasse com eles em meio às chamas. Através desse milagre quase incrível, Deus demonstrava a todo o Império Babilônico que é um Deus que vela por Seus filhos. ‘Grande paz têm os que amam a Tua lei.’ Salmo 119: 165. ‘Não temas, porque Eu Sou contigo. Isaías 41: 10