A Mensagem de Daniel 1 – Comentário de C. Mervin Maxwell

. O interesse de Deus pelos Judeus

“Muitos conceitos de Daniel 1 são fundamentais para que se possa entender a mensagem de Daniel e de Apocalipse como um todo.

Enquanto estivermos examinando estes conceitos, será útil manter em mente que nos tempos bíblicos a palavra profeta não significava meramente uma pessoa capaz de predizer o futuro. Certamente os profetas bíblicos predisseram o futuro, e predições eram a especialidade de Daniel; mas a palavra profeta significa basicamente ‘uma pessoa que fala em nome de outra’. Os profetas da Bíblia falavam em nome de Deus. Eles tinham de comunicar a outros qualquer mensagem que, através do Espírito santo. Deus lhes enviasse. Portanto, a mensagem de Daniel e do Apocalipse nem sempre está relacionada com predições – mas é sempre útil.

[…] Quando Nabucodonosor tomou iniciativas para que o reino de Judá fosse integrado ao império de seu pai, ele certamente creditou o sucesso obtido a seu próprio vigor e inteligência (veja o capítulo 4). Nada, entretanto, poderia estar mais distante da realidade. A Bíblia diz que “0 Senhor me entregou [a Nabucodonosor] nas mãos a Jeoaquím, rei de Judá.” [Daniel 1:2.]

Como, porém, poderia Deus entregar um rei israelita ao poder de um imperialista pagão? A resposta nos provê lampejos extremamente importantes a respeito do caráter de Deus. Ela provê igualmente uma importante chave para a compreensão de Daniel e Apocalipse.

Deuteronômio 32:9 diz que ao [empo em que ocorreu o êxodo israelita do Egito (e este evento é frequentemente datado como tendo ocorrido em 1445 a.C.), Deus havia escolhido os judeus como a “Sua herança”. Atos 13:47 e 48 explica que essa providência divina não tinha por objetivo apenas a felicidade de Israel, mas visava também trazer felicidade e salvação a todo o povo. Deus tinha em mente que os judeus se tornassem a “luz dos gentios”. Ele almejava que eles testemunhassem perante outras nações acerca da bondade de Deus e da sabedoria de Suas leis.

Grandes favores pressupõem grande fidelidade. De modo a poder testemunhar eficazmente a respeito da bondade de Deus, necessário seria que os israelitas vivessem em harmonia com Suas leis e procurassem refletir Seu puro e gracioso caráter. 0 Senhor deixou que os judeus decidissem livremente quanto ao caminho tomar. ‘Agora, pois, se ouvirem atentamente a minha voz e guardarem a minha aliança, vocês serão a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Porque toda a terra é minha, e vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. São estas as palavras que você falará aos filhos de Israel.’ Êxodo 19: 5-6

Triste é dizê-lo, mas ao longo dos anos a maioria dos israelitas resolveu não amar e nem obedecer a Deus. À semelhança de muitos cristãos da atualidade, eles se recusaram frequentemente até mesmo a manter-se em paz uns com os outros. Por volta de 931 a.C„ depois do reinado de Salomão, eles se dividiram em duas nações cujas relações mútuas foram continuamente belicosas – o reino de Judá ao sul, e ao norte o reino de Israel, algumas vezes também identificado como “Efraim”.

Embora possa parecer incrível, o reino do norte – Israel – adotou oficialmente uma espécie de paganismo. I Reis 12:25 a 33. Mesmo assim, Deus não “desistiu” imediata ou voluntariamente de Israel. Ele enviou profeta após profeta – Elias, Amós, Oséias e vários ouros – durante – durante um período de 200 anos, a fim de pleitear com a nação e oferecer completo perdão se as pessoas desejassem arrepender-se.

Por esse tempo apareceu no horizonte o império da Assíria, conquistando a todas as nações contra as quais eram dirigidos os seus ataques. Se os habitantes de Israel se arrependessem e escolhessem refletir o puro e gracioso caráter de Deus, o Senhor operaria um milagre a fim de protegê-los dos ferozes assírios. Semelhante milagre estimularia também outras pessoas, fora dos termos de Israel, na imitação do caráter de Deus. Mas “Deus não faz acepção de pessoas.” Atos 10:34. Se Israel insistisse em continuar escolhendo seus próprios caminhos, Deus não teria outra alternativa senão permitir que eles sofressem as consequências naturais de seu procedimento, assim como ocorrera com as demais nações. Quanta dor Lhe causava o pensamento de assim proceder!

‘Como poderia eu abandoná-lo, Efraim? Como poderia entregá-lo, Israel? […] Meu coração se comove dentro de mim; toda a minha compaixão se manifesta.’ Oséias 11: 8

Em 722 a.C. Deus finalmente “entregou” Israel aos assírios, mas o fez com amarga tristeza.

À medida que o tempo prosseguiu, a apostasia de Judá tornou-se ainda mais séria que a de Israel. Houve exceções, entretanto. Por exemplo, quando os assírios sitiaram a cidade de Jerusalém, o rei Ezequias volveu-se para Deus, e não para os ídolos. Ele buscou intensamente a misericórdia de Deus, e o Senhor operou um milagre em seu favor. Um anjo feriu grande parte do exército Assírio. (2 reis 18 e 19). A mesma disposição para proteger, revelou-a Deus para com o rei Jeoaquim, quando da chegada dos exércitos babilônicos. Nesse tempo, porém, o povo de Judá se achava tragicamente cauterizado em seus pecados.

E quais foram os terríveis pecados contra os quais o profeta ergueu a voz? Desonestidade, injustiça para com o pobre, assassinato, transgressão do sábado, perseguição aos verdadeiros profetas, manifestação de favores para com os profetas que prometiam prosperidade sem condenar simultaneamente o pecado, e a adoração a Baal (veja Jeremias 9: 14; 17:19-27; 22:1-5; 28). A adoração a Baal envolvia uma série de ‘preferências sexuais’ – pré-marital, extramarital, homossexual e bestial. A não -observância do sábado desonrava a Deus e privava o povo de um dia de descanso e da oportunidade de adoração pública. Injustiça para com qualquer pessoa constituía uma mentira a respeito da generosidade imparcial de Deus.

Pecados desse tipo certamente pareciam um tanto ‘comuns’ ou ‘normais’ à maioria dos indivíduos da época, mas indubitavelmente não eram ‘normais’ aos olhos de Deus. Eles minavam as verdades relacionadas com o Seu puro e gracioso caráter, ao mesmo tempo em que corroíam o caráter, o lar e a sociedade das pessoas que os praticavam.

‘Grite a plenos pulmões, não se detenha! Erga a voz como a trombeta e anuncie ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados.’ Insistiu Deus em Isaías 58: 1  

‘Diga-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos! Por que vocês haveriam de morrer, ó casa de Israel?’ Ezequiel 33: 11

Profeta após profeta apelou ao reino meridional de Judá, assim como outros profetas haviam apelado ao reino setentrional de Israel. Miquéias, Isaías, Habacuque, Sofonias, Jeremias e outros ofereceram perdão em troca de arrependimento; mas suas palavras foram dirigidas ao vento!

Diz a Bíblia que o ‘O Senhor, Deus de seus pais, sempre de novo falou-lhes por meio dos seus mensageiros, porque teve compaixão do seu povo e da sua própria morada. Mas eles zombaram dos mensageiros de Deus, desprezaram as palavras dele e debocharam dos seus profetas, até que a ira do Senhor veio sobre o seu povo, e não houve mais remédio. Por isso, o Senhor trouxe contra eles o rei dos caldeus, que matou os seus jovens à espada, na casa do santuário deles. Não teve piedade nem dos jovens nem das moças, nem dos adultos nem dos velhos; entregou todos nas mãos do rei dos caldeus.’ 2 Crônicas 36: 15-17

[…]

Quando Deus ‘entregou’ Jeoaquim e o reino de Judá às mãos de seus inimigos. Ele o fez tão-somente depois de tentar arduamente salvá-los. […]

. O interesse de Deus pela expiação

Quando Deus ‘entrega’ uma pessoa ou nação, obviamente se acha envolvida uma séria separação. Deus tem de separar-Se de Seu povo. A separação entristece o coração divino.

Conforme acabamos de ver, não é Deus quem Se separa de nós; somos nós que dEle nos afastamos. Isaías 59:1 – 2

diz: ‘Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; e o seu ouvido não está surdo, para não poder ouvir. Mas as iniquidades de vocês fazem separação entre vocês e o seu Deus; e os pecados que vocês cometem o levam a esconder o seu rosto de vocês, para não ouvir os seus pedidos Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o Seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça.’

(Se porventura as suas orações não estão sendo ouvidas exatamente neste momento., pode ser que algum pecado contra Deus ou contra o seu próximo ou contra você próprio, o esteja separando de Deus.)

Até mesmo depois de ‘entregar’ os judeus a seus inimigos, Deus lhes concedeu uma nova oportunidade. Prometeu que depois de setenta anos de cativeiro, Ele tomaria providências para tornar possível o regresso deles à sua terra natal. Jeremias 25:11 – 12; 29:1.

Muito mais que isto, Ele prometeu que mudaria o coração das pessoas do Seu povo -se eles Lho permitissem – de tal modo que eles teriam prazer em praticar o que era correto e em novamente se unirem a Ele: ‘Eu os tirarei do meio das nações, eu os congregarei de todos os países e os trarei de volta para a sua própria terra. Então aspergirei água pura sobre vocês, e vocês ficarão purificados. Eu os purificarei de todas as suas impurezas e de todos os seus ídolos. Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei dentro de vocês o meu Espírito e farei com que andem nos meus estatutos, guardem e observem os meus juízos. Vocês habitarão na terra que eu dei aos seus pais. Vocês serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.’ Ezequiel 36:24 a 28

 Os pecadores vivem às turras com Deus e uns com os outros. O orgulho e demais pecados causam separação. Deus, através dos profetas e – de maneira única – através de Cristo Jesus, colocou em operação um maravilhoso processo através do qual poderemos reconciliar-nos uns com os outros e com o próprio Deus. Esse processo extraordinário é a expiação ou reconciliação.

[…]

. O interesse de Deus por Seu Templo

[…] Quando Nabucodonosor removeu os utensílios sagrados da ‘casa de Deus’ situada em Jerusalém e os colocou (possivelmente) em Esagila – o principal templo de seu deus Marduque em Babilônia – o rei naturalmente imaginou que o seu deus havia triunfado sobre o Deus dos judeus.

Evidentemente, assim como Deus ‘entregou’ o Seu reino de Judá às mãos de Nabucodonosor, assim também diz a Bíblia que Ele ‘entregou’ ao rei os vasos de Seu templo, e pelas mesmas razões (veja Daniel 1:2).

[…] Nabucodonosor empreendeu duas viagens adicionais a Jerusalém, até que transportou para Babilônia cerca de 5.469 desses objetos. Mas a sua posse não trouxe benefícios aos habitantes de Babilônia (veja Daniel 5 e Esdras 1:9 – 11). Quando chegamos ao estudo do Apocalipse, os utensílios do santuário aparecerão novamente, e o farão com grande significado.

[…]

O interesse de Deus Pelos Jovens

Já desde os primeiros dias de seu exílio, foi constatado que Daniel era ‘instruído, versado no conhecimento […]’ Daniel 1:4

Torna-se evidente que ele já recebera considerável grau de instrução, como aluno judeu, no reino de Judá. Nos tempos antigos, os filhos das famílias ricas e nobres eram habitualmente educados em várias disciplinas. […]

Mas, a maior parte das pessoas que habitavam no reino de Judá achavam-se tão corrompidas que Deus, finalmente, não teve alternativa senão ‘entregá-las’. De que modo, então, foi possível que Daniel recebesse educação e ainda se mantivesse polido e correto?

‘De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?’ pergunta a Bíblia: ‘Observando-o segundo a Tua Palavra’’, é a resposta obtida no mesmo texto. Salmo 119:9.

Evidentemente Daniel resguardou a sua vida através do estudo da Palavra de Deus, a Bíblia. Daniel, em seu tempo, não teve acesso a boa parte daquilo que hoje conhecemos como Bíblia. Ainda não haviam sido escritos todos os livros do Antigo Testamento, bem como nenhum dos livros do Novo Testamento. Mas ele dispunha da maior parte do Antigo Testamento. A partir do estudo dos textos sagrados que se achavam disponíveis, ele aprendeu a distinguir entre o Deus verdadeiro de Israel e os falsos de Babilônia. Ele foi capaz de fazer separação entre alimentos próprios e impróprios ao consumo humano, baseando-se em Deuteronômio 14. Ele percebeu o perigo de beber vinho. Levítico 10:1 a 11. Ele conhecia a importância de ser fiel e honesto em todas as suas ações. Daniel 6:4. E ele sabia efetivamente como orar. Daniel 2: 17- 23.

Na ocasião em que escolheu os israelitas como o Seu povo especial, Deus ordenou que os pais judeus ensinassem diligentemente a Sua palavra a seus filhos. Instruiu-os a falarem de Sua palavra: ‘— Escute, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Portanto, ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força. Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se.’ Deuteronômio 6:4 a 7

Mais tarde Moisés explicou: ‘— As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e aos nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.’   Deuteronômio 29:29

Deus desejava que as crianças recebessem uma educação espiritual e centralizada em Deus, de modo que fossem habilitadas a refletir perante outros o caráter de seu maravilhoso Deus.

Sentimo-nos curiosos em saber quem foi a pessoa que primeiramente direcionou o pequeno Daniel rumo à Palavra de Deus. Teriam sido o seu pai e sua mãe, como parece razoável supor? Um lar temente a Deus é sugerido pelo nome que o garoto recebeu. ‘Daniel’ significa ‘Deus é o meu Juiz”, ou ‘Deus é o meu Vindicador’.

Jeremias desenvolvia o seu ministério profético em Jerusalém na ocasião em que Daniel era um garoto. É também possível que o profeta tenha ajudado a encaminhar Daniel ao Senhor e à Sua Palavra.

Se Jeremias esteve em contato com Daniel, é bastante provável que, incidentalmente, tenha-lhe mostrado a predição feita pelo profeta lsaías ao rei Ezequias, cerca de uns cem anos antes (por volta de 700 a.C.): ‘Eis que virão dias em que tudo o que houver no seu palácio, isto é, tudo o que os seus pais ajuntaram até o dia de hoje, será levado para a Babilônia; não ficará coisa alguma, diz o Senhor. 7Alguns dos seus próprios filhos, gerados por você, serão levados, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia.’ Isaías 39:6 e 7

. O interesse de Deus pelos indivíduos

Mesmo depois de haver ‘entregue’ o reino de Judá como um todo, Deus permaneceu ao lado de Daniel como indivíduo. E Ele o fez apesar de Daniel ser membro de um povo conquistado, membro de uma minoria étnica, e apenas um adolescente. […]

‘Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos eunucos.’ Daniel 1:9. Deus concedeu a Daniel e seus amigos ‘o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria’. Verso 17. Deus os acompanhava. Deus respondeu de modo tão pleno à dedicação e fidelidade desses jovens que, a despeito do colapso de seu próprio país, eles por fim se encontraram na posição de ajudar a governar um império muito mais importante!

[…]

Daniel 1 mostra Deus em ação. Deus ‘entrega’ os judeus com o propósito de abrir-lhes os olhos para as consequências de sua rebelião, de modo a poder futuramente conduzi-los a um melhor estilo de vida. Ele ‘concedeu’ a Daniel exatamente o auxílio necessário e suficiente para transformar um jovem exilado num competente administrador público e conselheiro. Parece-nos, assim, que Deus empreendeu tudo isto não apenas em favor de Daniel, como também em nosso benefício; Ele deseja que saibamos que Ele é capaz de manter a Sua promessa de tornar-nos a todos herdeiros com Cristo, no reino vindouro que brevemente será estabelecido.

Daniel 1 provê provas práticas, apropriadas à compreensão dos habitantes terrestres, de que Deus é tanto capaz quanto interessado em nossos assuntos. Tudo aquilo que promete, Ele é ‘poderoso para cumprir’. Romanos 4:21. Deus não apenas cuida de Seu povo; Ele também é capaz!

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Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel – CPB

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