Comparando a sabedoria com a loucura, o pregador escreveu em Eclesiastes 7:8: “Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio…”
O processo do aprendizado da vontade de Deus e da compreensão dos Seus atos é doloroso, porque implica na compreensão do nosso livre arbítrio e no entendimento de Sua Soberania. Até que sejamos humildes para compreendermos o “equilíbrio” de tudo isto há muitas quedas, muito perdão a ser liberado, muita transformação a ser operada.
É bem verdade que fazemos escolhas e muito do que ocorre no mundo é fruto das ações do homem. Talvez o pregador pensasse nisto quando, ainda comparando a loucura e a sabedoria disse:“Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”(v.29)
Há quem diga que Deus é co-responsável por nossos enganos, mas permitir a possibilidade do Mal não dá ao Deus Criador a cumplicidade em nossos erros. Simplesmente porque Deus é um Ser perfeito. A imperfeição é atributo das criaturas. Acho que a confusão está aí, é preciso que separemos Deus dos homens e do Diabo.
Diabo? E ele existe? Muitos perguntam. A Bíblia responde: “Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo.” (Apocalipse 12:12) A Bíblia diz, então, que ele existe sim. É um ser pessoal. Mas, se Deus é amor por que criaria um ser para nos trazer sofrimento e dor? Criou Deus o Mal?
Deus é amor. E o Seu amor é perfeito. Um amor tão perfeito que não permite a cumplicidade com o Mal. No entanto, compreendo que Deus, por uma questão de justiça, nos permite a possibilidade do Mal, uma vez que não nos criou escravos do Bem.
Há realmente uma tendência a uma confusão na compreensão sobre a Onisciência e Onipotência de Deus. Deus não pode mentir, por exemplo, isto por acaso limita Sua Onipotência? Compreender esta questão implica fortemente em compreender a natureza divina, que é essencialmente o Bem. Deus não criou o Mal, o que Deus permitiu foi a liberdade de escolha (livre arbítrio) às Suas criaturas. No plano original de Deus estava a eternidade do Bem. O Mal é um elemento intruso a Sua criação, embora não Lhe fosse estranho por Sua Onisciência. A simples possibilidade da existência do Mal revela a verdade que Deus trabalha fundamentalmente com o livre arbítrio.
Em Sua Onisciência e Onipotência, predispõe-Se a efetivar intervenções ao invés de simplesmente impedir o seu surgimento. Essas intervenções implicam numa relação dinâmica e cúmplice entre Criador e Criatura. Numa cumplicidade complexa, que vai além da simples concessão ou da mera conveniência. Ele é Deus e, portanto, sujeito para decidir conceder ou negar. E Ele não concederá nada que fuja ou entre em contradição com a verdade de que Ele é bom, justo e perfeito. Este é o aspecto da Sua imutabilidade.
Porém, a mudança das atitudes e respostas humanas, quanto a Sua vontade, podem alterar Sua decisão sem jamais mudar à Sua essência. Nisto consiste a mutabilidade divina. Deus resiste a compactuar com os erros e decisões erradas do homem (é imutável nisto). Mas, aproxima-Se de quem se sujeita à Sua Autoridade (atende a mutabilidade humana). Há que se diferenciar tolerância de conivência.
A bondade é a própria essência de Deus. Toda a bondade procede de Seu Ser. Como Ser Santíssimo, boníssimo, justíssimo, não compactua com o Mal. Neste aspecto, é absolutamente imutável. Mas, então, qual a origem do Mal? Penso como Alfred Vaucher em seu livro “L’histoire Du Salut”: “a característica do mal, é ser irracional, inverossímil, absurdo. Se pudéssemos explicar o mal, conseguiríamos justificá-lo”.