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Leitura Bíblica Mateus 6
“— Portanto, orem assim…”
A oração do Senhor foi duas vezes dada por nosso Salvador — primeiro a multidão, no Sermão da Montanha, e outra vez, meses mais tarde, aos discípulos apenas. Por um breve período haviam eles estado ausentes de seu Senhor, quando, ao voltarem, O encontraram absorto em comunhão com Deus. Como despercebido de sua presença, Ele continuou a orar em voz alta. Um brilho celeste irradiava da face do Salvador. Parecia mesmo encontrar-Se na presença do Invisível. E havia um vivo poder em Suas palavras, o poder de alguém que fala com Deus.
O coração dos discípulos foi profundamente comovido enquanto eles escutavam. Tinham observado quão frequentemente Jesus passava longas horas em solicitude, em comunhão com o Pai. Os dias, passava-os a servir as multidões que se comprimiam em torno dEle, e revelando os traiçoeiros sofismas dos rabis, e esse incessante labor deixava-O muitas vezes tão exausto que Sua mãe e Seus irmãos, e mesmo os discípulos, temiam que sacrificasse a vida. Ao volver, porém, das horas de oração que encerravam o afadigoso dia, notavam-Lhe a expressão de paz na fisionomia, a sensação de refrigério que parecia desprender-se de Sua presença. Era de horas passadas com Deus que Ele saia, manha após manhã, para levar aos homens a luz do Céu. Os discípulos haviam chegado a ligar essas horas de oração com o poder de Suas palavras e obras. Agora, ao escutar-Lhe as súplicas, sentiram o coração encher-se de respeito e humildade. Quando Ele acabou de orar, foi com certa convicção de sua profunda necessidade que exclamaram: “Senhor, ensina-nos a orar.” Lucas 11:1.
Jesus não lhes apresenta nenhuma nova forma de oração. Aquilo que ja anteriormente lhes ensinara, repete agora, como se lhes quisesse dizer: Vocês devem compreender o que já lhes dei. Isso encerra uma profundeza de sentido que vocês ainda não sondaram.
O Salvador não nos restringe, entretanto, ao emprego exato dessas palavras. Identificado com a humanidade, apresenta Seu próprio ideal de oração — palavras tão simples que podem ser adotadas por uma criancinha, e, todavia, tão compreensivas em sua amplitude que sua significação jamais poderá ser inteiramente apreendida pelos maiores espíritos. É-nos ensinado chegar a Deus com nosso tributo de ação de graças, dar a conhecer nossas necessidades, confessar os pecados que cometemos, e reclamar-Lhe a misericórdia em harmonia com a Sua promessa.
“Quando orardes, dizei: Pai.” Lucas 11:2.
Jesus nos ensina a chamar Seu Pai nosso Pai. Ele não Se envergonha de nos chamar irmãos. Hebreus 2:11. Tao pronto, tão ansioso e o coração do Salvador de acolher-nos como membros da família de Deus, que logo nas primeiras palavras que devemos usar ao aproximar-nos de Deus, dá-nos a certeza de nossa divina relação — “Pai”.
Ai se encontra a declaração daquela admirável verdade, tão repleta de animação e conforto, de que Deus nos ama assim como ama a Seu Filho. Foi isto que Jesus disse na última oração que fez por Seus discípulos. Tu “os tens amado a eles como Me tens amado a Mim”. Joao 17:23.
O mundo que Satanás tem pretendido, e sobre o qual tem governado com tirania cruel, o Filho de Deus, por uma vasta consecução, circundou em Seu amor, pondo-o novamente em ligação com o trono de Jeová. Querubins e Serafins, bem como as inumeráveis hostes de todos os mundos não caídos, entoam cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro ao ser assegurado esse triunfo. Regozijaram-se em que à raça caída fosse aberto o caminho da salvação, e que a Terra fosse redimida da maldição do pecado. Quanto mais não se deveriam regozijar aqueles que são os objetos de tão surpreendente amor!
Como podemos estar em dúvida e incerteza, e sentir-nos órfãos? Foi em benefício dos que haviam transgredido a lei que Jesus tomou sobre Si a natureza humana; Ele Se tornou como nos, a fim de podermos ter perene paz e segurança. Temos um Advogado nos Céus, e quem quer que O aceite como Salvador pessoal, não e deixado órfão, a carregar o fardo dos próprios pecados.
“Amados, agora somos filhos de Deus.” “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo; se e certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados.” “Ainda não e manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como e O veremos.” 1 João 3:2; Romanos 8:17.
O primeiro passo mesmo ao aproximar-nos de Deus e conhecer e crer o amor que Ele nos tem! (1 João 4:16); pois é mediante a atração de Seu amor que somos induzidos a ir para Ele.
A percepção do amor de Deus opera a renúncia do egoísmo. Ao chamarmos Deus nosso Pai, reconhecemos todos os Seus filhos como irmãos. Somos todos parte da grande teia da humanidade, todos membros de uma só família. Em nossas petições, devemos incluir nossos semelhantes da mesma maneira que a nós mesmos. Pessoa alguma ora direito, se busca benção unicamente para si.
O infinito Deus, disse Jesus, vos dá o privilégio de dEle vos aproximardes chamando-O de Pai. Compreende tudo quanto isto implica. Pai terreno algum já pleiteou tão fervorosamente com um filho errante como o faz com o transgressor Aquele que vos criou. Nenhum amorável interesse humano já acompanhou o impenitente com tão ternos convites. Deus mora em toda habitação; ouve cada palavra proferida, escuta cada oração erguida ao Céu, experimenta as dores e as decepções de cada alma, e considera o tratamento dispensado a pai e mãe, irmã, amigo e semelhante. Ele cuida de nossas necessidades, e Seu amor, Sua misericórdia e graça estão continuamente a fluir para satisfazer nossa necessidade.
Mas se chamais a Deus vosso Pai, vós vos reconheceis Seus filhos, para ser guiados por Sua sabedoria, e ser obedientes em todas as coisas, sabendo que Seu amor e imutável. Aceitareis Seu plano para vossa vida. Como filhos de Deus, mantereis, como objeto de vosso mais elevado interesse, Sua honra, Seu caráter, Sua família, Sua obra. Tereis regozijo em reconhecer e honrar vossa relação com o Pai e com cada membro de Sua família. Alegrar-vos-eis em praticar qualquer ato, embora humilde, que contribua para Sua glória ou bem-estar de vossos semelhantes.
“Que estas nos Céus.” Aquele a quem Cristo nos ordena considerar “nosso Pai”, “está nos Céus: faz tudo o que Lhe apraz.” Em Seu cuidado podemos repousar tranquilos, dizendo: “No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti.” Salmos 115:3; 56:3.
“Santificado seja o Teu nome.” Mateus 6:9
Para santificarmos o nome do Senhor e necessário que as palavras em que falamos do Ser Supremo sejam pronunciadas com reverencia. “Santo e tremendo e o Seu nome.” Salmos 111:9. Não devemos nunca, de qualquer modo, tratar com leviandade os títulos ou nomes da Divindade. Ao orar, penetramos na sala de audiência do Altíssimo, e devemos ir a Sua presença possuídos de santa reverencia. Os anjos velam o rosto em Sua presença. Os querubins e os santos serafins aproximam-se de Seu trono com solene reverencia. Quanto mais deveríamos nós, seres finitos e pecadores, apresentar-nos de modo reverente perante o Senhor, nosso Criador!
Mas santificar o nome do Senhor quer dizer muito mais do que isso. Podemos, como os judeus dos dias de Cristo, manifestar exteriormente a maior reverencia por Deus, e, todavia, profanar constantemente o Seu nome. “O nome do Senhor” e “misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado.” Êxodo 34:5-7. Da igreja de Cristo acha-se escrito: “Este e o nome que Lhe chamarão: O Senhor e nossa Justiça.” Jeremias 33:16. Este nome e aposto a todo seguidor de Cristo. E a herança do filho de Deus. A família recebe o nome do Pai. O profeta Jeremias, num tempo de cruciante tristeza e tribulação para Israel, orou: “Somos chamados pelo Teu nome; não nos desampares.” Jeremias 14:9.
Este nome e santificado pelos anjos no Céu, pelos habitantes dos mundos não caídos. Quando orais: “Santificado seja o Teu nome”, pedis que seja santificado neste mundo, santificado em vos. Deus vos reconheceu como Seu filho, perante homens e anjos, orai para que não desonreis “o bom nome que sobre vos foi invocado”. Tiago 2:7. Deus vos envia ao mundo como representantes Seus. Em cada ato da vida deveis tornar manifesto o nome de Deus. Esta petição e um convite para que possuais o caráter dEle. Não Lhe podeis santificar o nome, nem podeis representá-Lo perante o mundo, a menos que na vida e no caráter representeis a própria vida e caráter de Deus. Isto so podereis fazer mediante a aceitação da graça e justiça de Cristo.
“Venha o Teu reino.” Mateus 6:10
Deus e nosso Pai, que nos ama e de nos cuida, como filhos Seus que somos; Ele e também, o grande Rei do Universo. Os interesses de Seu reino são nossos interesses, e nós devemos trabalhar por seu erguimento.
Os discípulos de Cristo esperavam a vinda imediata do reino de Sua glória; mas ao dar-lhes esta oração Jesus ensinou que o reino não devia ser então estabelecido. Deviam orar por sua vinda como acontecimento ainda no futuro. Mas essa petição era-lhes também uma certeza. Conquanto não devessem esperar a vinda do reino em seus dias, o fato de haver Jesus recomendado que por ela orassem, constitui prova de que certamente vira no tempo designado por Deus.
O reino da graça de Deus está sendo agora estabelecido, visto que corações que tem estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem a soberania de Seu amor. O completo estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrera senão na segunda vinda de Cristo ao mundo. “O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo.” Daniel 7:27. Eles herdarão o reino que lhes foi preparado “desde a fundação do mundo”. Mateus 25:34. E Cristo assumira Seu grande poder e reinara.
As portas celestes tornar-se-ão a erguer, e, com miríades de miríades e milhares de milhares de santos, nosso Salvador sairá como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Jeová Emanuel “será rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome”. “O tabernáculo de Deus” está com os homens, “pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será seu Deus.” Zacarias 14:9; Apocalipse 21:3.
Antes dessa vinda, porém, disse Jesus: “Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes.” Mateus 24:14. Seu reino não vira enquanto as boas novas de Sua graça não houverem sido levadas a toda a Terra. Assim, quando nos entregamos a Deus, e ganhamos outras almas para Ele, apressamos a vinda de Seu reino. Unicamente aqueles que se consagram a Seu serviço, dizendo: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8), para abrir os olhos cegos, para desviar homens “das trevas” “a luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados” (Atos 26:18) — unicamente eles oram com sinceridade: “Venha o Teu reino.” Mateus 6:10.
“Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.” Mateus 6:10
A vontade de Deus exprime-se nos preceitos de Sua santa lei, e os princípios desta lei são os mesmos princípios do Céu. Os anjos celestes não atingem mais alto conhecimento do que saber à vontade de Deus; e fazer Sua vontade e o mais elevado serviço em que se possam ocupar suas faculdades.
No Céu, porém, o serviço não e prestado no espirito de exigência legal. Quando Satanás se rebelou contra a lei de Jeová, a ideia de que existia uma lei ocorreu aos anjos quase como o despertar para uma coisa em que não se havia pensado. Em seu ministério, os anjos não são como servos, mas como filhos. Existe perfeita unidade entre eles e seu Criador. A obediência não lhes e pesada. O amor para com Deus torna o Seu serviço uma alegria. Assim, em toda alma em que Cristo, a esperança da gloria, habita, ecoam Suas palavras: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, o Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração.” Salmos 40:8.
A petição: “Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu”, e uma oração para que o reino do mal termine na Terra, o pecado seja para sempre destruído, e o reino da justiça se venha a estabelecer. Então, na Terra como no Céu se cumprira “todo o desejo da Sua bondade”. 2 Tessalonicenses 1:11.
“O pão nosso de cada dia nos dá hoje.” Mateus 6:11
A primeira metade da oração que Jesus nos ensinou, diz respeito ao nome, ao reino e a vontade de Deus—que Seu nome seja honrado, Seu reino estabelecido, e Sua vontade cumprida. Depois de assim haverdes tornado o serviço de Deus a primeira coisa em vosso interesse, podeis pedir com confiança de que vossas próprias necessidades serão supridas. Se renunciastes ao próprio eu, entregando-vos a Cristo, sois um membro da família de Deus, e tudo quanto há na casa de vosso Pai vos pertence. Todos os tesouros de Deus vos estão franqueados — tanto o mundo que agora existe, como o por vir. O ministério dos anjos, o dom de Seu Espírito, os labores de Seus servos — tudo e para vos. O mundo, com tudo que nele há, pertence-vos até onde isto seja para vosso benefício. A própria inimizade do maligno se demonstrara uma benção, na disciplina que vos proporciona para o Céu. Se “vos sois de Cristo”, “tudo e vosso”. 1 Coríntios 3:23, 21.
Sois, porém, como uma criança a quem não se confia ainda a direção de sua herança. Deus não vos entrega vossa preciosa possessão, para que Satanás, por seus astutos ardis, não vos engane, como fez com o primeiro par no Éden. Cristo a mantem para vos, além do alcance do espoliador. Como a criança, recebereis dia a dia o necessário para a necessidade diária. Cada dia deveis orar: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje.” Não desanimeis se não tendes o suficiente para amanhã. Tendes a garantia de Sua promessa: “Habitaras na Terra, e verdadeiramente serás alimentado.” Diz Davi: “Fui moco, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão.” Salmos 37:3, 25. Aquele Deus que mandou os corvos alimentarem Elias junto a fonte de Querite, não passara por alto um de Seus filhos fiéis, pronto a se sacrificar. A respeito daquele que anda em justiça, está escrito: “O seu pão lhe será dado, as suas águas são certas.” “Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.” “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?” Isaias 33:16; Salmos 37:19; Romanos 8:32. Aquele que aligeirava os cuidados e ansiedades de Sua mãe viúva, e a ajudava a prover a casa de Nazaré, compreende toda mãe em sua luta por prover alimento aos filhos. O que Se compadeceu das turbas porque “estavam fatigadas e derramadas” (Mateus 9:36, TT), ainda Se compadece dos pobres sofredores. Sua mão esta estendida para eles em uma benção; e na própria oração que ensinou aos Seus discípulos, ensina-nos a lembrar os pobres.
Quando oramos: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”, pedimos para outros da mesma maneira que para nós mesmos. E reconhecemos que aquilo que Deus nos dá não é somente para nós. Deus nos dá em deposito, a fim de podermos alimentar os famintos. Em Sua bondade, providenciou para os pobres. Salmos 68:10. E Ele diz: “Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem vizinhos ricos. […] Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, e serás bem-aventurado; porque eles não tem com que te recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos.” Lucas 14:12-14.
“Deus e poderoso para fazer abundar em vos toda graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda suficiência, abundeis em toda boa obra.” “O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundancia também ceifara.” 2 Corintios 9:8, 6.
A oração pelo pão de cada dia inclui, não somente o alimento para sustentar o corpo, mas aquele pão espiritual que nos nutrira para a vida eterna. Jesus nos ordena: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna.” João 6:27. Ele diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer deste pão, vivera para sempre.” V. 51. Nosso Salvador e pão da vida, e é mediante a contemplação de Seu amor, e recebendo esse amor no coração, que nos nutrimos do pão que desceu do Céu.
Recebemos a Cristo por meio de Sua Palavra; e o Espírito Santo e dado a fim de esclarecer a Palavra ao nosso entendimento, impressionando-nos o coração com suas verdades. Devemos dia a dia orar para que, ao lermos Sua Palavra, Deus envie Seu Espírito a fim de que se nos revele a verdade que nos fortaleza a alma para a necessidade do dia.
Ensinando-nos a pedir cada dia o que necessitamos—tanto as bençãos temporais como as espirituais — Deus tem um proposito para nosso bem. Deseja que reconheçamos nossa dependência de Seu constante cuidado; pois procura atrair-nos em comunhão com Ele. Nessa comunhão com Cristo, mediante a oração e o estudo das grandes e preciosas verdades de Sua Palavra, seremos alimentados, como almas que tem fome; como os que tem sede, seremos dessedentados a fonte da vida.
“Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem.” Lucas 11:4
Jesus nos ensina que só poderemos receber o perdão de Deus se também nos perdoarmos aos outros. E o amor de Deus que nos atrai para Ele, e esse amor não nos pode tocar o coração sem criar amor por nossos irmãos.
Terminando a oração do Senhor, Jesus acrescentou: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoara a vos; se, porem, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoara as vossas ofensas.” (Mateus 6: 14 – 15)
Aquele que não perdoa, obstrui o próprio conduto pelo qual, unicamente, pode receber misericórdia de Deus. Não deve pensar que, a menos que os que nos prejudicaram, confessem o mal, estamos justificados ao privá-los de nosso perdão. E dever deles, sem dúvida, humilhar o coração pelo arrependimento e confissão; cumpre-nos, porém, ter espirito de compaixão para com os que pecaram contra nós, quer confessem quer não suas faltas. Não importa quão cruelmente nos tenham ferido, não devemos acariciar nossos ressentimentos, simpatizando com nos mesmos pelos males que nos são causados; mas, como esperamos nos sejam perdoadas nossas ofensas contra Deus, cumpre-nos perdoar a todos os que nos tem feito mal.
O perdão, porém, tem sentido mais amplo do que muitos supõem. Dando a promessa de que perdoara “abundantemente”, Deus acrescenta, como se o significado dessa promessa excedesse a tudo que pudéssemos compreender: “Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os Meus caminhos os vossos caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” Isaías 55:7-9. O perdão de Deus não e meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. E não somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. E o transbordamento de amor redentor que transforma o coração. Davi tinha a verdadeira concepção do perdão ao orar: “Cria em mim, o Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” Salmos 51:10. E noutro lugar ele diz: “Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.” Salmos 103:12.
Deus, em Cristo, ofereceu-Se por nossos pecados. Sofreu a cruel morte de cruz, carregou por nós o peso da culpa, “o justo pelos injustos”, a fim de poder manifestar-nos Seu amor, e atrair-nos a Si. E diz: “Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” Efésios 4:32. Que Cristo, a divina Vida, habite em vos, e manifeste por vosso intermédio o amor de origem celeste que irá inspirar esperança no desalentado e levar paz ao coração ferido pelo pecado. Ao aproximar-nos de Deus, eis a condição que temos de satisfazer ao pisar o limiar — que, recebendo misericórdia de Sua parte, nos entreguemos a nós mesmos para revelar a outros Sua graça.
O elemento essencial para que possamos receber e comunicar o amor perdoador de Deus, e conhecer e crer o amor que Ele nos tem. 1 Joao 4:16. Satanás opera por meio de todo engano de que pode dispor a fim de não distinguirmos esse amor. Levar-nos-á a pensar que nossas faltas e transgressões tem sido tão ofensivas que o Senhor não tomara em consideração nossas orações, e não nos abençoará nem salvara. Não podemos ver em nós mesmos senão fraqueza, coisa alguma que nos recomende a Deus, e Satanás nos diz que e inútil; não podemos remediar nossos defeitos de caráter.
Quando tentamos ir ter com Deus, o inimigo segreda: “Não adianta orares; não praticaste aquela má ação? Não pecaste contra Deus, e não violaste tua consciência?” Temos, porém, o direito de dizer ao inimigo que “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”. 1 João 1:7. Quando sentimos que pecamos, e não nos e possível orar, e o momento de orar. Talvez nos sintamos envergonhados e profundamente humilhados; devemos, porém, orar e crer. “Esta e uma palavra fiel e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” 1 Timóteo 1:15. O perdão, a reconciliação com Deus, não nos e concedido, como recompensa por nossas obras, não e outorgado em virtude dos méritos de homens pecadores, mas e uma dadiva feita a nos, a qual tem na imaculada justiça de Cristo o fundamento de Sua disposição.
Não devemos procurar diminuir nossa culpa escusando o pecado. Cumpre-nos aceitar a divina avaliação do pecado, e essa e deveras pesada. Unicamente o Calvário pode revelar a terrível enormidade do pecado. Caso devêssemos suportar nossa própria culpa, ela nos esmagaria. Mas o Inocente tomou-nos o lugar; conquanto não a merecesse, Ele carregou com a nossa iniquidade. “Se confessarmos os nossos pecados”, Deus “e fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” 1 João 1:9. Gloriosa verdade! — justo para com Sua lei, e, todavia, Justificador de todos quantos acreditam em Jesus. “Quem, o Deus, e semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade, e que Te esqueces da rebelião do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade.” Miqueias 7:18.
“E nao nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal.” Mateus 6:13
A tentação e um estímulo a pecar, e isto não procede de Deus, mas de Satanás, e do mal que há em nosso próprio coração. “Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” Tiago 1:13.
Satanás procura levar-nos a tentação, a fim de que o mal que existe em nosso caráter se possa revelar perante os homens e os anjos, de modo que ele nos reclame como seus. Na simbólica profecia de Zacarias, vê-se Satanás a direita do Anjo do Senhor, acusando Josué, o sumo sacerdote, o qual está vestido de vestidos sujos, e resistindo (o diabo) a obra que o Anjo deseja fazer em favor dele. Isto representa a atitude de Satanás para com toda alma a quem Cristo busca atrair para Si.
O inimigo nos induz ao pecado, e depois nos acusa em face do universo celeste como indignos do amor de Deus. Mas “o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, o Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não e esse um tição tirado do fogo?” E disse a Josué: “Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de vestidos novos.” Zacarias 3:1-4.
Deus, em Seu grande amor, procura desenvolver em nós as preciosas graças do Seu Espírito. Permite que enfrentemos obstáculos, perseguições e vicissitudes, não como uma maldição, mas como a maior benção de nossa vida. Toda tentação resistida, toda provação valorosamente suportada, traz-nos uma nova experiencia, levando-nos avante na obra da edificação do caráter. A alma que, mediante o poder divino, resiste a tentação, revela ao mundo e ao universo celeste a eficácia da graça de Cristo.
Conquanto, porem, não nos devamos abater com a provação, por mais severa que seja, cumpre-nos orar para que Deus não permita que sejamos induzidos a uma situação em que os desejos de nosso próprio coração mau nos arrastem. Ao fazer a oração que Jesus nos ensinou, submetemo-nos a guia de Deus, pedindo-Lhe guiar nos por caminhos seguros. Não podemos fazer essa oração com sinceridade, e ainda decidir trilhar qualquer senda de nossa própria escolha. Esperaremos Sua mão para nos conduzir; escutar-Lhe- emos a voz, dizendo: “Este e o caminho, andai nele.” Isaías 30:21.
É perigoso deter-nos a considerar as vantagens que poderemos colher em ceder as sugestões de Satanás. O pecado implica em desonra e ruína para toda alma que com ele condescende; sua natureza, porem, e de molde a cegar e iludir, e nos engodara com lisonjeiras perspectivas. Caso nos aventuremos no terreno do inimigo, não temos nenhuma garantia de proteção contra o seu poder. Cumpre-nos, no que de nos depender, cerrar toda entrada pela qual ele possa encontrar acesso a alma.
A súplica: “Não nos deixes cair em tentação”, e em si mesma uma promessa. Se nós entregamos a Deus, temos a certeza de que Ele “vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”. 1 Coríntios 10:13.
A única salvaguarda contra o mal e a presença de Cristo no coração mediante a fé em Sua justiça. E por causa da existência do egoísmo em nosso coração, que a tentação tem poder sobre nós. Ao contemplarmos, no entanto, o grande amor de Deus, o egoísmo se nos apresenta em seu horrível e repugnante caráter, e nosso desejo e vê-lo expelido da alma. À medida que o Espírito Santo glorifica a Cristo, nosso coração e abrandado e subjugado, as tentações perdem sua forca, e a graça de Cristo transforma o caráter.
Cristo jamais abandonará a alma por quem morreu. A pessoa poderá e deixá-Lo, e ser vencida pela tentação; Cristo, porém, não pode nunca Se desviar daquele por quem pagou o resgate com a própria vida. Fosse nossa visão espiritual vivificada, e veríamos os que vivem vergados sob a opressão e carregadas de desgosto, oprimidas como o carro sob os molhos, e prestes a morrer em desalento. Veríamos anjos voando celeremente em auxílio desses tentados, os quais se encontram como as bordas de um precipício. Os anjos celestes impelem para trás as hostes malignas que circundam essas almas, induzindo-as a pôr os pés no firme fundamento. As batalhas travadas entre os dois exércitos são tão reais como os combates entre os exércitos deste mundo, e do resultado do conflito dependem destinos eternos.
Como a Pedro, é-nos dirigida a palavra: “Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça.” Lucas 22:31, 32. Graças a Deus, não somos deixados sozinhos. Aquele que “amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Joao 3:16), nao nos abandonara na batalha contra o adversário de Deus e do homem. “Eis”, diz Ele, “que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a forca do inimigo, e nada vos fara dano algum.” Lucas 10:19.
Vivei em contato com o Cristo vivo, e Ele vos segurara firmemente com uma mão que nunca soltara. Conhecei e crede o amor que Deus nos tem, e estareis seguros; esse amor e uma fortaleza inexpugnável contra todos os enganos e assaltos de Satanás. “Torre forte e o nome do Senhor; para ela correra o justo, e estará em alto retiro.” Provérbios 18:10.
“Teu e o reino, e o poder, e a gloria.” Mateus 6:13
A última, como a primeira sentença da Oração do Senhor, volver para o Pai como Se achando acima de todo poder e autoridade e todo nome que se nomeia. O Salvador contemplou os anos que se estendiam diante dos Seus discípulos, não como haviam sonhado, ao brilho da prosperidade e da honra mundanas, mas obscurecidos pelas tempestades do ódio humano e da ira satânica. Por entre os conflitos e ruína nacionais, seriam os passos dos discípulos rodeados de perigos, oprimindo-se lhes muitas vezes o coração de temor. Eles veriam Jerusalém reduzida a desolação, o templo arrasado, seu culto para sempre acabado, e Israel disperso para todas as terras, quais náufragos em uma praia deserta. Jesus disse: “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras.” “… se levantara nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são princípio de dores.” Mateus 24:6-8. Todavia os seguidores de Cristo não deviam temer que sua esperança ficasse perdida, ou que Deus houvesse abandonado a Terra. O poder e a gloria pertencem Aquele cujos grandes desígnios avançam ainda, não entravados, rumo a consumação. Na oração que exprime suas necessidades diárias, os discípulos de Cristo foram guiados a olhar acima de todo poder e domínio do mal, ao Senhor seu Deus, cujo reino domina sobre todos, e o qual e seu Pai e seu Amigo eternamente.
A ruína de Jerusalém era um símbolo da ruína final que assolara o mundo. As profecias que tiveram seu parcial cumprimento na queda de Jerusalém, tem mais direta aplicação aos últimos dias. Encontramo-nos no limiar de grandes e solenes acontecimentos. Acha-se diante de nós uma crise, como o mundo jamais presenciou.
E, quão doce nos é, a nós, como aos primeiros discípulos, a certeza que nos é dada, de que o reino de Deus domina para sempre! O programa dos acontecimentos por vir está nas mãos de nosso Criador. A Majestade do Céu tem a Seu cargo o destino das nações, bem como os interesses de Sua igreja. A todo instrumento na consecução de Seus planos, como a Ciro outrora, diz o divino Instrutor: “Eu te cingirei ainda que tu Me não conheças.” Isaías 45:5.
Na visão do profeta Ezequiel, sob as asas do querubim, havia a aparência de uma mão. Isto deve ensinar a Seus servos que e o poder divino que lhes confere êxito. Aqueles a quem Deus emprega como Seus mensageiros não devem pensar que Sua obra deles depende. Não e permitido que seres finitos carreguem esse peso de responsabilidades. Aquele que não tosqueneja, que opera continuamente pelo cumprimento de Seus desígnios, ha de levar avante a Sua obra. Ele embargara os propósitos dos ímpios, e confundira os conselhos dos que tramam maldades contra o Seu povo. Aquele que é o Rei, o Senhor dos Exércitos, senta-Se entre os querubins e, por entre as contendas e tumultos das nações, guarda ainda os Seus filhos. Aquele que reina nos Céus e nosso Salvador. Mede cada provação, vigia o fogo da fornalha que há de provar cada alma. Quando forem derribadas as fortalezas dos reis, quando as setas da ira penetrarem o coração de Seus inimigos, a salvo se encontrara Seu povo em Suas mãos.
“Tua e, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque Teu e tudo quanto há nos Céus e na Terra. … Na Tua mão há força e poder; e na Tua mão está o engrandecer e dar força a tudo.” 1 Crônicas 29:11, 12.