Leitura Bíblica: Apocalipse14: 8
Os capítulos 12 ao 22 referem-se Tempo do Fim. Seção escatológica, envolve acontecimentos que levam à volta de Jesus e à fundação do Reino de Deus
O Livro de Apocalipse 12- 22
Colheita em meio ao Vendaval, Capítulo 21 – O Grande Conflito ou Os Resgatados
Guilherme Miller e seus companheiros haviam procurado despertar os que professavam a religião para a verdadeira esperança da igreja e para sua necessidade de uma experiência cristã mais profunda. Trabalharam, também, para despertar os não-conversos à necessidade de arrependimento e conversão. “Não faziam tentativas para converter os homens a uma seita. Trabalharam entre todos os grupos e seitas.” Disse Miller: “Pensei beneficiar a todos. Supondo que todos os cristãos se regozijassem com a perspectiva da vinda de Cristo, e que os que não viam as coisas como eu as via, não haveriam, por isso, de menosprezar os crentes nesta doutrina, não pensei em qualquer necessidade de reuniões separadas. […] A grande maioria dos que se converteram pelos meus trabalhos, uniram-se às várias igrejas existentes.”1.
Contudo, decidindo-se os líderes religiosos contra a doutrina do advento, negaram a seus membros o privilégio de assistir a pregações a respeito do segundo advento ou mesmo de falar sobre esta esperança em suas igrejas. Os crentes amavam suas igrejas. Como, porém, vissem negado seu direito de investigar as profecias, compreenderam que a lealdade para com o Senhor os impedia de submeter-se. Por isso se sentiram justificados em desligar-se dessas congregações. No verão de 1844, cerca de cinquenta mil se retiraram das igrejas.
Na maioria das igrejas, durante anos se havia observado uma gradual, porém crescente conformidade com as práticas do mundo, e um declínio correspondente na vida espiritual. Naquele ano, contudo, evidenciou-se uma decadência notável em quase todas as igrejas do país. O fato foi largamente comentado, tanto pela imprensa quanto do púlpito.
O Sr. Barnes, autor de um comentário e pastor de uma das maiores igrejas de Filadélfia, “declarou que […] agora não há despertamentos nem conversões, tampouco se evidencia crescimento em graça por parte dos que professam a religião, e ninguém chegava a seu gabinete de estudo a fim de falar a respeito da salvação. […] Aumentou o espírito de mundanismo. Isso ocorre com todas as denominações.”2.
No mês de Fevereiro do mesmo ano, o Prof. Finney, do Oberlin College, disse: “De modo geral, as igrejas protestantes de nosso país são, como tais, ou apáticas ou hostis a quase todas as reformas morais da época. […] A apatia espiritual invade quase tudo, e é terrivelmente profunda; assim testifica a imprensa religiosa de todo o país. […] Quase que de modo geral, os membros das igrejas estão se tornando seguidores da moda; dão as mãos aos descrentes nas reuniões de prazer, nas danças, nas festas, etc. […] As igrejas em geral estão se degenerando lamentavelmente. Elas têm se afastado muito do Senhor, que Se retirou delas.”
Os homens rejeitam a luz — As trevas espirituais não resultam da retirada arbitrária da graça divina por parte de Deus, mas sim da rejeição da luz por parte dos homens. O povo judeu, pelo apego ao mundo e esquecimento de Deus, ficou em ignorância quanto ao primeiro advento do Messias. Em sua descrença, rejeitou o Redentor. Deus não privou a nação judaica das bênçãos da salvação. Aqueles que rejeitaram a verdade, fizeram “da escuridade luz, e da luz escuridade”. Isaías 5:20.
Depois de terem rejeitado o evangelho, os judeus prosseguiram mantendo seus antigos ritos, embora admitissem que a presença de Deus não mais era manifesta entre eles. A profecia de Daniel apontava de modo inconfundível para o tempo da vinda do Messias e predizia diretamente a Sua morte. Assim, eles desaconselhavam seu estudo, e finalmente os rabis pronunciaram uma maldição sobre todos os que tentassem a contagem do tempo. Em sua cegueira e impenitência, o povo de Israel tem permanecido durante os séculos, indiferente ao misericordioso oferecimento de salvação, como solene e terrível advertência do perigo de rejeitar a luz do Céu.
Aquele que abafa as convicções do dever pelo fato de este se achar em conflito com as tendências pessoais perderá finalmente a capacidade de discernir a verdade do erro. A pessoa se separa de Deus. Onde a verdade divina for desdenhada, a igreja será deixada em trevas, a fé e o amor esfriarão, e surgirá a dissensão. Os membros da igreja centralizam seus interesses nos empreendimentos mundanos, e os pecadores se tornam endurecidos em sua impenitência.
A mensagem do primeiro anjo — A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 estava destinada a separar o professo povo de Deus das influências corruptoras. Nesta mensagem, Deus enviou à igreja uma advertência que, se houvesse sido aceita, teria corrigido os males que a estavam separando dEle. Se os homens tivessem recebido a mensagem, humilhando o coração e se preparando para estarem em pé diante de Sua presença, o Espírito de Deus teria Se manifestado. A igreja teria recebido outra vez a unidade, fé e amor dos dias apostólicos, em que “era um o coração e a alma”, e quando o Senhor, “acrescentava-lhes […] dia a dia, os que iam sendo salvos”. Atos dos Apóstolos 4:32; 2:47.
Se o povo de Deus tivesse recebido a luz de Sua Palavra, teria alcançado a unidade descrita pelo apóstolo, “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”. Diz ele: “Há um só corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança de vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Efésios 4:3-5.
Os que aceitaram a mensagem do advento vieram de diferentes denominações, de modo que as barreiras denominacionais foram lançadas por terra. Credos conflitantes eram reduzidos a átomos. Falsos pontos de vista quanto ao segundo advento foram corrigidos. Repararam-se as injustiças, corações uniram-se em doce comunhão. O amor reinou supremo. Essa doutrina teria feito o mesmo por todos, se todos a houvessem recebido.
Os ministros, que como atalaias deveriam ter sido os primeiros a discernir os sinais da vinda de Jesus, falharam em aprender a verdade pelos profetas ou pelos sinais dos tempos. O amor a Deus e a fé em Sua Palavra haviam enfraquecido, e a doutrina do advento despertou tão-somente a sua descrença. Como na antiguidade, o testemunho da Palavra de Deus era enfrentado com a pergunta: “Porventura creu nEle alguém dentre as autoridades, ou algum dos fariseus?” João 7:48. Muitos desestimulavam o estudo das profecias, ensinando que os livros proféticos estavam selados, e não deveriam ser compreendidos. Multidões, confiando nos pastores, recusaram-se a ouvir; outros, embora convictos da verdade, não ousavam confessá-la “para não serem expulsos da sinagoga”. João 9:22. A mensagem que Deus enviara para provar a igreja, revelou quão grande era o número dos que haviam posto a afeição neste mundo, ao invés de em Cristo.
A rejeição da mensagem do primeiro anjo foi a causa da terrível condição de mundanismo, apostasia e morte espiritual que prevalecia nas igrejas em 1844.
A mensagem do segundo anjo — Em Apocalipse 14 o primeiro anjo é seguido do segundo, que proclama: “Caiu, caiu a grande Babilônia, que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição”. Apocalipse 14:8. O termo “Babilônia” deriva de “Babel”, e significa confusão. É empregado nas Escrituras para designar as várias formas de religião falsa ou apóstata. Em Apocalipse 17, Babilônia é representada por uma mulher — figura utilizada na Bíblia como símbolo da igreja: uma mulher virtuosa é símbolo da igreja pura, ao passo que uma mulher depravada representa a igreja apóstata.
Nas Escrituras, o relacionamento entre Cristo e Sua igreja é representado pela união matrimonial. O Senhor declara: “Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça.” “Porque Eu sou vosso esposo.” “Visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo”. Oséias 2:19; Jeremias 3:14; 2 Coríntios 11:2.
Adultério espiritual — A infidelidade da igreja para com Cristo, permitindo que o amor às coisas mundanas ocupe a mente, é comparada com a violação do voto conjugal. O pecado de Israel, afastando-se do Senhor, é apresentado sob esta figura. “Como a mulher se aparta perfidamente do seu marido, assim com perfídia te houveste comigo, ó casa de Israel, diz o Senhor.” “Foste como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe a estranhos”. Jeremias 3:20; Ezequiel 16:32. Diz o apóstolo Tiago: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus”. Tiago 4:4.
A mulher (Babilônia) “achava-se […] vestida de púrpura e escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte achava-se escrito um nome: Mistério, Babilônia, a Grande, a mãe das meretrizes.” Diz o profeta: “Vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus.” Babilônia “é a grande cidade que domina sobre os reis da Terra”. Apocalipse 17:4-6, 18.
O poder que por tantos séculos manteve despótico domínio sobre os monarcas da cristandade é Roma. A cor púrpura e escarlata, o ouro, as pérolas e pedras preciosas retratam a magnificência ostentada pela altiva Sé de Roma. Nenhum outro poder poderia com tanta propriedade ser descrito como “embriagado do sangue dos santos”, quanto a igreja que tem perseguido tão cruelmente os seguidores de Cristo. Babilônia é também acusada de relação ilícita com “os reis da Terra”. Pelo afastamento do Senhor e aliança com os pagãos, a igreja judaica se tornou prostituta; e Roma, procurando o apoio dos poderes do mundo, recebe condenação idêntica.
Babilônia é a “mãe das meretrizes”. Suas filhas devem ser simbolizadas por igrejas que se apegam a suas doutrinas e tradições, seguindo seu exemplo em sacrificar a verdade de modo a formar aliança com o mundo. A mensagem que anuncia a queda de Babilônia deve ser aplicada aos grupos religiosos que uma vez foram puros e se tornaram corruptos. Uma vez que esta mensagem se segue à advertência do juízo, deve ser proclamada nos últimos dias. Não pode referir-se, portanto, apenas à Igreja Romana, uma vez que esta tem estado em condição decaída há muitos séculos.
Adicionalmente, o povo de Deus é chamado a sair de Babilônia. Segundo esse texto, muitos dentre o povo de Deus devem ainda encontrar-se em Babilônia. E em que corporações religiosas se encontrará hoje a maior parte dos seguidores de Cristo? Nas várias igrejas que professam a fé protestante. Ao tempo em que surgiram, estas assumiram uma nobre posição em favor da verdade, e a bênção de Deus as acompanhou. Caíram, porém, pelo mesmo desejo que foi a ruína de Israel — imitação das práticas dos ímpios e a busca de sua amizade.
União com o mundo — Muitas das igrejas protestantes estão seguindo o exemplo de Roma na aliança com “os reis da Terra” — igrejas do Estado, por seu relacionamento com os governos seculares; e as outras denominações, ao buscarem o favor do mundo. O termo “Babilônia” — confusão — pode ser aplicado a essas corporações que professam ter suas doutrinas derivando da Bíblia, mas estão divididas em quase inúmeras seitas, com credos contraditórios.
Uma obra católico-romana argumenta que “se a Igreja de Roma foi culpada de idolatria, com relação aos santos, sua filha, a Igreja Anglicana, tem a mesma culpa, pois tem dez igrejas dedicadas a Maria para uma dedicada a Cristo”.3.
O Dr. Hopkins declara: “Não há motivo para se considerar o espírito e prática anticristãos como sendo restritos ao que hoje se chama a Igreja de Roma. Nas igrejas protestantes se encontra muito do anticristo, e estão longe de se acharem completamente reformadas das […] corrupções e impiedades.”4. Com respeito à separação da Igreja Presbiteriana da de Roma, o Dr. Guthrie escreve: “Há trezentos anos, nossa igreja, com uma Bíblia aberta em seu estandarte, e ostentando esta divisa — ‘Examinai as Escrituras’ — saiu das portas de Roma.” Faz logo a significativa pergunta: “Saíram de Babilônia limpos?”5.
Primeiros afastamentos do evangelho — Como, a princípio, a igreja se afastou da simplicidade do evangelho? Conformando-se com as práticas do paganismo, a fim de facilitar a aceitação do cristianismo por parte dos pagãos. “Pelo fim do segundo século, a maioria das igrejas tomou nova forma. […] Ao baixarem os velhos discípulos ao túmulo, seus filhos, juntamente com os novos conversos, […] puseram-se à frente da causa e lhe deram novo molde.” “Uma inundação pagã, invadindo a igreja, trouxe consigo seus costumes, práticas e ídolos.”6. de 1792), cap. 6, parágrafo 17, p. 51. A religião cristã assegurou-se o favor e apoio dos governantes seculares. Foi nominalmente aceita por multidões. Muitos, porém, “na realidade permaneceram pagãos e, especialmente em segredo, adoravam os ídolos”.7. de 1854), p. 278.
Não se tem repetido o mesmo caso em quase todas as igrejas que se intitulam protestantes? Com o desaparecimento dos fundadores, dos que possuíam o verdadeiro espírito de reforma, seus descendentes “dão novo molde à causa”. Recusando-se cegamente a aceitar qualquer verdade além da que lhes foi dada conhecer, os filhos dos reformadores se afastam do exemplo paterno de abnegação e renúncia do mundo. Ai! até que ponto as igrejas populares têm-se afastado dos padrões bíblicos! Disse João Wesley, falando de dinheiro: “Não dissipeis parte alguma de tão precioso talento […] com vestuário supérfluo ou dispendioso, ou com adornos desnecessários. Não gasteis parte dele em ornar extravagantemente vossas casas; em mobília desnecessária ou dispendiosa; em pinturas, quadros ou douraduras custosas. […] Tanto quanto vos vistais ‘de púrpura e de linho finíssimo’, e vivais ‘todos os dias regalada e esplendidamente’, não há dúvida de que muitos aplaudirão vossos gostos elegantes, vossa generosidade e hospitalidade. […] Estai antes contentes, porém, com a honra que vem de Deus.”8.
Governantes, políticos, advogados, médicos e negociantes aderem à igreja como meio de promover seus interesses mundanos. As corporações religiosas, robustecidas com a influência e riqueza dos mundanos batizados, mais se empenham em obter popularidade. Pomposas e extravagantes igrejas são construídas. Elevado salário é pago ao talentoso ministro para que entretenha o povo. Seus sermões devem ser suaves e agradáveis aos ouvidos. Desta forma os pecados modernos ficam escondidos sob o véu da piedade.
Um escritor fala, no Independent de Nova York, da situação do metodismo atual: “A linha de separação entre os religiosos e irreligiosos se desvanece numa espécie de penumbra, e homens zelosos de ambos os lados estão labutando para suprimir toda diferença entre seu modo de agir e seus prazeres.”
Nessa maré de busca de prazeres, a abnegação e sacrifício por amor de Cristo acham-se quase inteiramente esquecidos. “Se fundos são necessários agora, […] ninguém deve ser convidado a contribuir. Oh, não! fazei uma quermesse, representações, espetáculos, jantares à antiga, ou alguma coisa para se comer — algo que divirta o povo.”
Robert Atkins pinta um quadro do declínio espiritual na Inglaterra: “Apostasia, apostasia, apostasia, é o que está gravado na frente de cada igreja; e se elas o soubessem e sentissem, poderia haver esperança; mas, ai! elas exclamam: ‘Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta.’”9.
O grande pecado imputado a Babilônia é que “a todas as nações deu a beber do vinho da fúria da sua prostituição”. Essa taça representa as falsas doutrinas que ela aceitou como resultado da sua amizade com o mundo. Por sua vez a igreja exerce uma influência corruptora sobre o mundo, ensinando doutrinas que se opõem às mais claras instruções da Bíblia.
Se o mundo não estivesse intoxicado com o vinho de Babilônia, multidões seriam convencidas e convertidas pelas verdades claras da Palavra de Deus. Mas a fé religiosa parece tão confusa e discordante, que as pessoas não sabem no que crer como sendo a verdade. O pecado da impenitência do mundo jaz à porta da igreja.
A mensagem do segundo anjo não alcançou completo cumprimento em 1844. As igrejas experimentaram então uma queda moral, em consequência de recusarem a luz da mensagem do advento; mas essa queda não foi completa. Prosseguindo em rejeitar as verdades especiais para esse tempo, elas têm caído mais e mais. Contudo, não se pode dizer ainda que “caiu Babilônia […] que a todas as nações deu a beber do vinho da fúria da sua prostituição”. As igrejas protestantes estão incluídas na solene denúncia do segundo anjo. Mas a obra da apostasia ainda não atingiu o clímax.
Antes da vinda do Senhor, Satanás operará “com todo poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo engano de injustiça”; e os que “não acolheram o amor da verdade para serem salvos” serão deixados à mercê da “operação do erro, para darem crédito à mentira”. 2 Tessalonicenses 2:9-11. A queda de Babilônia se completará quando a união da igreja com o mundo tiver se consumado em toda a cristandade. A mudança é gradual, e o cumprimento perfeito de Apocalipse 14:8 ainda está no futuro.
Apesar das trevas espirituais nas igrejas que constituem Babilônia, a grande massa dos verdadeiros seguidores de Cristo encontra-se ainda em sua comunhão. Muitos jamais viram as verdades especiais para o tempo presente. Muitos anelam por mais clara luz. Procuram em vão a imagem de Cristo nas igrejas a que estão ligados.
Apocalipse 18 indica o tempo em que o povo de Deus ainda presente em Babilônia será chamado a separar-se de sua comunhão. Esta mensagem, a última que será enviada ao mundo, cumprirá a sua obra. A luz da verdade brilhará então sobre todos aqueles cujo coração estiver aberto para recebê-la, e todos os filhos do Senhor que permanecem em Babilônia atenderão ao chamado: “Sai dela, povo Meu”. Apocalipse 18:4.