Leitura Bíblica
Os capítulos 1 ao 11 de Apocalipse tratam do que acontece entre a primeira vinda de Cristo e a volta de Jesus. Ou seja, na Era Cristã
O Livro de Apocalipse 1 – 11
Leitura Complementar
Luz para os nossos dias: O Grande Desapontamento, Capítulo 19 – O Grande Conflito ou Os Resgatados
Por Ellen White
O Grande Conflito ou Os Resgatados
CPB
A obra de Deus apresenta, de tempos em tempos, surpreendente semelhança em todas as grandes reformas ou movimentos religiosos. Os princípios do relacionamento de Deus com os homens são sempre os mesmos. Os movimentos importantes do presente têm seu paralelo nos do passado, e a experiência da igreja nos séculos antigos encerra lições para o nosso próprio tempo.
Deus, pelo Seu Espírito Santo, dirige especialmente Seus servos na Terra, na promoção da obra de salvação. Os homens são instrumentos nas mãos de Deus. A cada um é concedida uma porção de luz, suficiente para o habilitar a efetuar a obra que Deus lhe deu a fazer. Nenhum homem, porém, já chegou a compreender completamente o propósito divino na obra para o seu próprio tempo. Os homens não compreendem em sua plenitude a mensagem que proclamam em Seu nome. Mesmo os profetas não compreendiam por completo a significação das revelações a eles confiadas. O sentido deveria ser desvendado de século em século.
Diz Pedro: “Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando atentamente qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo, e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que agora vos foram anunciadas”. 1 Pedro 1:10-12. Que lição para o povo de Deus na era cristã! Aqueles santos homens de Deus “indagaram e inquiriram, investigando atentamente” com respeito às revelações que lhes foram dadas em benefício de gerações ainda não nascidas. Que exprobração àquela indiferença mundana, que se contenta em declarar que as profecias não podem ser compreendidas!
Com frequência, a mente dos próprios servos de Deus se acha tão cegada pelas tradições e falsos ensinos, que pode apenas apreender parcialmente as grandes coisas que Ele revelou em Sua Palavra. Os discípulos de Cristo, mesmo quando o Salvador estava com eles, retinham o conceito popular acerca do Messias como príncipe terreno, que exaltaria Israel ao trono do domínio universal. Não compreendiam o sentido de Suas palavras predizendo Seus sofrimentos e morte.
“O tempo está cumprido” — Cristo os enviou com a mensagem: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. Marcos 1:15. Aquela mensagem baseava-se na profecia de Daniel 9. As “sessenta e nove semanas” deveriam estender-se até “o Ungido, o Príncipe”, e os discípulos aguardavam o estabelecimento do reino do Messias em Jerusalém, a fim de governar sobre toda a Terra.
Pregaram a mensagem que Cristo lhes confiou, ainda que eles próprios compreendessem mal a sua significação. Ao passo que seu anúncio se baseava em Daniel 9:25, não viam no versículo seguinte que o Messias deveria ser tirado. Seus corações haviam se fixado na glória de um império terrestre; isto lhes cegou a compreensão. No próprio tempo em que esperavam ver o Senhor ascender ao trono de Davi, viram-nO ser preso, açoitado, escarnecido, condenado e pregado na cruz. Que desespero e angústia oprimiam o coração dos discípulos!
Cristo veio no exato tempo predito. As Escrituras haviam se cumprido em todos os detalhes. A Palavra e o Espírito de Deus atestavam da missão divina do Filho. E, não obstante, a mente dos discípulos estava envolta em dúvidas. Se Jesus havia sido o verdadeiro Messias, teriam eles sido assim imersos em pesar e desapontamento? Essa era a pergunta que lhes torturava a mente durante as desesperadoras horas daquele sábado, entre Sua morte e Sua ressurreição.
Contudo, eles não foram esquecidos. “Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. […] Ele me tirará para a luz e eu verei a Sua justiça.” ” Aos justos nasce luz nas trevas.” “Tornarei as trevas em luz perante eles, e os caminhos escabrosos, planos. Estas coisas lhes farei, e jamais os desampararei”. Miquéias 7:8, 9; Salmos 112:4; Isaías 42:16.
O que os discípulos haviam anunciado era correto. “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo.” Ao expirar o “tempo” — as sessenta e nove semanas de Daniel 9, que deveriam estender-se até ao “Ungido” — Cristo recebeu a unção do Espírito depois de ser batizado por João. O “reino de Deus” não era, conforme imaginavam, um domínio terrestre. Tampouco era ele o reino futuro e imortal, no qual “todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão”. Daniel 7:27.
A expressão “reino de Deus” designa tanto o reino da graça quanto o da glória. O apóstolo diz: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça”. Hebreus 4:16. A existência de um trono implica a de um reino. Cristo usa a expressão “o reino dos Céus” para designar a obra da graça no coração dos homens. Este reino ainda está no futuro. Não será estabelecido antes do segundo advento de Cristo.
Quando o Salvador rendeu Sua vida e exclamou: “Está consumado”, foi ratificada a promessa de salvação feita ao pecaminoso par no Éden. O reino da graça, que antes existira pela promessa de Deus, foi então estabelecido.
Assim a morte de Cristo — o acontecimento que os discípulos encaravam como a destruição final de suas esperanças — foi o que as confirmou para sempre. Embora tenha lhes acarretado cruel desapontamento, foi a prova de que sua crença era correta. O evento que os enchera de desespero, abriu a porta da esperança a todos os fiéis de Deus, de todos os tempos.
Misturado com o ouro puro do amor dos discípulos por Jesus, encontrava-se a liga vil das ambições egoístas. Sua visão estava cheia com o trono, a coroa e a glória. O orgulho do coração e a sede de glória mundana fizeram com que não percebessem as palavras do Salvador que mostravam a verdadeira natureza de Seu reino, e apontavam para a Sua morte. Destes erros resultou a prova que foi permitida a fim de corrigi-los. A eles foi confiada a obra de anunciar o evangelho glorioso do Senhor ressurreto. A fim de prepará-los para essa obra, foi permitida a experiência que lhes pareceu tão amarga.
Depois de Sua ressurreição Jesus apareceu aos discípulos no caminho de Emaús e “expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras”. Era Seu propósito firmar a fé dos discípulos sobre a “palavra profética” (Lucas 24:27; 2 Pedro 1:19), não meramente por Seu testemunho pessoal, como também pelas profecias do Antigo Testamento. E, como o primeiro passo ao comunicar esse conhecimento, Jesus encaminhou-os a “Moisés e a todos os profetas” das Escrituras do Antigo Testamento.
Do desespero à plena certeza — Em sentido mais completo do que nunca antes, os discípulos haviam “achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas”. A incerteza, o desespero, deram lugar à segurança perfeita, à esclarecida fé. Tinham passado pela mais severa prova possível e visto como a Palavra de Deus se cumpriu triunfantemente. Dali em diante, o que poderia intimidar-lhes a fé? Na mais aguda tristeza tinham “firme consolação”, e uma esperança que era “como âncora da alma, segura e firme”. Hebreus 6:18, 19.
Diz o Senhor: “O Meu povo jamais será envergonhado.” “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”. Joel 2:26; Salmos 30:5. No dia da ressurreição os discípulos encontraram o Salvador, e ardia-lhes o coração ao ouvirem Suas palavras. Antes da ascensão Jesus lhes ordenou: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” Acrescentou: “Eis que estou convosco todos os dias”. Marcos 16:15; Mateus 28:20. No dia de Pentecostes desceu o Consolador prometido, e o coração dos crentes estremeceu com a presença sensível do Senhor que tinha ascendido ao Céu.
A mensagem dos discípulos comparada à mensagem de 1844 — A experiência dos discípulos quando do primeiro advento de Cristo teve seu paralelo na experiência dos que proclamaram Seu segundo advento. Assim como os discípulos pregaram: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo”, assim Miller e seus colaboradores proclamaram que o último período profético da Bíblia estava a ponto de terminar, que o juízo estava às portas, e que deveria ser inaugurado o reino eterno. A pregação dos discípulos com relação ao tempo baseava-se nas setenta semanas de Daniel 9. A mensagem apresentada por Miller e seus companheiros anunciava o término dos 2.300 dias de Daniel 8:14, dos quais as setenta semanas constituíam parte. A pregação em ambos os casos baseava-se no cumprimento de uma porção diversa do mesmo grande período profético.
Do mesmo modo como os primeiros discípulos, Guilherme Miller e seus associados não compreenderam plenamente o significado da mensagem que apresentavam. Erros há muito implantados na igreja impediam-nos de chegar à interpretação correta de um ponto importante da profecia. Portanto, se bem que proclamassem a mensagem que Deus lhes confiara, em virtude de uma errônea compreensão do sentido, sofreram desapontamento.
Miller adotou a opinião geralmente mantida de que a Terra é o “santuário”, crendo que a purificação deste representava a purificação da Terra pelo fogo quando da vinda do Senhor. Por conseguinte, concluiu que o termo dos 2.300 dias revelava o tempo do segundo advento.
A purificação do santuário era o último serviço realizado pelo sumo sacerdote no conjunto anual de cerimônias ministradas. Era a obra encerradora da expiação — uma remoção ou afastamento do pecado de Israel. Prefigurava a obra final no ministério de nosso Sumo Sacerdote no Céu, pela remoção ou supressão dos pecados de Seu povo, que se acham registrados nos registros celestiais. Este trabalho envolve investigação, uma obra de julgamento, e precede imediatamente a vinda de Cristo nas nuvens do Céu, pois, quando Ele vier, todos os casos terão sido decididos. Diz Jesus: “Comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras”. Apocalipse 22:12. Esta é a obra de julgamento anunciada pela mensagem do primeiro anjo em Apocalipse 14:7: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo.”
Os que proclamaram essa advertência deram a mensagem correta no tempo adequado. Assim como os discípulos se equivocaram em relação ao reino que deveria ser estabelecido no final das “setenta semanas”, assim os adventistas se enganaram quanto ao evento que deveria ocorrer no término dos “2.300 dias”. Em ambos os casos os erros populares cegaram a mente à verdade. Ambas as classes cumpriram a vontade de Deus, apresentando a mensagem que Ele desejava fosse dada, e ambas, pela compreensão errônea da respectiva mensagem, sofreram desapontamento.
Não obstante, Deus cumpriu Seu misericordioso propósito, permitindo que a advertência do juízo fosse feita exatamente como o foi. A mensagem era destinada à prova e purificação da igreja. Estavam suas afeições postas neste mundo, ou em Cristo e no Céu? Estavam os crentes dispostos a renunciar às ambições mundanas e acolher com alegria o advento do Senhor?
O desapontamento também poria à prova o coração dos que haviam professado receber a advertência. Abandonariam eles temerariamente sua experiência, renunciando à confiança na Palavra de Deus quando chamados a suportar o escárnio e opróbrio do mundo e a prova da demora e do desapontamento? Uma vez que não compreenderam imediatamente o trato de Deus, rejeitariam essas pessoas as verdades sustentadas pelo mais claro testemunho da Palavra divina?
Essa prova revelaria o perigo de aceitar as interpretações de homens em vez de fazer com que a Bíblia seja seu próprio intérprete. Os filhos da fé seriam levados a um estudo mais acurado da Palavra, a examinar mais cuidadosamente o fundamento de sua fé, e a rejeitar tudo aquilo que, embora amplamente aceito pelo cristianismo, não estivesse fundamentado nas Escrituras.
Aquilo que na hora da provação parecia obscuro, mais tarde se faria claro. Apesar da provação resultante de seus erros, eles aprenderiam por uma bendita experiência que o Senhor é “misericórdia e verdade para os que guardam a Sua aliança e os Seus testemunhos”. Salmos 25:10.
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