Leitura Bíblica
Os capítulos 1 ao 11 de Apocalipse tratam do que acontece entre a primeira vinda de Cristo e a volta de Jesus. Ou seja, na Era Cristã
O Livro de Apocalipse 1 – 11
Leitura Complementar
Nova luz na América: Uma profecia muito significativa, Capítulo 18 – O Grande Conflito ou Os Resgatados
Por Ellen White
O Grande Conflito ou Os Resgatados
CPB
Um lavrador íntegro e de sentimentos honestos, que desejava sinceramente conhecer a verdade, foi o homem escolhido por Deus para iniciar a proclamação da segunda vinda de Cristo. Como muitos outros reformadores, Guilherme Miller lutou com a pobreza, tendo aprendido as lições da auto renúncia.
Já na meninice deu provas de força intelectual superior à comum. Com o passar dos anos, sua mente se revelou ativa e bem desenvolvida, demonstrando ardente sede de saber. Seus hábitos de estudo e de raciocínio criterioso, bem como aguda perspicácia, tornaram-no um homem de perfeito discernimento e largueza de visão. Era dotado de caráter irrepreensível e reputação invejável. Ocupou com distinção cargos civis e militares. Riqueza e honra pareciam abrir-se-lhe de par em par.
Na infância teve contato com a religião. Ao tornar-se jovem adulto, contudo, foi levado a associar-se com os deístas, cuja influência era forte, sobretudo pelo fato de serem na maioria bons cidadãos, humanos e benevolentes. Vivendo no meio de instituições cristãs, seu caráter havia até certo ponto sido moldado pelo ambiente. Deviam à Bíblia as boas qualidades com que haviam conquistado respeito, entretanto, esses dons apreciáveis se haviam pervertido a ponto de exercer influência contra a Palavra de Deus. Miller foi levado a adotar seus sentimentos.
As interpretações então existentes das Escrituras apresentavam dificuldades que lhe pareciam insuperáveis; todavia, sua nova crença, embora pusesse de lado a Bíblia, nada oferecia de melhor, de modo que ele permanecia insatisfeito. Chegando aos trinta e quatro anos de idade, o Espírito Santo impressionou seu coração com a intuição de seu estado pecaminoso. Não encontrou certeza alguma de felicidade no além-túmulo. O futuro era escuro e triste. Referindo-se aos sentimentos dessa época, disse Miller:
“O céu era como bronze sobre a minha cabeça, e a terra como ferro sob os meus pés. […] Quanto mais pensava, mais divergentes as minhas conclusões. Tentei deixar de pensar, mas meus pensamentos não podiam ser dominados. Sentia-me verdadeiramente infeliz, mas não compreendia a causa. Murmurava e queixava-me, sem saber de quem. Sabia que havia algo errado, mas não sabia como ou onde encontrar o que era correto.”
Miller encontra um amigo — “Subitamente”, diz ele, “o caráter de um Salvador impressionou minha mente. Pareceu-me que bem poderia existir um Ser tão bom e compassivo que fizesse expiação por nossas transgressões, livrando-nos, assim, de sofrer a pena do pecado. […], Mas surgiu a questão: Como se pode provar a existência deste Ser? Afora a Bíblia, achei que não poderia obter evidência da existência de semelhante Salvador, nem sequer de uma existência futura. […]
“Vi que a Bíblia apresentava precisamente um Salvador como o que eu necessitava; e fiquei perplexo ao ver como um livro não inspirado desenvolvia princípios tão perfeitamente adaptados às necessidades de um mundo decaído. Fui constrangido a admitir que as Escrituras devem ser uma revelação de Deus. Elas se tornaram o meu deleite; e em Jesus encontrei um amigo. O Salvador tornou-Se para mim o primeiro entre dez mil; e as Escrituras, que antes eram obscuras e contraditórias tornaram-se agora a lâmpada para os meus pés e luz para meu caminho. […] Descobri que o Senhor Deus é uma Rocha em meio ao oceano da vida. A Bíblia tornou-se então o meu estudo principal e, posso em verdade dizer, pesquisava-a com grande deleite. […] Admirava-me de que não me houvesse apercebido antes de sua beleza e glória, e maravilhava-me de que já a pudesse haver rejeitado. […] Perdi todo o gosto por outras leituras, e apliquei o coração a obter a sabedoria de Deus.”1. Bliss, Memories of William Miller, p. 65-67.
Miller professou publicamente sua fé. Seus companheiros incrédulos, entretanto, apresentaram todos os argumentos que ele próprio muitas vezes utilizara contra as Escrituras. Raciocinava ele que, se a Bíblia é a revelação de Deus, deve ser coerente consigo mesma. Decidiu-se a estudar as Escrituras e verificar se as aparentes contradições podiam ser harmonizadas.
Dispensando comentários, comparou passagem com passagem, com o auxílio das referências marginais e da concordância. Começando com Gênesis, e lendo versículo após versículo, sempre que encontrava algum ponto obscuro era seu costume compará-lo com todos os demais textos que pareciam ter qualquer relação com o assunto sob exame. Permitia que cada palavra tivesse a relação própria com o assunto do texto. Assim, sempre que encontrava passagem difícil de entender, achava explicação em alguma outra parte das Escrituras. Estudava com fervorosa oração pedindo esclarecimento divino, e assim experimentou a veracidade das palavras do salmista: “A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos símplices”. Salmos 119:130.
Com intenso interesse estudou ele os livros de Daniel e Apocalipse e constatou que os símbolos proféticos podiam ser compreendidos. Viu que todas as figuras, metáforas, símiles, etc., ou eram explicadas em seu contexto, ou então definidas em outros textos e deviam, neste caso, ser entendidas literalmente. Elo após elo da cadeia da verdade recompensava seus esforços. Passo a passo divisava as grandes linhas proféticas. Anjos celestiais estavam a guiar-lhe a mente.
Chegou à conclusão de que o conceito popular, de um milênio temporal antes do fim do mundo, não encontrava apoio na Palavra de Deus. Essa doutrina, indicando mil anos de paz antes da vinda do Senhor, é contrária aos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, os quais declararam que o trigo e o joio devem crescer juntos até a ceifa — o fim do mundo — e que “os homens perversos e impostores irão de mal a pior”. 2 Timóteo 3:13.
Vinda pessoal de Cristo — A doutrina da conversão do mundo e do reino espiritual de Cristo não era sustentada pela igreja apostólica. Não foi geralmente aceita pelos cristãos antes do começo do século dezoito. Ensinava os homens a afastarem para um longínquo futuro a vinda do Senhor, e os impedia de prestar atenção aos sinais que anunciavam Sua aproximação. Levou muitos a negligenciarem o preparo para o encontro com o Senhor.
Miller descobriu que a vinda de Cristo, literal, pessoal, é plenamente ensinada nas Escrituras. “Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus.” “Verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do Céu com poder e muita glória.” “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem.” “Quando vier o Filho do homem na Sua majestade e todos os anjos com Ele, então Se assentará no trono de Sua glória.” “E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os Seus escolhidos”. 1 Tessalonicenses 4:16, 17; Mateus 24:30, 27; 25:31; 24:31.
Em Sua vinda, os justos que estiverem mortos ressuscitarão e os justos vivos serão transformados. “Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.” “Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor”. 1 Coríntios 15:51-53; 1 Tessalonicenses 4:16, 17.
O homem, em seu estado presente, é mortal, corruptível; mas o reino de Deus será incorruptível. Portanto o homem, em sua condição atual, não pode entrar no reino de Deus. Quando vier, Jesus conferirá imortalidade a Seu povo, e então os chamará para possuírem o reino do qual até então haviam sido apenas herdeiros.
As Escrituras e a cronologia — Estas e outras passagens provaram claramente a Miller que o reino universal de paz e o estabelecimento do reino de Deus sobre a Terra seriam subsequentes ao segundo advento. Além disso, as condições do mundo correspondiam à descrição profética dos últimos dias. Foi levado à conclusão de que o período de tempo concedido à existência da Terra em seu presente estado de coisas estava prestes a terminar.
“Outra espécie de evidência que me impressionava vivamente o espírito”, diz ele, “era a cronologia das Escrituras. […] Notei que os acontecimentos preditos, que se haviam cumprido no passado, muitas vezes ocorreram dentro de um dado tempo. […] Eventos […] que antes eram apenas assuntos de profecia […] Cumpriram-se de acordo com as predições.”2.
Ao encontrar períodos cronológicos que se estendiam até a segunda vinda de Cristo, ele não pôde deixar de considerá-los como os “tempos já dantes ordenados”, que Deus revelara a Seus servos. As coisas “reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre”. O Senhor declara que “não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas”. Deuteronômio 29:29; Amós 3:7. Os estudantes da Palavra de Deus podem confiantemente esperar que encontrarão indicado, nas Escrituras, o mais estupendo evento a ocorrer na história da humanidade.
“Estava eu plenamente convencido”, disse Miller, “de que toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa; de que ela […] foi escrita por homens santos, inspirados pelo Espírito Santo, e dada ‘para nosso ensino’; ‘para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança’. […] Senti, pois, que, esforçando-me por compreender o que Deus em Sua misericórdia achou conveniente revelar-nos, eu não tinha direito de omitir os períodos proféticos.”3.
A profecia que mais claramente parecia revelar o tempo do segundo advento era a de Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.” Fazendo das Escrituras seu próprio intérprete, Miller descobriu que um dia na profecia simbólica representa um ano. Ele viu que o período de 2.300 dias proféticos, ou anos literais, se estenderia para muito além do final da dispensação judaica, não podendo, por isso, referir-se ao santuário daquela dispensação.
Miller aceitou a opinião generalizada de que na era cristã a Terra é o santuário e, portanto, compreendeu que a purificação do santuário predita em Daniel 8:14 representa a purificação da Terra pelo fogo, quando da segunda vinda de Cristo. Ele concluiu que se pudesse encontrar o correto ponto de partida para os 2.300 dias, poderia calcular a ocasião do segundo advento.
Descobrindo a escala de tempo profético — Miller continuou o exame das profecias, dedicando dias e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia possuir estupenda importância. No oitavo capítulo de Daniel não pôde achar nenhuma chave que o conduzisse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel, embora houvesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão, oferecera-lhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, ele não pôde suportar. Daniel se enfraqueceu e esteve enfermo durante alguns dias. “Espantava-me com a visão, e não havia quem a entendesse”. Daniel 8:27.
Deus ordenara, contudo, a Seu mensageiro: “Dá a entender a este a visão.” Em obediência, o anjo retornou a Daniel, dizendo: “Agora saí para fazer-te entender o sentido. […] Considera, pois, a coisa, e entende a visão.” Um ponto importante no oitavo capítulo havia sido deixado sem explicação, ou seja, os 2.300 dias; portanto o anjo, retomando sua explanação, ocupa-se principalmente da questão do tempo:
“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade. […] Sabe, entende: desde a saída da ordem para restaurar e para reedificar Jerusalém, até o Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas será morto o Ungido, e já não estará. […] Ele fará firme aliança com muitos por uma semana; na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. Daniel 8:16; 9:22-27.
O anjo foi enviado a Daniel a fim de explicar o ponto que este não havia conseguido compreender — “até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”. As primeiras palavras do anjo foram: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade.” A palavra “determinadas” significa literalmente “cortadas”, ou “separadas”. Setenta semanas, ou 490 anos, deveriam ser separadas, pertencendo especialmente aos judeus.
Dois períodos proféticos começam simultaneamente — Mas […] de onde deveriam essas semanas ser separadas? Como os 2.300 dias foram o único período de tempo mencionado no capítulo 8, as setentas semanas devem ser uma parte dos 2.300 dias. Os dois períodos devem começar ao mesmo tempo, sendo que as setenta semanas deveriam ser contadas “desde a saída da ordem para restaurar e para reedificar Jerusalém”. Se a data dessa ordem pudesse ser localizada, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos 2.300 dias.
No sétimo capítulo de Esdras acha-se o decreto, promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia, em 457 antes de Cristo. Três reis, originando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição requerida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano de 457 a.C., quando se completou o decreto, como a data da “ordem”, cada especificação da profecia das setentas semanas foi cumprida.
“Desde a saída da ordem para restaurar e para reedificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas” — sessenta e nove semanas, ou 483 anos. O decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 a.C. A partir dessa data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 da nossa era. Nesse tempo se cumpriu a profecia. No outono de 27 d.C., Cristo foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito. Depois de Seu batismo Ele foi para a Galiléia, “pregando o evangelho de Deus, dizendo: ‘O tempo está cumprido’”. Marcos 1:14, 15.
O evangelho é dado ao mundo — “Ele fará firme aliança com muitos por uma semana” — os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus. Durante esse tempo, de 27 d.C. a 34 d.C., Cristo e os discípulos dirigiram o convite do evangelho especialmente aos judeus. A recomendação do Salvador foi: “Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel”. Mateus 10:5, 6.
“Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.” No ano 31 d.C., três anos e meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande sacrifício oferecido sobre o Calvário, o tipo [modelo] alcançou o antítipo [tipo ou figura que representa outra]. Todos os sacrifícios e oferendas do sistema cerimonial deveriam cessar.
Os 490 anos reservados especialmente aos judeus findaram em 34 d.C. Naquele tempo, pelo ato do Sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho através do martírio de Estêvão e perseguição aos seguidores de Cristo. Assim a mensagem da salvação foi dada ao mundo. Os discípulos, forçados a fugir de Jerusalém pela perseguição, “iam por toda parte pregando a palavra”. Atos 8:4.
Até aqui se cumpriram de maneira surpreendente todas as especificações da profecia. O início das setenta semanas fixa-se inquestionavelmente em 457 a.C., e seu término em 34 da nossa era. Tendo sido as setenta semanas (490 anos) separadas dos 2.300 anos, restam ainda 1.810 anos. Depois do fim dos 490 dias, os 1.810 dias deveriam ainda cumprir-se. Contando do ano 34 d.C., 1.810 anos estendem-se até 1844. Consequentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminam em 1844. Ao expirar esse grande período profético, “o santuário será purificado”. Deste modo foi indicado o tempo da purificação do santuário, que quase universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do segundo advento.
Surpreendente conclusão — Miller não tinha a princípio a menor expectativa de atingir a conclusão a que chegara. A custo podia ele mesmo dar crédito aos resultados de sua investigação. Mas as evidências das Escrituras eram por demais claras para que fossem postas de lado.
Em 1818 ele chegou à solene convicção de que dentro de vinte e cinco anos, aproximadamente, Cristo apareceria para a redenção de Seu povo. “Não necessito falar”, diz Miller, “do júbilo que me encheu o coração em vista da deleitável perspectiva, nem do anelo ardente de participar das alegrias dos remidos. […] Oh, quão brilhante e gloriosa se me apresentava a verdade! […]
“Surgiu com força dentro de mim a questão de saber qual meu dever para com o mundo, em face da evidência que atingira minha própria mente.”4. Não pôde deixar de sentir que era seu dever comunicar a outros a luz que havia recebido. Esperava encontrar oposição por parte dos ímpios, mas confiava que todos os cristãos se regozijariam na esperança de ver o Salvador. Hesitou em apresentar a perspectiva do glorioso livramento, tão prestes a ser consumado, receando que estivesse em erro e assim desviasse a outros. Foi levado, desta maneira, a rever e a considerar cuidadosamente toda dificuldade que se lhe apresentava ao espírito. Cinco anos assim despendidos deixaram-no convicto da correção de suas opiniões.
“Vai e anuncia-o ao mundo” — “Quando me achava em minha ocupação”, disse ele, “soava continuamente em meu ouvido: ‘Vai falar ao mundo sobre o perigo que o ameaça.’ Ocorria-me constantemente esta passagem: ‘Se Eu disser ao perverso: ‘Ó perverso, certamente morrerás’; e tu não falares, para avisar ao perverso do seu caminho, morrerá esse perverso na sua iniquidade, mas o seu sangue Eu o demandarei de ti.’ Compreendi que, se os ímpios pudessem ser devidamente advertidos, multidões deles se arrependeriam; e que, se eles não fossem avisados, seu sangue poderia ser exigido de minha mão.”5. Ocorriam-lhe sempre à mente as palavras: “Vai dizê-lo ao mundo; seu sangue requererei de tuas mãos.” Durante nove anos esperou, pesando-lhe sempre esse fardo sobre o coração, até que em 1831, pela primeira, vez expôs publicamente as razões de sua fé.
Contava então cinquenta anos de idade, não estava habituado a falar em público, e ainda assim seus labores foram abençoados. Sua primeira conferência foi seguida de um despertamento religioso. Converteram-se treze famílias inteiras, com exceção de duas pessoas. Foi instado a falar em outros lugares, e em quase toda parte pecadores se convertiam. Os cristãos eram despertados a maior consagração, e deístas e incrédulos reconheciam a verdade da Bíblia. Sua pregação despertou o espírito público para os grandes temas da religião, e deteve o crescente mundanismo e sensualidade da época.
Em muitos lugares as igrejas protestantes de quase todas as denominações se abriram para ele, e os convites geralmente provinham dos ministros. Adotava como regra não trabalhar em qualquer lugar a que não fosse convidado; e, no entanto, logo se viu impossibilitado de atender à metade dos pedidos que choviam sobre ele. Muitos ficaram convencidos da certeza da proximidade da vinda de Cristo e de sua necessidade de preparo. Em algumas das grandes cidades os vendedores de bebidas transformavam suas lojas em salas de culto; antros de jogos eram fechados; incrédulos e mesmo os libertinos mais perdidos eram transformados. Várias denominações efetuavam reuniões de oração quase a todas as horas do dia, reunindo-se homens de negócios ao meio-dia para orações e louvor. Não existia excitação extravagante. Seu trabalho, como o dos primeiros reformadores, tendia mais a convencer o entendimento e despertar a consciência do que meramente a provocar emoções.
Em 1833 Miller recebeu da igreja batista uma licença para pregar. Grande número dos ministros de sua denominação aprovou sua obra; foi com essa sanção formal que continuou com os seus trabalhos. Viajou e pregou incessantemente, nunca recebendo o suficiente para custear as despesas de viagem aos lugares a que era convidado. Assim, seus labores públicos eram um pesado encargo sobre suas posses.
“As estrelas cairão” — Em 1833 apareceu o último dos sinais que foram prometidos pelo Salvador como indício de Seu segundo advento: “As estrelas cairão do céu.” E João, o revelador, dissera: “As estrelas do céu caíram pela Terra, como a figueira, quando abalada por forte vento, deixa cair os seus figos verdes”. Mateus 24:29; Apocalipse 6:13. Essa profecia teve cumprimento surpreendente na grande chuva de meteoros de 13 de Novembro de 1833, a mais extensa e maravilhosa exibição de estrelas cadentes que já se tem registrado. “Jamais caiu chuva mais densa do que caíram os meteoros em direção à Terra: leste, oeste, norte e sul, tudo era o mesmo. Em uma palavra, todo o céu parecia em movimento. […] Desde as duas horas até pleno dia, estando o céu perfeitamente sereno e sem nuvens, um contínuo jogo de luzes deslumbrantemente fulgurantes se manteve em todo o firmamento.”6. M. Devens, American Progress ou The Great Events of the Greatest Century, cap. 28, parágrafos 1 a 5. “Dir-se-ia que todas as estrelas tivessem se reunido em um ponto próximo ao zênite, e dali fossem simultaneamente arrojadas, com a velocidade do relâmpago, a todas as partes do horizonte; e, no entanto, não se exauriam, seguindo-se milhares rapidamente no rastro de milhares, como se tivessem sido criadas para a ocasião.”7. Reed, Christian Advocate and Journal, 13 de Dezembro de 1833. “Não era possível contemplar um quadro mais fiel de uma figueira lançando seus figos quando açoitada por um vento forte.”8.
No Journal of Commerce, de Nova York, de 14 de Novembro de 1833, apareceu um longo artigo relacionado com o fenômeno: “Nenhum filósofo ou sábio mencionou ou registrou, suponho, um acontecimento semelhante ao de ontem de manhã. Um profeta o predisse exatamente há mil e oitocentos anos, se não nos furtarmos ao incômodo de compreender o chuveiro de estrelas como a queda das mesmas […] no único sentido em que é possível ser isso literalmente verdade.”
Assim se mostrou o último dos sinais de Sua vinda, relativamente aos quais Jesus declarou a Seus discípulos: “Assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas”. Mateus 24:33. Muitos que testemunharam a queda das estrelas, consideraram-na um arauto do juízo vindouro.
Em 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou interesse geral. Dois anos antes, Josias Litch publicou uma exposição de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano, “no ano de 1840, no mês de Agosto”. Somente uns poucos dias antes de seu cumprimento ele escreveu: “Ele terminará no dia 11 de Agosto de 1840, quando se pode esperar que seja abatido o poderio otomano em Constantinopla.”9.
Predição cumprida — No exato tempo especificado, a Turquia aceitou a proteção das potências aliadas da Europa e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição. Multidões se convenceram da exatidão dos princípios de interpretação profética adotados por Miller e seus associados. Homens de saber e posição se uniram a Miller na pregação e na publicação de seus pontos de vista. De 1840 a 1844 a obra estendeu-se rapidamente.
Guilherme Miller possuía grandes dotes intelectuais, e a estes acrescentava a sabedoria do Céu, pondo-se em ligação com a Fonte da sabedoria. Inspirava respeito e estima onde quer que a integridade de caráter e a excelência moral fossem apreciadas. Com humildade cristã, era atento e afável para com todos, pronto a ouvir as opiniões de outrem e pesar seus argumentos. Aferia todas as teorias pela Palavra de Deus, e seu raciocínio são e conhecimento das Escrituras o habilitavam a refutar o erro.
Todavia, como ocorrera com os primeiros reformadores, as verdades que apresentava não eram recebidas favoravelmente pelos ensinadores populares da religião. Não podendo manter sua posição em acordo com as Escrituras, recorriam às doutrinas de homens, às tradições dos Pais da Igreja. A Palavra de Deus, porém, era o único testemunho aceito pelos pregadores da verdade do advento. Ridículo e escárnio eram empregados pelos oponentes na difamação daqueles que contemplavam com regozijo a volta de Seu Senhor, esforçando-se por viver vida santa e exortar outros ao preparo para o Seu aparecimento. Procurava-se dar a impressão de que fosse pecado estudar as profecias que se referem à vinda de Cristo e ao fim do mundo. Assim, o ministério popular minava a fé na Palavra de Deus. Seu ensino tornava os homens incrédulos, e muitos tomaram a liberdade de andar conforme seus próprios desejos ímpios. Então os autores desse mal o atribuíram todo aos adventistas.
Se bem que Miller conseguisse ter casas repletas de ouvintes inteligentes e atentos, seu nome era raras vezes mencionado pela imprensa religiosa, exceto para fins de acusação e ridículo. Os ímpios, apoiados pelos ensinadores religiosos, recorriam a gracejos infamantes e blasfêmias contra Miller e seu trabalho. O homem de cabelos grisalhos, que deixara o lar confortável para viajar às próprias custas a fim de levar ao mundo a solene advertência do juízo próximo, era denunciado como um fanático.
Interesse e descrença — O interesse continuou a aumentar. De dezenas e centenas de congregações, passaram estas a milhares. Depois de algum tempo, porém, se manifestou o espírito de oposição a esses conversos, e as igrejas começaram a tomar medidas disciplinares contra os que haviam abraçado as opiniões de Miller. Este ato provocou uma resposta de sua pena: “Se estamos errados, peço que mostrem em que consiste nosso erro. Mostrem, pela Palavra de Deus, que estamos enganados. Temos sido bastante ridicularizados; isso nunca nos poderá convencer de que estamos em erro; a Palavra de Deus, unicamente, pode mudar nossas opiniões. Chegamos às nossas conclusões depois de refletir maduramente e muito orar, e ao vermos sua evidência nas Escrituras.”10.
Quando a iniquidade dos antediluvianos levou Deus a trazer o dilúvio sobre a Terra, primeiramente Ele lhes anunciou Seu propósito. Durante cento e vinte anos soou o aviso para que se arrependessem. Mas eles não creram. Zombavam do mensageiro de Deus. Se a mensagem de Noé era verdadeira, por que todo o mundo não o viu e creu? A palavra de um homem contra a sabedoria de milhares! Não queriam dar crédito ao aviso, nem buscar refúgio na arca.
Escarnecedores apontavam à sucessão invariável de estações, ao céu azul que nunca havia derramado chuva. Desdenhosamente declaravam ser o pregador da justiça um tremendo fanático. Foram em frente, mais decididos em seus maus caminhos do que nunca antes. Ao tempo designado, porém, os juízos do Senhor caíram sobre os que haviam rejeitado Sua misericórdia.
Cépticos e descrentes — Cristo declarou que assim como as pessoas dos dias de Noé “não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem”. Mateus 24:39. Quando o professo povo de Deus estiver se unindo ao mundo, quando o luxo do mundo se tornar o luxo da igreja, quando todos olharem ao futuro esperando muitos anos de prosperidade temporal — então, subitamente, tal como nos céus fulgura o relâmpago, virá o fim de suas esperanças ilusórias. Assim como Deus enviou Seu servo para advertir o mundo do dilúvio vindouro, enviou também mensageiros escolhidos para tornar conhecida a proximidade do juízo final. E assim como os contemporâneos de Noé se riam com escárnio das predições do pregador da justiça, assim, nos dias de Miller, muitos dentre o professo povo de Deus zombavam das palavras de advertência.
Não poderá haver prova mais concludente de que as igrejas se afastaram de Deus, do que a irritação e hostilidade despertadas por esta mensagem enviada pelo Céu.
Os que aceitaram a doutrina do advento compreenderam que era tempo de assumir uma atitude decisiva. “As coisas da eternidade assumiam para eles uma realidade. O Céu se aproximava, e sentiam-se culpados perante Deus.”11. Os cristãos se compenetraram de que o tempo era breve, de que o que tinham a fazer por seus semelhantes deveria ser feito rapidamente. A eternidade parecia abrir-se diante deles. O Espírito de Deus outorgou poder a seus apelos em favor do preparo para o dia de Deus. O testemunho silencioso de sua vida diária era constante reprovação aos membros das igrejas, seguidores de formalidades e destituídos de consagração. Estes não desejavam ser perturbados em sua procura de prazeres, seu desejo de ganho e ambição de honras mundanas. Daí a oposição contra a fé do advento.
Os oponentes se esforçavam por desestimular a investigação através do ensino de que as profecias estavam seladas. Assim, os protestantes seguiram as pegadas de Roma. As igrejas protestantes alegavam que uma parte importante da Palavra, sobretudo aquela que apresenta verdades aplicáveis ao nosso tempo, não podia ser compreendida. Ministros declaravam que Daniel e Apocalipse eram mistérios incompreensíveis.
Cristo, porém, chamou a atenção dos discípulos para as palavras do profeta Daniel: “Quem lê, entenda”. Mateus 24:15. E o Apocalipse deve ser entendido. “Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer. […] Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo”. Apocalipse 1:1-3.
“Bem-aventurado, aquele que lê” — há os que não querem ler; “e aqueles que ouvem” — há aqueles que se recusam a ouvir qualquer coisa relativa às profecias; “e guardam as coisas nela escritas” — muitos se recusam a atender às advertências e instruções do Apocalipse; nenhum desses pode pretender a bênção prometida. Como se atrevem os homens a ensinar que o Apocalipse se acha além da compreensão humana? Ele é um mistério revelado, um livro aberto. O Apocalipse encaminha a mente às profecias de Daniel. Ambos apresentam importantíssimas instruções concernentes aos eventos do final da história deste mundo.
O apóstolo João viu os perigos, conflitos e libertação final do povo de Deus. Ele registra as mensagens finais que devem amadurecer a seara da Terra, sejam os molhos para o celeiro celeste, ou os feixes para os fogos da destruição, a fim de que os que se volvessem do erro para a verdade pudessem ser instruídos em relação aos perigos e conflitos que estariam diante deles.
Por que, pois, tanta ignorância com respeito a uma parte importante das Sagradas Escrituras? É o resultado de um esforço estudado do príncipe das trevas para esconder aos homens o que revela os seus enganos. Por esta razão, Cristo, o Revelador, prevendo a luta que seria desferida contra o Apocalipse, pronunciou uma bênção sobre todos os que lessem, ouvissem e observassem a profecia.
Se você quiser se aprofundar mais em seu estudo do capítulo 11 de Apocalipse, estude através deste link. Estaremos sempre atualizando no Blog Nossas Letras e Algo Mais .