Pregando entre os Gentios – Capítulo 18



por Ellen White
Atos dos Apóstolos ou O Embaixadores
Este capítulo é baseado em Mateus 18: 20; Atos 10; 11; 14:1 – 26; 15:5; 1 Coríntios 14: 32 – 33; Gálatas 2: 13 – 14; Filipenses 3: 6; 1 Pedro 5: 5.

De Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé foram para Icônio. Nesse lugar, como em Antioquia, começaram suas atividades na sinagoga de seu próprio povo. Tiveram assinalado sucesso; “creu uma grande multidão, não só de judeus mas de gregos” Mas em Icônio, como em outros lugares onde os apóstolos trabalharam, “os judeus incrédulos incitaram e irritaram, contra os irmãos, os ânimos dos gentios”. Atos 14:1, 2.
Os apóstolos, entretanto, não recuaram de sua missão; pois muitos estavam aceitando o evangelho de Cristo. Enfrentando a oposição, inveja e preconceito foram eles avante com sua obra, “falando ousadamente acerca do Senhor”; e Deus “dava testemunho à palavra de Sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios”. Atos dos Apóstolos 14:3. Essas evidências da aprovação divina tinham poderosa influência sobre aqueles cuja mente estava aberta à convicção, e multiplicavam-se os conversos ao evangelho. 
A crescente popularidade da mensagem apresentada pelos apóstolos encheu de inveja e ódio os judeus incrédulos e eles determinaram fazer cessar de uma vez os trabalhos de Paulo e Barnabé. Por meio de relatos falsos e exagerados, levaram as autoridades a temer que toda a cidade estivesse em perigo de ser incitada a uma insurreição. Declararam que grande número se estava aliando aos apóstolos, e sugeriram que havia nisso desígnios secretos e perigosos. 
Em consequência dessas acusações, os discípulos eram repetidamente levados perante as autoridades; mas sua defesa era tão clara e singela, e tão calma e compreensível sua afirmação daquilo que estavam ensinando, que forte influência era exercida em seu favor. Embora os magistrados estivessem prevenidos contra eles pelas falsas afirmações ouvidas, não ousavam condená-los. Tinham de reconhecer que os ensinos de Paulo e Barnabé tendiam a formar homens virtuosos, cidadãos leais, e que a moral e a ordem da cidade seriam melhoradas se fossem aceitas as verdades ensinadas pelos apóstolos. 
Por intermédio da oposição que os discípulos enfrentavam, a mensagem da verdade ganhava grande publicidade; os judeus viam que seus esforços para impedir a obra dos novos ensinadores resultava apenas em acrescentar maior número de adeptos à nova fé. “E dividiu-se a multidão da cidade; e uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos”. Atos 14:4. 
Tão enraivecidos ficaram os líderes judeus pelo rumo que as coisas estavam tomando que decidiram alcançar seu objetivo pela violência. Estimulando as piores paixões da massa ignorante e barulhenta, foram felizes em provocar um motim, atribuindo-o aos ensinos dos discípulos. Com essa falsa acusação esperavam ganhar o auxílio dos magistrados na realização de seu propósito. Estavam determinados a que os apóstolos não tivessem oportunidade de se defenderem, interferindo a turba e apedrejando a Paulo e a Barnabé, pondo assim um fim a suas atividades. 
Amigos dos apóstolos, embora incrédulos, advertiram-nos dos maldosos desígnios dos judeus, e suplicaram-lhes que não se expusessem desnecessariamente à fúria da turba, mas fugissem para salvar a vida. Concordando, Paulo e Barnabé partiram secretamente de Icônio, deixando os crentes a promoverem a obra sozinhos por algum tempo. Mas de maneira nenhuma saíam em definitivo; haviam proposto retornar, após acalmada a agitação, para completar a obra iniciada. 
Em cada século e em cada região, os mensageiros de Deus têm sido chamados a enfrentar amarga oposição dos que deliberadamente escolhem rejeitar a luz do Céu. Não raro, pela mistificação e falsidade, têm os inimigos do evangelho aparentemente triunfado, cerrando assim as portas por onde os mensageiros de Deus poderiam ter acesso ao povo. Mas essas portas não podem permanecer para sempre fechadas; e, muitas vezes, ao voltarem os servos de Deus para reassumir suas atividades, o Senhor tem atuado poderosamente em favor deles, habilitando-os a estabelecer monumentos para a glória de Seu nome. 
Expulsos de Icônio pela perseguição, os apóstolos foram para Listra e Derbe, na Licaônia. Essas cidades eram habitadas principalmente por um povo supersticioso e pagão, mas havia entre eles alguns dispostos a ouvir a mensagem do evangelho e aceitá-la. Nesses lugares e arredores os apóstolos decidiram trabalhar, esperando escapar ao preconceito e perseguição dos judeus. 
Em Listra não havia sinagoga judaica, embora vivessem na cidade uns poucos judeus. Muitos dos habitantes de Listra adoravam num templo dedicado a Júpiter. Quando Paulo e Barnabé apareceram na cidade, e, congregando os habitantes do local em torno deles, explanaram as verdades simples do evangelho. Muitos procuraram relacionar essas doutrinas com suas supersticiosas crenças na adoração de Júpiter. 
Os apóstolos se esforçaram para comunicar a esses idólatras o conhecimento de Deus, o Criador, e de Seu Filho, o Salvador do gênero humano. Chamaram, primeiramente, a atenção deles, para as obras maravilhosas de Deus — o Sol, a Lua e as estrelas, a bela ordem das sucessivas estações, as poderosas montanhas coroadas de neve, as majestosas árvores, e várias outras maravilhas da natureza, as quais testemunham uma capacidade além da compreensão humana. Mediante essas obras do Todo-poderoso, levaram os apóstolos o espírito dos gentios à contemplação do grande Governador do Universo. 
Havendo tornado claras as verdades fundamentais concernentes ao Criador, falaram os apóstolos aos habitantes de Listra a respeito do Filho de Deus, que veio do Céu ao nosso mundo por haver amado os filhos dos homens. Falaram de Sua vida e ministério, Sua rejeição por parte daqueles a quem veio salvar, Seu julgamento e crucifixão, ressurreição e ascensão ao Céu, para aí atuar como advogado do homem. Assim, no Espírito e no poder de Deus, Paulo e Barnabé pregaram o evangelho em Listra.
Uma ocasião, estando Paulo a falar ao povo das obras de Cristo como de Alguém que curava os enfermos e sofredores, viu entre seus ouvintes um coxo, cujos olhos estavam nele fixos, e que recebia suas palavras e nelas cria. O coração de Paulo encheu-se de simpatia para com o doente, em quem percebeu alguém “que tinha fé para ser curado”. Atos dos Apóstolos 14:9. Em presença da idólatra assembleia, Paulo ordenou ao coxo que se pusesse de pé. Até então, o coxo não podia fazer mais que assentar-se; mas obedeceu instantaneamente à ordem de Paulo e, pela primeira vez em sua vida, se pôs de pé. Com esse esforço de fé lhe vieram as forças, e aquele que havia sido coxo “andou e saltou”. Atos 14:10.
“E as multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a sua voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós” Essa afirmação estava em harmonia com sua tradição de que os deuses ocasionalmente visitavam a Terra. Barnabé foi chamado Júpiter, o pai dos deuses, por causa de sua venerável aparência, sua digna compostura e a suavidade e benevolência expressas em seu semblante. Paulo, criam eles ser Mercúrio, “porque este era o que falava” (Atos 14:11, 12), fervoroso, ativo e eloquente em palavras de advertência e exortação. 
Os listrianos, ansiosos de mostrar sua gratidão, apelaram ao sacerdote de Júpiter para honrar os apóstolos; e ele, “trazendo para a entrada da porta touros e grinaldas, queria com a multidão sacrificar-lhes”. Atos 14:13. Paulo e Barnabé, que se haviam retirado para repouso, não foram advertidos desses preparativos. Logo, porém, sua atenção foi despertada pelo som da música e brados entusiásticos de uma grande multidão que se aproximava da casa onde estavam hospedados. 
Quando os apóstolos se certificaram da causa da visita e do motivo de tal agitação, “rasgaram os seus vestidos, e saltaram para o meio da multidão”, na esperança de evitar novas demonstrações. Clamando, com voz que se sobrepunha aos vivas do povo, Paulo captou-lhes a atenção; e cessando subitamente o tumulto, disse: “Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a Terra, e o mar, e tudo quanto há neles; o qual nos tempos passados deixou andar todas as gentes em seus próprios caminhos. E contudo, não Se deixou a Si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do Céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações”. Atos 14:14-17. 
Não obstante a positiva afirmação dos apóstolos de que não eram divinos, e não obstante ainda os esforços de Paulo para dirigir-lhes a mente para o verdadeiro Deus como o único objeto digno de adoração, foi quase impossível desviar os pagãos de seu intento de oferecer sacrifícios. Tão firme tinha sido sua crença de que esses homens eram, sem dúvida, deuses, e tão grande seu entusiasmo, que estavam relutantes em reconhecer seu erro. Diz o relato que eles foram impedidos “com dificuldade”. Atos 14:18. 
Arrazoavam os habitantes de Listra, que eles haviam contemplado com os próprios olhos o miraculoso poder exercido pelos apóstolos; que haviam visto um coxo que nunca antes andara, rejubilar-se em perfeita saúde e força. Foi somente após muita persuasão da parte de Paulo, e cuidadosa explicação de sua própria missão e de Barnabé como sendo representantes do Deus do Céu e de Seu Filho, o grande Médico, que o povo foi persuadido a abandonar seu propósito. 
As atividades de Paulo e Barnabé em Listra, foram subitamente reprimidas pela maldade de “uns judeus de Antioquia e de Icônio” (Atos 14:18) que, ouvindo do sucesso do trabalho dos apóstolos entre os licaônios, tinham determinado ir-lhes no encalço e persegui-los. Chegando à Listra, esses judeus logo alcançaram êxito em inspirar o povo com o mesmo amargo espírito que atuava em suas próprias mentes. Com palavras de mistificação e calúnia, os que recentemente haviam considerado a Paulo e Barnabé como seres divinos, foram convencidos de que, na realidade, os apóstolos eram piores que assassinos, e dignos de morte. 
O desapontamento sofrido pelos listrianos por lhes ter sido recusado o privilégio de oferecer sacrifícios aos apóstolos, preparou-os para se voltarem contra Paulo e Barnabé com um entusiasmo aproximado ao mesmo com que os tinham honrado como deuses. Incitados pelos judeus, planejaram atacar os apóstolos pela força. Os judeus admoestaram-nos a que não dessem a Paulo a oportunidade de falar, alegando que se lhe fosse permitido esse privilégio, ele poderia enfeitiçar o povo. 
Logo os desígnios homicidas dos inimigos do evangelho foram executados. Rendendo-se à influência do mal, os listrianos tornaram-se possuídos de satânica fúria, e apoderando-se de Paulo o apedrejaram sem misericórdia. O apóstolo imaginou que havia chegado seu fim. O martírio de Estêvão, e a parte cruel que ele desempenhara na ocasião, lhe vieram vividamente ao espírito. Coberto de feridas e desfalecido de dor, ele caiu, e a turba enfurecida o arrastou “para fora da cidade, cuidando que estava morto”. Atos 14:19.
Nessa hora escura e de prova, o grupo de crentes de Listra, convertidos por Paulo e Barnabé à fé de Jesus, permaneceu firme e leal. A oposição absurda e a cruel perseguição por parte de seus inimigos serviram apenas para confirmar a fé desses devotados irmãos; e agora, em face do perigo e escárnio, mostraram sua lealdade reunindo-se com tristeza ao redor daquele que supunham estar morto. 
Qual não foi sua surpresa, quando, em meio a seus lamentos, o apóstolo subitamente levantou a cabeça e se ergueu, com o louvor de Deus nos lábios. Para os crentes, essa inesperada restauração do servo de Deus era considerada como milagre do poder divino, e parecia ser o selo do Céu sobre sua mudança de crença. Rejubilaram-se com inexprimível alegria, e louvaram a Deus com renovada fé. 
Entre os que se haviam convertido em Listra, e que eram testemunhas oculares dos sofrimentos de Paulo, se achava alguém que se havia de tornar mais tarde preeminente obreiro de Cristo, e devia partilhar com o apóstolo as provas e alegrias do serviço pioneiro em campos difíceis. Era um jovem chamado Timóteo. Quando Paulo foi arrastado para fora da cidade, esse jovem discípulo estava entre os que se puseram ao lado de seu corpo aparentemente sem vida, e que o viram erguer-se ferido e coberto de sangue, mas com louvores nos lábios por lhe haver sido permitido sofrer por amor de Cristo. 
No dia seguinte ao apedrejamento de Paulo, os apóstolos partiram para Derbe, onde seu trabalho foi abençoado e muitas pessoas foram levadas a aceitar a Cristo como o Salvador. Mas “tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos”, nem Paulo nem Barnabé estavam dispostos a iniciar trabalho em outra parte sem confirmar a fé dos conversos que eram forçados a deixar sozinhos por algum tempo, nos lugares onde tinham recém trabalhado. E assim, sem esmorecer diante dos perigos, “voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé”. Atos 14:21, 22. Muitos haviam aceitado as alegres novas do evangelho e expuseram-se ao opróbrio e oposição. A esses procurou o apóstolo firmar na fé, para que a obra pudesse subsistir. 
Como importante fator no crescimento espiritual dos novos conversos, os apóstolos tiveram o cuidado de cercá-los com a salvaguarda da ordem evangélica. As igrejas eram devidamente organizadas em todos os lugares da Licaônia e da Pisídia onde houvesse crentes. Eram indicados oficiais para cada igreja, e ordem e sistema próprios eram estabelecidos para que se conduzissem todas as atividades pertinentes ao bem-estar espiritual dos crentes. 
Isso estava em harmonia com o plano evangélico de unir num só corpo todos os crentes em Cristo, e esse plano devia Paulo seguir cuidadosamente através de seu ministério. Aqueles que, em qualquer lugar, eram por seu testemunho levados a aceitar a Cristo como o Salvador, eram, a seu devido tempo, organizados em igreja. Mesmo que fossem poucos os crentes era feito assim. Os cristãos eram dessa maneira ensinados a se ajudarem mutuamente, recordando a promessa: “Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Mateus 18:20. 
E Paulo não esquecia as igrejas assim estabelecidas. O cuidado dessas igrejas ficava em sua mente como uma preocupação sempre maior. Não importava quão pequeno fosse um grupo, era não obstante objeto de sua constante solicitude. Ele cuidava ternamente das pequenas igrejas, sentindo que elas estavam em necessidade de especial cuidado, para que os membros pudessem ser inteiramente firmados na verdade e ensinados a fazer esforços fervorosos e altruístas pelos que lhes estavam ao redor. 
Em todos os seus esforços missionários, Paulo e Barnabé procuravam seguir o exemplo de Cristo, com sacrifício voluntário e trabalho fiel e ardoroso em prol das pessoas. Despertos, zelosos e incansáveis, não consultavam as inclinações ou a comodidade pessoal, mas com uma ansiedade acompanhada de orações, e atividade incessante, semeavam a semente da verdade. E, com o semear da semente, os apóstolos tinham muito cuidado em proporcionar a todos os que tomavam posição ao lado do evangelho, instruções práticas de indizível valia. Esse espírito de fervor e de temor piedoso produziu nos novos discípulos uma impressão duradoura com relação à importância da mensagem do evangelho. 
Quando homens promissores e hábeis se convertiam, como no caso de Timóteo, Paulo e Barnabé procuravam zelosamente mostrar-lhes a necessidade de trabalhar na vinha. E, quando os apóstolos partiam para outro lugar, a fé daqueles homens não vacilava, antes aumentava. Haviam sido fielmente instruídos no caminho do Senhor, e se lhes ensinara como trabalhar abnegadamente, com fervor e perseverantemente pela salvação de seus semelhantes. Essa cuidadosa instrução aos novos conversos era um importante fator no êxito notável que acompanhava Paulo e Barnabé, pregando eles o evangelho nas terras gentílicas. 
A primeira viagem missionária estava rapidamente chegando ao fim. Encomendando ao Senhor as igrejas recém-organizadas, os apóstolos foram para Panfília, “e, tendo anunciado a Palavra em Perge, desceram a Atália e dali navegaram para Antioquia”. Atos 14:26. 

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