Por Ellen White O Desejado de Todas as Nações CPB
Este capítulo é baseado em Mateus 26: 20 – 29; Marcos 14: 17: 25; Lucas 22: 14 – 23; João 3: 14 – 15; 6: 53 – 57; 13: 11, 18 – 30; 14: 27; 1 Coríntios 5: 11; 11: 23 – 29; Gálatas 6: 14; 1 Pedro 1: 19
O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de Mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no Meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de Mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”. 1 Coríntios 11:23-26.
Cristo Se achava no ponto de transição entre dois sistemas e suas duas grandes festas. Ele, o imaculado Cordeiro de Deus, estava para Se apresentar como oferta pelo pecado, e queria assim levar a termo o sistema de símbolos e cerimônias que por quatro mil anos apontara à Sua morte. Ao comer a páscoa com Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar Seu grande sacrifício. Passaria para sempre a festa nacional dos judeus. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado por Seus seguidores em todas as terras e por todos os séculos.
A páscoa fora instituída para comemorar a libertação de Israel da servidão egípcia. Deus ordenara que, de ano em ano, quando os filhos perguntassem a significação desta ordenança, a história desse acontecimento fosse repetida. Assim o maravilhoso livramento se conservaria vivo na memória de todos. A ordenança da ceia do Senhor foi dada para comemorar a grande libertação operada em resultado da morte de Cristo. Até que Ele venha a segunda vez em poder e glória, há de ser celebrada esta ordenança. É o meio pelo qual Sua grande obra em nosso favor deve ser conservada viva em nossa memória.
Ao tempo de sua libertação do Egito, os filhos de Israel comeram a ceia pascoal de pé, lombos cingidos, e com o cajado na mão, prontos para a viagem. A maneira em que celebraram essa ordenança estava em harmonia com sua condição; pois estavam para ser mandados sair da terra do Egito, e deviam começar uma penosa e difícil jornada através do deserto. Ao tempo de Cristo, porém o estado de coisas havia mudado.
Não estavam agora para ser mandados sair de um país estrangeiro, mas eram habitantes de sua própria pátria. Em harmonia com o descanso que lhes fora dado, o povo tomava então parte na ceia pascoal em posição reclinada. Colocavam-se leitos ou divãs ao redor da mesa, e os convivas, reclinados neles, descansando no braço esquerdo, tinham livre a mão direita para servir-se. Nesta posição, um comensal podia reclinar a cabeça no peito do outro que lhe ficava imediato. E os pés, saindo da extremidade do leito, podiam ser lavados por alguém que passasse pelo lado exterior do círculo.
Cristo está ainda à mesa em que fora posta a ceia pascoal. Acham-se diante dEle os pães asmos usados no período da páscoa. O vinho pascoal, livre de fermento, está sobre a mesa. Estes emblemas Cristo emprega para representar Seu próprio irrepreensível sacrifício. Coisa alguma corrompida por fermentação, símbolo do pecado e da morte, podia representar “o Cordeiro imaculado e incontaminado”. 1 Pedro 1:19.
“E quando comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o Meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai”. Mateus 26:26-29.
Judas, o traidor, achava-se presente à cerimônia sacramental. Ele recebeu de Jesus os emblemas de Seu corpo partido e de Seu derramado sangue. Ouviu as palavras: “Fazei isto em memória de Mim”. 1 Coríntios 11:25. E ali, sentado na própria presença do Cordeiro de Deus, o traidor alimentava seus negros desígnios, e acariciava seus vingativos pensamentos.
No lava-pés, Cristo dera convincente prova de que compreendia o caráter de Judas. “Nem todos estais limpos” (João 13:11), dissera. Essas palavras convenceram o falso discípulo de que Cristo lhe lia o secreto desígnio. Agora Jesus falou mais claramente. Enquanto estavam sentados à mesa, Ele disse, olhando para os discípulos: “Não falo de todos vós; Eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra Mim o seu calcanhar”. João 13:18.
Mesmo então os discípulos não suspeitaram de Judas. Mas viram que Cristo parecia grandemente perturbado. Baixou sobre todos uma nuvem, a advertência de qualquer terrível calamidade, cuja natureza não percebiam. Enquanto comiam em silêncio, Jesus disse: “Na verdade, na verdade vos digo que um de vós Me há de trair”. João 13:21. A essas palavras, foram tomados de espanto e consternação. Não podiam compreender como qualquer deles pudesse agir traiçoeiramente com seu divino Mestre. Por que motivo O haveriam de trair? E entregá-Lo a quem? Que coração poderia conceber um tal desígnio? Por certo nenhum dos doze favorecidos, que foram privilegiados acima de todos os demais em ouvir os Seus ensinos, que partilharam de Seu admirável amor, e por quem Ele tivera tão grande consideração, pondo-os em íntima comunhão consigo!
Ao ponderarem a importância de Suas palavras, e lembrarem quão verdadeiras eram Suas declarações, apoderaram-se deles a desconfiança de si mesmos e o temor. Começaram a examinar o próprio coração, a ver se nele se haveria abrigado um pensamento contra seu Mestre. Com a mais dolorosa emoção, um após outro indagou: “Porventura sou eu, Senhor?” Mas Judas guardava silêncio. Em profunda aflição, João indagou por fim: “Senhor, quem é?” E Jesus respondeu: “O que mete comigo a mão no prato, esse Me há de trair. Em verdade o Filho do homem vai, como acerca dEle está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido”. Mateus 26: 21-24. Os discípulos haviam perscrutado atentamente o rosto uns dos outros, enquanto indagavam: “Porventura sou eu, Senhor?” E depois o silêncio de Judas atraiu para ele todos os olhares. Por entre a confusão de perguntas e expressões de espanto, Judas não ouvira as palavras de Jesus em resposta à pergunta de João. Mas então, para fugir à investigação dos discípulos, perguntou, como eles haviam feito: “Porventura sou eu, Rabi?” Jesus respondeu solenemente: “Tu o disseste”. Mateus 26:25.
Surpreendido e confuso ao ser exposto seu desígnio, Judas ergueu-se, apressado, para deixar a sala. “Disse pois Jesus: O que fazes, fá-lo depressa. […] E tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite”. João 13:27, 30. Noite se fez para o traidor ao sair ele da presença de Cristo, para as trevas exteriores. Até dar esse passo, Judas não passara os limites da possibilidade de arrependimento. Mas quando saiu da presença de seu Senhor e de seus condiscípulos, fora tomada a decisão final. Ultrapassara os termos.
Admirável fora a longanimidade de Jesus no trato para com essa alma tentada. Coisa alguma que pudesse salvar Judas, deixara de ser feita. Depois de ele haver por duas vezes tratado entregar seu Senhor, deu-lhe ainda Jesus oportunidade de arrependimento. Lendo o secreto intento do coração traidor, Cristo lhe deu a última, final prova de Sua divindade. Isto foi para o falso discípulo a última chamada ao arrependimento. Não se poupou nenhum apelo que o coração divino-humano de Cristo pudesse fazer. As ondas de misericórdia, repelidas pelo obstinado orgulho, volviam em mais poderoso volume de subjugante amor. Mas se bem que surpreendido e alarmado ante a descoberta de sua culpa, Judas apenas se tornou mais determinado. Da ceia sacramental saiu para completar sua obra de traição.
Ao proferir o ai sobre Judas, Cristo tinha também um desígnio misericordioso para com Seus discípulos. Deu-lhes assim a suprema demonstração de Sua messianidade. “Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou”. João 13:19. Houvesse Jesus permanecido em silêncio, em aparente ignorância do que Lhe havia de sobrevir, os discípulos teriam podido pensar que seu Mestre não possuía divina previsão, e se teriam surpreendido, ficando entregues às mãos da turba assassina. Um ano antes Jesus dissera aos discípulos que Ele escolhera doze, e que um era diabo. Agora, as palavras a Judas, mostrando que sua traição era plenamente conhecida por seu Mestre, fortaleceria a fé dos verdadeiros seguidores de Cristo durante Sua humilhação. E quando Judas chegasse ao seu terrível fim, lembrar-se-iam do ai que Jesus proferira sobre o traidor.
E o Salvador tinha ainda outro intuito. Não privara de Seu ministério àquele que sabia ser um traidor. Os discípulos não haviam entendido Suas palavras quando dissera, no lava-pés: “Vós estais limpos, mas não todos” (João 13:10), nem mesmo quando, à mesa, declarara: “O que come o pão comigo, levantou contra Mim o seu calcanhar”. João 13:11, 18. Mais tarde, porém, quando o sentido disso ficasse claro, eles teriam motivo para considerar a paciência e misericórdia de Deus para com o que mais gravemente pecara.
Se bem que Jesus conhecesse Judas desde o princípio, lavou-lhe os pés. E o traidor teve o privilégio de unir-se com Cristo na participação do sacramento. Um longânimo Salvador empregou todo incentivo para o pecador O receber, arrepender-se e ser purificado da contaminação do pecado. Esse exemplo nos é dado a nós. Quando supomos que alguém está em erro e pecado, não nos devemos apartar dele. Não devemos, por nenhuma indiferente separação deixá-lo presa da tentação, ou empurrá-lo para o terreno de Satanás. Esse não é método de Cristo. Foi porque os discípulos estavam em erro e falta que Ele lhes lavou os pés, e todos, com exceção de um dos doze, foram assim levados ao arrependimento.
O exemplo de Cristo proíbe exclusão da ceia do Senhor. Verdade é que o pecado aberto exclui o culpado. Isto ensina plenamente o Espírito Santo. 1 Coríntios 5:11. Além disso, porém, ninguém deve julgar. Deus não deixou aos homens dizer quem se apresentará nessas ocasiões. Pois quem pode ler o coração? Quem é capaz de distinguir o joio do trigo? “Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.” Pois “qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor”. “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor”. 1 Coríntios 11:28, 27, 29.
Quando os crentes se reúnem para celebrar as ordenanças, acham-se presentes mensageiros invisíveis aos olhos humanos. Talvez haja um Judas no grupo, e se assim for, mensageiros do príncipe das trevas ali estão, pois acompanham a todo que recusa ser regido pelo Espírito Santo. Anjos celestes também ali se encontram. Esses invisíveis visitantes se acham presentes em toda ocasião como essa. Podem entrar pessoas que não são, no íntimo, servos da verdade e da santidade, mas que desejem tomar parte no serviço. Não devem ser proibidas. Acham-se ali testemunhas que estavam presentes quando Jesus lavou os pés dos discípulos e de Judas. Olhos mais que humanos contemplam a cena.
Por Seu Santo Espírito, Cristo ali está para pôr o selo a Sua ordenança. Está ali para convencer e abrandar o coração. Nem um olhar, nem um pensamento de arrependimento escapa a Sua observação. Pelo coração contrito, quebrantado espera Ele. Tudo está preparado para a recepção daquela alma. Aquele que lavou os pés de Judas, anseia lavar todo coração da mancha do pecado.
Ninguém deve se excluir da comunhão por estar presente, talvez, alguém que seja indigno. Todo discípulo é chamado a participar publicamente, e dar assim testemunho de que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal. É nessas ocasiões, indicadas por Ele mesmo, que Cristo Se encontra com Seu povo, e os revigora por Sua presença. Corações e mãos indignos podem mesmo dirigir a ordenança; todavia Cristo ali Se encontra para ministrar a Seus filhos. Todos quantos ali chegam com a fé baseada nEle, serão grandemente abençoados. Todos quantos negligenciam esses períodos de divino privilégio, sofrerão prejuízo. Deles se poderia quase dizer: “Nem todos estais limpos”. João 13:11.
Participando com os discípulos do pão e do vinho, Cristo Se empenhou para com eles, como seu Redentor. Confiou-lhes o novo concerto, pelo qual todos os que O recebem se tornam filhos de Deus, e co-herdeiros de Cristo. Por esse concerto pertencia-lhes toda bênção que o Céu podia conceder para esta vida e a futura. Esse ato de concerto devia ser ratificado com o sangue de Cristo. E a ministração do sacramento havia de conservar diante dos discípulos o infinito sacrifício feito por cada um deles individualmente, como parte do grande todo da caída humanidade.
Mas o momento da comunhão não deve ser um período de tristeza. Não é esse o seu desígnio. Ao reunirem-se os discípulos do Senhor em torno de Sua mesa, não devem lembrar e lamentar suas deficiências. Não se devem demorar em sua passada vida religiosa, seja ela de molde a elevar ou a deprimir. Não tragam à memória as diferenças existentes entre si e seus irmãos. A cerimônia preparatória abrangeu tudo isso. O exame próprio, a confissão do pecado, a reconciliação dos desentendimentos, tudo já foi feito. Agora, chegam para se encontrar com Cristo. Não devem permanecer à sombra da cruz, mas à sua luz salvadora. Abram a alma aos brilhantes raios do Sol da Justiça. Corações limpos pelo preciosíssimo sangue de Cristo, na plena consciência de Sua presença, se bem que invisível, devem-Lhe ouvir as palavras: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá”. João 14:27.
Nosso Senhor diz: Sob a convicção do pecado, lembrai-vos de que morri por vós. Quando opressos, perseguidos e aflitos, por Minha causa e a do evangelho, lembrai-vos de Meu amor, tão grande que por vós dei a Minha vida. Quando vossos deveres vos parecem duros e severos, e demasiado pesados os vossos encargos, lembrai-vos de que por amor de vós suportei a cruz, desprezando a vergonha. Quando vosso coração recua ante a dolorosa prova, lembrai-vos de que vosso Redentor vive para interceder por vós.
A santa ceia aponta à segunda vinda de Cristo. Foi destinada a conservar viva essa esperança na mente dos discípulos. Sempre que se reuniam para comemorar Sua morte, contavam como Ele, “tomando o cálice, e dando graças, deu-lhes, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai”. Mateus 26:27-29. Nas tribulações, encontravam conforto na esperança da volta de seu Senhor. Indizivelmente precioso era para eles o pensamento: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”. 1 Coríntios 11:26.
Essas são as coisas que nunca devemos esquecer. O amor de Jesus com Seu subjugante poder, deve ser mantido vivo em nossa memória. Cristo instituiu este serviço para que ele nos falasse aos sentidos acerca do amor de Deus, expresso em nosso favor. Não pode haver união entre nossa alma e Deus, senão por meio de Cristo. A união e o amor entre irmão e irmão devem ser cimentados e feitos eternos pelo amor de Jesus. E nada menos que a morte de Cristo podia tornar eficaz o Seu amor por nós. É unicamente por causa de Sua morte, que podemos esperar com alegria Sua segunda vinda. Seu sacrifício é o centro de nossa esperança. Nele nos cumpre fixar a nossa fé.
As ordenanças que indicam a humilhação e sofrimento de nosso Senhor, são demasiado consideradas como uma forma. Foram, porém, instituídas para um fim. Nossos sentidos precisam ser vivificados para se apoderarem do mistério da piedade. É o privilégio de todos compreender, muito mais do que fazemos, os sofrimentos expiatórios de Cristo. “Como Moisés levantou a serpente no deserto”, assim foi o Filho do homem levantado, “para que todo aquele que nEle crê não pereça mas tenha a vida eterna”. João 3:14, 15. À cruz do Calvário, apresentando um Salvador a morrer, devemos nós olhar. Nossos interesses eternos exigem que mostremos fé em Cristo.
Disse nosso Salvador: “Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. […] Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida”. João 6:53-55. Isso é verdade quanto à nossa natureza física. Mesmo esta vida terrestre devemos à morte de Cristo. O pão que comemos, é o preço de Seu corpo quebrantado. A água que bebemos é comprada com Seu derramado sangue. Nunca alguém, seja santo ou pecador, toma seu alimento diário, que não seja nutrido pelo corpo e o sangue de Cristo. A cruz do Calvário acha-se estampada em cada pão. Reflete-se em toda fonte de água. Tudo isso ensinou Cristo ao indicar os emblemas de Seu grande sacrifício. A luz irradiada daquele serviço de comunhão no cenáculo torna sagradas as provisões de nossa vida diária. A mesa familiar torna-se como a mesa do Senhor, e cada refeição um sacramento.
E quão mais verdadeiras são as palavras de Cristo quanto a nossa natureza espiritual! Declara Ele: “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna.” É recebendo a vida por nós derramada na cruz do Calvário, que podemos viver a vida de santidade. E essa vida transmite-se-nos ao receber Sua palavra, fazendo as coisas que Ele ordenou. Tornamo-nos então um com Ele. “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim”. João 6:54, 56, 57. Esta escritura aplica-se, em sentido especial, à santa comunhão. Quando a fé contempla o grande sacrifício de nosso Senhor, a alma assimila a vida espiritual de Cristo. Essa alma receberá vigor espiritual de cada comunhão. O serviço forma uma viva conexão pela qual o crente é ligado a Cristo, e assim ao Pai. Isso forma, em especial sentido, uma união entre os dependentes seres humanos, e Deus.
Ao recebermos o pão e o vinho simbolizando o corpo partido de Cristo e Seu sangue derramado, unimo-nos, pela imaginação, à cena da comunhão no cenáculo. Afigura-se-nos estar atravessando o jardim consagrado pela agonia dAquele que levou sobre Si os pecados do mundo. Testemunhamos a luta mediante a qual foi obtida nossa reconciliação com Deus. Cristo crucificado apresenta-Se entre nós.
Contemplando o crucificado Redentor, compreendemos mais plenamente a magnitude e significação do sacrifício feito pela Majestade do Céu. O plano da salvação glorifica-se aos nossos olhos, e a ideia do Calvário desperta vivas e sagradas emoções em nossa alma. No coração e nos lábios achar-se-ão louvores a Deus e ao Cordeiro; pois o orgulho e o culto de si mesmo não podem crescer na alma que conserva sempre vivas na memória as cenas do Calvário.
Aquele que contempla o incomparável amor do Salvador, será elevado no pensamento, purificado no coração, transformado no caráter. Sairá para servir de luz ao mundo, para refletir, em certa medida, este misterioso amor. Quanto mais contemplarmos a cruz de Cristo, tanto mais adotaremos a linguagem do apóstolo quando disse: “Mas longe esteja de mim gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Gálatas 6:14